domingo, 27 de abril de 2008

As décadas de Roberto Carlos - Anos 80



Olá, amigos.

A série As décadas de Roberto Carlos chega ao seu terceiro post que aborda a carreira de RC a partir das décadas musicais de suas canções. Esta é a nossa forma de homenagear seu aniversário de 67 anos, que aconteceu no último dia 19 de abril. Hoje este blogue fala sobre a década de 1980, um período marcado por muitas alterações políticas e tecnológicas, e que, no contexto social, atualmente é visto com certa nostalgia na sociedade brasileira - que costuma fazer muitas festas para recordar os "anos 80".

A Guerra Fria que assolava o mundo desde o fim da Segunda Guerra Mundial já dava sinais de rendição por parte do socialismo. Aos poucos, os países que faziam parte da potência socialista União Soviética iam fazendo sua abertura ao capitalismo norte-americano e se tornando países independentes. O momento simbólico da derrocada socialista viria a 9 de novembro de 1989, quando ocorreu a queda do Muro de Berlim. Este muro dividia a Alemanha entre Alemanha Ocidental (sob júdice dos Estados Unidos) e Alemanha Oriental (sob poder da União Soviética).

Na parte tecnológica, a década de 1980 é cenário do surgimento de dois artigos que se tornariam populares a partir da década seguinte: o computador MacIntosh e o Compact Disc (CD), que digitalizou a música e, mais tarde, tornaria obsoleto o Long-Play (LP). Entretanto, a tecnologia veria a outra face do progresso: em 1986 (definido pela Organização das Nações Unidas como o Ano Internacional da Paz), dois lamentáveis incidentes teriam sérias conseqüências aos olhos do mundo.

Em 28 de janeiro, o ônibus espacial Challenger, dos Estados Unidos, explodiu logo após ter partido da sede da NASA. E a partir do dia 26 de abril, os olhos se voltaram para a pequena cidade de Chernobyl, na Ucrânia, palco de um acidente nuclear de enormes proporções, que causou mortes e seqüelas gravíssimas a todos os moradores da região.

A tecnologia trouxe um incidente lamentável também no Brasil. Em 1987, o desleixo de um laboratório fez moradores da cidade de Goiânia se contaminarem com o elemento químico Césio 137 deixado em uma lata de lixo comum. O incidente desencadeou mortes e seqüelas até os dias de hoje na cidade.

Em território brasileiro, os anos 80 são considerados por cientistas políticos como "a década perdida". A Ditadura Militar já convivia com sua abertura política, e se resumia a atentados isolados, como a tentativa frustrada de dois militares explodirem o Riocentro (que era palco de um show para comemorar o feriado de primeiro de maio, Dia do Trabalho). O mandato de João Baptista Figueiredo (iniciado em 1979 e que durou até 1985) trazia algumas expectativas de melhora na política brasileira.

Entretanto, os vários comícios em praças de todas as cidades do Brasil não foram suficientes para que a Emenda das "Diretas Já" (que pedia o voto direto para presidente já depois do fim do mandato de Figueiredo)fosse aprovada. Mesmo assim, o país saboreou a vitória de Tancredo Neves, da Frente Liberal, sobre Paulo Maluf, no colégio eleitoral formado por deputados e senadores .

Mas a alegria se transformou em tristeza para milhões de brasileiros em 21 de abril de 1985, quando Tancredo Neves faleceu. Em seu lugar, assumiu a cadeira mais importante do país o maranhense José Sarney, que, já sem o poder do "milagre brasileiro" da década anterior, teve de passar seu mandato em duelo contra a inflação galopante e nas constantes tentativas mal sucedidas de fazer planos econômicos para combatê-la - Planos Verão, Bresser e Cruzado foram alguns deles.

Na última parte da década, o país teve dois alentos no cenário político. No ano de 1985, houve as primeiras eleições diretas para governadores nas capitais depois de décadas, que terminaram com vitórias de políticos como Saturnino Braga no Rio de Janeiro e na volta de Jânio Quadros ao cenário político, agora como governador do estado de São Paulo.

