terça-feira, 30 de junho de 2009

50 anos de emoções - 1995



Olá, amigos.

A série 50 anos de emoções apresenta mais um ano da carreira de Roberto Carlos. Post a post, este blogue vem trazendo cada momento da estrada musical de RC.

Em 1995, o mundo assistiu à gravidade dos atritos da Guerra da Bósnia. Numa tentativa de pôr fim a esta calamidade, representantes da Bósnia e Herzegovina, Sérvia e Croácia decidiram fazer um tratado de paz em Paris. No entanto, sérvios radicais se recusaram a aceitar partes do acordo, e fizeram ataques em Sarajevo. Na Irlanda, o Exército Republicano Irlandês (IRA) também se recusou a seguir o Acordo de Paz e não depôs suas armas.

Este ano ficou marcado por dois atentados. Em Oklahoma, nos Estados Unidos, um carro-bomba explodiu num edifício. Em Paris, fundamentalistas islâmicos explodiram uma bomba dentro de um metrô, matando sete pessoas e ferindo 84. No Zaire, o vírus Ebola começou a se espalhar.

No ano em que Fernando Henrique Cardoso assumiu a presidência do Brasil ocorreram muitas novidades no cenário nacional. O Rio de Janeiro teve suas favelas ocupadas pelo Exército. O Banco Econômico decretou falência e sofreu a intervenção do Banco Central do Brasil.

Em 12 de outubro de 1995, os católicos ficaram indignados com o pastor Sérgio Von Helde. Ele, que é da Igreja Universal do Reino de Deus, chutou uma imagem de Nossa Senhora Aparecida em um programa da TV Record. No fim do ano, a emissora entrou em atrito com a TV Globo. A minissérie global Decadência (escrita por Dias Gomes) contou a ascensão do mau caráter Mariel - vivido por Edson Celulari - por causa de uma seita religiosa. Especulou-se que o personagem era inspirado no Bispo Edir Macedo, e o atrito rendeu algumas acusações no programa 25ª hora , da Record, e a Rede Globo exibiu um Globo repórter cercado de denúncias aos pastores da Universal (além de constantes acusações no Jornal Nacional).

O Brasil mais uma vez chegou ao posto de melhor futebol da América do Sul. O Grêmio chegou ao seu segundo título na Taça Libertadores da América após vencer o colombiano Atlético Nacional por 3 a 1 na primeira partida, no Olímpico (com um gol contra de Marulanda e gols de Jardel e Paulo Nunes, com Ángel descontando) e um empate em 1 a 1 em Medellín (Dinho, de pênalti, marcou para os gremistas, e Aristizábal fez o gol colombiano). Entretanto, a equipe não conseguiu repetir o feito de 1983 e foi derrotada na final do Mundial Interclubes. Após o empate sem gols com o holandês Ajax, o time foi derrotado por 4 a 3 nos pênaltis. Ronald de Boer, Frank de Boer, Finidi e Blind marcaram para o Ajax e Magno, Gélson e Adílson converteram para os gremistas. Kluivert desperdiçou a primeira cobrança holandesa, mas os erros de Dinho e Arce tiraram o posto de melhor do mundo das mãos do tricolor gaúcho.

O Grêmio também foi derrotado na final da Copa do Brasil deste ano. Após uma vitória por 2 a 1 no Pacaembu - com gols de Viola e Marcelinho Carioca, com Luís Carlos Goiano descontando - novo gol de Marcelinho Carioca no Olímpico sacramentou o primeiro título corintiano no torneio. A partida final, exibida pelo SBT, teve 56 pontos de audiência (contra 17 da novela das 20h30 global, A próxima vítima). Com o sucesso da concorrente, a TV Globo compraria os direitos de transmissão da Copa do Brasil a partir do ano seguinte.

O Campeonato Brasileiro trouxe um novo formato para sua disputa. Os 24 clubes eram divididos em dois grupos de 12, e disputavam um primeiro turno entre si e o segundo em partidas contra os times da outra chave. Os campeões de cada turno em cada chave faziam as semifinais. Cruzeiro e Fluminense venceram o primeiro turno e Botafogo e Santos foram os melhores do segundo. O Botafogo foi para a final com dois empates - 1 a 1 no Mineirão e 0 a 0 no Maracanã - e o Santos com uma classificação praticamente impossível - após perder por 4 a 1 para o Fluminense no Rio de Janeiro, o time venceu na Vila Belmiro por 5 a 2.

No primeiro jogo da final, os botafoguenses ganharam por 2 a 1. Em um jogo com arbitragem muito contestada (o árbitro Márcio Rezende de Freitas validou um gol ilegal de cada lado e anulou um gol legítimo de Camanducaia), Botafogo e Santos empataram em 1 a 1. O resultado deu o título ao Botafogo - que conseguiu sua primeira conquista no Campeonato Brasileiro.

Roberto Carlos começou seu especial daquele ano cantando Caminhoneiro, enquanto Wanderléa e Erasmo Carlos entoavam a canção em outros carros. O trio se encontrava num restaurante e recordava várias canções e momentos da Jovem Guarda. Mais tarde, o trio voltava a ficar junto para chamar outros artistas jovem-guardistas ao palco, e cantarem Festa de arromba. Ainda na parte musical, RC recebeu as cantoras Ângela Maria (com quem cantou Desabafo) e Daniela Mercury, para os dois cantarem Como é grande o meu amor por você.

Em entrevista à jornalista Glória Maria, Roberto falou um pouco sobre sua carreira e apresentou em clipe sua nova música. Depois das baixinhas e das gordinhas, 1995 foi o ano de homenagear outras mulheres que fogem de padrões de beleza convencional: as mulheres de óculos. O charme dos seus óculos foi o destaque deste LP, que trouxe as seguintes canções:

LADO A

1 - Amigo, não chore por ela, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - O charme dos seus óculos, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

3 - O coração não tem idade, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

4 - Pra ficar com você, de Mauro Motta e Carlos Colla

LADO B

1 - Quando eu quero falar com Deus, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - Romântico, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

3 - Nunca te esqueci, de Eduardo Lages e Paulo Sérgio Valle

4 - Quase fui lhe procurar, de Getúlio Côrtes

5 - Sonho de amor, de Fernando de Souza, Mário Avellar e Edilson Campos

Algumas coisas deste disco se assemelharam ao de 1994. Os arranjos trouxeram bastante programação de computador, houve espaço para novos compositores (Fernando de Souza, Mário Avellar e Edilson Campos, que fizeram a música de encerramento do LP) e a presença de compositores de sempre - as duplas Eduardo Lages e Paulo Sérgio Valle e Mauro Motta e Carlos Colla. Assim como nos dois anos anteriores, RC regravou uma música de seu repertório - Quase fui lhe procurar, agora com o violão que o acompanhava sendo substituído por um arranjo sequenciado.

A safra de Roberto e Erasmo abriu o LP com uma canção com um leve toque sertanejo - Amigo, não chore por ela - e no lado A também apresentou a amorosa O coração não tem idade. O lado B teve início com Quando eu quero falar com Deus, música definida por muitos como uma resposta a Se eu quiser falar com Deus - canção que Gilberto Gil fez para Roberto Carlos gravar, mas ele recusou por achar que "o Deus dele diferia do mostrado por Gil".

Mas numa das faixas deste LP de 1995, Roberto Carlos revelava sua verdadeira faceta de compositor. Como sempre, ele se dizia um romântico.

Segue a letra! Na foto, a capa de um CD promocional do disco de 1995.

Abraços a todos, Vinícius.

ROMÂNTICO - Roberto e Erasmo

Que tal acordar com beijos e abraços
Palavras de amor logo ao amanhecer
De alguém que desperta e fala que te ama
Que rola na cama junto com você

Você diz que sente falta de carinho
De um homem que saiba te fazer feliz
Pra encontrar alguém que seja mesmo assim
É só olhar pra mim

Você tem que ter um homem como eu, romântico
Ardente no amor e cheio de paixão, romântico
Que faça você sentir-se a mais amada
E acabe de vez com a sua solidão

Você tem que ter um homem como eu, romântico
Que adoce a sua vida e saiba te dizer, romântico
Que nunca ninguém te amou até agora
Como esse que `tá diante de você

Quem é que te olha tão apaixonado
E o seu desabafo escuta a qualquer hora
Alguém que você tem sempre do seu lado
E enxuga seu pranto quando você chora

Alguém que te aperte firme entre os braços
Do jeito que você sonha e sempre quis
Você precisa mesmo ter alguém assim
Alguém igual a mim

Você tem que ter um homem como eu, romântico
Ardente no amor e cheio de paixão, romântico
Que faça você sentir-se a mais amada
E acabe de vez com a sua solidão

Você tem que ter um homem como eu, romântico
Que adoce a sua vida e saiba te dizer, romântico
Que nunca ninguém te amou até agora
Como esse que `tá diante de você

Você tem que ter um homem como eu, romântico
Ardente no amor e cheio de paixão, romântico
Que faça você sentir-se a mais amada
E acabe de vez com a sua solidão

Você tem que ter um homem como eu, romântico…

domingo, 28 de junho de 2009

50 anos de emoções - 1994



Olá, amigos.

A série 50 anos de emoções continua a enumerar os 50 anos de carreira de Roberto Carlos. Post a post, estão sendo apresentados os anos do cinquentenário de RC no cenário musical.

1994 foi um ano importantíssimo na África do Sul: em 9 de fevereiro, Nelson Mandela se tornou o primeiro presidente negro do país. Houve duas resoluções sobre embargo econômico: o presidente Bill Clinton decretou o fim ao embargo que o Vietnã sofria desde 1975. Já o Haiti começou a sofrer embargo total, de acordo com resolução da ONU.

Sarajevo passou o ano convivendo com massacres na guerra da Bósnia. O maior deles veio em fevereiro, quando 68 pessoas morreram e mais de 200 ficaram feridas. Foi necessário que as forças da ONU assumissem o controle do aeroporto da capital bósnia.

O Brasil deu um grande passo no combate à inflação. Em primeiro de julho de 1994, começou a circular a nova moeda do Brasil: o real. O Plano Real fez a inflação despencar vertiginosamente, a ponto de a moeda brasileira se equiparar ao dólar (e em alguns momentos valer mais do que a moeda americana). O bem sucedido plano econômico faria com que o ministro Fernando Henrique Cardoso vencesse as eleições presidenciais ainda no primeiro turno.

O país assistiu à abreviação da carreira de um dos grandes ídolos do país. Em primeiro de maio de 1994, o piloto Ayrton Senna morreu após seu carro bater na curva Tamburello, durante o Grande Prêmio de San Marino. Eram suas primeiras corridas pela Williams, equipe de destaque no cenário da Fórmula 1.

