domingo, 29 de junho de 2008

América, América - 4



Olá, amigos.

A série América, América traz hoje mais um post que apresenta o repertório em castelhano presente nos álbuns anuais lançados por Roberto Carlos no Brasil. E desta vez apresentamos mais um momento em que o lado intérprete de RC decidiu dedicar sua voz à letra e à música de um artista mexicano.

Uma canção da safra de ARMANDO MANZANERO já tinha feito parte dodisco de Roberto no ano de 1974 - mas a música Yo te recuerdo se tornara Eu me recordo, na versão assinada pelo próprio RC. Entretanto, quatro anos depois, Manzanero esteve de volta na discografia de Roberto Carlos, com os versos cantados na língua original de sua canção.

Nascido em Yucatán no ano de 1935, Armando Manzanero começou seus estudos em música aos 8 anos de idade. Aos 16, teve início sua carreira como pianista, que lhe renderia a mudança para a Cidade do México (onde passou também a trabalhar como produtor musical da CBS Internacional). A partir deste momento, começou a ter contato com vários artistas mexicanos, e a trabalhar como pianista de artistas de destaque no país, como o cantor Lucho Gatica e a cantora Angélica Maria (com ela, produziu vários discos e compôs muitas músicas feitas para cinema a partir da década de 1960).

Além do trabalho como pianista, Manzanero sempre manteve seu trabalho como compositor bem sucedido - desde sua primeira música, Nunca en el mundo (de 1950), que recebeu versões em 21 países. Ele é autor de pelo menos 400 canções, e dentre elas se destacam as baladas Contigo aprendi, Voy a apagar a luz e Te extraño. Atualmente, Armando Manzanero prossegue em sua carreira como compositor, intérprete e pianista, e também acumula o cargo de vice-presidente da Sociedad de Autores y Compositores de Música de México.

Através de seu sucesso, o pianista já se apresentou em palcos importantes dos vários países que conheceram sua música - dentre eles, o Teatro Colón (na Argentina), o Madison Square Garden (nos Estados Unidos) e o Canecão (no Brasil). Também no Brasil Armando Manzanero se apresentou num lugar muito tradicional.

O Roberto Carlos Especial de 1977 trouxe RC cantando três músicas na companhia deste grande artista da América Latina. E no seu LP de 1978, Roberto Carlos voltaria a reverenciar a obra de Armando Manzanero dedicando uma das faixas de seu álbum no Brasil para apresentar uma canção de autoria dele e interpretada na língua hispânica (atitude que seria repetida no ano seguinte, mas isso já é um assunto para o próximo post). E na voz de Roberto, o Brasil conheceu a letra em que Manzanero contava de coisas que acontecerão quando chegar, por fim, a manhã (curiosamente, a música foi lançada no mesmo LP que RC apresentou Café da manhã, canção que também traz a manhã como tema, considerada um dos clássicos de Roberto Carlos e Erasmo Carlos).

Segue a letra! Na foto, Roberto Carlos em registro da contracapa de seu LP de 1978.

Abraços a todos, Vinícius.

POR FIN MAÑANA - Armando Manzanero

Por fin mañana
Tendré la dicha de tomarte entre mis brazos
De agazajarme con el sol de tu presencia
De oir la dulce melodía de tu riza

Por fin mañana
Tendrá mi lecho el calor del cuerpo tuyo
Será mi noche de alvorozo y alegría
Mi madrugada nacerá con tu suspiro

Por fin mañana
Van a lograr dormir mis locas inquietudes
Se han de aplacar con tus caricias mis locuras
Por fin mañana a mi lado volverás

Por fin mañana
Igual que ayer comenzará a cantar la fuente
Y mi jardín florecerá como hace tiempo
Por fin mañana a estas horas te tendré

Por fin mañana
Igual que ayer comenzará a cantar la fuente
Y mi jardín florecerá como hace tiempo
Por fin mañana a estas horas te tendré...

sexta-feira, 27 de junho de 2008

América, América - 3



Olá, amigos.

A série América, América prossegue apresentando post a post a presença do cancioneiro latino na discografia que Roberto Carlos lançou no Brasil. E hoje, mostramos mais um estilo de música que RC redescobriu através de seu repertório.

De acordo com musicistas, o BOLERO (gênero musical com raízes afro-espanholas) nasceu no final do século XIX na cidade de Santiago, em Cuba, graças a José Pepe Sánchez, considerado o autor do primeiro bolero - Tristezas. Em seguida, o estilo atravessaria outros países, como República Dominicana, Porto Rico e México.

E seria do universo mexicano que Roberto Carlos apresentaria aos brasileiros um pouco desta faceta musical da América Latina. Nascido em 1900 na Cidade do México, o poeta AGUSTIN LARA é considerado o autor mais constante deste estilo.

Após ter sido na adolescência tenente da guarda pessoal do revolucionário Francisco Villa, Agustin enfim conseguiu seu espaço na música quando começou a tocar em bares e a trabalhar como pianista nas projeções dos filmes mudos. Mais tarde, se casou com a atriz Maria Félix, o que o aproximou ainda mais de pessoas ligadas às letras e às artes.

Agustin Lara encerrou sua carreira aqui na Terra em 1970, deixando 700 canções - a maioria delas no ritmo do bolero, como Granada, Estoy piensando en ti e Madrid. E sete anos depois de sua morte, recebeu uma homenagem através da voz de Roberto Carlos.

Em seu LP de 1977, RC trouxe uma nova versão para um dos boleros mais marcantes da safra de Agustin Lara. Através dela, Roberto cantou a reflexão de um homem que amou tão somente uma vez, e nada mais. Um dado curioso: RC já cantou esta música em dueto no palco em dois momentos. Em 1989, na companhia de Julio Iglesias em apresentação no exterior, e no ano passado, dividindo os vocais com Alcione durante seu Roberto Carlos Especial.

Segue a letra! Na foto, Roberto Carlos em show no fim da década de 1970.

Abraços a todos, Vinícius.

SOLAMENTE UNA VEZ - Agustin Lara

Solamente una vez
Amé en la vida
Solamente una vez
Y nada más

Una vez nada más en mi huerto
Brilló la esperanza
La esperanza que alumbra el camino
De mi soledad

Una vez nada más
Se entrega el alma
Com la dulce y total
Renunciación

Y cuando ese milagro realiza
El prodígio de amarse
Hay canpanas de fiesta que cantan
En el corazón

Solamente una vez...
Solamente una vez...

quinta-feira, 26 de junho de 2008

POST ESPECIAL - Silvinha




Olá, amigos.

