quarta-feira, 10 de junho de 2009

50 anos de emoções - 1985



Olá, amigos.

Prosseguindo a série 50 anos de emoções, este blogue hoje apresenta mais um momento da trajetória musical de Roberto Carlos. Desta vez, para contarmos um ano de muita frustração.

Em 1985, o mundo identificou pela primeira vez o buraco da camada de ozônio. A União Soviética já dava margens de enfraquecimento de seu regime, e neste ano um nome importante nos momentos seguintes do comunismo teria sua ascensão à secretaria-geral do Partido Comunista: Mikhail Gorbatchov.

O futebol nacional passou por um Campeonato Brasileiro muito confuso. As Taças de Ouro e de Prata se fundiram num campeonato só, com clubes de vários estados brasileiros se juntando aos 20 melhores do país (além de Remo e Uberlândia, campeão e vice da Taça de Prata de 1984). O regulamento esdrúxulo proporcionou uma zebra nas três primeiras colocações do torneio: o Brasil de Pelotas foi o semifinalista, e, na final, o paranaense Coritiba e o carioca Bangu decidiram quem seria o melhor do país em 1985.

Depois de muitas décadas, o Maracanã abriu as portas para uma final sem nenhum dos quatro grandes clubes cariocas. Todas as torcidas do Rio se uniram para apoiar o Bangu na busca pelo inédito título brasileiro. Mas, após o empate em 1 a 1 (gol de Lulinha para o time banguense e de Índio para o "Coxa") no tempo normal, o Coritiba se sagrou campeão ao vencer nos pênaltis por 6 a 5 - o goleiro Rafael defendeu o pênalti cobrado por Ado. O Coritiba foi o melhor do Brasil com uma campanha irregular - 12 vitórias, sete empates e 10 derrotas, e um saldo negativo de dois gols.

Após 21 anos, o Brasil saiu do regime militar e deu posse ao primeiro presidente civil (mesmo que eleito de uma forma indireta). Só que Tancredo Neves foi operado de diverticulite, e a 21 de abril, morreria sem ter sentado na cadeira presidencial. O vice, José Sarney, tomaria posse para um mandato instável.

Agora com 20 anos de existência, a TV Globo novamente abriu espaço em sua programação a um festival de música: o Festival dos festivais. A vencedora do ano foi a romântica Escrito nas estrelas (assinada por Carlos Rennó e Arnaldo Blck), que consagrou também a intérprete Tetê Espíndola. O segundo lugar ficou com a música Mira Ira, de Lula Barboza e e Vanderley de Castro, na voz de Miriam Mirah. A cantora Leila Pinheiro deu o terceiro lugar a Verde, de Eduardo Gudin e José Carlos Costa Netto.

A emissora conseguiu fazer a estreia mais esperada de sua história. Dez anos depois da censura proibir a novela A fabulosa história de Roque Santeiro e de sua fogosa viúva, a que foi sem nunca ter sido pôde ser exibida. Roque Santeiro estreou em 24 de junho, e apresentou o Brasil ao cotidiano da cidade de Asa Branca, na novela escrita por Dias Gomes e Aguinaldo Silva.

Dois atores de destaque da novela seriam convidados do Roberto Carlos Especial ao final de 1985, em momentos poéticos do programa. O ator Lima Duarte (que vivia o Sinhozinho Malta) declamou Caminhoneiro e, ao final, ainda fez um dueto com RC interpretando o refrão da canção. Regina Duarte (a Viúva Porcina) declamou o poema Inéditos, de Bruna Lombardi, enquanto Roberto, ao piano, cantava Olha.

O humor também esteve presente no especial deste ano. Jô Soares apresentou a Roberto o "corrupto", ave rara que ele conseguiu aprisionar, enquanto o trambiqueiro Bozó e seu próprio criador, Chico Anysio, fizeram um quadro com RC.

