quinta-feira, 18 de junho de 2009

50 anos de emoções - 1989



Olá, amigos.

A série 50 anos de emoções continua a apresentar, post a post, cada um dos 50 anos de carreira de Roberto Carlos. Com o post de hoje, esta série encerra mais uma década na qual RC esteve presente no cenário musical brasileiro.

1989 simbolizou a derrocada definitiva do regime socialista. A União Soviética já havia perdido a força de sua influência, com os países comunistas aos poucos abrindo espaço para o mercado capitalista difundido pelos Estados Unidos. Mas o golpe de misericórdia veio a 9 de novembro de 1989.

Depois de 28 anos de existência, o Muro de Berlim, que separava a Alemanha em Ocidental (do lado americano) e Oriental (do lado soviético), caiu, abolindo todas as restrições que o oriente alemão sofrera durante todo este tempo. A unificação da Alemanha foi comemorada com várias pessoas ajudando a quebrar o "Muro da vergonha".

Na China, estudantes fizeram uma série de protestos contra o governo e, num deles, um rapaz ficou parado diante de vários tanques de guerra. A Revolução Romena eclodiu no final de 1989, trazendo uma sangrenta transição entre socialismo e capitalismo no Leste Europeu.

O Brasil se preparou para realizar suas primeiras eleições diretas depois de mais de duas décadas. A eleição "solteira" (termo designado para definir uma corrida eleitoral feita em separado das eleições para governadores, senadores e deputados) teve 21 candidatos e um resultado surpreendente. Chegaram ao segundo turno um candidato de uma sigla inexpressiva - Fernando Collor de Mello, do PRN - e o ex-líder sindicalista Luís Inácio Lula da Silva, do PT.

Numa disputa cercada de artimanhas de bastidores - como a descoberta de uma filha de Lula que ele supostamente teria pedido para a mãe fazer o aborto e a tentativa de associar o sequestro do empresário Abílio Diniz a grupos que eram ligados ao candidato do PT - Fernando Collor se tornou o vencedor com uma diferença de cerca de quatro milhões de votos. A "década perdida" de 1980 teria um epílogo nos próximos anos da década seguinte.

1989 tinha começado com um incidente ocorrido no alto-mar do Rio de Janeiro. Na virada de 1988 para 1989, o barco Bateau Mouche afundou na praia de Copacabana. As pessoas que estavam dentro do barco para ver a queima de fogos tradicional no Rio de Janeiro viveram momentos de tensão, criados pela ganância de um grupo de empresários que superlotou o Bateau Mouche. Dos 150 passageiros, 55 morreram. O acidente vitimou a atriz Yara Amaral, que no ano anterior tinha encerrado sua participação na novela Fera radical, da TV Globo.

A televisão brasileira sofreu uma alteração importante. O grupo da Igreja Universal do Reino de Deus comprou a Rede Record por 45 milhões de dólares. Ia começar uma nova era na emissora paulista.

O Campeonato Brasileiro foi disputado por 22 equipes. Após uma primeira fase com dois grupos de 11 times, houve uma nova frase com os 16 melhores do início do torneio (divididos também em dois grupos). A final iria acontecer entre o melhor de cada grupo.

São Paulo e Vasco foram os credenciados para a decisão do Campeonato Brasileiro de 1989. Como tinham a melhor campanha, os vascaínos tinham a vantagem de jogar por dois empates ou uma vitória, além de escolher onde seria realizada a primeira partida da decisão. O Vasco optou por jogar a primeira partida no Morumbi e de lá saiu campeão brasileiro pela segunda vez. Depois de cruzamento de Luiz Carlos Winck, Sorato cabeceou para o fundo das redes de Gilmar.

Neste ano, aconteceu uma estreia no futebol brasileiro. Além dos campeonatos estaduais e do Brasileiro, foi incorporado ao calendário a Copa do Brasil. Como o Campeonato Brasileiro havia sofrido uma redução em seu número de participantes, um novo torneio foi montado para agradar as federações que se sentiram prejudicadas. De maneira democrática, o campeonato trazia 32 clubes - 22 campeões estaduais e 10 vices, distribuídos em 16 chaves. O sistema "mata-mata" ocorria durante toda a Copa do Brasil, tornando cada jogo decisivo.

Grêmio e Sport chegaram à decisão, e o tricolor gaúcho sagrou-se campeão, após empate em 0 a 0 na Ilha do Retiro e uma vitória por 2 a 1 (com Assis e Cuca marcando para os gaúchos e um gol contra de Baltazar descontando para os pernambucanos). O vice-campeão mostrou uma face constante neste torneio de "mata-mata": times considerados de menor expressão às vezes surpreendem e chegam a uma decisão. Alguns deles chegariam ao título, como veremos nos próximos posts.

Chegando a 30 anos de sua estrada musical, Roberto Carlos recebeu uma consagração no exterior. Com seu álbum Volver, RC ganhou o Grammy Latino de Melhor Cantor de 1988. O disco trouxe cinco músicas de seu LP brasileiro de 1987 vertidas para o espanhol e algumas gravações de canções em castelhano divulgadas somente no exterior - como Tristes momentos e Si el amor se va. O título do LP vencedor foi o da música que encerrou o LP lançado no Brasil em 1988.

