sábado, 5 de abril de 2008

Roberto Carlos, carnaval e cinzas...


Olá, amigos.

Se tudo se acabou na quarta-feira, este fotolog retorna sua marcha e suas atualizações (sempre dia sim, dia não) neste reinício de ano. Afinal, mais que nunca é preciso cantar, e mais que nunca, é bom cantar o repertório de Roberto Carlos.

Hoje abrimos espaço para um panorama geral dos momentos carnavalescos presentes em vida e obra de RC. Ele, declarado torcedor da Beija-Flor de Nilópolis (escola de samba carioca que é a mais recente campeã do Rio de Janeiro e que, nas palavras do mestre de bateria, Mestre Paulinho: "Sua majestade, o rei Roberto Carlos, a quem dedico este título, previu o triunfo da Beija-Flor".) teve grandes momentos ligados não só à bela harmonia do samba mas também à "folia de Momo" que ocorre anualmente, sempre 40 dias antes da Semana Santa.

Atualmente, o carnaval é um período associado a suas apresentações em um cruzeiro, no Projeto Emoções Pra Sempre em Alto-Mar . Excepcionalmente, neste 2008 o cruzeiro não ocorrerá durante os dias de carnaval, provavelmente porque a folia foi marcada mais cedo do que se costuma acontecer no calendário. O Navio Costa Mágica navegará durante os dias 23 e 27 de fevereiro.

Roberto Carlos já deu samba em 1987, quando desfilou na Marquês de Sapucaí sendo tema da escola de samba Unidos do Cabuçu. Naquele ano, Roberto Carlos no reino da fantasia passou pelo sambódromo do Rio de Janeiro, recontando, através de versos de Adilson Gavião, Adauto Magalha e Sérgio Magnata, como "nasceu Roberto Carlos na canção popular". No Roberto Carlos Especial de 1986, ele contou de sua ansiedade prestes a cair na folia:

"Vai ser aqui, bicho. Aqui neste lugar. Neste circo máximo! Nesta arena de concreto onde todos os anos desfila o imperador povo carregando em triunfo a emoção e a fantasia de milhares de brasileiros. Eu nem sei se dá pra agüentar...".

Roberto entrou para a galeria dos sambas-enredo no dia 2 de março de 1987, e fez a escola chegar ao quinto lugar - até o momento, a melhor colocação da modesta Unidos do Cabuçu, hoje escola de samba do Grupo de Acesso no Rio de Janeiro (o equivalente à "segunda divisão" nos campeonatos de futebol). Therezinha Monte, que prossegue com o cargo de presidente desde aquela época, afirma que se a escola tivesse uma visibilidade de uma Portela ou Mangueira, certamente teria saído vencedora daquele carnaval.

Mas, além de dar samba, Roberto Carlos deu sambas de presente para os ouvintes da boa música. Como compositor, ele é autor de duas canções assinadas em parceria com Erasmo Carlos e que foram gravadas por seu amigo de fé - a "crônica de carnaval" Cachaça mecânica (última faixa do LP 1990 - Projeto SalvaTerra, de 1974) e a ingênua Nasci numa manhã de carnaval (terceira faixa do lado A no LP Pelas esquinas de Ipanema, lançado por Erasmo em 197.

A dupla também fez músicas para serem lançadas justamente durante o período de carnaval. No ano de 1970, eles retornariam às origens da folia, se aventurando a escrever a marchinha Você acabou com o meu carnaval, para a voz de Clério Moraes. E no ano de 1974, a compilação Carnaval 75 - Convocação geral trouxe Roberto e Erasmo como autores de Samba do sapatão, música interpretada por Marlene, que ontem, hoje e sempre segue como "Rainha do Rádio".

Sua discografia também trouxe espaço para o samba e, influenciado pelo ritmo que o reverenciaria no início do ano seguinte, a primeira faixa do lado B de seu LP de 1986 trouxe os batuques de Nêga. Em 1989, seria a vez do samba-canção, através da letra e música de Só você não sabe. Outra canção de autoria de Roberto e Erasmo daria samba - mas na voz do cantor Agepê, que adequou a seu estilo Cama e mesa, originalmente presente na primeira faixa do lado B do LP de RC em 1981.

Na época ainda associado ao movimento musical da Jovem Guarda, Roberto abriu espaço para a reverência musical a dois representantes da elegância do samba. E, em 1967, Ataulfo Alves e Mário Lago receberam de RC uma primorosa leitura de Ai, que saudades da Amélia.

Entretanto, outra canção do ano de 1967 seria a mais associada a Roberto quando se fala no período carnavalesco. Não só por trazer a palavra carnaval em seu título, mas por ser a incursão de RC no seleto grupo dos artistas que se destacaram no Festival da TV Record. Sua bela interpretação - acompanhado do conjunto carioca O Grupo - fez com que a triste canção que Luiz Carlos Paraná entregou especialmente para que ele defendesse chegasse ao quinto lugar da terceira edição do festival. À sua frente, ficaram outros belos registros para o cancioneiro brasileiro. Em ordem decrescente, Ponteio, de Edu Lobo, Domingo no parque, de Gilberto Gil, Roda viva, de Chico Buarque e Alegria, alegria, de Caetano Veloso.

Em texto da contracapa do LP San Remo 68 (compilação distribuída em 1976 que reuniu 12 canções anteriormente lançadas somente em compactos), RC recordou esta música da seguinte forma: "Ele [o autor, Luiz Carlos Paraná ] me levou essa música e ela se adaptou ao meu estilo, e eu a defendi no Festival". E a dor do carnaval e das cinzas de Maria se tornou uma bela página musical da história de Roberto Carlos nos olhos e sonhos de mais de um milhão de amigos e foliões que o fazem poder cantar.

Segue a letra! Na foto, Roberto Carlos na folia do carnaval, durante sua passagem pela Marquês da Sapucaí em 1987.

Abraços a todos, Vinícius.

MARIA, CARNAVAL E CINZAS - Luiz Carlos Paraná

Nasceu Maria, quando a folia
Perdia a noite, ganhava o dia
Foi fantasia seu enxoval
Nasceu Maria, no carnaval

E não lhe chamaram, assim como tantas
Marias de santas, Marias de flor
Seria Maria, Maria somente
Maria, semente de samba e de amor

Não era noite, não era dia
Só madrugada, só fantasia
Só morro e samba, viva Maria
Quem sabe a sorte lhe sorriria

E um dia viria de porta-estandarte
Sambando com arte, puxando cordões
E em plena folia, de certo estaria
Nos olhos e sonhos de mil foliões

Morreu Maria, quando a folia
Na quarta-feira também morria
E foi de cinzas seu enxoval
Viveu apenas um carnaval

Que fosse chamada, então como tantas
Marias de santas, Marias de flor
Em vez de Maria, Maria somente
Maria semente, de samba e de dor

Não era noite, não era dia
Somente restos de fantasia
Somente cinzas, pobre Maria
Jamais a vida lhe sorriria

E nunca viria de porta-estandarte
Sambando com arte, puxando cordões
E não estaria, em plena folia
Nos olhos e sonhos de seus foliões

E não estaria, em plena folia
Nos olhos e sonhos de seus foliões...

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