sábado, 5 de abril de 2008

A Bossa Nova de Roberto Carlos - 4



Olá, amigos.

Na série A Bossa Nova de Roberto Carlos , este blogue chega ao lado B do compacto de 1960. Este seria o último momento no qual a carreira de Roberto Carlos teve como foco o estilo "bossa-novista".

Mais do que ser a música seguinte à Canção do amor nenhum apresentada aqui, a canção apresentada hoje tem um registro histórico circulando na Internet. Trata-se de um dos primeiros momentos no qual RC foi apresentado em público como o artista com pretensões de alçar um lugar no cenário da Bossa Nova. Numa apresentação ocorrida no Liceu Franco-Brasileiro, localizado em Laranjeiras, bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro, um dos mentores do movimento musical que abriu novas portas para grandes figuras da Música Popular Brasileira há 50 anos, RONALDO BÔSCOLI, disse as seguintes palavras:

" - Agora, apresentando um rapaz que estréia na Bossa Nova, egresso do rock, e criação de um rapaz que faz muito pela Música Popular Brasileira, que é o Carlos Imperial. Ele é tímido, não receiem, ele é assim meio, aparentemente displicente, mas é uma voz que promete para amanhã. Vocês ouçam com calma porque ele é... Roberto Carlos! que eu chamo aqui nesse momento. Roberto Carlos, vem cá".

O cantor Roberto Carlos chegou ao palco de maneira tímida. Talvez com a intenção de deixar o menino menos constrangido diante do público, Bôscoli chamou \"o criador\" de RC, Carlos Imperial, ao palco, para dizer as seguintes palavras:

" - Ronaldo, hoje eu vim apenas como assistente pra prestigiar a Bossa Nova mesmo. Esse movimento tão bom em torno da nossa música. E... como eu já vi Billy Blanco, Vinícius, é com muito prazer que hoje vou ouvir Roberto Carlos e seu grupo, Grupo Real da Bossa Nov\".

Mas, aquele momento em Laranjeiras não foi tão bom para RC. O público presente no evento o aplaudiu timidamente, e Ronaldo Bôscoli, como lembraria em seu livro de memórias intitulado Eles e eu, contou que, embora achasse Roberto talentoso, sabia que vida de imitador era curta - ainda mais de um simples "imitador" de ninguém menos que João Gilberto.

RC voltaria a encontrar com Ronaldo Bôscoli uma década depois. Desta vez, como um artista consagrado pela Jovem Guarda que buscava novos rumos, ousando se apresentar pela primeira vez na casa de espetáculos Canecão, no Rio de Janeiro. O local, definido pelo próprio Bôscoli como "aqui se escreve a história da Música Popular Brasileira", se transformou no gancho que Roberto precisava para ter a guinada rumo ao sucesso de crítica e público - graças, inclusive, ao "casamento a três" de RC e de seus produtores Luiz Carlos Miéle e Ronaldo Bôscoli.

A Bossa Nova de Roberto Carlos apresentada no compacto de 1960 foi a única a receber leitura de outro artista. Em 1967, Erasmo Carlos deu sua versão à letra apresentada agora.

O título da canção de Imperial também foi citado numa canção da dupla Roberto e Erasmo gravada por RC em seu LP É proibido fumar, de 1964. Louco não estou mais enumerava versos e títulos de músicas gravadas anteriormente por Roberto Carlos.

Já tendo destaque como cantor do "iê-iê-iê" que prenunciava a Jovem Guarda, RC recebia um conselho: "brotinho sem juízo deixe de ser, senão em sua vida você vai sofrer". Este conselho foi seguido à risca com relação ao movimento da Bossa Nova, que passou a figurar esporadicamente nos estilos de músicas que aparecem na obra de Roberto Carlos. O menino de 19 anos tomaria juízo em sua trajetória na música brasileira.

Segue a letra! Na foto, um registro histórico: durante a apresentação no Irajá Atlético Clube, RC foi chamado para entreter o público, que aguardava ansiosamente pela chegada do palhaço Carequinha. Ele apresentou duas ou três músicas, recebidas com desprezo até mesmo dos diretores do clube, que conversavam de costas para o rapaz. Em solidariedade, o fotógrafo Gemerson Dias tirou uma foto - que foi republicada no jornal carioca O Dia, em 17 de abril de 2001 com a legenda "Foto da misericórdia", na série especial "Tudo vai ser diferente - Super Roberto Carlos, 60 anos de emoções".

Abraços a todos, Vinícius.

BROTINHO SEM JUÍZO - Carlos Imperial

Brotinho toma juízo
Ouve o meu conselho
Abotoa esse decote
Vê se cobre esse joelho

Pára de me chamar
De meu amor
Senão eu perco a razão
Esqueço até quem eu sou

Brotinho, não me aperte
Quando comigo dançar
Tira a mão de meu pescoço
Não tente seu rosto colar

Pára de beliscar a minha orelha
Porque se o sangue subir
Eu faço o que me dá na telha

E você vai se dar mal
Vai, vai haver um carnaval
Vai

Brotinho não custa nada
Um pouquinho esperar
Um dia com véu e grinalda
Certinha você vai casar

Então, você vai me agradecer
Porque eu fui tão bobinho com você...

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