Hoje este blogue dedica um post especial a uma cantora que encerrou sua carreira aqui na Terra ontem, aos 56 anos. Na festa de arromba que foi a Jovem Guarda, SILVINHA integrou um estilo bem diferente do "iê-iê-iê" habitual. Enquanto boa parte dos "jovem-guardistas" era influenciado pelo ritmo do conjunto britânico Beatles, ela trazia sua maneira de cantar mais próxima da roqueira Janis Joplin.

Sua estréia em disco ocorreu em 1967, com um compacto que trazia duas músicas assinadas por Carlos Imperial: Vou botar pra quebrar e Feitiço de broto. No mesmo ano, ela participaria do LP do conjunto Peruzzi e sua Banda Jovem, ao lado do artista que mais tarde se tornaria seu marido - Eduardo Araújo.

No ano de 1968, Silvinha lançou seu primeiro LP, onde se destacaram as canções Professor particular (de Paulo Silvino e Carlos Imperial), Banho de sorvete (de Carlos Imperial e Nenéo) e Playboy (versão de Alf Soares para música original de Gene Thomas). No ano seguinte, veio seu segundo disco, Caminho sobre as nuvens, repleto de versões de músicas em italiano e em inglês - casos da canção que dá título ao disco (versão de Hyldon Souza para Cammino sulle nuvole, de Panzeri, Pace e Colomnello) e de Adeus (versão de Fred Jorge para Goodbye, de John Lennon e Paul McCartney).

Após o fim da Jovem Guarda, Silvinha ficou até o ano de 1971 sem lançar um novo disco - suas participações ficavam restritas a compactos (muitas vezes com a participação de Eduardo Araújo). No seu LP daquele ano, além de canções escritas por Eduardo Araújo, há algumas presenças surpreendentes em seu repertório: a dupla Tom e Dito (com a canção Deixa o cinza deste inverno passar) e novas leituras das músicas Paraíba (de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira) e Risque (de Ary Barroso).

Nos anos seguintes, Silvinha continuou lançando gravações em compacto (com direito, inclusive, a dedicar mais uma vez sua voz à safra de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira - na canção Baião). Em 1976, viria o LP Sou filho desse chão, totalmente feito em parceria com o marido, e agora voltados para uma linha mais sertaneja tanto no repertório quanto na interpretação. A parceria amorosa se repetiria em uma parceria artística cinco anos depois, no LP Eduardo & Silvia Araújo, trazendo exclusivamente canções de Eduardo (assinadas geralmente com Lula Martins).

Sua carreira solo se tornaria bissexta nesta época, com participações musicais se restringindo a compactos simples - em 1978, lançando Noites vazias (de Eduardo Araújo) e Mãe Terra (dela com o marido), e em 1983, apresentando uma releitura de Que as crianças cantem livres (escrita por Taiguara) e a gravação de Desejo desejado (de José Maurício Machline e Filó).

Seu último LP data de 1984. Intitulado Grita coração, o disco traz na lista de compositores os nomes de Jane Duboc (na canção Cidade grande, feita em parceria com Luca Salvia), além da releitura de Sal da Terra, de autoria de Beto Guedes e Ronaldo Bastos. Sua presença nos palcos passou a acontecer de maneira mais espaçada, somente em shows e eventos que recordam a Jovem Guarda - caso da compilação 30 anos de Jovem Guarda, na qual interpretou Banho de lua, sucesso de Celly Campello.

Sua voz passou a gravar jingles publicitários e a fazer como backing vocal em discos de artistas como Zezé di Camargo & Luciano, Chitãozinho & Xororó, Rick & Renner e Fábio Júnior, além da discografia de Roberto Carlos. No palco, o público só pôde ver suas apresentações em eventos que reuniam integrantes da Jovem Guarda para celebrar o aniversário do movimento - a "data oficial" é 22 de agosto de 1965. Nestes shows, Sylvinha (que nos últimos anos incluiu o Y em seu nome) interpretava duas canções da safra de Roberto Carlos: Splish splash e Custe o que custar.

Roberto Carlos apareceu na discografia de Silvinha alguns anos depois do fim da Jovem Guarda. Na faixa que abre o LP dela de 1971, a dupla manteve o estilo "jovem-guardista" de cantar com irreverência sobre coisas que achavam ultrapassadas. E acharam o tom perfeito na voz rascante da cantora, que mesmo após o movimento, manteve sua voz inspirada no estilo da roqueira Janis Joplin.

Segue a letra! Na foto, o LP no qual Silvinha lançou a canção abaixo.

Abraços a todos, Vinícius.

VOCÊ JÁ MORREU E SE ESQUECEU DE DEITAR - Roberto e Erasmo

Você já morreu, meu amigo
Porém se esqueceu de deitar
Você está parado no tempo e não vê
E não vê o tempo passar

As coisas já mudaram bastante
Ninguém mais esconde a verdade
Não seja covarde e viva a vida
A vida com realidade

Tire o paletó de lamê e a calça Saint-Tropez
Que assim dá na vista
Abandone a carruagem, tire a maquiagem
Põe o carro na pista

Não tente envelhecer sua mente
No corpo ela é imprudente
Um barato não vai fazer mal
Não seja tão convencional

Cuidado, esse calor que mata
Você ainda usa gravata
Você ainda usa galocha
E a sua tradição é de rocha

Tire o paletó de lamê e a calça Saint-Tropez
Que assim dá na vista
Abandone a carruagem, tire a maquiagem
Põe o carro na pista

Você já morreu, meu amigo...
Você já morreu, meu amigo...
Você já morreu, meu amigo...

P.S.: amanhã este blogue retoma a série América, América, em seu terceiro post.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

América, América - 2




Olá, amigos.

A série América, América chega ao seu segundo post, apresentando canções em castelhano presentes na discografia que Roberto Carlos lançou no Brasil. Esta foi a forma que este blogue encontrou de homenagear a bem sucedida turnê internacional que o cantor fez recentemente.