Roberto continuava mostrando uma afinidade com o mercado latino, e em seu Roberto Carlos Especial de 1989 chegou a cantar uma música em espanhol - Si me vas a olvidar, lançada em Sonrie, álbum feito para o mercado castelhano em meados deste ano. Si me vas a olvidar chegou ao Brasil em português, com o título Se você me esqueceu, na versão feita por Carlos Colla.

Em seu programa daquele ano, RC teve como convidados Simone e Erasmo Carlos. A cantora revelou que estava tendo um grande momento como cantora e também como mulher ao estar do lado dele para, depois de recordarem alguns sucessos, cantarem a música Outra vez. Com o amigo Erasmo Carlos, os dois relembraram momentos da Jovem Guarda e cantaram Sentado à beira do caminho, tendo ao piano o maestro Eduardo Lages.

A conversa com Erasmo era intercalada com clipes de músicas novas que RC lançou em 1989, e o parceiro falou para Roberto: "Cara, esse seu disco... Dor-de-cotovelo perde, é dor de joelho!". Das nove músicas, sete falaram sobre fim de amor - até mesmo as feitas por outros compositores. Provável reflexo da separação do cantor com a atriz Myriam Rios. Eis o repertório:

LADO A

1 - Amazônia, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - Tolo, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

3 - O tempo e o vento, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

4 - Se você me esqueceu (Si me vas a olvidar), de Roberto Livi, com versão de Carlos Colla

LADO B

1 - Pássaro ferido, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - Nem às paredes confesso, de Maximiano de Souza, Francisco Trindade e Artur Ribeiro

3 - Só você não sabe, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

4 - Sonrie (Smile), de Charles Chaplin, J. Turner e G. Parsons, com versão de Roberto Livi

5 - Se você pretende, de Mauro Motta e Carlos Colla

Apenas Sonrie - versão castelhana para a Smile de Charles Chaplin que deu nome ao LP latino de 1989 - e Se você pretende não foram exibidas no Roberto Carlos Especial de 27 de dezembro. A primorosa Tolo e Si me vas a olvidar foram apresentadas em show no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Os demais, renderam clipes com mulheres bonitas contracenando com Roberto.

Em O tempo e o vento, RC cantou o amor que foi embora pela fúria dos ventos contracenando com Luiza Brunet. No sambinha Só você não sabe, foi a vez da passista Fatinha (que participara do especial de 1986 no clipe de Nêga). Pássaro ferido e a bela releitura do fado Nem às paredes confesso também tiveram a participação de atrizes.

Mas Roberto Carlos estava voltado para abraçar uma causa ecológica, visível na capa de seu LP. RC posou com uma pena entre seus cabelos, e no início de seu especial falou sobre o lugar que era tema da música "pra tocar no rádio" de 1989:

"Daqui de uma dessas artérias desse imenso coração, eu repito meu amor pelo Brasil. Um amor antigo e e apaixonado. Diante do índio, testemunha de tanta devastação, eu aindo grito a minha fé nesse país".

Em clipe gravado na Floresta Amazônica, Roberto arrumava um espaço em meio à "dor-de-cotovelo" para gritas os problemas pelos quais a Amazônia padece. Um dado curioso: em alguns discos, fitas ou CDs, esta música aparece como segunda faixa do lado A - a canção que abre seu trabalho daquele ano é Tolo. Supõe-se que este seria "o ano do Tolo", como disse Erasmo no especial, mas RC decidiu evidenciar mesmo seu alerta pela insônia do mundo.

Segue a letra! Na foto, Roberto Carlos no registro fotográfico que apareceu na parte interna de seu LP daquele ano.

Abraços a todos, Vinícius.

AMAZÔNIA - Roberto e Erasmo

Tanto amor perdido no mundo
Verdadeira selva de enganos
A visão cruel e deserta
De um futuro de poucos anos

Sangue verde derramado
O solo manchado
Feridas na selva
A lei do machado

Avalanches de desatinos
Numa ambição desmedida
Absurdos contra os destinos
De tantas fontes de vida

Quanta falta de juízo
Tolices fatais
Quem desmata, mata
Não sabe o que faz

Como dormir e sonhar
Quando a fumaça no ar
Arde nos olhos
De quem pode ver

Terríveis sinais
De alerta
Desperta
Pra selva viver

Amazônia, insônia do mundo...
Amazônia, insônia do mundo...

Todos os gigantes tombados
Deram suas folhas ao vento
Folhas são bilhetes deixados
Aos homens do nosso tempo

Quantos anjos queridos
Guerreiros de fato
De morte feridos
Caídos no mato

Como dormir e sonhar
Quando a fumaça no ar
Arde nos olhos
De quem pode ver

Terríveis sinais
De alerta
Desperta
Pra selva viver

Amazônia, insônia do mundo...
Amazônia, insônia do mundo...

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