A Seleção Brasileira foi disputar a Copa do Mundo querendo o que Senna estava disputando: o tetracampeonato mundial. E ele veio. O "futebol de resultados" pensado por Carlos Alberto Parreira deu o título ao Brasil, 24 anos depois do tri. Na primeira fase, o Brasil venceu a Rússia por 2 a 0, Camarões por 3 a 0 e empatou em 1 a 1. Nas oitavas-de-final, a adversária foi a seleção anfitriã do torneio - e a vitória por 1 a 0 valorizou ainda mais a classificação. Nas quartas, a Seleção Brasileira protagonizou um emocionante jogo com a Holanda, vencendo por 3 a 2. Após passar pela Suécia com uma vitória por 1 a 0 nas semifinais, o Brasil foi credenciado para disputar a final.

Após 120 minutos em 0 a 0, pela primeira vez a Copa do Mundo foi decidida nos pênaltis. Baresi chutou por cima a primeira cobrança. Márcio Santos cobrou mal e permitiu defesa de Pagliuca. Albertini fez 1 a 0 para a Itália. Romário empatou para o Brasil. Evani deixou os italianos em vantagem. Branco empatou novamente. Massaro cobrou e Taffarel defendeu. Dunga fez 3 a 2 para o Brasil. Roberto Baggio chutou por cima do travessão o título da Itália. O Brasil voltava a ser campeão do mundo, e trouxe a faixa: "Senna, aceleramos juntos. O tetra é nosso".

O São Paulo perdeu a chance de ser novamente o melhor da América do Sul. Na final da Taça Libertadores da América, o time foi derrotado pelo Vélez Sarsifield por 1 a 0. No segundo jogo, o tricolor paulista conseguiu fazer 1 a 0 no Morumbi. Mas, nos pênaltis, os argentinos venceram por 5 a 3.

O Grêmio chegou ao seu segundo título na Copa do Brasil, contra o surpreendente Ceará (que, na semifinal, eliminou o não menos surpreendente Linhares, do Espírito Santo). Após empate sem gols em Fortaleza, os gremistas venceram o Ceará por 1 a 0 no Estádio Olímpico.

O Campeonato Brasileiro voltou a ter 24 clubes e o esquema de acesso e descenso. O regulamento foi um pouco discutível: os 24 clubes se dividiam em seis grupos de quatro e jogavam em turno e returno. Os 16 mais bem colocados se classificavam e jogavam contra todos, mas com a classificação dividida em dois grupos. Enquanto isto, os oito piores disputavam uma repescagem, na qual os dois últimos eram rebaixados e os dois primeiros iam para a fase final - quartas, semi e final.

A final foi mais uma vez entre paulistas. E o Palmeiras chegou ao seu quarto título, consagrando o time de Wanderley Luxemburgo formado por craques como Rivaldo, Edílson, Evair e Edmundo. As duas partidas foram no Pacaembu. Na primeira, Rivaldo (duas vezes) e Edmundo marcaram para o Palmeiras, com Marques descontando para os corintianos. Marques e Rivaldo fizeram os gols da segunda partida, e o 1 a 1 selou a conquista palmeirense.

Roberto Carlos estreou uma nova turnê. Patrocinado pela Brahma - que criou o slogan "Ele - o número 1" - Roberto estreou o show Luz em 3 de março, com o seguinte repertório:

Abertura
A montanha / Fé / A guerra dos meninos / Ele está pra chegar / Luz divina
Emoções
Cama e mesa
Outra vez
Mulher pequena
Olha
Festa de arromba / É proibido fumar / Lobo mau / O calhambeque
O côncavo e o convexo
Apresentação da banda
Símbolo sexual
Fera Ferida
Detalhes
Coisa bonita
O que será (À flor da pele)
Obsessão
Nossa Senhora
Cenário
Luz divina


Após o sucesso do encontro com Chico Buarque em seu Roberto Carlos Especial de 1993, RC incluiu O que será (À flor da pele) em seu repertório. Mas, como ele se perdia na letra de Chico, ela foi logo retirada. Na interpretação para Fera ferida, Roberto afirmou que estava cantando diferente das gravações dele, de Maria Bethânia e de Caetano Veloso.

O teor religioso foi o momento mais bonito desta turnê. Além do pout-pourri que começava o show, através de uma "mensagem". Durante Nossa Senhora, RC dizia: "que as bênçãos de Nossa Senhora caiam sobre todos, como uma cascata de luz". E uma cascata descia no palco, de maneira sensacional.

Infelizmente, Roberto não teria mais um amigo de fé para ajudá-lo em suas trajetórias de palco. Em dezembro de 1994, Ronaldo Bôscoli encerrou sua carreira aqui na Terra depois de lutar contra um câncer na próstata, deixando um "casamento a três" (Roberto, Miéle & Bôscoli) para a história.

Roberto Carlos recebeu mais uma homenagem do cenário musical. No LP Rei, foram reunidas várias gravações de roqueiros para a obra de RC. Alguns deles estiveram presentes no Roberto Carlos Especial, cantando suas versões para a safra de Roberto e Erasmo. O Skank cantou É proibido fumar, o Barão Vermelho cantou Quando e Cássia Eller interpretou Parei na contramão. Mais tarde, eles se juntaram a Roberto e Erasmo Carlos para cantar Lobo mau. O Tremendão também cantou as músicas Mesmo que seja eu e Pega na mentira.

A parte musical ainda trouxe a dupla Zezé di Camargo & Luciano, que apresentou a música Você vai ver e depois cantou com Roberto a música Sentado à beira do caminho e o cantor Fábio Jr., que depois de interpretar Alma gêmea, fez dueto com RC em Esqueça. Fábio havia feito uma leitura para o sucesso de Roberto do ano de 1966, e ela estava presente na trilha de A viagem, novela das 19h da TV Globo.

Assim como aconteceu no ano anterior, o especial deu destaque ao humor. Tom Cavalcante fez o papel de um fã de Roberto Carlos e, infiltrado, conseguiu subir ao palco para ficar ao lado de RC. Lá, ele fez imitações de Fagner, Maria Bethânia e Julio Iglesias.

Em seu programa de fim de ano, Roberto também apresentou músicas de seu novo disco. Eis o repertório:

LADO A

1 - Alô, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - Quero lhe falar do meu amor, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

3 - O taxista, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

4 - Custe o que custar, de Édson Ribeiro e Hélio Justo

LADO B

1 - Jesus Salvador, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - Meu coração ainda quer você, de Mauro Motta, Robson Jorge e Paulo Sérgio Valle

3 - Quando a gente ama, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

4 - Silêncio, de Beto Surian

5 - Eu nunca amei alguém como eu te amei, de Eduardo Lages e Paulo Sérgio Valle

Em um disco feito basicamente com arranjos programados por computador, Roberto acrescentou mais um compositor à sua lista: Beto Surian, autor da bela Silêncio. Paulo Sérgio Valle apareceu como autor de duas faixas - Meu coração ainda quer você (em parceria com o produtor Mauro Motta e o instrumentista Robson Jorge) e Eu nunca amei alguém como eu te amei (tendo como coautor o maestro Eduardo Lages).

RC regravou uma canção de seu repertório - Custe o que custar, lançada em compacto e que depois se tornou uma das faixas da compilação San Remo 68 - com uma alteração na última estrofe. Em vez da original "Será, meu Deus, enfim, que eu não tenho paz", ele cantou "Somente em Deus, enfim, é que eu encontro a paz".

A religiosidade continuou presente, na faixa Jesus Salvador, uma letra cheia de fervor e de embasamento bíblico. O romantismo da safra de Roberto e Erasmo prosseguiu em Quando a gente ama e em Quero lhe falar do meu amor (esta última trouxe inspiração das músicas árabes).

Se em 1984 e em 1993, Roberto homenageou os caminhoneiros, 1994 foi o ano de valorizar outros artistas que trabalham sobre rodas. O motorista de táxi foi o personagem de O taxista. No refrão, RC cantava "não tô no palco, mas no asfalto eu sou um artista".

Mas o destaque foi a faixa que abriu o LP de 1994. Com excelente interpretação, Roberto desabafava pela insistência do telefone em tocar.

Segue a letra! Na foto, Roberto Carlos no show Luz.

Abraços a todos, Vinícius.

ALÔ - Roberto e Erasmo

Diga logo de uma vez o que você quer de mim
Não me torture mais
Não me faça mais sofrer
Insistindo em me dizer que pensa em mim demais

Quando você fica só e precisa ouvir a voz
De quem te ama
Não suporta a solidão, pega o telefone e então
Me chama

E quando eu digo alô, fala de amor
Às vezes chora e mexe com meu coração
Me faz pensar que ainda me ama e alimenta essa ilusão
Que acaba nas semanas que você me esquece

Quando eu penso que esqueci
O telefone entra rasgando a madrugada a enlouquecer
O coração dispara, a mesma história vejo acontecer
E atordoado eu digo alô, e é você

Diga logo de uma vez o que você quer de mim...

Quando você fica só
E precisa ouvir a voz de quem te ama
Não suporta a solidão, pega o telefone e então
Me chama

E quando eu digo alô
Fala de amor, às vezes chora e mexe com meu coração
Me faz pensar que ainda me ama e alimenta essa ilusão
Que acaba nas semanas que você me esquece

Quando eu penso que esqueci
O telefone entra rasgando a madrugada a enlouquecer
O coração dispara, a mesma história eu vejo acontecer
E atordoado eu digo alô, e é você...

E quando eu digo alô...

sexta-feira, 26 de junho de 2009

50 anos de emoções - 1993



Olá, amigos.

A série 50 anos de emoções continua, trazendo um panorama da carreira de Roberto Carlos a cada post. Com ela, estamos revendo cada passo de RC em sua estrada musical.

O ano de 1993 trouxe uma mudança no mapa: a partir de janeiro, a Tchecoslováquia se dividiu entre República Theca e Eslováquia. Entretanto, o cenário mundial não foi dos melhores: houve guerra aberta em Angola, tentativa de golpe de estado na Guiné-Bissau, assassinato do vice-presidente da Bósnia e o atentado que matou Chris Hani (um dos líderes da luta contra o apartheid na África do Sul).

Bill Clinton assumiu o cargo de presidente dos Estados Unidos e logo teve de conviver com incidentes no país. Um deles foi o atentado às torres gêmeas do World Trade Center, quando um caminhão com dinamite explodiu, atingindo quatro andares dos prédios e abrindo 30 metros de profundidade. Seis pessoas morreram. Graças à sua intervenção, o governo de Nelson Mandela foi reconhecido na África do Sul.

Uma celebridade teve destaque negativo na imprensa. O cantor Michael Jackson foi acusado de corrupção de um menor de 13 anos. O pai do menino foi responsável pela acusação.

Após o conturbado ano político causado pela Era Collor, o Brasil realizou um plebiscito. Através do voto, a população iria decidir qual seria o sistema (presidencialismo ou parlamentarismo) e a forma (republicano ou monarquista) de governo. 49,2% dos votantes decidiram por uma república e 41,16% votaram na manutenção do presidencialismo. Haveria eleições para presidente no ano de 1994.