Após o ano de 1974 reservar espaço para uma canção originalmente escrita em espanhol com a letra vertida para o português por RC (Eu me recordo, com título original Yo te recuerdo, de Armando Manzanero), o LP de 1975 trouxe duas leituras de Roberto Carlos para músicas da safra latino-americana. E, mais uma vez, os ouvintes brasileiros tiveram o privilégio de conhecer ritmos e peculiaridades dos nossos hermanos.

Na terceira faixa do lado A deste LP, Roberto encontrou em meio à safra de grandes boleros uma canção marcante, com letra que fala sobre um amor inesquecível. E redescobriu a obra do arranjador cubano Julio Gutierrez (que se destacou na década de 1940) para trazer um pouco da riqueza presente no cancioneiro de Cuba para terras brasileiras. Um dado curioso: alguns anos antes de Roberto Carlos gravar esta canção, o cantor Altemar Dutra incluiu em seu repertório uma versão em português dela - batizada de Inesquecível pelo autor Jota Moraes.

Já a penúltima faixa do lado B do disco de 1975 trouxe a homenagem a uma festividade existente na Argentina. Na cidade de Quebrada, localizada no sul daquele país, o mês de janeiro é destinado a "el Humauaca", o carnaval argentino - "el carnavalito". Nesta festa "quebradeña", tocam-se instrumentos típicos, como "erke, charango y bombo", e acontece o desfile das "cholitas", camponesas que usam saia e chapéu tradicionais. Roberto gravou esta faixa em estúdio da Argentina, com a presença de músicos do folclore de lá.

Assim como no seu repertório gravado em português, Roberto Carlos apresentou na safra gravada em espanhol um trabalho de pesquisa minucioso sobre as várias faces da música da América Latina, com suas tradições e suas músicas inesquecíveis. Como comprovam as canções pinçadas no LP de 1975.

Seguem as letras! Na foto, Roberto Carlos trajando roupas típicas do Peru, em um número do Roberto Carlos Especial de 1977 no qual cantava a música do "carnavalito" argentino e em seguida apresentava a emblemática canção América, América (que inspirou o título da série deste blogue), de César Roldão Vieira.

Abraços a todos, Vinícius.

INOLVIDABLE - Julio Gutierrez

En la vida hay amores
Que nunca pueden olvidarse
Imborrables momentos
Que siempre guarda el corazón

Porque aquello que un dia nos hizo
Temblar de alegría
Es mentira que hoy pueda olvidarse
Con un nuevo amor

He besado otras bocas
Buscando nuevas ansiedads
Y otros brazos extraños me estrechan
Llenos de emoción

Pero sólo consiguen hacerme
Recordar los tuyos
Que inolvidablemente
Vivirán en mi

Pero sólo consiguen hacerme
Recordar los tuyos
Que inolvidablemente
Vivirán en mi

Vivirán en mi...
Vivirán en mi, en mi...

***

EL HUMAUAQUEÑO - Zaldivar

Llegando está el carnaval
Quebradeño mi cholitay
Llegando está el carnaval
Quebradeño mi cholitay

Fiesta de la quebrada
Humahuaqueña para cantar
Erke, charango y bombo
Carnavalito para bailar

Quebradeño...
Humahuaqueñito...
Quebradeño...
Humahuaqueñito...

Fiesta de la quebrada
Humahuaqueña para cantar
Erke, charango y bombo
Carnavalito para bailar...

segunda-feira, 23 de junho de 2008

América, América - 1




Olá, amigos.

Com o post de hoje, este blogue dá início a uma série que celebra o recente retorno de Roberto Carlos às rotinas de shows internacionais. Nos últimos meses, RC apresentou a aquarela de suas pinturas musicais em cidades dos Estados Unidos, da República Dominicana, da Argentina, do México e do Chile, e comprovou que as emoções não têm limites - nem mesmo de idioma.

Roberto tem em sua trajetória musical um elo muito forte com os ouvintes da América Latina (o ponto de partida foi em 1965, quando o LP Roberto Carlos canta a la juventud trouxe seus primeiros registros em castelhano), e que foi revisitada no ano passado, quando a gravadora Sony & BMG lançou as caixas Pra sempre em espanhol, reunindo em dois volumes os 22 discos mais representativos de sua discografia no exterior. Sempre no início do ano seguinte ao seu lançamento no Brasil, RC lançou um álbum destinado ao mercado latino, trazendo as canções vertidas para o espanhol.

Entretanto, sua discografia também trouxe espaço para a presença do cancioneiro latino-americano em seus discos voltados para o mercado do Brasil. Estes recortes do repertório lançado por Roberto Carlos na discografia brasileira serão apresentados nesta série.

A série América, América começa celebrando o ano em que RC apresentou aos brasileiros sua reverência a um ritmo tipicamente argentino. Influenciado pela milonga, pela habanera e por melodias populares na Europa, o TANGO passou a ter destaque no subúrbio de Buenos Aires nos últimos anos do século XIX.

Mas foi no início do século XX que o tango ganhou maiores dimensões no universo musical, através do nome de CARLOS GARDEL. Em seus primeiros momentos artísticos, Gardel se apresentava com o nome de El Morocho, nos prostíbulos e nos subúrbios da capital argentina. Somente a partir de 1917 suas canções ganhariam destaque, a partir do registro fonográfico Mi noche triste.

Começava a ascensão de um artista que apresentou vários clássicos deste estilo musical argentino - como Por una cabeza, Amores de estudiante e Mi Buenos Aires querido. Um dado curioso: embora seja associado à Argentina, Gardel não é argentino de nascimento. Biógrafos também não sabem dizer ao certo o local onde o cantor nasceu - alguns documentos afirmam que ele tenha nascido no Uruguai, na região de Tacuarembó, enquanto outros registros apontam que seu local de nascimento seja a cidade de Toulouse, na França. Sempre que questionado sobre sua origem, ele dizia: "Nasci em Buenos Aires, aos dois anos e meio de idade".

Carlos Gardel atravessou a fronteira e chegou ao Brasil no LP que Roberto Carlos lançou em 1973. Naquele ano, Roberto incluiu em seu disco uma leitura de um dos tangos mais conhecidos de safra argentina. Lançada por Gardel originalmente em 1935 (ano em que um desastre de avião em Medellín, na Colômbia, encerrou bruscamente a carreira de um dos maiores expoentes do tango), esta canção escrita em parceria com Alfredo Le Pera se tornou também a primeira vez que os discos de Roberto Carlos tiveram suas veias abertas para a América Latina.

