quarta-feira, 9 de abril de 2008

Roberto Carlos, intérprete - 19h



Olá, amigos.

Prosseguindo com este recorte da série Roberto Carlos, intérprete, chegamos à segunda faixa de horário da programação da TV Globo que traz uma canção originalmente lançada na voz de RC. Em tempos de trilhas musicais que tentam democratizar os discos das músicas que embalam as tramas das novelas, as atuais novelas da emissora do Jardim Botânico têm em seus três horários principais de teledramaturgia músicas do intérprete Roberto Carlos.

Cada vez mais a TV Globo vem se preocupando em convencionar o estilo de trama exibido em cada espaço de sua dramaturgia. Se o horário das 18h decididamente é destinado a tramas "de época" (termo usado para caracterizar novelas que passam em períodos anteriores à época atual), a faixa das 19h - na verdade, 19h15, pois o horário das sete da noite é ocupado pelos noticiários locais - também traz suas particularidades.

Como neste horário muitas pessoas que chegaram do trabalho estão reunidas em frente à TV depois de uma jornada diária cansativa, a idéia da emissora é colocar uma trama geralmente contemporânea com trama e personagens mais "leves" ao gosto do público. Alguns autores dizem se tratar de uma "novela das oito com menos profundidade".

A safra das sete é o espaço, muitas vezes, do humor (com Carlos Lombardi, que no ano retrasado colocou no ar a rocambolesca história de Pé na jaca) ou de dramas com fortes pitadas de irreverência (caso de Cobras & lagartos, de João Emanuel Carneiro). O horário originalmente dava margem a tentativas de inovações na linguagem da teledramaturgia, mas este conceito foi alterado com o fiasco de audiência da novela Bang bang, assinada por Mario Prata mas depois guiada por Carlos Lombardi (que entrou com o objetivo de "recuperar a audiência perdida").

Atualmente, o horário das 19h é o ideal para a emissora lançar colaboradores de novelas anteriores como autores principais das tramas de suas novelas. Foi assim com João Emanuel Carneiro, que estreou em Da cor do pecado, e também Walcyr Carrasco, que escrevia para as 18h e foi promovido de faixa quando escreveu Sete pecados. E desde 18 de fevereiro, data em que estreou a atual novela do horário, a emissora prossegue com esta política.

Colaboradora dos textos da trama vespertina Malhação, Andréa Maltarolli tem sua chance de se tornar uma das autoras da casa - e, quem sabe, conseguir o mesmo sucesso de João Emanuel Carneiro, que depois de duas tramas bem sucedidas às 19h, está escalado para escrever a próxima trama das 21h (com nome provisório de Juízo final). Pegando emprestado o título de uma música de Caetano Veloso, Andréa batizou com o nome de Beleza pura .

A história iniciou quando o engenheiro aeronáutico Guilherme Medeiros (vivido por Édson Celulari) lançou o helicóptero Carcará, que foi vendido ao dono de uma clínica estética Olavo Pederneiras (papel de Reginaldo Faria)para que ele gravasse um programa sobre estética na Amazônia. No entanto, a vilã Norma Gusmão (vivida por Carolina Ferraz), cegamente apaixonada por Guilherme e louca para tê-lo em suas mãos não só através do amor mas também dependendo dela para sua carreira e sua vida, sabotava o helicóptero, fazendo desaparecer não só Olavo mas também Sônia (interpretada por Christiane Torloni), o escritor Alex, a jornalista Márcia e o químico Mateus (respectivamente interpretados por Guilherme Fontes, Helena Fernandes e Rodrigo Veronese).

Guilherme acaba se envolvendo com a filha de Sônia, Joana (vivida por Regiane Alves), que passou toda sua vida num orfanato e apenas agora descobriu sua mãe biológica através de um detetive. Além de acreditar que o acidente é culpa de Guilherme, Joana ainda vem convivendo com dois obstáculos para viver seu amor com o engenheiro - a obsessão de Norma pelo rapaz e o amor doentio que Renato (dono da clínica de estética que Joana trabalha, vivido por Humberto Martins) sente por ela.