O presidente Itamar Franco nomeou em 19 de março deste ano Fernando Henrique Cardoso para o cargo de ministro da Fazenda. Este nome seria muito importante para o país no ano seguinte. Mas isto é um assunto para um dos próximos posts.

No futebol, o São Paulo repetiu as façanhas de 1992 e voltou a ter destaque no cenário internacional. O tricolor paulista chegou à final da Taça Libertadores da América e, após uma goleada por 5 a 1 sobre o Universidad Católica no Morumbi, deu-se ao luxo de perder por 2 a 0 no Chile e chegou ao bicampeonato do torneio sul-americano.

O adversário são-paulino no Mundial Interclubes seria o Olympique de Marselha, da França, mas descobriu-se que o time francês comprou resultados para chegar ao título europeu, e ele foi desclassificado. Em seu lugar, entrou o vice-campeão Milan. No jogo contra os italianos, o São Paulo abriu o placar com Palhinha aos 19 minutos. Aos três minutos do segundo tempo, Massaro empatou para o Milan. Aos 14, Toninho Cerezo fez 2 a 1. A nove minutos do fim, Papin deixou o jogo em igualdade. Mas, aos 41, Müller decretou a vitória são-paulina, pelo placar de 3 a 2.

A Copa do Brasil levou um time mineiro ao torneio sul-americano do ano seguinte. O Cruzeiro foi campeão após empatar em 0 a 0 com o Grêmio no Olímpico e, no segundo jogo, vencer os gaúchos pelo placar de 2 a 1. Marcaram na final Roberto Gaúcho e Cleisson para a Celeste mineira, com Pingo descontando para o tricolor.

O Campeonato Brasileiro voltou a protagonizar um momento de desorganização. Em vez de continuar com 20 clubes e sistema de acesso e descenso - nos quais cairiam Náutico e Paysandu e subiriam Paraná e Vitória da Bahia, a CBF decidiu virar a mesa. O motivo: o Grêmio havia sido rebaixado em 1991 e na Segunda Divisão não passou de um nono lugar. Para o tricolor gaúcho não disputar a Série B novamente, foi decidido que os 12 melhores clubes da Segundona anterior iriam disputar a Primeira Divisão. Eles estariam nos grupos C e D, dos quais seriam rebaixados quatro clubes. Também foi definido que os times que já tinham sido campeões brasileiros não seriam mais rebaixados.

O surpreendente Vitória chegou à final do torneio, mesclando novos talentos como o goleiro Dida e o atacante Alex Alves a jogadores experientes como Pichetti e Roberto Cavalo. Mas, após eliminar Corínthians e Flamengo na fase final, o time não conseguiu resistir à força do Palmeiras. O alvinegro paulista ganhou seu terceiro título brasileiro com uma vitória por 1 a 0 no Barradão (gol de Edílson) e no Morumbi, a dupla de ataque Evair e Edmundo fez os dois gols da vitória por 2 a 0 do Palmeiras. No ano de 1993, o time do Palestra Itália quebrou dois tabus: foi o campeão paulista depois de 17 anos de seu último título e se tornou o melhor do país 20 anos depois de sua conquista mais recente.

Roberto Carlos recebeu uma gratíssima homenagem de uma das maiores artistas da Música Popular Brasileira. Maria Bethânia lançou o LP As canções que você fez pra mim, com 11 músicas de autoria de Roberto Carlos e Erasmo Carlos. O repertório trouxe as músicas As canções que você fez pra mim, Olha, Fera ferida, Palavras, Costumes, Detalhes, Você não sabe, Eu preciso de você, Seu corpo, Você e Emoções.

O disco fez Bethânia emplacar uma música na abertura de uma novela das 20h30 da TV Globo - a cidade de Tubiacanga, na qual Aguinaldo Silva "abrigou" os personagens de sua trama (inspirados no universo do autor Lima Barreto), chegou à teledramaturgia brasileira com o nome de Fera ferida. Em 23 de dezembro, ela e Roberto Carlos cantariam esta música em dueto no Roberto Carlos Especial. Maria Bethânia também apresentou a música As canções que você fez pra mim.

Dirigido por Jorge Fernando, o especial de 1993 começou com Roberto entrando no palco em um calhambeque vermelho. Além de Bethânia, RC recebeu outros destaques de vários estilos da MPB. A dupla Sandy e Júnior (que cantou Splish splash enquanto o Balé Infantil Grupo Racinha fazia coreografias da Jovem Guarda) e participou de um pout-pourri jovem-guardista com Erasmo Carlos e Wanderléa. Também houve espaço para uma dupla sertaneja: Leandro e Leonardo, que cantaram a música Bobo e na companhia de RC entoaram À distância. Mas, no número mais bonito de todos os especiais, Roberto Carlos recebeu aquele que é definido como "um dos maiores, senão o maior compositor da música brasileira de todos os tempos". Chico Buarque entrou no palco e interpretou seu lançamento da época - Paratodos, que cita Roberto e Erasmo. Em seguida, os dois apresentaram a música O que será (À flor da pele).

O especial também teve espaço para um momento de humor. Regina Casé gritava da plateia e fazia uma fã apaixonada por Roberto Carlos que conseguia chegar até o palco. Num papo de RC pra RC, os dois chegaram a cantar um trecho de Emoções.

Prosseguindo a ideia iniciada em 1992, Roberto Carlos chegou a 1993 com um novo "momento de defender as mulheres". Após cantar para as baixinhas em Mulher pequena, RC decidiu homenagear as gordinhas em uma de suas faixas do LP daquele ano. Ele afirmou a verdade de as mulheres não "terem de ser de certa forma para serem formosas". Coisa bonita foi uma das canções que Roberto lançou naquele ano. Eis o repertório:

LADO A


1 - O velho caminhoneiro, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - Coisa bonita (Gordinha), de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

3 - Hoje é domingo, de Nenéo e Dalmo Belotti

4 - Obsessão, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

LADO B

1 - Nossa Senhora, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - Tanta solidão, de Mauro Motta, Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle

3 - Se você pensa, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

4 - Parabéns, de Altay Veloso

5 - Mis amores, de Roberto Livi e Bebu Silvetti

No mesmo ano em que a gravação de RC para sua Dito e feito (de 1992) fez parte da trilha da novela Renascer, Altay Veloso conseguiu que Roberto gravasse uma nova canção de sua autoria - Parabéns. A música Tanta solidão faria parte no ano seguinte da trilha da novela Tropicaliente, exibida às 18h na programação da TV Globo. 17 anos depois de sua última música na discografia de RC, Nenéo voltou ao repertório através de Hoje é domingo. O LP encerrou com Mis amores, canção lançada no disco Volver, de 1988. A parte latina só voltaria à safra de Roberto quatro anos depois, mas isto é um assunto para um próximo post.

Em meados de 1993, chegaria ao Brasil um pouco da faceta latina de Roberto Carlos. A compilação Inolvidables trouxe 10 gravações dele para o mercado latino - a maioria com versões de sucessos para o castelhano.

Do cancioneiro em parceria com Erasmo Carlos, Roberto voltou a fazer homenagem aos caminhoneiros em O velho caminhoneiro, recorreu à regravação de um sucesso com Se você pensa e fez uma letra romântica com Obsessão. Mas a canção mais emblemática de 1993 veio da mensagem religiosa. Após muitas canções dedicadas a Jesus e a Deus, o tema religioso foi a Virgem Maria. Nossa Senhora entrou no repertório religioso de Roberto Carlos.

Segue a letra! Na foto, Roberto Carlos em meio às capas de seus LPs (cenário que seria usado em seu especial daquele ano).

Abraços a todos, Vinícius.

NOSSA SENHORA - Roberto e Erasmo


Cubra-me com seu manto de amor
Guarda-me na paz desse olhar
Cura-me as feridas e a dor
Me faz suportar

Que as pedras do meu caminho
Meus pés suportem pisar
Mesmo ferido de espinhos
Me ajude a passar

Se ficaram mágoas de mim
Mãe, tira do meu coração
E aqueles que eu fiz sofrer
Peço perdão

Se eu curvar meu corpo na dor
Me alivia o peso da cruz
Interceda por mim, minha Mãe
Junto a Jesus

Nossa Senhora me dê a mão, cuida do meu coração
Da minha vida, do meu destino
Nossa Senhora me dê a mão, cuida do meu coração
Da minha vida, do meu destino, do meu caminho
Cuida de mim

Sempre que o meu pranto rolar
Ponha sobre mim suas mãos
Aumenta minha fé e acalma
O meu coração

Grande é a procissão a pedir
A misericórdia, o perdão
A cura do corpo e pra alma
A salvação

Pobres pecadores, oh Mãe
Tão necessitados de vós
Santa Mãe de Deus
Tem piedade de nós

De joelhos aos vossos pés
Estendei a nós vossas mãos
Rogai por todos nós, vossos filhos
Meus irmãos

Nossa Senhora me dê a mão, cuida do meu coração
Da minha vida, do meu destino
Nossa Senhora me dê a mão, cuida do meu coração
Da minha vida, do meu destino, do meu caminho
Cuida de mim...

*****

Ontem, o universo pop perdeu Michael Jackson. Um infarto levou o cantor aos 50 anos de idade. Para quem não se lembra, Roberto Carlos interpretou uma música dele em um de seus especiais. No Roberto Carlos Especial de 1985, ele fez uma leitura para a canção We are the world (parceria de Michael Jackson e Lionel Richie), gravada originalmente por 45 cantores. Eles gravaram a canção para um compacto que teria sua renda revertida para o combate à fome na África. O disco vendeu sete milhões de cópias no mundo todo. Para ver a interpretação de RC, basta ver o link abaixo:

http://www.youtube.com/watch?v=OJUJrrw4kTU

Em 2007, Roberto Carlos convidou o grupo Roupa Nova para seu especial de fim de ano. Eles interpretaram a versão de uma música de Michael Jackson. E "Heal the world" se tornou "A paz" no disco do Roupa Nova e também no especial de Roberto Carlos:

http://www.youtube.com/watch?v=ORK4hAMd77k

quarta-feira, 24 de junho de 2009

50 anos de emoções - 1992



Olá, amigos.

A série 50 anos de emoções apresenta mais um ano da estrada de Roberto Carlos na Música Popular Brasileira. Desta forma, o Emoções de Roberto Carlos faz homenagem pelos 50 anos de carreira do cantor.

O ano de 1992 trouxe um grande passo para encerrar preconceitos. A Organização Mundial de Saúde parou de considerar a homossexualidade uma doença. A partir de agora, o homossexualismo passou a ser uma opção sexual.

Depois de um longo período de batalhas, a Bósnia e Herzegovina conseguiu, finalmente, sua separação da Iugoslávia. E representações de todo o mundo voltaram suas atenções para o Rio de Janeiro. Entre 3 e 14 de junho deste ano, a cidade sediou a Rio-92, conferência de meio ambiente que buscava saídas para o mundo conseguir seu desenvolvimento sem danificar os ecossistemas.