Segue a letra! Na foto, a capa do LP que Roberto Carlos lançou no México em 1974. O disco usou o título da canção que hoje dá início à série América, América.

Abraços a todos, Vinícius.

EL DÍA QUE ME QUIERAS - Carlos Gardel e Alfredo Le Pera

Acaricia mi ensueño
El suave murmullo de tu suspirar
Como rie la vida
Si tus ojos negros me quierem mirar

Y si es mio el amparo
De tu risa leve, es como un cantar
Ella aquieta mi herida
Todo, todo se olvida

El día que me quieras
La rosa que engalana
Se vestirá de fiesta
Con su mejor color

Al viento las campanas
Dirán que ya eres mia
Y locas las fontanas
Se contarán tu amor

La noche que me quieras
Desde el azul del cielo
Las estrellas celosas
Nos mirarán pasar

Y un rayo misterioso
Hará nido en tu pelo
Luciérnaga curiosa
Que verá que eres mi consuelo...

sábado, 21 de junho de 2008

Roberto Carlos em cena aberta



Olá, amigos.

Hoje este blogue abre a cortina para apresentar mais um momento em que o repertório de Roberto Carlos está em diálogo com a arte cênica brasileira, em uma nuance que comprova que sua obra vai além dos horizontes do cinema e da televisão. Afinal, RC é um artista que consegue apresentar em letra e música também o sentimento apontado na peça que mostramos hoje: a fragilidade.

Em cartaz no teatro de Arena do Espaço SESC (em Copacabana, no Rio de Janeiro), a peça O que eu gostaria de dizer apresenta um cuidadoso trabalho de grupo reunindo o diretor Marcio Abreu e os atores Luis Melo, Bianca Ramoneda e Marcio Vito, em torno de personagens que falam sobre o desgaste nas relações humanas. Além de textos criados pelos próprios atores (num processo que, segundo o relato deles, durou um mês e meio na pequena cidade de São Luís do Purunã, localizada no estado do Paraná), a peça ainda descobriu trechos do livro O homem ou é tonto ou é mulher, do poeta português Gonçalo Tavares.

No texto transcrito no programa da peça - e falado no palco por Luis Melo, que interpreta um personagem que decide ficar estagnado a uma situação - as palavras de Gonçalo Tavares são as seguintes: "Não há melhor lugar para estar do que estar contente. Só percebi isso tarde demais, apesar de ainda ser muito novo. Um dia, fui para o pólo mais frio por causa do calor, e lá não me senti bem. Num outro dia, fui para o pólo mais quente, por causa do frio, e também lá não me senti bem. Decidi, então, deixar de andar de um lado para outro. É preferível a angústia nos momentos em que estamos parados do que quando viajamos".

A safra de Roberto e Erasmo aparece na ação que envolve os outros dois personagens da peça. Há um casal formado por uma mulher que quer terminar o relacionamento e um homem que deseja manter a vida a dois. Em meio a esta discussão da relação, os dois começam a falar e a cantarolar uma música gravada originalmente por Roberto Carlos para seu LP de 1969.

A inclusão da música condiz com o que é mostrado em cena, e serve para mostrar não só a incompatibilidade do casal, mas também ilustra coisas que gostaríamos de dizer em alguns instantes das nossas relações. E é na estupidez cantada por RC cerca de 40 anos atrás que uma das tramas de O que eu gostaria de dizer se baseia para contar mais uma história vivida no palco da dramaturgia brasileira.

Segue a letra! Na foto, Luis Melo em cena da peça, que virou capa da revista Off, um guia de programação teatral do Rio de Janeiro.

Abraços a todos, Vinícius.

SUA ESTUPIDEZ - Roberto e Erasmo

Meu bem, meu bem
Você tem que acreditar em mim
Ninguém pode destruir assim
Um grande amor

Não dê ouvidos à maldade alheia
E creia
Sua estupidez não lhe deixa ver
Que eu te amo

Meu bem, meu bem
Use a inteligência uma vez só
Quantos idiotas vivem só
Sem ter amor

E você vai ficar também sozinha
E eu sei porque
Sua estupidez não lhe deixa ver
Que eu te amo

Quantas vezes eu tentei falar
Que no mundo não há mais lugar
Pra quem toma decisões na vida
Sem pensar

Conte ao menos até três
Se precisar conte outra vez
Mas pense outra vez
Meu bem, meu bem, meu bem, eu te amo

Meu bem, meu bem
Sua incompreensão já é demais
Nunca vi alguém tão incapaz
De compreender

Que o meu amor é bem maior que tudo
Que existe
Mas sua estupidez não lhe deixa ver
Que eu te amo

Que te amo...
Que eu te amo...

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Casa, esquinas e quintais - 17



Olá, amigos.

Com o post de hoje, chega ao fim a série Casa, esquinas e quintais, que mostrou momentos da discografia de Roberto Carlos que falam sobre locais e objetos presentes em um lar. E depois de apresentarmos estes detalhes de casa, hoje este blogue traz uma canção que fala sobre um ato muito corriqueiro no cotidiano de um lar (ou até mesmo serve como símbolo de um lar desfeito).

A MUDANÇA também apareceu na discografia de RC, através de uma música que tem como um de seus autores o niteroiense Maurício Pinheiro Reis - conhecido no cenário musical brasileiro como Biafra. Intérprete constante nas rádios durante a década de 1980 (incluindo algumas trilhas musicais de novelas da TV Globo, como O jogo da vida e A gata comeu), o sucesso mais associado a ele até hoje é a canção Sonho de Ícaro, assinada por Pisca e Cláudio Rabello.

Entretanto, sua carreira como compositor também é considerável, trazendo dentre seus intérpretes nomes como Ney Matogrosso, a dupla Chitãozinho & Xororó, Simone e Danilo Caymmi. Biafra apareceu em dois momentos da discografia de RC. Primeiro, no LP de 1990, como versionista da música Por ella, de Jose Manoel Soto (que, na letra em português escrita por Biafra e seu irmão Aloysio Reis, se tornou Por ela).

Em seguida, Roberto gravaria uma música que falava sobre a atitude de uma pessoa que, para esquecer um grande amor, fazia mudanças na casa (local em que moraria sozinho a partir daquele momento). Na época do lançamento de seu LP, RC afirmou que esta era uma canção que ele estava muito feliz em ter gravado.

