sábado, 5 de abril de 2008

A Bossa Nova de Roberto Carlos - 7


Olá, amigos.

Ainda contando com a boa vontade do Flogão, que anda muito temperamental e não permite atualizações constantes, continuamos com a série "A Bossa Nova de Roberto Carlos". E hoje trazemos um momento que foi além do horizonte de sua discografia: um ponto de vista da Bossa Nova sobre o repertório de RC.

Conterrânea de Roberto Carlos, a cantora NARA LEÃO (que é de Vitória, assim como este que vos escreve) se tornou um dos símbolos do movimento musical que há 50 anos despertou na Música Popular Brasileira. Primeiramente, porque foi em sua residência, num apartamento na Avenida Atlântica, de frente para a orla de Copacabana, que houve algumas das famosas "reuniões" do clube "bossa-novista" - e a família Leão recebeu em sua casa nomes como Roberto Menescal, Carlos Lyra e Ronaldo Bôscoli (que foi noivo de Nara, inclusive).

Em 1963, ela iniciou sua carreira artística fazendo parte de outro grande momento da Bossa Nova: o espetáculo "Pobre menina rica", musical assinado por Vinícius de Moraes e Carlos Lyra. Aliado ao repertório "bossa-novista", ela ainda se engajou em outro revolucionário momento artístico da MPB: o célebre show "Opinião", que apresentou no Teatro de Arena ao lado de João do Vale e Zé Kéti.

Mas em 1978 ela tornou a escrever um momento revolucionário aos olhos dos críticos, que já naquela época insistiam em marginalizar a dupla Roberto Carlos e Erasmo Carlos dos outros ícones da música brasileira. Com o disco intitulado "... E que tudo mais vá pro inferno", Nara apresentou o seguinte escrete de canções:

1 - Quero que vá tudo pro inferno
2 - As curvas da Estrada de Santos
3 - Além do horizonte
4 - Como é grande o meu amor por você
5 - Dia de chuva
6 - Olha
7 - Cavalgada
8 - Proposta
9 - Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
10 - A cigana
11 - O divã
12 - Se você pensa

Em seu repertório, Nara foi democrática até com as peculiaridades da dupla Roberto e Erasmo. Apenas "Como é grande o meu amor por você" não é dos dois (apenas RC a escreveu) e somente "Dia de chuva" não foi gravada originalmente por Roberto (ela é da discografia de Erasmo).

No encarte do LP (que contou com a produção de Roberto Menescal), Nara explicou o motivo de ter escolhido as várias nuances da safra de Roberto e Erasmo: "Existem vários Roberto-Erasmo: o nostálgico, o adolescente, o da fixação do amor que não deu certo, o que canta o amor sensual e valoriza o encontro significativo, casual, que irrompe da vida do outro, desorganizando, desarrumando o arrumado de uma vida programada como uma camisa de força". E, na última frase de seu texto, a cantora afirmou: "A música de Roberto-Erasmo me fez redescobrir a música brasileira".

Graças à voz de Nara, o cancioneiro de Roberto Carlos e Erasmo Carlos foi redescoberto nos moldes da Bossa Nova, em um disco maravilhoso desta cantora que, por um lapso do destino, não esteve presente em nenhum "Roberto Carlos Especial". No entanto, em seus 47 anos de vida (idade que tinha quando um câncer encerrou sua carreira aqui na Terra) ainda houve espaço para dois encontros musicais com o parceiro de RC, o amigo Erasmo Carlos: em "Meu ego", no LP "Meus amigos são um barato", de Nara, e em "Café da manhã", no LP "Erasmo Carlos convida...".

O LP "... E que tudo mais vá pro inferno" traz alguns dados curiosos. Em seu primeiro lançamento em CD, o título foi mudado para "Debaixo dos caracóis dos seus cabelos". E, numa recente remasterização para a caixa que reúne alguns discos da discografia de Nara Leão, foi suprimida a música "Quero que vá tudo pro inferno", não autorizada por um dos autores desta canção.

Infelizmente, não encontramos áudio de nenhuma gravação de Nara neste disco para disponibilizarmos aqui. Mas, para os ouvidos dos que prestigiam este fotolog, hoje colocamos uma canção que serve como símbolo para este tributo. Afinal, a interpretação de Nara Leão para esta e para as demais músicas deste LP comprovam como as canções assinadas por Roberto Carlos vão além de vários horizontes do nosso cancioneiro.

Segue a letra! Na foto, a capa do LP que Nara Leão lançou em 1978.

Abraços a todos, Vinícius.

ALÉM DO HORIZONTE - Roberto e Erasmo

Além do horizonte deve ter
Algum lugar bonito pra viver em paz
Onde eu possa encontrar a natureza
Alegria e felicidade com certeza

Lá nesse lugar
O amanhecer é lindo
Com flores festejando
Mais um dia que vem vindo

Onde a gente pode se deitar no campo
Fazer amor na relva
Escutando o canto dos pássaros

Aproveitar a tarde sem pensar na vida
Andar despreocupado
Sem saber a hora de voltar

Bronzear o corpo todo sem censura
Gozar a liberdade de uma vida
Sem frescura

Se você não vem comigo
Tudo isso vai ficar
No horizonte esperando
Por nós dois

Se você não vem comigo
Nada disso tem valor
De que vale o paraíso
Sem amor

Além do horizonte
Existe um lugar
Bonito e tranqüilo
Pra gente se amar...

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