quarta-feira, 24 de junho de 2009

50 anos de emoções - 1992



Olá, amigos.

A série 50 anos de emoções apresenta mais um ano da estrada de Roberto Carlos na Música Popular Brasileira. Desta forma, o Emoções de Roberto Carlos faz homenagem pelos 50 anos de carreira do cantor.

O ano de 1992 trouxe um grande passo para encerrar preconceitos. A Organização Mundial de Saúde parou de considerar a homossexualidade uma doença. A partir de agora, o homossexualismo passou a ser uma opção sexual.

Depois de um longo período de batalhas, a Bósnia e Herzegovina conseguiu, finalmente, sua separação da Iugoslávia. E representações de todo o mundo voltaram suas atenções para o Rio de Janeiro. Entre 3 e 14 de junho deste ano, a cidade sediou a Rio-92, conferência de meio ambiente que buscava saídas para o mundo conseguir seu desenvolvimento sem danificar os ecossistemas.

As resoluções da ECO-92 acabaram ofuscadas pela turbulência política na qual vivia o Brasil. As denúncias de corrupção envolvendo o presidente Fernando Collor de Mello ficaram concretas depois da entrevista que irmão dele, Pedro, concedeu à revista Veja. Pedro Collor entregou à revista vários documentos que apontavam o ex-tesoureiro do irmão, Paulo César Farias, como o proprietário de empresas no exterior. A mãe dos dois, Leda Collor, chegou a alegar insanidade do filho.

Pedro conseguiu mostrar que estava com saúde mental perfeita e aceitou conceder uma entrevista para a Veja. No dia 23 de maio de 1992, Pedro Collor detalhou o "esquema PC" e denunciou uma rede de corrupção envolvendo o irmão. Foi realizada uma Comissão Parlamentar de Inquérito e, a 26 de agosto, a "CPI de PC" achou gastos do dinheiro ilegal do esquema - a reforma da "Casa da Dinda" e a compra de um Fiat Elba.

Em primeiro de setembro, Barbosa Lima Sobrinho entregou à Câmara dos Deputados o pedido de impeachment de Fernando Collor. 28 dias depois, o pedido de abertura do processo foi aprovado, com 441 votos a favor e 38 contra. Houve uma abstenção e 23 ausências. Em 2 de outubro, o presidente se afastou do cargo. Para evitar o risco de ter seus direitos políticos cassados, Collor renunciou ao mandato de presidente antes que o processo de seu impeachment fosse julgado. Mesmo assim, o julgamento aconteceu em 29 de dezembro, e Fernando Collor de Mello ficou proibido de ter mandatos políticos durante oito anos. O vice-presidente Itamar Franco assumiu em definitivo a cadeira presidencial do país para o restante do governo.

No futebol, o Brasil voltou a ter destaque no cenário mundial, e iniciou a valorização do esporte como negócio. O São Paulo sagrou-se campeão numa final emocionante contra o Newell's Old Boys. Após derrota em Buenos Aires e vitória no Morumbi pelo mesmo placar de 1 a 0, a decisão de quem seria o melhor da América em 1992 foi para os pênaltis. Nas cobranças, o tricolor paulista saiu vencedor, pelo placar de 3 a 2. Em dezembro, a equipe foi a Tóquio disputar a final do Mundial Interclubes contra o Barcelona, da Espanha. O búlgaro Stoichkov abriu o placar para o time espanhol, mas dois gols de Raí deram a vitória por 2 a 1 e o primeiro título de "melhor do mundo" para o São Paulo. A conquista são-paulina deu ao futebol brasileiro a noção de que dá para vencer violência, catimba e a pressão da arbitragem com bom futebol.

A Copa do Brasil teve sua final disputada por Internacional e Fluminense. Na primeira partida, realizada no Estádio das Laranjeiras, o tricolor venceu por 2 a 1, com gols de Vágner e Ézio para o Fluminense e Caíco marcando para o colorado. No segundo jogo, realizado no Beira-Rio, um pênalti discutível marcado aos 43 minutos do segundo tempo deu a vitória ao Internacional. Com a cobrança de Célio Silva, o colorado venceu por 1 a 0 e, beneficiado pelo critério de "gol fora de casa", sagrou-se campeão do torneio.