Com a faixa que encerra o LP de 1991, este blogue encerra a série Casa, esquinas e quintais, mostrando que estes detalhes (às vezes tão pequenos) presentes em casa, esquinas e quintais são coisas muito grandes para serem esquecidos com apenas uma ou outra mudança. Como diz a música que Biafra escreveu em parceria com seu irmão Aloysio Reis e com o compositor Nilo Pinta.

Segue a letra! Na foto, Roberto Carlos em seu apartamento na Urca durante o início dos anos 90.

Abraços a todos, Vinícius.

MUDANÇA - Biafra, Aloysio Reis e Nilo Pinta

Dessa vez
Vou mudar os móveis de lugar
As paredes vou mandar pintar
Pra esquecer essa saudade

Nunca mais
Vou lembrar de quem me fez sofrer
Vou fazer de tudo pra não ser
Um estranho em minha casa

Dessa vez
Quero abrir a porta e ser feliz
Não fazer de novo o que já fiz
Vou buscar minha verdade

Nunca mais
Vou ficar a esperar alguém
Que promete mas depois não vem
Como quem não disse nada

Mas quem me dera que esquecer fosse tão fácil
Um grande amor não se apaga com palavras
Não tem mais jeito de viver sem seu carinho
Porque eu amo você

Não tem mudança que afaste essa lembrança
Pois sua imagem se reflete em meu desejo
Não há disfarce que disfarce a sua falta
Porque eu amo você...

terça-feira, 17 de junho de 2008

Casa, esquinas e quintais - 16



Olá, amigos.

Depois deste período sem atualizar, em virtude de alguns problemas técnicos da Blogspot, este blogue traz o penúltimo post da série Casa, esquinas e quintais. O objeto apresentado hoje carrega mais de um século de história e é um dos grandes avanços da comunicação da humanidade - como o próprio RC cantou em 2002, quando o citou dentre os progressos que tivemos, nos versos de Seres Humanos.

O TELEFONE, aparelho usado para a transmissão à longa distância da palavra falada, foi inventado na década de 1860. O crédito de autoria da invenção durante cerca de um século e meio foi atribuída ao escocês Alexander Graham Bell. Entretanto, desde 2002 o Congresso dos Estados Unidos passou a atribuir sua invenção ao italiano Antoni Meucci.

Estudiosos afirmaram que quando criou o telefone (inicialmente batizado de "eletrofonecado"), Meucci não teve condições financeiras suficientes para patentear seu invento, e vendeu os direitos dele para Bell - que registrou o invento como seu em 1876 e, no ano seguinte, começou a formar a companhia Telefônica Bell (inaugurada definitivamente em 1881, tendo entre seus sócios o inventor Thomas Edison). No Brasil, o invento chegaria por volta de 1883 primeiramente no Rio de Janeiro, com cinco centrais telefônicas e disponibilizando mil linhas, dentre elas a linha interurbana que ligava o Rio a Petrópolis. O país tem um registro curioso em relação a telefonia: em 1906, a central telefônica da Praça Tiradentes sofreu um incêndio, e deixou o Rio de Janeiro sem telefone por sete meses.

Inicialmente, os telefones estavam ligados a uma central operada por uma telefonista. A telefonista recebia a "corrente de toque" (acontecida através de manivela) de quem queria fazer uma ligação, e depois colocava o ponto do telefone de quem chamou ao ponto do aparelho da outra pessoa. Mais tarde, estas centrais foram substituídas por discos, que geravam uma sinalização decática e através dos pulsos formavam o número do aparelho a receber a ligação. Somente na década de 1960 viriam os telefones com teclado eletrônico, que trouxeram maior facilidade por o usuário não precisar mais precisar tocar de uma a 10 vezes o teclado para guiar um número.

Com o passar das décadas, o século XX viu a ascensão de outros tipos de aparelhos telefônicos, como o telefone público (chamado popularmente no Brasil de "orelhão"), o telefone sem fio e, mais recentemente, o telefone celular (popularizado no país a partir da segunda metade da década de 1990). Atualmente, com o advento da Internet, vieram outros recursos, como o telefone VoIP (via conexão de banda larga), e aparelhos como o Skype, que transmitem conversas via Internet sem necessitar gastos com contas telefônicas normais.

O aparelho telefônico aparece na discografia de Roberto Carlos sempre associado a uma ansiedade para ouvir a voz da pessoa amada. No LP O inimitável, de 1968, a música Ciúme de você (assinada por Luiz Ayrão) mostra o homem ciumento até com o telefone da casa dela, que está sempre ocupado quando ele quer conversar. Na canção A atriz, de 1985, é através dele que vem a voz da atriz, que em meio à correria de bastidores, liga para dizer que ama e traz sua voz macia. Em Antigamente era assim, do LP de 1987, a espera para que o telefone toque surge junto com a vontade de tornar o relacionamento tão bom quanto em tempos anteriores.

Na canção Se diverte e já não pensa em mim, do LP de 1988, a dupla Roberto e Erasmo fala não só sobre o telefone (que ela usa à seis da tarde para um convite pra jantar), mas cita outras "modernidades" dos anos 80: o fax (equipamento que reproduz documentos à distância, com o auxílio de linha telefônica) e o telex (sistema usado com a ajuda de um telégrafo que permitia comunicação entre máquinas de teleimpressão).

O aparelho de telefone gerou na língua portuguesa o verbo TELEFONAR, que é utilizado na discografia de RC desde o LP Louco por você, de 1961. Naquele ano, através da canção Se você gostou (de Carlos Imperial e Fernando César), Roberto dizia que se a moça gostasse de sua maneira de dançar, podia usar o aparelho e "pedir bis" a ele. A expressão "telefone" também serve para denominar o número da linha telefônica de cada pessoa, como apresenta o verso "meu telefone eu deixei na cabeceira da cama", de Super herói (do LP de 1990, e apresentada em um dos posts anteriores da série Casa, esquinas e quintais). Da compilação de encontros musicais de seus especiais da Globo, o disco e DVD Duetos mostra outra conjugação do verbo telefonar, quando Roberto Carlos e Tom Jobim cantam Lígia (música do maestro Antônio Brasileiro): "e quando eu te telefonei, desliguei, foi engano, seu nome eu não sei...".