Após relembrar os tempos da Jovem Guarda cantando Jovens tardes de domingo com cantores do movimento (como Erasmo, Wanderléa, Martinha, Waldirene, Ed Wilson, Os Vips e tantos outros), Roberto e Erasmo Carlos apareceram criando uma canção e, no decorrer do papo, puxaram dois assuntos musicais. No primeiro deles, relembraram os tempos da Praça da Bandeira e do grupo Os Sputincks, e RC cantou com Tim Maia a música Pede a ela. Ao falar sobre a "geração do BRock", Roberto apareceu cantando o rock Ciúme ao lado do grupo Ultraje a Rigor.

Roberto Carlos abriu seu programa para Milton Nascimento e Wagner Tiso. Milton interpretou Canção da América e, depois, conversou com Roberto sobre a música Coração de estudante. Feita originalmente para o documentário Jango, esta canção ganhou uma conotação diferente em 1985: foi a música associada a Tancredo Neves. Roberto interpretou a música, tendo Milton Nascimento no vocal e Wagner Tiso ao piano.

O cantor também esteve presente num movimento musical solidário. Um grupo de artistas se reuniu para gravar um compacto com a renda revertida para ajuda financeira aos desabrigados pela chuva no Nordeste. Além de ser um dos autores da música, Roberto interpretou Chega de mágoa, na faixa que teve como intérpretes Milton Nascimento, Djavan, Rita Lee, Gal Costa, Gonzaguinha, Elba Ramalho, Chico Buarque, Simone, Caetano Veloso, Fafá de Belém, Paula Toller, Roger, Tim Maia, Elizeth Cardoso, Gilberto Gil, Erasmo Carlos e Fagner.

Se no ano anterior Caminhoneiro tocou três mil vezes nas rádios somente no primeiro dia, no ano de 1985 Roberto superou seu próprio recorde. A música de trabalho, Verde e amarelo, tocou por 3.500 vezes em rádios de todo o país. Eis o repertório do disco:

LADO A

1 - Verde e amarelo, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - De coração pra coração, de Mauro Motta, Robson Jorge, Lincoln Olivetti e Isolda

3 - Só vou se você for, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

4 - Paz na Terra, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

5 - Contradições, de Eduardo Lages e Paulo Sérgio Valle

LADO B

1 - Pelas esquinas da nossa casa, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - Símbolo sexual, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

3 - A atriz, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

4 - Você na minha mente, de Mauro Motta, Robson Jorge, Lincoln Olivetti e Carlos Colla

5 - Da boca pra fora, de Maurício Duboc e Carlos Colla

Alguns "compositores" constantes de Roberto Carlos tiveram presenças mais marcantes na lista gravada ao final de 1985. O produtor Mauro Motta apareceu como autor em duas canções - ambas na companhia dos músicos Robson Jorge e Lincoln Olivetti, mas com mudanças no "quarto autor" da lista. Isolda ajudou os três em De coração pra coração, e Carlos Colla contribuiu como autor em Você na minha mente. Carlos Colla encerrou o LP na companhia de Maurício Duboc, com a canção Da boca pra fora. O maestro Eduardo Lages fez os arranjos de boa parte do disco, e ainda contribuiu como autor com a música Contradições, feita em parceria com Paulo Sérgio Valle.

A safra de Roberto e Erasmo prosseguia em seu romantismo, mas cada vez mais escancarado em sua sensualidade. Até a música de fim de amor Só vou se você for falava com um tom mais ousado. Pelas esquinas da nossa casa falou sobre a intimidade de um casal e sua rotina em todos os cantos de casa. Símbolo sexual (que seria a décima canção do LP do ano anterior) dialogava com as tendências da moda mostrada nas capas de revista ou na televisão - no especial da TV Globo, a música rendeu um clipe com a modelo Luiza Brunet.

E em A atriz, Roberto Carlos explicitou o cotidiano de um marido de uma atriz, numa homenagem explícita à esposa, Myriam Rios. Na época, a atriz estava no ar na novela Ti-ti-ti, fazendo o papel de Gabriela. No clipe da canção, apareceram algumas cenas dela na trama de Cassiano Gabus Mendes, contracenando com o ator Paulo Castelli (que interpretava Pedro, seu par romântico na novela das 19h).