As resoluções da ECO-92 acabaram ofuscadas pela turbulência política na qual vivia o Brasil. As denúncias de corrupção envolvendo o presidente Fernando Collor de Mello ficaram concretas depois da entrevista que irmão dele, Pedro, concedeu à revista Veja. Pedro Collor entregou à revista vários documentos que apontavam o ex-tesoureiro do irmão, Paulo César Farias, como o proprietário de empresas no exterior. A mãe dos dois, Leda Collor, chegou a alegar insanidade do filho.

Pedro conseguiu mostrar que estava com saúde mental perfeita e aceitou conceder uma entrevista para a Veja. No dia 23 de maio de 1992, Pedro Collor detalhou o "esquema PC" e denunciou uma rede de corrupção envolvendo o irmão. Foi realizada uma Comissão Parlamentar de Inquérito e, a 26 de agosto, a "CPI de PC" achou gastos do dinheiro ilegal do esquema - a reforma da "Casa da Dinda" e a compra de um Fiat Elba.

Em primeiro de setembro, Barbosa Lima Sobrinho entregou à Câmara dos Deputados o pedido de impeachment de Fernando Collor. 28 dias depois, o pedido de abertura do processo foi aprovado, com 441 votos a favor e 38 contra. Houve uma abstenção e 23 ausências. Em 2 de outubro, o presidente se afastou do cargo. Para evitar o risco de ter seus direitos políticos cassados, Collor renunciou ao mandato de presidente antes que o processo de seu impeachment fosse julgado. Mesmo assim, o julgamento aconteceu em 29 de dezembro, e Fernando Collor de Mello ficou proibido de ter mandatos políticos durante oito anos. O vice-presidente Itamar Franco assumiu em definitivo a cadeira presidencial do país para o restante do governo.

No futebol, o Brasil voltou a ter destaque no cenário mundial, e iniciou a valorização do esporte como negócio. O São Paulo sagrou-se campeão numa final emocionante contra o Newell's Old Boys. Após derrota em Buenos Aires e vitória no Morumbi pelo mesmo placar de 1 a 0, a decisão de quem seria o melhor da América em 1992 foi para os pênaltis. Nas cobranças, o tricolor paulista saiu vencedor, pelo placar de 3 a 2. Em dezembro, a equipe foi a Tóquio disputar a final do Mundial Interclubes contra o Barcelona, da Espanha. O búlgaro Stoichkov abriu o placar para o time espanhol, mas dois gols de Raí deram a vitória por 2 a 1 e o primeiro título de "melhor do mundo" para o São Paulo. A conquista são-paulina deu ao futebol brasileiro a noção de que dá para vencer violência, catimba e a pressão da arbitragem com bom futebol.

A Copa do Brasil teve sua final disputada por Internacional e Fluminense. Na primeira partida, realizada no Estádio das Laranjeiras, o tricolor venceu por 2 a 1, com gols de Vágner e Ézio para o Fluminense e Caíco marcando para o colorado. No segundo jogo, realizado no Beira-Rio, um pênalti discutível marcado aos 43 minutos do segundo tempo deu a vitória ao Internacional. Com a cobrança de Célio Silva, o colorado venceu por 1 a 0 e, beneficiado pelo critério de "gol fora de casa", sagrou-se campeão do torneio.

O Campeonato Brasileiro de 1992 teve uma mudança em sua reta decisiva. Dentre 20 participantes, os oito melhores se classificavam para a segunda fase. Eles eram divididos em dois grupos de quatro e o campeão de cada chave ganhava o direito de ir para a final. No Grupo 1, classificaram-se Vasco (primeiro), Flamengo (quarto), São Paulo (sexto) e Santos (oitavo). No Grupo 2, os classificados foram Botafogo (segundo), Bragantino (terceiro), Corínthians (quinto) e Cruzeiro (sétimo).

Flamengo e Botafogo fizeram a segunda final entre cariocas num Campeonato Brasileiro. A vantagem botafoguense de dois empates ou de um empate na soma dos resultados ficou mais difícil após a primeira partida. Logo no primeiro tempo, o Flamengo vencia por 3 a 0, com gols de Júnior, Nélio e Gaúcho. No dia seguinte, o atacante Renato Gaúcho (na época jogando pelo Botafogo) foi visto no churrasco da vitória flamenguista, que aconteceu na casa de Gaúcho e, por isto, foi afastado do clube.

Na segunda partida, uma grade da arquibancada cedeu antes do jogo começar, e centenas de pessoas caíram no anel inferior. Três torcedores morreram. Mesmo assim, o jogo aconteceu. O empate em 2 a 2 (gols de Júnior e Júlio César para o Flamengo e Pichetti e Valdeir para o Botafogo) confirmou o título flamenguista. O Maracanã foi fechado para obras (no Campeonato Estadual, realizado no semestre seguinte) não foi utilizado e não voltaria mais a ter um público tão grande quanto o daquela final de 1992 - mais de 122 mil pessoas.

Roberto Carlos teve uma perda inestimável para sua carreira. Diretor de vários de seus especiais, Augusto César Vanucci faleceu em 30 novembro de 1992. O Roberto Carlos Especial daquele ano foi batizado de Amigo em homenagem a ele.

No programa, RC recebeu a dupla Chitãozinho & Xororó, que apresentaram a música Minha vida (versão de My way) e cantaram com ele a música Todas as manhãs. Erasmo Carlos interpretou a música Homem de rua, sucesso dele que estava tocando na novela das 20h30, De corpo e alma, e, com Roberto, cantou Se você pensa. Kátia se apresentou com sua suave interpretação para Quando o amor acaba. Mas o número mais emocionante veio com a participação de Caetano Veloso. RC apresentou o amigo logo depois de interpretar Força estranha. Caetano chegou, cantou Debaixo dos caracóis dos seus cabelos (e RC ainda deu uma canja cantando uns trechos no final). No número final, os dois cantaram a música Alegria, alegria - sucesso de Caetano Veloso em 1967 que voltara a ficar em evidência em 1992, por ela ser a música de abertura da minissérie Anos rebeldes. Passada durante a Ditadura Militar, a minissérie inspirou os manifestantes contra Fernando Collor a fazerem "a manifestação dos caras-pintadas".

Roberto narrou a história da Virgem Maria e suas falas eram entrecortadas com dramatizações. Maria foi vivida pela atriz Daniella Perez que, quatro dias depois do Roberto Carlos Especial ir ao ar, foi vítima de um crime bárbaro. Ela foi morta com 18 tesouradas pelo colega de novela Guilherme de Pádua (que teve como cúmplice a esposa Paula Thomaz). Os dois faziam o par romântico Yasmin e Bira na novela De corpo e alma. Curiosamente, a canção Homem de rua, gravada por Erasmo Carlos, era justamente o tema do casal. Mesmo com a morte da filha, a autora Glória Perez prosseguiu a novela até o final.

O tema "amigo" deu margem a um coro de atores da TV Globo cantando Eu quero apenas na companhia de RC. Numa colagem musical, os atores Edson Celulari, Cristiana Oliveira, Cristina Mullins, José Mayer, Eva Wilma, Jayme Periard, Maria Zilda, Vera Holtz, Ewerton de Castro, Fábio Assunção, Marisa Orth, Lolita Rodrigues, Lucinha Lins dentre outros seguiram a vontade de ter um milhão de amigos.

Na reta final do programa, apareceu uma interessantíssima forma de homenagear Augusto César Vanucci: através da apresentação de Emoções, aparecia RC em vários momentos de seus especiais de fim de ano pela TV Globo. Um texto emocionante para o amigo e a certeza de que ele "estreia agora em um palco muito mais iluminado" encerrou o Roberto Carlos Especial.

O ano de 1992 trouxe a primeira coletânea em Compact Disc (formato ainda em ascensão no mercado fonográfico) de Roberto Carlos. O disco The best of trazia uma compilação com 12 sucessos de Roberto Carlos - Emoções, Detalhes, Outra vez, Os seus botões, Proposta, Ele está pra chegar, O portão, Falando sério, Cavalgada, Café da manhã, Desabafo e Eu e ela.

Mas o final de ano reservou mais uma presença de Roberto Carlos no mercado fonográfico. Eis o repertório de seu trabalho naquele ano:

LADO A

1 - Você é minha, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - Mulher pequena, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

3 - De coração, de Eduardo Lages e Paulo Sérgio Valle

4 - Você como vai? (E tu come stai?), de Cláudio Baglione, com versão de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

5 - Dito e feito, de Altay Veloso

LADO B

1 - Herói calado, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - Eu preciso desse amor, de Michael Sullivan e Paulo Massadas

3 - Você mexeu com a minha vida, de Mauro Motta e Paulo Sérgio Valle

4 - Dizem que um homem não deve chorar (Nova flor / Los hombres no deben llorar), de Palmeira, Mario Zan e Pepe Ávila, com versão de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

5 - Una en un millón, de Roberto Livi e Alejandro Vezzani

De seus compositores constantes, as duplas Eduardo Lages e Paulo Sérgio Valle e Michael Sullivan e Paulo Massadas estiveram presente neste LP e houve uma parceria até então inédita de Paulo Sérgio com o produtor musical Mauro Motta. Roberto Carlos deu espaço a um novo compositor em sua lista - Altay Veloso - e o presente acabou ganhando uma dimensão ainda maior em 1993, quando a gravação de Dito e feito fez parte da trilha da novela Renascer, exibida às 20h30 pela TV Globo. Uma dramática canção italiana E tu come stai? ganhou uma primorosa interpretação de RC e uma impactante letra em português feita por Roberto Carlos e Erasmo Carlos.

A presença latina apareceu em dois momentos neste LP de RC. Na última faixa, com a canção Una en um millón, gravação feita originalmente para o disco que Roberto lançou para o mercado em castelhano em 1991. Mas a outra canção é ainda mais curiosa.

O compositor Mario Zan escreveu (em parceria com Palmeira) uma guarânia chamada Nova flor. O Trio Los Panchos decidiu gravá-la, e traduziu sua letra para o espanhol, que foi batizada de Los hombres no deben llorar. Roberto e Erasmo fizeram a versão... DA VERSÃO. Dizem que um homem não deve chorar é a única gravação em português na qual RC canta uma estrofe em espanhol. O mais estranho foi que ela não foi lançada no LP para a América Latina no ano seguinte.

Roberto e Erasmo assinaram sozinhos três músicas deste disco. As faixas que abrem o lado A (a despretensiosa Você é minha) e o lado B (a engajada Herói calado) e uma canção que seria a primeira de uma vertente da década de 1990. Quando apresentou esta música em seu especial, Roberto confessou que, quando escrevia com Erasmo, achava que ela seria para uma minoria feminina. Mas, enquanto pesquisavam, foram surpreendidos com o fato de, no Brasil, existirem mais de 20 milhões de mulheres abaixo de 1,60m. Talvez por isto esta salsa tenha sido um dos maiores sucessos radiofônicos de Roberto Carlos na década.