O aparelho de telefone serve tanto para amenizar distâncias, como diz a letra de Eu te amo, te amo, te amo (de 1968), quanto para, na falta de um telefonema, despertar ciúmes e solidão - conforme prevêem os versos de Eu sem você (de Mauro Motta e Carlos Colla, presente no LP de 1988). E uma ligação pode alterar tudo, inclusive fazer com que quem recebeu o telefonema deixe de ficar "chutando lata" - caso de Tô chutando lata, que abre o LP de 1987.

O telefone apareceria como protagonista na faixa que abre o LP de 1994. Na letra de Roberto e Erasmo, vinha o desabafo do homem que estava cansado de um relacionamento passado, mas que insistia em retornar através da linha telefônica. A música traz como título a palavra muito usada no Brasil quando se atende o telefone mostrado no post de hoje - o penúltimo desta série.

Segue a letra! Na foto, o registro que fez parte da capa interna do LP daquele ano.


Abraços a todos, Vinícius.

ALÔ - Roberto e Erasmo

Diga logo de uma vez o que você quer de mim
Não me torture mais
Não me faça mais sofrer insistindo em me dizer
Que pensa em mim demais

Quando você fica só e precisa ouvir a voz
De quem te ama
Não suporta a solidão
Pega o telefone e então me chama

E quando eu digo alô
Fala de amor, às vezes chora e mexe com meu coração
Me faz pensar que ainda me ama e alimenta essa ilusão
Que acaba nas semanas que você me esquece

Quando eu penso que esqueci
O telefone entra rasgando a madrugada a enlouquecer
O coração dispara, a mesma história vejo acontecer
E atordoado eu digo alô, e é você

Diga logo de uma vez o que você quer de mim...

sábado, 14 de junho de 2008

Problemas temporários

Amigos, no momento o blogue está passando por alguns problemas para atualizar. Provavelmente, minha Internet está com algum vírus, espero resolver em breve estas questões.

Agradeço a compreensão,

Vinícius Faustini

quinta-feira, 12 de junho de 2008

POST ESPECIAL - Dia dos Namorados



Olá, amigos.

Hoje este blogue cede espaço para falar de uma data marcante no calendário dos casais apaixonados. Trata-se do DIA DOS NAMORADOS, momento do ano que deve ser sempre lembrado no lugar que homenageia o artista que certa vez declarou que o amor nunca sai de moda.

O Dia dos Namorados surgiu quando em alguns países passaram a comemorar o Dia de São Valentim. Conta a lenda que o imperador Caladeus II decidiu proibir a realização de casamentos em seu reino, para que os jovens não criassem famílias - ele acreditava que, sem uniões matrimoniais, era mais fácil conseguir que os homens se alistassem em seu exército. Entretanto, o bispo romano Valentim continuou celebrando as uniões em segredo.

Mas as cerimônias foram descobertas, e Valentim foi preso e mais tarde decapitado. Enquanto estava preso, o bispo recebia bilhetes e flores de pessoas que diziam acreditar no amor. Dentre elas estava uma jovem cega chamada Assíria, filha do carcereiro, que recebeu a permissão do pai para visitar o prisioneiro. Afirma-se que, depois dos dois se apaixonarem, a menina recuperou sua visão. Em vários países o Dia dos Namorados equivale ao Dia de São Valentim, que é comemorado em 14 de fevereiro - dia em que ocorreu sua decapitação.

O Brasil instituiu o dia 12 de junho como Dia dos Namorados por um motivo bem curioso. Esta data é a véspera do Dia de Santo Antônio, popularmente conhecido como o "santo casamenteiro", para quem muitas pessoas fazem muitas promessas e simpatias pedindo alguém para casar.

O amor e os sentimentos que giram em torno dele foram motivos de inspiração para muitos compositores - independente da folhinha que aparece no calendário. E em todo o fim de ano, Roberto Carlos sempre nos presenteou com músicas que falam de paixões e amores.

O amor que não se preocupa com convenções, e se define como "à moda antiga", que manda flores, cartões e bombons (prática usada desde que se começou a celebrar o Dia de São Valentim, e que é repetida também no Brasil em cada 12 de junho). A namorada que é refúgio, regresso em qualquer dia, qualquer hora. O amor jovial do broto encantador que faz parar na contramão e faz a pessoa oferecer o céu como presente e mandar tudo pro inferno - muitas vezes correndo demais para que o tempo passe até a hora de rever o sorriso e o coração de quem se ama.

As emoções estão na estrada dos apaixonados, vividas e revividas a todo momento, na paz de um sorriso que traz a sensação de que se está olhando estrelas diante de uma simples mágica resumida em uma palavra com quatro letras. Sentimentos que aparecem sem dia, sem hora, sem idade específica e fogem até mesmo de padrões estipulados pela beleza. Amor sem limite, de suspiros e grandezas que acontecem a dois, e trazem a sensação de que tudo pára no encontro de corpos e de almas, no erotismo de uma relação a dois em que o gosto de tudo é experimentado, do encontro até o descanso e a paz infinita - "na hora em que o gesto vale mais do que todas as palavras".

Neste 12 de junho, este que vos escreve deseja um Feliz Dia dos Namorados a todos os casais apaixonados (brotos, amantes, de 40 ou de todas as idades), e sugere aos que estão à procura de um amor que aproveitem este dia para fazer uma declaração do tipo: "eu estou apaixonado por você", "eu te amo, minha amiga", "minha senhora, eu estou apaixonado, minha senhora, quero ser seu namorado". Vivendo e curtindo o grande amor de sua vida, no grude que faz com que os casais mostrem que, mais do que nunca, são um do outro. Como disse a música assinada por RC para seu disco Amor sem limite, de 2000 (e depois interpretada em seu Acústico MTV, do ano seguinte).

Segue a letra! Na foto, Roberto Carlos ao fim de um de seus shows, jogando para a platéia um dos presentes mais recomendáveis para o dia de hoje: as rosas.

Abraços a todos, Vinícius

O GRUDE (Um do outro) - Roberto Carlos

Na verdade, todo mundo sabe
Que a gente é assim
Que eu vivo grudado em você
Você grudada em mim

Que aonde eu vou você vai
Nem pergunta onde é
E que a gente não larga um do outro
Um minuto sequer

Se você fica triste
Quem chora primeiro sou eu
Se eu me zango, você é quem briga
E defende o que é meu

Nosso amor é a coisa mais linda
São só cenas de amor
Todo o tempo que passa
Porque o tempo todo a gente
Se beija e se abraça...