Mas, certamente, 1989 seria o ano de maior esperança para os eleitores brasileiros. Pela primeira vez desde 1960, o país pôde acompanhar o processo eleitoral para, ao seu fim, em 17 de dezembro, escolher seu governante nos próximos cinco anos. Numa eleição "solteira" (expressão que significa que a eleição ocorreu em um ano que não houve eleição também para governadores, senadores e deputados), depois de 21 candidatos e dois turnos, o alagoano Fernando Collor de Mello derrotou o pernambucano radicado em São Paulo Luiz Inácio "Lula" da Silva. Sua eleição, através de artimanhas escusas, traria fortes conseqüências ao Brasil na década seguinte.

O Brasil também assistiu a alguns momentos de transformação na sua televisão durante a década de 1980. Em 1981, foi inaugurado o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), tendo como presidente Silvio Santos. No ano de 1983, a Rede Manchete, presidida por Adolpho Bloch, começou suas transmissões. E, a partir de 1989, a TV Record, que era pertencente aos grupos Paulo Machado de Carvalho e Silvio Santos, foi comprada pelo empresário Edir Macedo, dono da Igreja Universal do Reino de Deus. A partir do fim de 1986, a TV Globo passou a apresentar anualmente um evento com intuito social amparado pela UNICEF - o Criança Esperança, projeto que até hoje arrecada fundos para crianças carentes de todo o país.

No cenário esportivo, o Brasil assistiu a duas Copas do Mundo que terminaram em uma geração de futebol-arte, mas que encerrou a década sem títulos. O time de Zico, Falcão e Sócrates foi eliminado duas vezes por países que jogavam futebol mais burocrático e violento: em 1982, depois de encantar os desportistas na Copa da Espanha, o Brasil foi eliminado com três gols de Paolo Rossi na derrota por 3 a 2 para a Itália (que seria campeã do torneio). Em 1986, também sob o comando do mestre Telê Santana, o Brasil foi eliminado depois de um empate por 1 a 1 com a França (e da infelicidade de Zico errar um pênalti durante a partida) e de, nas disputas de pênalti, ser derrotado por 4 a 3 - a campeã daquele ano foi a Argentina de Maradona. Para "embalar" a Copa do Mundo, em 1985 Roberto Carlos lançou a canção Verde e amarelo, dele e de Erasmo.

A década foi marcada como o período em que o rock teve seus olhos voltados para o Brasil - foi o Rock In Rio, megaevento que trouxe para os palcos do Rio de Janeiro artistas universais como James Taylor, Queen e tantos outros. A música brasileira se voltou também para o estilo pop/rock, e o BRock trouxe nomes importantes para a década, como Paralamas do Sucesso, Titãs, Cazuza e Legião Urbana. No estilo batizado com o prefixo "MPB", os cantores Chico Buarque e Caetano Veloso se destacaram com o programa mensal Chico & Caetano, com encontros musicais que entraram para a história.

Roberto Carlos prosseguia em sua rotina de lançar anualmente álbuns nos mercados brasileiro e latino. Mas sua consagração alçou vôos maiores. Já no início da década de 1980, RC passou a ser considerado o "Frank Sinatra brasileiro", em especial depois que seus shows passaram a ter Emoções definitivas em letra e música. Em vez de lançar seus discos em longas temporadas no Canecão, Roberto começou a se apresentar em ginásios de todo o país, e a se apresentar em várias cidades, a bordo do avião fretado especialmente para ele e sua equipe, no ambicioso e bem sucedido Projeto Emoções. O sucesso prosseguiria a partir de 1987, com a estréia do show Detalhes - uma apresentação que ficou mais acessível ao público, pois dez de seus números fizeram parte do LP Roberto Carlos ao vivo, de meados de 1988 (dentre eles, uma emocionante interpretação de Imagine, de John Lennon, em dueto com a cantora mirim Gabriella)..