Segue a letra! Na foto, Roberto Carlos em seu especial de 1992.

Abraços a todos, Vinícius.

MULHER PEQUENA - Roberto e Erasmo

Quando uma mulher pequena
Vem falar no meu ouvido
O meu coração dispara
Chega até a fazer ruído

Fica na ponta dos pés
Se pendura como louca
Olha o céu e fecha os olhos
Pra ganhar beijo na boca

Depois do beijo na boca
Sua mão leve desliza
Pelos pelos do meu peito
Dentro da minha camisa

Quando a coisa fica quente
Ai, essa mulher me usa
Quero só que se arrebente
Algum botão da sua blusa

Não há roupa que se agüente
E nenhum botão que dure
Esse amor que a gente sente
Não há nada que segure

Gosto de você, pequena
Esse beijo me alucina
Coisa de mulher gostosa
Com um jeito de menina

Ai, ai, ai
Essa voz doce e serena
Essa coisa delicada
Coisa de mulher pequena

Ai, ai, ai
Essa voz doce e serena
O meu coração dispara
Por você mulher pequena...

segunda-feira, 22 de junho de 2009

50 anos de emoções - 1991



Olá, amigos.

A série 50 anos de emoções apresenta mais um ano da estrada musical de Roberto Carlos. Esta é a nossa forma de homenagear o cinquentenário do cantor, comemorados em 2009.

No ano de 1991, a Guerra do Golfo prosseguiu, com ofensivas aliadas contra o exército iraquiano. O Iraque perderia centenas de soldados no decorrer da guerra. O golpe de misericórdia aconteceu em 25 de fevereiro, quando a Operação Tempestade no Deserto teve vitória dos aliados. O Kuwait, enfim, foi libertado do domínio de Saddam Hussein.

Com o enfraquecimento definitivo do socialismo, a aliança militar do Pacto de Varsóvia (iniciada em 1955) chegou ao fim. Vários países conseguiram sua independência no Leste Europeu. Letônia, Ucrânia, Bielorrússia, Quirguízia, Armênia e Croácia foram alguns deles. No último dia do ano, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas se dissolveu.

O presidente Fernando Collor passou o ano tentando ter o apoio do PSDB, mas teve o apoio negado pelo governador paulista Mário Covas e pelo presidente do partido, Franco Montoro. As denúncias de falcatruas envolvendo pessoas ligadas a Collor - a ministra Zélia Cardoso de Mello e o tesoureiro Paulo César Farias - começaram a aparecer, e viriam com mais intensidade no ano seguinte. Mas isto é um assunto para um dos próximos posts.

Depois de dois times de menos expressão chegarem ao vice-campeonato, a terceira edição da Copa do Brasil trouxe a ascensão de um time outrora desconhecido do grande público. O modesto Criciúma, de Santa Catarina, foi a primeira surpresa do torneio, e também o primeiro campeão que se valeu do regulamento. Um dos critérios de desempate é o "gol marcado fora de casa". E, após conseguir empatar com o Grêmio no Olímpico em 1 a 1 (gol de Vilmar para os catarinenses e de Maurício para os gaúchos), o placar de 0 a 0 no Estádio Heriberto Hulse deu o título para o time treinado por Luiz Felipe Scolari.

O Campeonato Brasileiro trouxe mais um torneio com o número de participantes considerado ideal pela FIFA - 20 equipes. Mas o rebaixamento do Grêmio (que terminou o campeonato em penúltimo lugar) teria consequências desastrosas para os anos seguintes da competição. Isto é um assunto para os próximos posts.

Pela terceira vez consecutiva, o São Paulo chegou à final do torneio - e, assim como em 1990, numa final paulista. O adversário foi o surpreendente Bragantino, treinado por Carlos Alberto Parreira. Mas, desta vez, os são-paulinos conseguiram chegar ao título, após uma vitória por 1 a 0 (com gol de Mário Tilico) no Morumbi e um empate em 0 a 0 no Marcelo Stefani, em Bragança Paulista. Foi o terceiro título brasileiro do São Paulo.

"O artista mais amado do Brasil faz 50 anos hoje: Roberto Carlos". A fala do apresentador Celso Freitas começou o Globo repórter de 19 de abril de 1991. A TV Globo apresentou o programa Roberto Carlos: uma vida de emoções, recontando a trajetória de vida e de arte de RC, com amigos como seu Zé Nogueira, os maestros Chiquinho de Moraes, Charles Callello e Eduardo Lages, Ronaldo Bôscoli, Luiz Carlos Miéle, Luiz Carlos Ismail, Carminha, Caetano Veloso, Julio Iglesias e, claro, os amigos Erasmo Carlos e Wanderléa. Roberto respondeu a perguntas de fãs e conversou com a repórter Glória Maria numa entrevista exclusiva. Ao final, a TV Globo apresentou um show ao vivo do Ibirapuera, em São Paulo, com direito a, no fim, acontecer um "parabéns pra você".

Roberto Carlos iniciou uma nova turnê nos palcos - e, desta vez, com um título bem condizente com o que ele é. Coração estreou em fevereiro de 1991, com o seguinte roteiro:

Abertura (ao final dela, Roberto Carlos canta um trecho de "Fera ferida" antes de entrar no palco)
Cenário
Se você disser que não me ama
Meu ciúme
Por ela
Amazônia
Quero paz
Café da manhã
Além do horizonte
Aquarela do Brasil
Pot-pourri "O coração dos compositores": Coração vagabundo / Carinhoso / Só louco / Explode coração
Mexerico da Candinha (em dueto com "Robertinho Carlinhos")
Detalhes (músicas incidentais: Como é grande o meu amor por você, Sentado à beira do caminho e Não quero ver você triste)
Se você pensa
Música suave
Emoções
Potu-pourri de encerramento: Ele está pra chegar / Amigo / As curvas da Estrada de Santos / O show já terminou


Desta vez, além de cantar as canções que em letra e música contaram sobre seu coração, ele interpretou "o coração dos compositores", num interessantíssimo bloco que trouxe Caetano Veloso, Pixinguinha, Dorival Caymmi e Gonzaguinha. "Não vou mudar, esse caso não tem solução, sou fera ferida, no corpo, na alma e no coração". O trecho de Fera ferida que RC cantava antes de entrar no palco deixava claro como o então cinqüentão seguia cantando de acordo com sua verdade, independente de pessoas que insistiam em dizer que era hora de mudar.

O repertório de Coração trouxe canções de um Roberto Carlos mais maduro. As canções eram basicamente das décadas de 1970 (Além do horizonte e Café da manhã) e 1980 (Amazônia e Se você disser que não me ama).

Logo no início houve espaço para músicas do LP do ano anterior, como Meu ciúme, de Michael Sullivan e Paulo Massadas. Ainda envolvido pela paixão ecológica (e usando a mesma pena do LP de 1989), Roberto cantou os problemas da Floresta Amazônica em Amazônia e repudiou a violência em Quero paz.

No momento mais interessante e mais inusitado do show, o público viu uma conversa de RC para RC. Graças a efeitos especiais, Roberto Carlos ficou lado a lado com "Robertinho Carlinhos", uma reprodução perfeita de sua imagem na época da Jovem Guarda exibida em telão móvel. Com muita irreverência, os dois conversaram e levaram ao público a magia que a tecnologia (quando bem utilizada) traz para todos nós.

Este show tem um valor muito especial para este que vos escreve. Eu tinha 8 anos quando Roberto Carlos foi a Vitória (pertinho de Cachoeiro) e, pela primeira vez, estive em contato com a emoção que é ver um show de Roberto Carlos ao vivo. Depois viriam muitas outras, felizmente...

A Música Popular Brasileira assistia à ascensão repentina de duplas sertanejas, mas um sertanejo mais moderno, que se assemelhava mais ao country americano. Mostrando a característica constante de dialogar com sucessos do momento, Roberto Carlos abriu espaço para o sertanejo em seu programa de fim de ano.

O Roberto Carlos Especial daquele ano também aconteceu em duas partes. No programa, batizado Viva a luz, RC teve a companhia de Cláudia Raia e Glória Maria à tarde, ao vivo no Teatro Fênix. Além de campanha sobre os direitos da criança e do adolescente (e abordar temas como o teste do pezinho), Roberto recebeu alguns convidados - o grupo Kid Abelha, com quem cantou Não vou ficar, e Mário Lago, com quem dividiu os vocais para Atire a primeira pedra e Ai, que saudades da Amélia. Também foi convidada a dupla Zezé di Camargo & Luciano, que cantou a música É o amor.

Na noite de 25 de dezembro, Roberto Carlos voltou à TV Globo, para emocionar mais seu público. Neste show, a parte sertaneja ficou por conta de Chitãozinho & Xororó. Os três cantaram Amazônia. Os outros convidados foram Erasmo Carlos (os dois cantaram um pout-pourri de músicas da Jovem Guarda), Fagner (com quem cantou Mucuripe) e Fafá de Belém. Fafá teve o privilégio de participar de um LP de Roberto Carlos. Assim como Maria Bethânia e Erasmo Carlos, ela dividiu os vocais para uma faixa de RC - a canção Se você quer (versão de Roberto Carlos e Carlos Colla para Si piensas... si quieres..., de Roberto Livi e Alejandro Vezzani).

Mas a tônica de seu LP daquele ano era o neosertanejo. Esta vertente saltava aos olhos, afinal, na capa do disco aparecia Roberto Carlos com um chapéu de vaqueiro. Eis o repertório:

LADO A

1 - Todas as manhãs, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - Primeira dama, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

3 - Se você quer (Si piensas... si quieres...), de Roberto Livi e Alejandro Vezzani (versão de Roberto Carlos e Carlos Colla), com participação de Fafá de Belém

4 - Não me deixe, de Marcos Valle e Carlos Colla

5 - Oh, oh, oh, oh, de Roberto Livi e Salako

LADO B

1 - Luz divina, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - Pergunte pro seu coração, de Michael Sullivan e Paulo Massadas

3 - Diga-me coisas bonitas, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

4 - Mudança, de Biafra, Aloysio Reis e Nilo Pinta

Além de Se você quer, a presença latina também esteve presente na última faixa do lado A do LP - a música Oh, oh, oh, oh, que Roberto tinha lançado no disco Pajaro herido, no ano anterior. Carlos Colla continuou figurando em LPs de RC, desta vez tendo a companhia de Marcos Valle na música Não me deixe (na qual Roberto, durante o solo, dá um assobio afinadíssimo). Sullivan e Massadas deram a Roberto a música Pergunte pro seu coração, que entraria na trilha musical de Pedra sobre pedra, novela das 20h30 da TV Globo.

No dia de lançamento do LP de 1991, Roberto Carlos foi entrevistado no final do Jornal Nacional. Na entrevista, ele disse que estava muito feliz de ter gravado uma canção específica - o "presente" veio de Biafra, Aloysio Reis e Nilo Pinta, chamado Mudança.