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Casa, esquinas e quintais - 15



Olá, amigos.

A série Casa, esquinas e quintais traz mais um post da lista de canções da discografia de Roberto Carlos a falar de lugares ou móveis presentes em um lar. E hoje este blogue abre espaço para o objeto mais presente nas casas brasileiras.

De acordo com o mais recente Censo, a TELEVISÃO está mais presente nas casas até mesmo do que as geladeiras (que, pela lógica, seriam mais fundamentais, já que ajudam a conservar e a resfriar alimentos). Mas é o produto que tem tecnologia de comunicação capaz de transmitir instantaneamente imagens e sons captadas ao vivo ou em videotape que tem presença garantida em boa parte do território nacional.


Em 18 de setembro de 1950, às 16h, foi ao ar o sinal de ajuste e de padrão da primeira rede de televisão do país - a TV Tupi. Uma hora depois, teve início a transmissão da solenidade de estréia, no auditório da Cidade do Rádio, localizado no bairro paulista do Sumaré. Após nova parada para ajustes técnicos a partir das 18h, às 21h15 teve início o primeiro dia de programação - trazendo resenhas políticas, apresentações musicais, show de humor do comediante Mazzaroppi e um esquete de teatro com o ator Walter Forster (que mais tarde trabalharia no filme Roberto Carlos a 300 km por hora, de 1972). O primeiro dia de programação da TV Tupi foi encerrado às 23h, os primeiros momentos da realização de um sonho. Sonho que Assis Chateaubriand começou a pôr em prática em 31 de maio de 1950 (data do início da construção da torre de 140 metros da emissora).

O decorrer da primeira década de televisão traria os primeiros passos de vários estilos de atrações que até hoje fazem parte da nossa programação televisiva - os telejornais (Repórter Esso e Imagens do dia), os infantis (Sítio do picapau amarelo e Capitão 7), as transmissões de futebol (a primeira de todas foi um jogo entre São Paulo e Palmeiras) e a telenovela (Sua vida me pertence, mas ainda exibida somente nas terças e quintas). Além da TV Tupi, surgiram nesta época as emissoras Record (de 1953, a mais antiga em atividade), TV Paulista (em 1955, mas cerca de 10 anos depois vendida ao grupo Roberto Marinho) e TV Rio (de 1955 a 1977, mas voltando a funcionar a partir da década de 1980 com um formato que só duraria até o início da década de 1990). Era a época da TV ao vivo, e mesmo que uma emissora desse nome a canais em duas cidades diferentes, suas programações eram locais e completamente diferentes umas das outras.

A televisão passaria a dar asas à imaginação (como profetizara Assis Chateaubriand quando criou a Tupi) a partir da década de 1960. Viria a primeira novela diária, 2-5499 ocupado, protagonizada por Glória Menezes e Tarcísio Meira, exibida na TV Excelsior - emissora fundada em 1960, mas no ar somente até 1970, já que era considerada uma televisão opositora ao regime militar. Nesta década (em que também começaram as transmissões da TV Bandeirantes) a teledramaturgia ficaria ainda mais consolidada, em especial pela fundação da emissora que até hoje é a maior fabricante de novelas no Brasil: a Rede Globo de Televisão, fundada em 1965.

Em seu início popularesco (que trazia em sua programação o humorista Chacrinha e o animador Silvio Santos), a emissora do Jardim Botânico cedeu espaço à autora cubana Glória Magadan para ser responsável pelas novelas. Ela vivera por muitos anos nos Estados Unidos, e lá aprendera muitos elementos da soap opera (título que define os produtos de dramaturgia). Entretanto, suas novelas eram bem diferentes da realidade brasileira - as tramas eram ambientadas no Leste Europeu e em países árabes e traziam personagens como condes, duquesas e bastardos. O panorama de dramaturgia (que era comum nas outras emissoras) cairia por terra depois de Anastácia, a mulher sem destino. Com a produção da novela assinada por Emiliano Queiroz cada vez mais cara e confusa, La Magadan convidou Janete Clair para resolver a história e tentar recuperar a audiência. Janete criou um terremoto que matou boa parte do elenco, deixando sobreviver somente quatro personagens. A história tinha um salto de duas décadas, e era criada uma nova história. Esta situação, aliada ao sucesso de Beto Rockefeller, novela de Bráulio Pedroso na TV Tupi, mostrava que a dramaturgia devia voltar suas tramas para a realidade nacional.

Mas a década de 1960 seria marcada também por trazer músicas para os olhos e os ouvidos. Foi a "Era dos Festivais" apresentados principalmente na TV Record de São Paulo - de onde surgiram nomes de jovens como Chico Buarque, Caetano Veloso, Elis Regina, Nara Leão e Jair Rodrigues. O canal paulista apresentou outros programas musicais, como O fino da Bossa e O show do dia 7, além de apresentar para nós uma turma de jovens que cantavam o "iê-iê-iê" - e do programa Jovem Guarda vinha o homenageado principal deste blogue.

Roberto Carlos apresentou, ao lado de Erasmo Carlos e Wanderléa, o programa Jovem Guarda, que entre 1965 e 1968 tornou as tardes de domingo mais jovens. O sucesso de RC (que, alegoricamente, passou a ser chamado de Rei depois de ser "coroado" pelo irreverente Chacrinha - título que alguns tentam usurpar e outros tentam deturpar, sem o menor sucesso) foi tanto que um coronel da Ditadura Militar sugeriu que as emissoras não pagassem cachês para ele se apresentar na televisão. O militar recomendava às emissoas que colocassem a foto dele no vídeo e deixassem o disco tocando atrás. Segundo o folclore, o diretor da Globo, Borjalo, respondeu desta maneira: "Coronel, o senhor acaba de desinventar a televisão".

Mas a televisão se reinventava, mesmo com as invenções mirabolantes da Censura, que se tornava cada vez mais implacável na década de 1970. Foi a década do bom humor com o auge dos programas Os Trapalhões (com os quatro rapazes do riso - Didi, Dedé, Mussum e Zacarias), Família Trapo (com Ronald Golias, Jô Soares, Nair Bello, Renata Fronzi e Otelo Zeloni - que também participou do filme Roberto Carlos a 300 km por hora), a primeira versão de A grande família e as variedades humorísticas de Chico Anysio.