Casado com a atriz Myriam Rios (a quem dedicou A atriz, de 1985), RC apresentou músicas mais "joviais" sobre o romantismo a dois - caso de músicas como Cama e mesa e O côncavo e o convexo. As outras facetas mostradas a partir da década de 1970 se apresentaram na discografia de Roberto Carlos.

Vieram as "mensagens" religiosas como a intimista Estou aqui, os louvores de A guerra dos meninos, Ele está pra chegar e Aleluia, o lamento de Paz na Terra e a explosiva Apocalipse. As "mensagens" se estenderam a outras temáticas, como as de cunho ecológico As baleias , Águia dourada e Amazônia e a igualitária Todo mundo é alguém. Também viria o fim de amor de Você não sabe , Do fundo do meu coração e Tolo (que mostrou um disco de dor-de-cotovelo lançado em 1989, ano de seu fim de relacionamento com Myriam Rios).

RC abriu espaço pela primeira vez para um encontro musical em seu disco - e escolheu Maria Bethânia para gravar Amiga, em seu LP de 1982. No disco lançado para o exterior, na versão hispânica intitulada Amigos, ele teve um encontro musical com a cantora Ana Belén. Roberto também participou de discos de outros cantores - o memorável Sentado à beira do caminho, encontro com o amigo Erasmo Carlos para seu LP Erasmo Carlos convida... (em 1988, Roberto Carlos retribuiria o convite, dividindo os vocais com o parceiro na música Papo de esquina), a música infantil É tão lindo, com a turma do Balão Mágico, além da participação no compacto com fins beneficentes aos desabrigados pela chuva no Nordeste Chega de mágoa, que contou com artistas de vários estilos musicais, de Elizeth Cardoso a Paula Toller, de Chico Buarque a Roger, e, naturalmente, teve os expoentes Roberto Carlos e Erasmo Carlos.

Dialogando com vários estilos musicais, Roberto abriu espaço em seus especiais para cantores e grupos de samba, pagode, BRock, e isto se refletiu em seus discos, que trouxeram arranjos mais calcados por teclados. Em 1987, ele se tornou enredo da escola de samba Unidos do Cabuçu, que desfilou Roberto Carlos no reino da fantasia e inspirou Roberto a fazer com Erasmo a canção Nêga, do LP de 1986. Alguns analistas consideram que sua obra ficou aquém de qualidade desde que buscou agradar públicos de classe mais baixa - e justificam isto com a saída do produtor Evandro Ribeiro (em 1983, por problemas de saúde) e a entrada de Mauro Motta (que até hoje produz seus discos).

Mas a década de 1980 certamente será marcada para Roberto Carlos por seus números. No ano de 1984, o country em homenagem à classe dos caminhoneiros intitulado Caminhoneiro foi executado mais de 3 mil vezes nas rádios do país em seu primeiro dia de execução. O número foi superado no ano seguinte, com Verde e amarelo, que tocou mais 3.500 vezes em um só dia.

A consagração se estendeu ao cenário internacional. No ano de 1982, RC recebeu da gravadora CBS o "Globo de Cristal", prêmio entregue a artistas que vendem mais de 5 milhões de discos fora de seu país de origem. Mas, certamente, o prêmio mais marcante viria em 1989: o Grammy de Melhor Cantor Latino-Americano, pelo LP Volver, que teve como música de destaque a canção Si el amor se va, assinada por Roberto Livi, seu produtor no exterior. O diálogo com o mercado latino foi tão forte que, a partir da segunda metade da década, RC passou a não restringir seus discos a cantar versões em espanhol das suas canções em português - houve espaço para músicas feitas originalmente no idioma hispânico, dentre elas as músicas Me has echado al olvido, Poquito a poco, e até mesmo Sonrie (versão em espanhol para Smile, de Charles Chaplin), que teve sua gravação em castelhano lançada no álbum "brasileiro" de 1989.