A safra de Roberto e Erasmo trouxe a primeira canção que RC destinou a seu novo amor - ele ainda demoraria para apresentar a pedagoga Maria Rita ao público, mas Primeira dama já era uma declaração de amor em letra e música. As canções introspectivas dos anos anteriores deram lugar a mensagens de esperança amorosa, como em Diga-me coisa bonitas. A mensagem religiosa apareceu também em ritmo country, na canção Luz divina.

Roberto Carlos dialogava com o estilo neosertanejo, e apresentava uma versão sua para este ritmo em evidência na época. E trazia a dor da solidão vista pela chuva no parabrisa de um carro.

Segue a letra! Na foto, Roberto Carlos em Coração.

Abraços a todos, Vinícius.

TODAS AS MANHÃS - Roberto e Erasmo

Todas as manhãs quando eu acordo
Eu me lembro de você
Todos os momentos do meu dia
Não consigo te esquecer

Diga, meu amor
O que é que eu faço
Pra não me lembrar do seu abraço
Eu preciso te esquecer

Entro no meu carro, ligo o rádio
Uma canção me traz você
Tudo que eu vejo de bonito
Se parece com você

Diga, meu amor
O que é que eu faço
Eu preciso arrebentar de vez os laços
Que me prendem a você

Chuva fina no meu parabrisa
Vento da saudade no meu peito
Visibilidade distorcida
Pela lágrima caída
Pela dor da solidão

E a chuva no meu parabrisa
Vento de saudade no meu peito
Visibilidade distorcida
Pela lágrima caída
Pela dor da solidão

Sempre nos lugares onde vou
Alguém pergunta de você
Paro num sinal e olho a rua
Na esperança de te ver

Diga meu amor
O que é que eu faço
Tudo faz lembrar você por onde eu passo
E eu preciso te esquecer

E a chuva fina no meu parabrisa
Vento de saudade no meu peito
Visibilidade distorcida
Pela lágrima caída
Pela dor da solidão...

sábado, 20 de junho de 2009

50 anos de emoções - 1990



Olá, amigos.

A série 50 anos de emoções começa mais uma década na carreira musical de Roberto Carlos. Em cada post, estamos apresentando um dos 50 anos de carreira de RC, completos neste 2009.

1990 começou com um conflito armado no Oriente Médio. A 2 de agosto, tropas iraquianas violaram a fronteira com o Kuait, exigindo indenizações pela queda do petróleo. Estava iniciada a Guerra do Golfo. Os Estados Unidos e a Inglaterra tiveram intervenções na guerra, que teria episódios como o bloqueio comercial ao Iraque e a atitude do ditador Saddam Hussein anexar o território do Kuwait ao país. O confronto no Golfo Pérsico e destacou pela ampla cobertura do canal de notícias americano CNN. Eram constantes os plantões jornalísticos trazendo imagens de cidades iraquianas bombardeadas, exibidas parecendo jogos de videogame. O confronto iria além de 1990.

Outra guerra teria seu ponto final em um país do Oriente Médio. Depois de 15 anos de hostilidades entre cristãos e muçulmanos (que geraram a intervenção da Síria, apoiada por Israel e pelos Estados Unidos), o Líbano viu sua Guerra Civil chegar ao fim. O fim à guerra aconteceu graças ao Acordo de Taif, assinado na Arábia Saudita.

Passado o período negro da Ditadura Militar, o Brasil retornou a momentos de apreensão - desta vez na parte financeira. O presidente empossado Fernando Collor de Mello anunciou, logo em seu primeiro dia de mandato, a criação de um novo plano econômico. O Plano Collor foi anunciado pela ministra Zélia Cardoso de Mello, e, embora trouxesse fatores como a abertura tecnológica e a modernização das importações, foi um desastre para boa parcela da população.

Boa parte das cadernetas de poupança da população foram confiscadas pelo período de 18 meses. O congelamento de preços e salários e o aumento de preços de serviços públicos fez parte das medidas apresentadas, além da insituição do Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguros (o IOF), sobre todos os ativos financeiros. Também foram retirados incentivos fiscais para importações, exportações, agricultura e indústria e, com a extinção da Embrafilme, o cinema brasileiro teve sua produção reduzida drasticamente. Poucos filmes conseguiam ser rodados e, quando iam para o cinema, não tinham dinheiro para se manter por muito tempo.

1990 entrou para a história do Brasil por ser o primeiro ano no qual Brasília elegeu seu governador. Joaquim Roriz foi o primeiro a governar a capital federal.

20 anos depois de seu último título na Copa do Mundo, a Seleção Brasileira apresentou um futebol bem longe de ser campeão. O time treinado por Sebastião Lazaroni adotou um padrão de jogo típico do futebol estrangeiro, priorizando a ideia de "não tomar gol". Lazaroni seria o responsável por instaurar a "Era Dunga", pois o cabeça-de-área era símbolo de uma equipe recuada, como mostram os resultados da competição.

O Brasil venceu seus três jogos na primeira fase, sempre com vitórias apertadas. Na estreia, dois gols de Careca (que substituiu Romário, machucado) deram a vitória por 2 a 1 diante da Suécia - o gol sueco foi marcado por Brolin. Nos dois jogos seguintes, a Seleção Brasileira venceu por apenas 1 a 0 - contra Costa Rica e Escócia, ambas com gol de Müller. Nas oitavas-de-final, o Brasil se deparou com a Argentina (com uma campanha hesitante na primeira fase) e viu sua eliminação chegar a dez minutos do fim. O gol de Cannigia deu aos argentinos a vitória por 1 a 0, e o Brasil voltou da Itália com o nono lugar.

Os argentinos chegaram à final da Copa do Mundo para jogar contra a Alemanha Ocidental. Com um gol de pênalti marcado por Brehme a cinco minutos do fim, os alemães deram o terceiro título para a Alemanha Ocidental - que se igualou a Brasil e Itália no posto de tricampeões mundiais.

A Copa do Brasil chegou à sua segunda edição, mas continuava de maneira obscura, a ponto de algumas partidas acontecerem durante a Copa do Mundo. No ano em que pela primeira vez participou o campeão do Acre (o Juventus), a tradição falou mais alto. O Flamengo se sobressaiu aos outros três mais bem colocados - Goiás, Náutico e Criciúma - e ganhou seu primeiro título. Na final, os rubro-negros venceram o Goiás na primeira partida por 1 a 0 (com gol de Fernando) em Juiz de Fora e um empate em 0 a 0 no Serra Dourada tornou o time campeão do torneio.

Os dois times de maior torcida no país terminaram o ano em festa. No Campeonato Brasileiro, o Corínthians superou o São Paulo na final paulista, ao vencer o tricolor por 1 a 0 (com gol de Wilson Mano) e repetir o placar no jogo decisivo (com gol de Tupãzinho). Ambas as partidas foram realizadas no Morumbi.

Em maio de 1990, Roberto Carlos recebeu mais uma homenagem internacional. No ano seguinte ao Grammy Latino, o cantor entrou para o Hollywood Walk of Fame, nos Estados Unidos. Uma das inúmeras estrelas que estão no chão da Calçada da Fama de Hollywood traz o nome de ROBERTO CARLOS.

Mesmo com a cabeleira menos vasta do que o ano anterior, RC continuava tendo a pena em seus cabelos, e prosseguia sua marcha por uma melhora no panorama ecológico. O Roberto Carlos Especial daquele ano foi batizado de Verde é vida, e trouxe RC à tarde e à noite no dia 25 de dezembro.

De tarde, RC apresentou um programa ao vivo na companhia da atriz Cláudia Raia direto do Teatro Fênix. A TV Globo proporcinou a distribuição de 400 mil mudas de árvores em vários cantos do país. As mudas eram distribuídas por artistas como Eva Wilma, Carlos Zara e Raul Cortez. Erasmo Carlos apareceu num clipe de Panorama ecológico (definida pelo Tremendão como a definitiva dentre as músicas ecológicas da dupla), a dupla Pena Branca & Xavantinho cantou com Milton Nascimento a música Cio da terra também em clipe. E, naturalmente, houve muita música no palco do Teatro Fênix.

À noite, foi ao ar um show gravado diretamente do Ginásio do Maracanãzinho, também no Rio de Janeiro. RC teve como convidados somente artistas em evidência no momento. A "maninha" Wanderléa apresentou Foi assim, música da época da Jovem Guarda que estava fazendo sucesso novamente por ser um dos temas da novela Rainha da sucata, e em dueto com Roberto cantou Ternura, música presente em ambos os repertórios.

O palco do Maracanãzinho foi cenário para um encontro "muito esperado". Roberto Carlos abriu espaço para um dos mais bem-sucedidos cantores de 1990 - José Augusto, que grudou nas rádios a música Aguenta coração, tema da novela global Barriga de aluguel. Além de apresentar a canção em número solo, o cantor interpretou com RC a música Fera ferida.

A reta final trouxe um outro esperado encontro - do "Rei" com a "Rainha". A "Rainha dos Baixinhos" Xuxa apresentou a ecologicamente correta Boto rosa e desfilou um pout-pourri com as canções Ilariê e Lua de cristal, sempre acompanhada das Paquitas. Em seguida, os dois interpretaram a música Noite feliz. No mesmo fim de ano, RC tinha se apresentado no especial de Xuxa - os dois cantaram a natalina Estrela guia.

Passada a dor-de-cotovelo do LP de 1989, este ano RC lançou um disco trazendo algumas canções melancólicas. Mas desta vez, segundo ele, o homem "chora de pé", e não deitado como a amargura do ano anterior. Eis o repertório:

LADO A

1 - Super herói, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - Meu ciúme, de Michael Sullivan e Paulo Massadas

3 - Por ela (Por ella), de José Manuel, com versão de Biafra e Aloysio Reis

4 - Pobre de quem me tiver depois de você, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

5 - Cenário, de Eduardo Lages e Paulo Sérgio Valle

LADO B

1 - Quero paz, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - Um mais um, de Gílson e Carlos Colla

3 - Porque a gente se ama, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

4 - Como as ondas voltam para o mar, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

5 - Mujer, de Roberto Livi e Salako.

O LP trouxe uma mudança considerável. Das dez canções, sete foram produzidas pelo próprio Roberto Carlos (as exceções foram as faixas Super herói, produzida por Sérgio Lopes, Por ela, a cargo de Mauro Motta e Mujer, com produção de Roberto Livi).

A música divulgada nas rádios não era de autoria de Roberto e Erasmo - o trabalho recaiu sobre Michael Sullivan e Paulo Massadas, autores de vários sucessos desde a década anterior, com Meu ciúme. RC apresentou um novo compositor - Gilson, coautor de Carlos Colla na doce Um mais um. Os "compositores de Roberto Carlos" dariam um belo presente para ele: a dupla Eduardo Lages e Paulo Sérgio Valle criou Cenário, uma canção tão definitiva sobre o artista RC quanto a própria Emoções.

