sábado, 5 de abril de 2008

Carros, caminhões, poeira, estrada, tudo, tudo - 16


Olá, amigos.

A série Carros, caminhões, poeira, estrada, tudo, tudo chega hoje ao seu fim, depois de enumerar nos posts anteriores canções do repertório de Roberto Carlos que falam sobre carros e velocidade. A música que encerra nossa série tem algumas peculiaridades: é a que tem os versos que batizaram esta seqüência, e também a que não está presente na discografia de Roberto Carlos.

Gravada originalmente pelo amigo Erasmo Carlos em seu LP Erasmo Carlos e Os Tremendões, de 1970, a música voltaria a estar em evidência 10 anos depois, graças a um projeto inovador do parceiro de Roberto. Erasmo sugeriu à gravadora fazer um disco pioneiro no qual traria apenas encontros com convidados especiais, em novas leituras de músicas assinadas com RC - e gravadas tanto por ele quanto por Roberto.

Erasmo Carlos convida... traria gravações antológicas naquele ano de 1980, a começar por sua faixa inaugural, que trouxe para o disco um encontro musical que ainda estava restrito aos especiais anuais de Roberto Carlos na TV Globo. A dupla Roberto e Erasmo emparelhava suas vozes lado a lado à beira do caminho de sua parceria artística e de amizade, mostrando que seja em carros, caminhões, poeira e estrada, os dois prosseguem ao encontro da boa música.

Reza a lenda (difundida por Erasmo em programas de TV) que o refrão surgiu de um despertar de Roberto Carlos. Os dois estavam compondo a canção, e por volta das três horas da manhã, ficaram presos ao refrão, que não saía de jeito nenhum. RC então pediu para dar uma cochilada de 15 minutos. Ao ser acordado por Erasmo, ele disse rapidamente: "preciso acabar logo com isso, preciso lembrar que eu existo".

Estava sacramentada mais uma música assinada por Roberto Carlos e Erasmo Carlos. A gravação feita pelos dois foi tão bem aceita que, em várias edições do Roberto Carlos Especial na TV Globo, os dois se reuniram para interpretar esta canção - nos anos de 1984, 1987, 1989 e 1997 (em 2004, a dupla teria a companhia de Wanderléa na interpretação da canção). RC também a interpretou em seu especial de 1994, num encontro com a dupla Zezé di Camargo & Luciano, e em disco teve um encontro musical com a cantora Eydié Gormé para interpretarem a versão em castelhano, batizada de Sentado a la vera del camino. Grande repercussão desde de o Erasmo Carlos convida... , que em seu lançamento teve dedicado um especial na TV Globo - como forma de divulgar o disco, já que, com as 12 faixas sendo de encontros musicais, ficava difícil a divulgação constante nos programas de televisão.

E na faixa que abre o LP Erasmo Carlos convida..., Roberto Carlos ajudou seu amigo de fé Erasmo a contar um desabafo amoroso de quem, cansado de ficar à beira do caminho, vendo caminhões e carros apressados passarem, necessitava lembrar que existia. Neste encontro da dupla com a velocidade das estradas, eles eram apenas observadores, que durante todos esses anos sabem contar como ninguém as várias histórias das muitas estradas de nossas vidas.

"E tem sido muito bom. Tem sido muito bom porque a gente tem aprendido muito nessas estradas", afirmou RC em seu especial de 1984. Erasmo completou, dizendo: "É, principalmente porque nas estradas acontecem milhões de histórias, que precisam principalmente de cantadores".

Segue a letra! Na foto, um registro de Erasmo Carlos e Roberto Carlos durante as gravações do primeiro Erasmo Carlos convida... , datado de 1980.

Abraços a todos, Vinícius.

SENTADO À BEIRA DO CAMINHO - Roberto e Erasmo

ROBERTO:
Eu não posso mais ficar aqui
A esperar
Que um dia, de repente
Você volte para mim

Vejo caminhões e carros apressados
A passar por mim
Estou sentado à beira de um caminho
Que não tem mais fim

ERASMO:
Meu olhar se perde na poeira
Dessa estrada triste
Onde a tristeza e a saudade de você
Ainda existe

Esse sol que queima no meu rosto
Um resto de esperança
De ao menos ver de perto seu olhar
Que eu trago na lembrança

OS DOIS:
Preciso acabar logo com isso
Preciso lembrar
Que eu existo
Que eu existo, que eu existo...

ROBERTO:
Vem a chuva e molha o meu rosto
Então eu choro tanto
Minhas lágrimas e os pingos dessa chuva
Se confundem com meu pranto

Olho pra mim mesmo, me procuro
E não encontro nada
Sou um pobre resto de esperança
À beira de uma estrada

OS DOIS:
Preciso acabar logo com isso
Preciso lembrar
Que eu existo
Que eu existo, que eu existo...

ERASMO (com ROBERTO no contracanto):
Carros, caminhões, poeira, estrada, tudo, tudo
Se confunde em minha mente
Minha sombra me acompanha e vê que eu
Estou morrendo lentamente

ROBERTO (com ERASMO no contracanto):
Só você não vê que eu não posso mais
Ficar aqui sozinho
Esperando a vida inteira por você
Sentado à beira do caminho

OS DOIS:
Preciso acabar logo com isso
Preciso lembrar
Que eu existo
Eu existo, que eu existo...

Lara lalaralaralara
Laralara...

Laralara Laralara
Laralara...

P.S.: em sua discografia, Erasmo Carlos também falou sobre as idas e vindas da estrada. No LP Amar pra viver, ou morrer de amor, a faixa de abertura, Filosofia de estrada, foi formada por frases de caminhões. Mais um dos tantos caminhos que segue a amizade de Roberto e Erasmo, que neste mês de março completa 50 anos.

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