Nas tramas paralelas, destaque para as grandes oportunidades que a autora vem dando a atores de destaque em outras áreas. Mônica Martelli, que se consagrou nos palcos cariocas fazendo o monólogo de sua autoria Os homens são de Marte... e é pra lá que eu vou!, vive Helena, que finge ser o marido desaparecido Mateus para conseguir um emprego na clínica de Renato. Bruno Mazzeo, filho do humorista Chico Anysio e responsável pelo ótimo programa Cilada, apresentado no canal a cabo Multishow, diverte no papel do ambicioso e atrapalhado José Henrique Brandão Soares. Maria Clara Gueiros, atriz que já teve destaque no programa de qualidade duvidosa Zorra total com os bordões "vem cá, te conheço?" e "chupa essa manga" defende bem o papel de Suzy, amiga de Norma e que tem um caso mal resolvido com Raul (boa atuação de Leopoldo Pacheco). Bia Montez, que durante anos fez a Dona Vilma na atração vespertina Malhação, tem um trabalho interessante como Nazaré, em ótimas cenas com a filha Valmiréia (que é chamada de Meu Bem pelo patrão Guilherme) e o genro Erik (respectivamente feitos por Letícia Isnard - que teve destaque em Minha nada mole vida, e Pedro Brício)

A novela também traz personagens bem escritos, como Ivete (vivida por Zezé Polessa), que a todo custo quer impedir o namoro da filha Rakelly (papel de Ísis Valverde) com o pedreiro Róbson (interpretado por Marcelo Faria). E também traz uma trilha muito bem escolhida, que reúne nomes como Skank (em uma ótima leitura de Beleza pura), Roberto Frejat, Paulinho da Viola, Teresa Cristina, Ney Matogrosso e Nana Caymmi num interessante dueto com Marcio Faraco, em que Eu sei que vou te amar, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, é interpretada em português e em francês.

Dentre as músicas também há espaço para uma nova leitura da face do "Roberto Carlos, intérprete". Desta vez, numa canção da dupla Eduardo Lages e Paulo Sérgio Valle. O maestro, que há mais de 30 anos ajuda a deixar afinada a música de Roberto Carlos, agora embala uma trama interpretada por dois atores cheios de afinação, não só em suas carreiras "solo", mas também na novela.

Originalmente gravada por Roberto Carlos em seu LP de 1987, a música de Eduardo Lages e Paulo Sérgio Valle é tema do casal formado por Antônio Calloni e Soraya Ravenle. Seus personagens, Eduardo e Débora, vivem um "Romeu e Julieta" às avessas. Ambos são "viúvos" dos desaparecidos no helicóptero Carcará e se apaixonam, mas as filhas deles - Luiza (vivida por Bianca Comparato) e Fernanda (papel de Monique Alfradique) - além de não admitirem um envolvimento amoroso tão cedo, se odeiam porque disputam o amor de Klaus (estréia de Rafael Carodoso).

Na voz de José Augusto, a canção de Eduardo e Paulo Sérgio volta a ter destaque, e agora em um produto de teledramaturgia da emissora com maior audiência na TV brasileira. E também mostra que, apesar de todas as circunstâncias negativas, as coisas do coração podem trazer surpresas bem agradáveis. Mas, pra que querer saber coisas do coração?

Segue a letra! Na foto, o logotipo da novela Beleza pura.

COISAS DO CORAÇÃO - Eduardo Lages e Paulo Sérgio Valle

Quantas vezes te falei
Que esse amor é tudo pra nós dois
Eu te quero e sempre vou te amar
Agora e depois

Quanto tempo, eu não sei
Não se mede em tempo uma paixão
Mas eu sinto cada dia mais
Você no coração

Quantas coisas entre nós
Foram ditas quase sem falar
De repente, um gesto e um olhar
Dizem "te amo"

E sem nada prometer
Nos amamos sem querer saber
Se é paixão ou se é um grande amor
Tudo que existe em nós

Pode ser amor, pode ser paixão
Pode ser até outra explicação
Só sei que quero ter você
Sempre a meu lado

Pode ser amor, pode ser paixão
Mas seja qual for a explicação
Meu bem, por que querer saber
Coisas do coração?

P.S.: gostaria de pedir desculpa pelo atraso em atualizar o post anterior - ele deveria ter sido atualizado no dia 7. É que na segunda-feira participei da leitura de uma peça chamada Entre o Céu e a Terra, reunindo três adaptações de contos de Machado de Assis feitas por José Antônio de Souza, e li ao lado de Gracindo Júnior, Rubens Araújo, Teton Cunha, Sacha Bali e grande elenco no palco da Casa da Gávea. Agradeço a compreensão...

2 comentários:

Unknown disse...

Mais uma música cantada pelo Rei! Um sucesso de 1987 na voz de José Augusto. Coisas Do Coração é muito especial.

Anônimo disse...

Essa gravação ficou muito boa, uma das pérolas do Eduardo!

Blog Música do Brasil
www.everaldofarias.blogspot.com

Um forte abraço!