sábado, 5 de abril de 2008

Carros, caminhões, poeira, estrada, tudo, tudo - 9


Olá, amigos.

Em seu nono post, a série Carros, caminhões, poeira, estrada, tudo, tudo atravessa as décadas e chega ao ano de 1970 da obra de Roberto Carlos. E a ligação da música de Roberto e Erasmo com o carro veio num estilo bem próximo do mostrado no LP anterior, com As curvas da Estrada de Santos.

Mais uma vez, a velocidade vinha como forma de amenizar a dor da perda de um amor, desta vez guiando por uma estrada que ele não conhecia, e nem tinha interesse em conhecer. Em vez de contar para uma pessoa que pretendia saber como é, na canção de hoje os detalhes aparecem lentamente, num desabafo ao mesmo tempo para ele e para a pessoa de quem ele dizia fugir.

O que torna a música mais forte é que boa parte dela é declamada e sublinhada por uma melodia. Apenas no refrão Roberto canta, com interpretação próxima dos moldes da soul music, evidenciando gritos de amargura de quem sente solidão mesmo diante da paisagem, que ele vê passando mais depressa.

Parte do título desta música deu nome à primeira temporada de Roberto Carlos no Canecão, casa de espetáculos do Rio de Janeiro, definida por Ronaldo Bôscoli (que, ao lado de Luiz Carlos Miéle, produziu RC até 1994, ano em que Bôscoli encerrou sua carreira aqui na Terra) como "aqui se escreve a história da Música Popular Brasileira". A 200 km por hora se tornou sucesso de público e crítica, e mostrou que Roberto Carlos poderia pilotar em pistas mais "clássicas" da música brasileira e, mais tarde, da música internacional.

Depois da canção de hoje, penúltima faixa do lado B do LP de 1970, Roberto atravessaria a década por outros caminhos - o romantismo, as canções eróticas, as músicas ecológicas, a religiosidade em letra e música, e também partiria para um rumo mais alto, nas estradas da América Latina. Somente na década seguinte, RC voltaria a abrir espaço para a poeira da estrada. Mas isso é um assunto para o próximo post.

Seja a 120, a 150 ou a 200 km por hora, Roberto Carlos continuou voando pela vida. Mas com destino certo, seguindo o caminho que o levava aos aplausos daqueles que o acompanham até hoje.

Segue a letra! Na foto, Roberto Carlos em um show nos anos 70, acompanhado de música e de velocidade.

Abraços a todos, Vinícius.

120... 150... 200 KM POR HORA - Roberto e Erasmo

As coisas estão passando mais depressa
O ponteiro marca 120
O tempo diminui
As árvores passam como vultos
A vida passa, o tempo passa
Estou a 130

As imagens se confundem
Estou fugindo de mim mesmo
Fugindo do passado, do meu mundo assombrado
De tristeza, de incerteza
Estou a 140
Fugindo de você

Eu vou, voando pela vida, sem querer chegar
Nada vai mudar meu rumo, nem me fazer voltar
Vivo, fugindo, sem destino algum
Sigo caminhos que me levam a lugar nenhum

O ponteiro marca 150
Tudo passa ainda mais depressa
O amor, a felicidade
O vento afasta uma lágrima
Que começa a rolar no meu rosto
Estou a 160

Vou acender os faróis, já é noite
Agora são as luzes que passam por mim
Sinto um vazio imenso
Estou só na escuridão
A 180
Estou fugindo de você

Eu vou, sem saber pra onde, nem quando vou parar
Não, não deixo marcas no caminho pra não saber voltar
Às vezes sinto que o mundo se esqueceu de mim
Não, não sei por quanto tempo ainda eu vou viver assim

O ponteiro agora marca 190
Por um momento tive a sensação
De ver você a meu lado
O banco está vazio
Estou só a 200 por hora
Vou parar de pensar em você
Pra prestar atenção na estrada

Vou sem saber pra onde nem quando vou parar
Não, não deixo marcas no caminho pra não saber voltar
Às vezes, às vezes sinto que o mundo se esqueceu de mim
Não, não sei por quanto tempo ainda eu vou viver assim

Eu vou, vou voando pela vida
Sem querer chegar...

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