A mensagem religiosa esteve presente nos versos de Paz na Terra, uma bela canção de apelo por tempos sem guerra que merecia ser mais lembrada na discografia de RC. Mas em 1985, Roberto Carlos deu mais destaque ao seu lado ufanista. Na época, o produtor Miéle tentou dissuadir o cantor da ideia de lançar esta canção, por medo de que ele fosse criticado pela esquerda brasileira, que outrora patrulhou o cantor Ivan Lins e a dupla Dom & Ravel por terem escrito músicas em homenagem ao Brasil - Ivan, com O amor é o meu país e Dom & Ravel com Eu te amo, meu Brasil.

Roberto Carlos respondeu que seu público sabe que ele não defende bandeiras políticas, e sempre costuma "cantar sua verdade". E ele abriu o peito em verde e amarelo. Nos shows que fazia, ele abria o paletó e mostrava uma camisa com as cores da canção que abriu o disco de 1985.

Segue a letra! Na foto, Roberto Carlos ao final de seu show naquela época.

Abraços a todos, Vinícius.

VERDE E AMARELO - Roberto e Erasmo

Boto fé
Não me iludo
Nessa estrada ponho o pé
Vou com tudo

Terra firme, livre, tudo o que eu quis do meu país
Onde eu vou vejo a raça
Forte no sorriso da massa
A força desse grito que diz:`É meu país`

Verde e amarelo...
Verde e amarelo...

Sou daqui, sei da garra
De quem encara o peso da barra
Vestindo essa camisa feliz
Do meu país

Tudo bom, tudo belo
Tudo azul e branco
Verde e amarelo
Toda a natureza condiz com o meu país

Verde e amarelo...
Verde e amarelo...

Só quem leva no peito
Esse amor, esse jeito
Sabe bem o que é ser brasileiro
Sabe o que é

Verde e amarelo...
Verde e amarelo...

Bom no pé, deita e rola
Ele é mesmo bom de samba e de bola
Que beleza de mulher que se vê
No meu país

É Brasil, é brasuca
Esse cara bom de papo e de cuca
Tiro o meu chapéu, peço bis
Pro meu país

Verde e amarelo...
Verde e amarelo..

Verde e amarelo
É a camisa que eu visto
Verde e amarelo
Azul e branco também

Verde e amarelo
É Brasil, é brasuca
Verde e amarelo

Boto fé, não me iludo
Neste estrada ponho o pé
Vou com tudo...

3 comentários:

Unknown disse...

Olá, Vinícius, tudo bem?
Meu nome é Alexandre Souza, trabalho na área de mídias sociais da Rede Globo, vinculada à Central Globo de Comunicação (CGCOM). Entre outras atribuições, nossa equipe é responsável pela divulgação da empresa na web. Frequentemente enviamos conteúdos inéditos, comunicados, vídeos, teasers para um mailing exclusivo, basicamente formado por autores e/ou editores de blogs e donos de comunidades relacionadas à Emissora no Orkut.

Identificamos você como autor e/ou editor do blog Emoções de RC, onde encontramos posts sobre as comemorações dos 50 anos de carreira de Roberto Carlos. O show previsto para o Rio de Janeiro acontecerá no dia 11 de julho, sábado, no estádio do Maracanã. Por conta disso, gostaríamos de lhe oferecer material de divulgação exclusivo sobre esse grande momento. A partir de hoje, serão divulgados comunicados, entre outras coisas, sobre o espetáculo. Caso seja de seu interesse, por favor, responda esse e,mail informando seu nome e seus contatos.

Aguardamos seu retorno assim que possível.

Grato, Alexandre

Vinícius Faustini disse...

Prezado Alexandre,

fico muito feliz com o contato, e gostaria muito de ter acesso a este material exclusivo. Trata-se de um momento histórico para Roberto Carlos, o homenageado deste blogue.

No entanto, eu estava pesquisando aqui e não tive como entrar em contato com você. Além de seu perfil no Blogger não estar disponível, eu não vejo como acessar a CGCOM.

Você podia, por favor, passar algum endereço de contato seu?

Grato,

Vinícius Faustini

Michael Carvalho Silva disse...

Acho Roberto e Erasmo Carlos extremamente arrogantes e prepotentes. Prefiro mil vezes Ritchie e a belíssima Tetê Espíndola que foi o grande símbolo sexual da MPB nos anos oitenta.