O Campeonato Brasileiro de 1992 teve uma mudança em sua reta decisiva. Dentre 20 participantes, os oito melhores se classificavam para a segunda fase. Eles eram divididos em dois grupos de quatro e o campeão de cada chave ganhava o direito de ir para a final. No Grupo 1, classificaram-se Vasco (primeiro), Flamengo (quarto), São Paulo (sexto) e Santos (oitavo). No Grupo 2, os classificados foram Botafogo (segundo), Bragantino (terceiro), Corínthians (quinto) e Cruzeiro (sétimo).

Flamengo e Botafogo fizeram a segunda final entre cariocas num Campeonato Brasileiro. A vantagem botafoguense de dois empates ou de um empate na soma dos resultados ficou mais difícil após a primeira partida. Logo no primeiro tempo, o Flamengo vencia por 3 a 0, com gols de Júnior, Nélio e Gaúcho. No dia seguinte, o atacante Renato Gaúcho (na época jogando pelo Botafogo) foi visto no churrasco da vitória flamenguista, que aconteceu na casa de Gaúcho e, por isto, foi afastado do clube.

Na segunda partida, uma grade da arquibancada cedeu antes do jogo começar, e centenas de pessoas caíram no anel inferior. Três torcedores morreram. Mesmo assim, o jogo aconteceu. O empate em 2 a 2 (gols de Júnior e Júlio César para o Flamengo e Pichetti e Valdeir para o Botafogo) confirmou o título flamenguista. O Maracanã foi fechado para obras (no Campeonato Estadual, realizado no semestre seguinte) não foi utilizado e não voltaria mais a ter um público tão grande quanto o daquela final de 1992 - mais de 122 mil pessoas.

Roberto Carlos teve uma perda inestimável para sua carreira. Diretor de vários de seus especiais, Augusto César Vanucci faleceu em 30 novembro de 1992. O Roberto Carlos Especial daquele ano foi batizado de Amigo em homenagem a ele.

No programa, RC recebeu a dupla Chitãozinho & Xororó, que apresentaram a música Minha vida (versão de My way) e cantaram com ele a música Todas as manhãs. Erasmo Carlos interpretou a música Homem de rua, sucesso dele que estava tocando na novela das 20h30, De corpo e alma, e, com Roberto, cantou Se você pensa. Kátia se apresentou com sua suave interpretação para Quando o amor acaba. Mas o número mais emocionante veio com a participação de Caetano Veloso. RC apresentou o amigo logo depois de interpretar Força estranha. Caetano chegou, cantou Debaixo dos caracóis dos seus cabelos (e RC ainda deu uma canja cantando uns trechos no final). No número final, os dois cantaram a música Alegria, alegria - sucesso de Caetano Veloso em 1967 que voltara a ficar em evidência em 1992, por ela ser a música de abertura da minissérie Anos rebeldes. Passada durante a Ditadura Militar, a minissérie inspirou os manifestantes contra Fernando Collor a fazerem "a manifestação dos caras-pintadas".

Roberto narrou a história da Virgem Maria e suas falas eram entrecortadas com dramatizações. Maria foi vivida pela atriz Daniella Perez que, quatro dias depois do Roberto Carlos Especial ir ao ar, foi vítima de um crime bárbaro. Ela foi morta com 18 tesouradas pelo colega de novela Guilherme de Pádua (que teve como cúmplice a esposa Paula Thomaz). Os dois faziam o par romântico Yasmin e Bira na novela De corpo e alma. Curiosamente, a canção Homem de rua, gravada por Erasmo Carlos, era justamente o tema do casal. Mesmo com a morte da filha, a autora Glória Perez prosseguiu a novela até o final.

O tema "amigo" deu margem a um coro de atores da TV Globo cantando Eu quero apenas na companhia de RC. Numa colagem musical, os atores Edson Celulari, Cristiana Oliveira, Cristina Mullins, José Mayer, Eva Wilma, Jayme Periard, Maria Zilda, Vera Holtz, Ewerton de Castro, Fábio Assunção, Marisa Orth, Lolita Rodrigues, Lucinha Lins dentre outros seguiram a vontade de ter um milhão de amigos.

Na reta final do programa, apareceu uma interessantíssima forma de homenagear Augusto César Vanucci: através da apresentação de Emoções, aparecia RC em vários momentos de seus especiais de fim de ano pela TV Globo. Um texto emocionante para o amigo e a certeza de que ele "estreia agora em um palco muito mais iluminado" encerrou o Roberto Carlos Especial.