A presença latina continuava bem forte, e veio com as castanholas e os violões flamencos na música Por ela (versão da Por ella que havia sido lançada no início do ano, para o LP Pajaro herido). Também deste disco veio a canção Mujer, que encerra o LP de fim de ano do Brasil e em 1991 iria para a trilha da novela Lua cheia de amor, exibida às 19h da TV Globo.

Roberto e Erasmo escreveram a mensagem Quero paz, com coro infantil e refrão feito para "baixinhos" ("Bang-bang-bang não dá, ratatatatá também não, quero paz aqui, quero lá, é o que pede o meu coração) e voltaram a recorrer à sensualidade em letra e música na explícita Porque a gente se ama.

Mas a dor de um amor terminado prosseguia nas canções da dupla. Desde a perspectiva de uma volta em Como as ondas voltam para o mar, passando pela incerteza de um novo amor em Pobre de quem me tiver depois de você. E, na canção que abre o LP, uma tentativa de ao menos manter uma amizade. Mesmo que Roberto Carlos tivesse de ser um super herói e passasse pelas suas dores para tirar quem o magoou de qualquer perigo. Um dado curioso: no início do ano seguinte, ela se tornaria a primeira canção interpretada por RC a estar em uma trilha de novela da TV Globo - fazendo parte da novela O dono do mundo, exibida às 20h30.

Segue a letra! Na foto, Roberto Carlos em show deste 1990.

Abraços a todos, Vinícius.

SUPER HERÓI - Roberto e Erasmo


Quando você precisar
Alguma coisa de mim
É só me telefonar
Que eu irei correndo

Meu telefone eu deixei
Na cabeceira da cama
Não importa a hora que for
Me chama

Já não sou mais seu amor
Mas me preocupo contigo
Saiba que sou
Seu melhor amigo

Eu sou um super herói
Esqueço a dor que me dói
Pra te tirar
De qualquer perigo

Não se culpe, eu aprendi
Que o sentimento ninguém domina
Te agradeço, eu fui feliz
Mas o meu sonho de amor termina

Se acaso você chorar
E precisar do meu ombro
Estou nos restos do amor
Que ficou nos escombros

Mesmo ferido demais
Eu te direi sempre sim
Chame quando
Precisar de mim

Chame quando precisar
De mim...

quinta-feira, 18 de junho de 2009

50 anos de emoções - 1989



Olá, amigos.

A série 50 anos de emoções continua a apresentar, post a post, cada um dos 50 anos de carreira de Roberto Carlos. Com o post de hoje, esta série encerra mais uma década na qual RC esteve presente no cenário musical brasileiro.

1989 simbolizou a derrocada definitiva do regime socialista. A União Soviética já havia perdido a força de sua influência, com os países comunistas aos poucos abrindo espaço para o mercado capitalista difundido pelos Estados Unidos. Mas o golpe de misericórdia veio a 9 de novembro de 1989.

Depois de 28 anos de existência, o Muro de Berlim, que separava a Alemanha em Ocidental (do lado americano) e Oriental (do lado soviético), caiu, abolindo todas as restrições que o oriente alemão sofrera durante todo este tempo. A unificação da Alemanha foi comemorada com várias pessoas ajudando a quebrar o "Muro da vergonha".

Na China, estudantes fizeram uma série de protestos contra o governo e, num deles, um rapaz ficou parado diante de vários tanques de guerra. A Revolução Romena eclodiu no final de 1989, trazendo uma sangrenta transição entre socialismo e capitalismo no Leste Europeu.

O Brasil se preparou para realizar suas primeiras eleições diretas depois de mais de duas décadas. A eleição "solteira" (termo designado para definir uma corrida eleitoral feita em separado das eleições para governadores, senadores e deputados) teve 21 candidatos e um resultado surpreendente. Chegaram ao segundo turno um candidato de uma sigla inexpressiva - Fernando Collor de Mello, do PRN - e o ex-líder sindicalista Luís Inácio Lula da Silva, do PT.

Numa disputa cercada de artimanhas de bastidores - como a descoberta de uma filha de Lula que ele supostamente teria pedido para a mãe fazer o aborto e a tentativa de associar o sequestro do empresário Abílio Diniz a grupos que eram ligados ao candidato do PT - Fernando Collor se tornou o vencedor com uma diferença de cerca de quatro milhões de votos. A "década perdida" de 1980 teria um epílogo nos próximos anos da década seguinte.

1989 tinha começado com um incidente ocorrido no alto-mar do Rio de Janeiro. Na virada de 1988 para 1989, o barco Bateau Mouche afundou na praia de Copacabana. As pessoas que estavam dentro do barco para ver a queima de fogos tradicional no Rio de Janeiro viveram momentos de tensão, criados pela ganância de um grupo de empresários que superlotou o Bateau Mouche. Dos 150 passageiros, 55 morreram. O acidente vitimou a atriz Yara Amaral, que no ano anterior tinha encerrado sua participação na novela Fera radical, da TV Globo.

A televisão brasileira sofreu uma alteração importante. O grupo da Igreja Universal do Reino de Deus comprou a Rede Record por 45 milhões de dólares. Ia começar uma nova era na emissora paulista.

O Campeonato Brasileiro foi disputado por 22 equipes. Após uma primeira fase com dois grupos de 11 times, houve uma nova frase com os 16 melhores do início do torneio (divididos também em dois grupos). A final iria acontecer entre o melhor de cada grupo.

São Paulo e Vasco foram os credenciados para a decisão do Campeonato Brasileiro de 1989. Como tinham a melhor campanha, os vascaínos tinham a vantagem de jogar por dois empates ou uma vitória, além de escolher onde seria realizada a primeira partida da decisão. O Vasco optou por jogar a primeira partida no Morumbi e de lá saiu campeão brasileiro pela segunda vez. Depois de cruzamento de Luiz Carlos Winck, Sorato cabeceou para o fundo das redes de Gilmar.

Neste ano, aconteceu uma estreia no futebol brasileiro. Além dos campeonatos estaduais e do Brasileiro, foi incorporado ao calendário a Copa do Brasil. Como o Campeonato Brasileiro havia sofrido uma redução em seu número de participantes, um novo torneio foi montado para agradar as federações que se sentiram prejudicadas. De maneira democrática, o campeonato trazia 32 clubes - 22 campeões estaduais e 10 vices, distribuídos em 16 chaves. O sistema "mata-mata" ocorria durante toda a Copa do Brasil, tornando cada jogo decisivo.

Grêmio e Sport chegaram à decisão, e o tricolor gaúcho sagrou-se campeão, após empate em 0 a 0 na Ilha do Retiro e uma vitória por 2 a 1 (com Assis e Cuca marcando para os gaúchos e um gol contra de Baltazar descontando para os pernambucanos). O vice-campeão mostrou uma face constante neste torneio de "mata-mata": times considerados de menor expressão às vezes surpreendem e chegam a uma decisão. Alguns deles chegariam ao título, como veremos nos próximos posts.

Chegando a 30 anos de sua estrada musical, Roberto Carlos recebeu uma consagração no exterior. Com seu álbum Volver, RC ganhou o Grammy Latino de Melhor Cantor de 1988. O disco trouxe cinco músicas de seu LP brasileiro de 1987 vertidas para o espanhol e algumas gravações de canções em castelhano divulgadas somente no exterior - como Tristes momentos e Si el amor se va. O título do LP vencedor foi o da música que encerrou o LP lançado no Brasil em 1988.

Roberto continuava mostrando uma afinidade com o mercado latino, e em seu Roberto Carlos Especial de 1989 chegou a cantar uma música em espanhol - Si me vas a olvidar, lançada em Sonrie, álbum feito para o mercado castelhano em meados deste ano. Si me vas a olvidar chegou ao Brasil em português, com o título Se você me esqueceu, na versão feita por Carlos Colla.

Em seu programa daquele ano, RC teve como convidados Simone e Erasmo Carlos. A cantora revelou que estava tendo um grande momento como cantora e também como mulher ao estar do lado dele para, depois de recordarem alguns sucessos, cantarem a música Outra vez. Com o amigo Erasmo Carlos, os dois relembraram momentos da Jovem Guarda e cantaram Sentado à beira do caminho, tendo ao piano o maestro Eduardo Lages.

A conversa com Erasmo era intercalada com clipes de músicas novas que RC lançou em 1989, e o parceiro falou para Roberto: "Cara, esse seu disco... Dor-de-cotovelo perde, é dor de joelho!". Das nove músicas, sete falaram sobre fim de amor - até mesmo as feitas por outros compositores. Provável reflexo da separação do cantor com a atriz Myriam Rios. Eis o repertório:

LADO A

1 - Amazônia, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - Tolo, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

3 - O tempo e o vento, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

4 - Se você me esqueceu (Si me vas a olvidar), de Roberto Livi, com versão de Carlos Colla

LADO B

1 - Pássaro ferido, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - Nem às paredes confesso, de Maximiano de Souza, Francisco Trindade e Artur Ribeiro

3 - Só você não sabe, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

4 - Sonrie (Smile), de Charles Chaplin, J. Turner e G. Parsons, com versão de Roberto Livi

5 - Se você pretende, de Mauro Motta e Carlos Colla

Apenas Sonrie - versão castelhana para a Smile de Charles Chaplin que deu nome ao LP latino de 1989 - e Se você pretende não foram exibidas no Roberto Carlos Especial de 27 de dezembro. A primorosa Tolo e Si me vas a olvidar foram apresentadas em show no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Os demais, renderam clipes com mulheres bonitas contracenando com Roberto.

Em O tempo e o vento, RC cantou o amor que foi embora pela fúria dos ventos contracenando com Luiza Brunet. No sambinha Só você não sabe, foi a vez da passista Fatinha (que participara do especial de 1986 no clipe de Nêga). Pássaro ferido e a bela releitura do fado Nem às paredes confesso também tiveram a participação de atrizes.

Mas Roberto Carlos estava voltado para abraçar uma causa ecológica, visível na capa de seu LP. RC posou com uma pena entre seus cabelos, e no início de seu especial falou sobre o lugar que era tema da música "pra tocar no rádio" de 1989:

"Daqui de uma dessas artérias desse imenso coração, eu repito meu amor pelo Brasil. Um amor antigo e e apaixonado. Diante do índio, testemunha de tanta devastação, eu aindo grito a minha fé nesse país".

Em clipe gravado na Floresta Amazônica, Roberto arrumava um espaço em meio à "dor-de-cotovelo" para gritas os problemas pelos quais a Amazônia padece. Um dado curioso: em alguns discos, fitas ou CDs, esta música aparece como segunda faixa do lado A - a canção que abre seu trabalho daquele ano é Tolo. Supõe-se que este seria "o ano do Tolo", como disse Erasmo no especial, mas RC decidiu evidenciar mesmo seu alerta pela insônia do mundo.