Em uma década de emoções, tantas e tão bonitas, Roberto Carlos comprovava, disco a disco, que as boas safras anuais incluídas em seu repertório e o carinho que recebia de seu público não iriam mudar, esse caso não tinha solução. Bem como diziam os versos da canção que ele apresentou ao público em seu LP de 1982.

Segue a letra! Na foto, Roberto Carlos em show no Maracanãzinho, parte de seu Roberto Carlos Especial de 1984.

Abraços a todos, Vinícius.

FERA FERIDA - Roberto e Erasmo

Acabei com tudo
Escapei com vida
Tive as roupas e os sonhos
Rasgados na minha saída

Mas saí ferido
Sufocando meu gemido
Fui o alvo perfeito
Muitas vezes no peito atingido

Animal arisco
Domesticado esquece o risco
Me deixei enganar
E até me levar por você

Eu sei
Quanta tristeza eu tive
Mas mesmo assim se vive
Morrendo aos poucos por amor

Eu sei
O coração perdoa
Mas não esquece à toa
E eu não me esqueci

Não vou mudar
Esse caso não tem solução
Sou fera ferida
No corpo, na alma e no coração

Não vou mudar
Esse caso não tem solução
Sou fera ferida
No corpo, na alma e no coração

Eu andei demais
Não olhei pra trás
Era solto em meus passos
Bicho livre, sem rumo e sem laços

Me senti sozinho
Tropeçando em meu caminho
À procura de abrigo
Uma ajuda, um lugar, um amigo

Animal ferido
Por instinto decidido
Dos meus rastros desfiz
Tentativa infeliz de esquecer

Eu sei
Que flores existiram
Mas que não resistiram
A vendavais constantes

Eu sei
Que as cicatrizes falam
Mas as palavras calam
E eu não me esqueci

Não vou mudar
Esse caso não tem solução
Sou fera ferida
No corpo, na alma e no coração

Não vou mudar
Esse caso não tem solução
Sou fera ferida
No corpo, na alma e no coração...

5 comentários:

Anônimo disse...

Vinícius,

Essa foi a década que nascemos e crescemos. Conhecemos e nos apaixonamos pela obra do rei!

Foi a década que me atraiu para ele. A primeira imagem Rc que tenho é ele dirigindo aquele caminhão bem grande e cantando aquele clássico...

Foi a melhor década do rei para mim, tecnologia, discos bem produzidos e lançados, que saudade...

Foi a década de Emoções, precisa falar mais nada? Muitas emoções, muitas mesmo...

Blog Música do Brasil
www.everaldofarias.blogspot.com

Um forte abraço!

Anônimo disse...

A série “As décadas de Roberto Carlos”, é uma importante contribuição para o estudo da obra do Rei da MPB, na medida em que, para melhor situá-la e quiçá compreende-la, nos proporciona os detalhes mais importantes da vida social e política do Brasil e não só.

Por isso, não reluto em afirmar que esta iniciativa de Vinicius Faustini é oportuna, louvável, e como tal merecedora de todos os elogios, mesmo que possamos não concordar com ele (como é o meu caso), no que se refere ao seu próprio comentário.

Abraços robertocarlisticos!

Anônimo disse...

Uma década cheia de romântismo; a canção citada, Fera Ferida, é uma das que mais gosto desta década.
Um forte abraço,
Leda Martins.

Felipe Moura disse...

Bicho, hoje deu tempo de eu ler essa séria sobre as décadas do Roberto! Com certeza foi um tempo precioso pra mim, afinal fiz uma viagem pela cultura brasileira destas últimas décadas, tempos que não vivi, mas que sinto saudade (loucura, né!?), porém, só que gosta destas época sabe o que estou falando!

Abraços!

Felipe
do Blog El Rey Roberto Carlos.

lu@n@ disse...

nossa roberto carlos adoro suas musicas e sempre quando estou aflita esculto aquela musica que é e foi um grande sucesso "meu calhambeque"
te adodoro espero que quando ler esse comenyario sinta orgulho de voce mesmo.