O ano de 1992 trouxe a primeira coletânea em Compact Disc (formato ainda em ascensão no mercado fonográfico) de Roberto Carlos. O disco The best of trazia uma compilação com 12 sucessos de Roberto Carlos - Emoções, Detalhes, Outra vez, Os seus botões, Proposta, Ele está pra chegar, O portão, Falando sério, Cavalgada, Café da manhã, Desabafo e Eu e ela.

Mas o final de ano reservou mais uma presença de Roberto Carlos no mercado fonográfico. Eis o repertório de seu trabalho naquele ano:

LADO A

1 - Você é minha, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - Mulher pequena, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

3 - De coração, de Eduardo Lages e Paulo Sérgio Valle

4 - Você como vai? (E tu come stai?), de Cláudio Baglione, com versão de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

5 - Dito e feito, de Altay Veloso

LADO B

1 - Herói calado, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - Eu preciso desse amor, de Michael Sullivan e Paulo Massadas

3 - Você mexeu com a minha vida, de Mauro Motta e Paulo Sérgio Valle

4 - Dizem que um homem não deve chorar (Nova flor / Los hombres no deben llorar), de Palmeira, Mario Zan e Pepe Ávila, com versão de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

5 - Una en un millón, de Roberto Livi e Alejandro Vezzani

De seus compositores constantes, as duplas Eduardo Lages e Paulo Sérgio Valle e Michael Sullivan e Paulo Massadas estiveram presente neste LP e houve uma parceria até então inédita de Paulo Sérgio com o produtor musical Mauro Motta. Roberto Carlos deu espaço a um novo compositor em sua lista - Altay Veloso - e o presente acabou ganhando uma dimensão ainda maior em 1993, quando a gravação de Dito e feito fez parte da trilha da novela Renascer, exibida às 20h30 pela TV Globo. Uma dramática canção italiana E tu come stai? ganhou uma primorosa interpretação de RC e uma impactante letra em português feita por Roberto Carlos e Erasmo Carlos.

A presença latina apareceu em dois momentos neste LP de RC. Na última faixa, com a canção Una en um millón, gravação feita originalmente para o disco que Roberto lançou para o mercado em castelhano em 1991. Mas a outra canção é ainda mais curiosa.

O compositor Mario Zan escreveu (em parceria com Palmeira) uma guarânia chamada Nova flor. O Trio Los Panchos decidiu gravá-la, e traduziu sua letra para o espanhol, que foi batizada de Los hombres no deben llorar. Roberto e Erasmo fizeram a versão... DA VERSÃO. Dizem que um homem não deve chorar é a única gravação em português na qual RC canta uma estrofe em espanhol. O mais estranho foi que ela não foi lançada no LP para a América Latina no ano seguinte.

Roberto e Erasmo assinaram sozinhos três músicas deste disco. As faixas que abrem o lado A (a despretensiosa Você é minha) e o lado B (a engajada Herói calado) e uma canção que seria a primeira de uma vertente da década de 1990. Quando apresentou esta música em seu especial, Roberto confessou que, quando escrevia com Erasmo, achava que ela seria para uma minoria feminina. Mas, enquanto pesquisavam, foram surpreendidos com o fato de, no Brasil, existirem mais de 20 milhões de mulheres abaixo de 1,60m. Talvez por isto esta salsa tenha sido um dos maiores sucessos radiofônicos de Roberto Carlos na década.

Segue a letra! Na foto, Roberto Carlos em seu especial de 1992.

Abraços a todos, Vinícius.

MULHER PEQUENA - Roberto e Erasmo

Quando uma mulher pequena
Vem falar no meu ouvido
O meu coração dispara
Chega até a fazer ruído

Fica na ponta dos pés
Se pendura como louca
Olha o céu e fecha os olhos
Pra ganhar beijo na boca

Depois do beijo na boca
Sua mão leve desliza
Pelos pelos do meu peito
Dentro da minha camisa

Quando a coisa fica quente
Ai, essa mulher me usa
Quero só que se arrebente
Algum botão da sua blusa

Não há roupa que se agüente
E nenhum botão que dure
Esse amor que a gente sente
Não há nada que segure

Gosto de você, pequena
Esse beijo me alucina
Coisa de mulher gostosa
Com um jeito de menina

Ai, ai, ai
Essa voz doce e serena
Essa coisa delicada
Coisa de mulher pequena

Ai, ai, ai
Essa voz doce e serena
O meu coração dispara
Por você mulher pequena...

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