Segue a letra! Na foto, Roberto Carlos no registro fotográfico que apareceu na parte interna de seu LP daquele ano.

Abraços a todos, Vinícius.

AMAZÔNIA - Roberto e Erasmo

Tanto amor perdido no mundo
Verdadeira selva de enganos
A visão cruel e deserta
De um futuro de poucos anos

Sangue verde derramado
O solo manchado
Feridas na selva
A lei do machado

Avalanches de desatinos
Numa ambição desmedida
Absurdos contra os destinos
De tantas fontes de vida

Quanta falta de juízo
Tolices fatais
Quem desmata, mata
Não sabe o que faz

Como dormir e sonhar
Quando a fumaça no ar
Arde nos olhos
De quem pode ver

Terríveis sinais
De alerta
Desperta
Pra selva viver

Amazônia, insônia do mundo...
Amazônia, insônia do mundo...

Todos os gigantes tombados
Deram suas folhas ao vento
Folhas são bilhetes deixados
Aos homens do nosso tempo

Quantos anjos queridos
Guerreiros de fato
De morte feridos
Caídos no mato

Como dormir e sonhar
Quando a fumaça no ar
Arde nos olhos
De quem pode ver

Terríveis sinais
De alerta
Desperta
Pra selva viver

Amazônia, insônia do mundo...
Amazônia, insônia do mundo...

terça-feira, 16 de junho de 2009

50 anos de emoções - 1988




Olá, amigos.

A série 50 anos de emoções continua sua epopeia de contar, a cada post, um trecho dos 50 anos de carreira de Roberto Carlos. São muitas emoções narradas em meio século de estrada do cantor na Música Popular Brasileira.

O ano de 1988 apresentou o primeiro lado negativo da tecnologia: surgiu o primeiro vírus de computador. O mundo também assistiu à ascensão da primeira mulher no poder num estado muçulmano moderno, com Benazir Bhutto se tornando a primeira-ministra do Paquistão.

O Brasil passou por transformações consideráveis em sua geopolítica. Na parte geográfica, foram elevados à categoria de estados os territórios do Amapá e de Roraima e, na parte central do país, foi criado Tocantins. A política brasileira tentou expandir seus negócios ao formar o Mercado Comum do Sul (Mercosul), ao lado de Argentina, Uruguai e Paraguai. Ainda neste ano, os governos brasileiro e argentino negociaram uma parceria de livre comércio no Tratado de Integração, Cooperação e Desenvolvimento.

Em Brasília, foi reunida a Assembleia Constituinte e, a 5 de outubro de 1988, a República Federativa do Brasil passou a ter uma nova Constituição. O regime presidencial foi mantido, e a escolha do presidente da República, dos governadores, prefeitos, senadores, deputados estadual e federal e vereadores seriam escolhidos por voto direto e secreto. A obrigatoriedade de voto continuava acima de 18 anos, mas pessoas de 16 e 17 anos tinham direito ao voto facultativo. Foram instituídos os sistemas de eleições majoritárias em dois turnos, na eventualidade do candidato em primeiro lugar não conseguir a maioria dos votos válidos.

A censura foi definitivamente abolida, e os trabalhadores foram beneficiados com o direito ao Sistema Único de Saúde (o SUS). Também foram estabelecidas garantias de aposentadoria a trabalhadores rurais mesmo sem contribuição ao INSS, proibição de comercialização de sangue e derivados, demarcações de terras indígenas e leis de proteção ao meio ambiente.

Neste contexto, a 22 de dezembro de 1988, o Brasil perderia seu maior líder na busca pela valorização do meio ambiente. O seringalista Chico Mendes foi assassinado com dois tiros de escopeta em sua casa em Xapuri, no Acre. Chico era perseguido por seu ideal de preservar a Amazônia, ideias opostas às dos donos de terra da região.

O país continuava tendo uma recessão econômica, a ponto de um desempregado brasileiro cometer o desatino de sequestrar um avião. Além de matar o copiloto, sua intenção era jogar o Boeing no Palácio do Planalto. O sequestro não deu certo, e o rapaz foi morto em Goiânia, depois de pousar.

A rixa entre o Clube dos 13 e a Confederação Brasileira de Futebol tornou possível um sistema de Campeonato Brasileiro bem mais enxuto. Passada a confusão da Copa União do ano anterior, no ano de 1988 o torneio começou com 24 clubes e um sistema de acesso e rebaixamento mais claro - quatro clubes caíam para a Série B e dois voltavam à Série A. Mas, os organizadores decidiram inovar na pontuação: as partidas passaram a valer três pontos por vitória. Caso houvesse um empate, um ponto ia para cada equipe e era realizada uma cobrança de pênaltis - na qual o vencedor ganhava um ponto a mais.

Os primeiros rebaixados em campo foram Santa Cruz, Criciúma e os cariocas América e Bangu. No ano seguinte, o campeão Internacional de Limeira (de São Paulo) e o vice Náutico disputaram a Primeira Divisão.

Mais uma vez, o Brasil teve de esperar até o início do ano seguinte para conhecer quem seria o melhor time do ano anterior. Em fevereiro de 1989, o Bahia sagrou-se campeão brasileiro de 1988. No primeiro jogo, os baianos venceram o Internacional por 2 a 1 (com dois gols de Bobô e Leomir marcando o gol colorado) na Fonte Nova. No segundo jogo, realizado no Beira-Rio, o empate em 0 a 0 foi suficiente para o tricolor baiano conquistar seu primeiro título nacional.

Roberto Carlos surpreendeu seu público ao lançar dois discos no ano de 1988. O primeiro deles veio em maio, num registro fonográfico do show Detalhes. Roberto Carlos ao vivo trouxe dez números apresentados no Canecão da turnê iniciada em 1987. Eis o repertório:

LADO A

1 - Abertura

2 - Detalhes (trecho) / Proposta

3 - Emoções

4 - Lobo mau / Eu sou terrível / Amante à moda antiga

5 - Canzone per te

6 - Outra vez

LADO B

1 - Seu corpo / Café da manhã / Os seus botões / Falando sério / O côncavo e o convexo / Eu e ela

2 - Detalhes

3 - Imagine, com participação de Gabriella

4 - Ele está pra chegar / Detalhes (trecho)

Numa época na qual era incomum ter registro ao vivo em disco, Roberto mostrou uma parte de como eram seus shows nesta época. Os momentos nos quais mesclava texto e música estiveram presentes, até mesmo no extenso pout-pourri que abriu o lado B do LP. Também ficaram para a posteridade sua interpretação de Imagine, na companhia da cantora Gabriella, além de, pela primeira vez, aparecer sua hoje corriqueira interpretação de Detalhes na qual canta acompanhado de um violão.

No Roberto Carlos Especial de 1988, RC teve a companhia de sua "afilhada musical" Kátia, com quem cantou Qualquer jeito (sucesso que ele e Erasmo fizeram para ela), de Rosana - na época muito bem sucedida nas rádios - com quem cantou um pout-pourri mesclado de sucessos dela e dele. RC também conversou com o piloto Ayrton Senna. O amigo Erasmo Carlos esteve presente num dueto que não ficou restrito ao programa de televisão. Oito anos depois de RC participar do disco Erasmo Carlos convida... na faixa Sentado à beira do caminho, Erasmo participou do disco de Roberto com Papo de esquina. Eis as demais músicas do LP:

LADO A

1 - Se diverte e já não pensa em mim, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - Todo mundo é alguém, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

3 - Se você disser que não me ama, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

4 - Como as ondas do mar, de Marcos Valle e Carlos Colla

5 - Se o amor se vai (Si el amor se va), de Roberto Livi e Bebu Silvetti, com versão de Roberto Carlos e Carlos Colla

LADO B

1 - Papo de esquina, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos (com participação de Erasmo Carlos)

2 - Eu sem você, de Mauro Motta e Carlos Colla

3 - O que é que eu faço, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

4 - Toda vã filosofia, de Guilherme Arantes

5 - Volver, de Carlos Gardel e Alfredo Le Pera

RC agregou mais um compositor à sua lista - Guilherme Arantes, presente com Toda vã filosofia. Marcos Valle (irmão de Paulo Sérgio, já corriqueiro nos discos de RC) conseguiu dar voz à sua música através de RC, e na companhia de Carlos Colla. Colla também inaugurou uma parceria com o produtor musical Mauro Motta.

Ele foi coautor também de Roberto Carlos, em uma presença latina no disco brasileiro de RC. Cada vez mais dialogando com o cancioneiro espanhol, Roberto dedicou duas faixas a músicas latino-americanas. A primeira foi a versão de Si el amor se va, que na letra dele e de Carlos Colla se tornou Se o amor se vai. A segunda encerrou o LP - uma leitura para a primorosa Volver, um retorno ao universo de Carlos Gardel 15 anos depois de El día que me quieras. Estas músicas fariam parte de um grande momento de Roberto Carlos, mas isto é um assunto para o próximo post.

A safra de Roberto Carlos e Erasmo Carlos rendeu bem mais que um papo de esquina. No ano de 1988, veio a engajada Todo mundo é alguém e também uma nova leva de canções amorosas - só que todas falando de fim de amor. O disco abriu com Se diverte e já não pensa em mim, uma letra dolorosa apresentada no especial tendo Luiza Brunet como musa.

O sambinha O que é que eu faço, apesar do ritmo mais animado, também já dava traços de um relacionamento desgastado, no qual ele dizia que voltava "num empurrão". Só que a canção que causou mais polêmica foi a terceira do lado A.

O motivo: no clipe apresentado no Roberto Carlos Especial, RC estava acompanhado de Isabela Garcia. Foi o suficiente para especularem que ela era "um novo amor" e Myriam Rios e ele já tinham se separado. Uma pena, pois o brilho desta bela música merecia um destaque maior dentre as canções de fim de amor compostas por Roberto e Erasmo. Afinal, para eles a pessoa tem de dizer mais de uma vez se não ama.

Segue a letra! Na foto, Roberto Carlos em apresentação de Volver no exterior.

Abraços a todos, Vinícius.

SE VOCÊ DISSER QUE NÃO ME AMA - Roberto e Erasmo

Se você disser que não me ama
Tem que me dizer mais de uma vez
Tem que me fazer acreditar
Em coisas que eu não quero ouvir

Tem que dizer tudo que eu detesto
Que não me suporta, que eu não presto
Tem que repetir por muitas vezes
Que não quer saber de mim

Tem que me dizer coisas horríveis
Inacreditáveis, impossíveis
Coisas que um homem não suporta
Ter que ouvir de uma mulher

Tem que me dizer que eu vá embora
Me botar daquela porta afora
E mesmo assim não sei se desse jeito
Em tudo isso vou acreditar

Tem que disfarçar o seu desejo
E não se excitar quando eu te beijo
Porque qualquer pequeno gesto seu
É um bom motivo pra eu ficar

Se você disser que não me ama
Tem que me dizer mais de uma vez...

Se você disser que não me ama
Tem que me dizer mais de uma vez...