sábado, 5 de abril de 2008

A Bossa Nova de Roberto Carlos - 1


Olá, amigos.

A partir do post de hoje, este fotolog inicia uma série comemorativa pelos 50 anos de um dos movimentos mais marcantes em letra e música no cenário da Música Popular Brasileira. E, como Roberto Carlos "é um estilo de música" (frase do meu amigo Marcel Pilatti), seu repertório também passeou pelos mares do estilo homenageado nos próximos dias.

De acordo com o estudioso Ricardo Cravo Albin, a BOSSA NOVA foi um inspirado momento que nasceu durante encontros da classe média carioca, que se reunia em residências na Zona Sul do Rio de Janeiro para discutir, ouvir e fazer música. O grupo de mais destaque foi o que freqüentava a casa da família Leão, em Copacabana, onde morava a então adolescente Nara Leão, que recebia amigos como Carlos Lyra e Roberto Menescal.

Depois destes primeiros passos, que culminaram num show com as presenças de Carlos Lyra, Ronaldo Bôscoli, Sylvia Telles, Roberto Menescal e Luiz Eça no Clube Hebraica ao final de 1957, o ano de 1958 traria o surgimento do responsável por este divisor de águas da música tupiniquim. Depois de participar como violonista de três faixas do LP Canção do amor demais, de Elizeth Cardoso, JOÃO GILBERTO se aventurou como intérprete solo, lançando um compacto com as músicas Chega de saudade (de Tom Jobim e Vinícius de Moraes) e Bim-Bom (do próprio João).

No ano de 1959, João Gilberto emocionaria ouvintes e músicos brasileiros, consolidando a nova batida criada para a MPB, com seu LP Chega de saudade (até hoje inédito em CD, em função de burocracias de gravadoras). E proporcionaria a ascensão de outros grandes artistas, como Aloysio de Oliveira, Baden Powell, João Donato, Wanda Sá, Sérgio Ricardo, Francis Hime, Luiz Eça, e, em especial, uma dupla que aliava excelentes acordes com versos primorosos.

O maestro ANTÔNIO CARLOS JOBIM e o poeta e ex-diplomata VINÍCIUS DE MORAES foram os compositores da trilha musical por onde o cancioneiro brasileiro andou a partir do ano de 1958. Em composições feitas entre eles (inúmeras, marcantes, mas, certamente, a mais associada à Bossa Nova é uma das mais tocadas no mundo: Garota de Ipanema), sozinhos ou com outros parceiros, a Música Popular Brasileira é grata a esta dupla.

Considerada uma forma diferente de tocar samba, e justamente por isso criticada pela influência do jazz, a Bossa Nova se tornou um dos estilos de música do Brasil mais reverenciados mundo afora. E os artistas bossa-novistas adentraram no cenário do país em um contexto muito favorável.

O Brasil vivia um momento de euforia em todos os campos. Na política, a gestão de Juscelino Kubistcheck prosperava o país com seu "desenvolvimentismo" (que culminou na inauguração da nova capital, Brasília, dois anos depois). E no esporte, a Seleção Brasileira de Futebol sagrou-se vencedora da Copa do Mundo, com o escrete formado por Pelé, Garrincha, Zagallo e Didi derrotando a anfitriã seleção da Suécia pelo placar de 5 a 2. Foi um tempo definido por historiadores como os "anos dourados".

Em meio à revolução musical feita através da batida de violão, um músico capixaba chamado Roberto Carlos seguia no Rio de Janeiro tentando a sorte em programas de calouros. Em 1959, aos 18 anos, RC conheceu o empresário Carlos Imperial, homem que o tornou seu pupilo. Depois de apresentá-lo no programa Clube do rock, Imperial viu que a "nova onda" era a Bossa Nova, e tentou emplacar Roberto no cenário bossa-novista.

O rapaz de 18 anos freqüentou algumas vezes o apartamento da família Leão, na Avenida Atlântica, de frente para o mar de Copacabana, mas não teria sido muito notado pelos músicos que apareciam lá. Entretanto, através da Bossa Nova veio o primeiro registro fonográfico de Roberto Carlos.

"João é simplesmente João Gilberto", disse RC na coletiva de imprensa para o lançamento de seu disco de 2005 (quando, mais uma vez, ele teve uma "quase" oportunidade de receber João em seu especial anual na TV Globo). E, fortemente influenciado pela maneira de interpretar do músico responsável pelo LP Chega de saudade , Roberto gravou seu primeiro compacto.

As duas canções do disquinho trazem uma forma de RC interpretar que fica irreconhecível diante da maneira que o consagrou anos depois. Seria seu primeiro degrau artístico, e sua primeira lição musical foi, como dizem as palavras de Caetano Veloso em sua música Saudosismo, "aprender com João a ser desafinado, sempre ser desafinado".

Chegando de saudade, este que vos escreve inicia hoje a série A Bossa Nova de Roberto Carlos, contando a faceta bossa-novista do repertório de RC. Em sua primeira canção como cantor (e também como autor, mas em parceria com outro "Carlos": Carlos Imperial), Roberto recorria ao almanaque para contar a "bossa" de uma história da carochinha.

Segue a letra! Na foto, Roberto Carlos na década de 1960, tendo a companhia de um banquinho e um violão.

Abraços a todos, Vinícius.

JOÃO E MARIA - Roberto Carlos e Carlos Imperial

Li no almanaque a versão
Nova da história do João
Levou Maria ao bosque passear
E borboletas lindas apanhar

Mariazinha
Não sabia, não
Das intenções do João

A verdade está no almanaque
Pois o tal passeio foi de araque
Mariazinha não gostou, não
Do papelão do João

Mas o fim não está no almanaque
Sei que a Mariazinha
Voltou de Cadillac

João, coitado, ficou abandonado
Com as borboletas na mão
Coitadinho do João

Era uma vez João...
Era uma vez João...
Era uma vez João...
Joãozinho...

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