Deixando de lado o universo em preto e branco e tendo agora as transmissões em cores, o telespectador assistiu ao colorido da qualidade de programação, em especial na teledramaturgia, que viu o ápice de seus autores e atores. Desta década surgiram novelas como Irmãos Coragem (de Janete Clair), Casarão (de Lauro César Muniz), Estúpido cupido (de Mario Prata) e Saramandaia (de Dias Gomes). Dias, por sinal, teve o privilégio de assinar a primeira novela brasileira totalmente realizada em cores - O bem amado. Foi também em cores que o país assistiu à ascensão da bela morena Sônia Braga, que virou musa nacional depois de ser a personagem-título Gabriela, na novela baseada no livro de Jorge Amado e adaptada por Walter George Durst.

Nesta década, Roberto Carlos prosseguiu cantando as muitas histórias que tem pra contar. Desde 1974, ele apresenta seu Roberto Carlos Especial na programação da TV Globo, cantando suas músicas e recebendo convidados para dividirem os vocais com ele - numa tradição que acontece em todos os fins de ano. Roberto e seu amigo Erasmo Carlos também apareceram em dois momentos curiosos na televisão brasileira. Em 1972, eles escreveram as 12 canções que fizeram parte da novela O bofe, trama de Bráulio Pedroso para o horário das 22h da TV Globo (hoje, a emissora não dedica mais este horário a novelas, o espaço traz seriados, filmes e minisséries). E em 1975, a dupla fez duas músicas para a novela A fabulosa história de Roque Santeiro e de sua fogosa viúva, a que foi sem nunca ter sido - as canções Noite cheia e Vida blue. Entretanto, a Censura Federal proibiu no dia de estréia que a trama de Dias Gomes fosse exibida, por trazer ofensa à moral e aos bons costumes e achincalhe à igreja. Em seu lugar, entraria Pecado capital, de Janete Clair, que teve em sua trilha uma música de Roberto e Erasmo - Se você pensa, na voz de Morais Moreira.

A década de 1980 traria mudanças significativas na programação televisiva. A TV Tupi, mergulhada em dívidas, encerrou suas transmissões em 1981, enquanto começaram suas atividades os canais da Manchete (presidida por Adolpho Bloch) e do SBT (pertencente a Silvio Santos). E o espectador viu o surgimento de novos estilos e novas programações.

A Manchete trouxe impacto em setores que a agora líder de audiência TV Globo parecia imbatível - dentre eles, a transmissão do desfile de escolas de samba do Rio de Janeiro (em especial no ano de 1984, quando foi inaugurado o Sambódromo e a emissora do Jardim Botânico não se interessou por exibir as escolas cariocas). Pela primeira vez, um canal ousava tentar se equiparar no padrão de qualidade da Rede Globo - em especial na teledramaturgia, realizando novelas marcantes como Dona Beija, Kananga do Japão, Carmem e Corpo santo.

Já o Sistema Brasileiro de Televisão buscava a audiência a qualquer custo, investindo em programas de baixo orçamento e de qualidade duvidosa - e, claro, tendo Silvio Santos à frente de todos os tipos de programas, desde shows de calouros até gincanas. Do canal de Silvio vieram programas sobre violência como O povo na TV e Aqui agora e a exibição de novelas e programas de humor feitos no México. Além de ser o "ponto final" de ícones da TV como a apresentadora Hebe Camargo e o humorístico Praça da alegria (agora batizado de A praça é nossa e tendo como apresentador Carlos Alberto de Nóbrega, filho de Manoel da Nóbrega, o criador do programa original), a emissora de Silvio Santos apresentou um fenômeno em ascensão nesta área: Augusto Liberato, o Gugu, que teria mais destaque ainda na década seguinte. Desta década veio também Fausto Silva, o Faustão, que do Perdidos na noite da TV Bandeirantes foi apresentar um programa nas tardes de domingo da TV Globo, o Domingão do Faustão.

A TV Globo mantinha seu padrão de qualidade na teledramaturgia, agora dando espaço para novos autores, como Glória Perez (ex-colaboradora de Janete Clair em Eu prometo), Gilberto Braga (que, depois de adaptar o romance Escrava Isaura e torná-lo um dos maiores sucessos de exportação da emissora durante décadas, fez tramas como Água viva e Vale tudo) e Aguinaldo Silva (responsável pelo seriado Plantão de polícia e pela minissérie Tenda dos milagres). Com o fim da Censura, enfim o povo assistiu a Roque Santeiro, escrita por Dias Gomes com a colaboração do próprio Aguinaldo.

RC estava nesta época casado com a atriz Myriam Rios, e seus especiais continuavam dedicando espaço não só a números musicais como a participações humorísticas e de atores. Regina Duarte e Lima Duarte, por exemplo, saíram de Roque Santeiro para fazerem números com Roberto no especial de 1985 - ela declamou o poema Inéditos, de Bruna Lombardi enquanto Roberto, ao piano cantava Olha, enquanto ele declamou os versos de Caminhoneiro (com direito a cantar o refrão em dueto com RC).

Mas a década passou, e os anos 90 chegaram, trazendo os prós e os contras da desenfreada luta pela audiência. O sensacionalismo ficou cada vez mais presente, e em duas vertentes: o "mundo cão" e o apelo erótico. Da primeira face, entraram em cena apresentadores que gritavam e brigavam com platéia e convidados, como o Ratinho (na CNT, na Record e no SBT), o Leão (na Record e na Bandeirantes) e as atrações dominicais de Gugu Liberato (agora em seu Domingo legal) e Faustão. Da outra, a sensualidade exposta nas personagens Tiazinha (feita pela atriz Susana Alves) e Feiticeira (incorporada pela modelo Joana Prado), ambas no programa H, de Luciano Huck.

A TV Globo, que por algumas vezes recorreu a este tipo de baixaria, com o tempo usou outra estratégia: a de oferecer altos salários para que os artistas que a incomodavam fossem parar em sua grade de programação. Graças a isto, nomes como o próprio Huck, Serginho Groisman e Ana Maria Braga tiveram as portas do Jardim Botânico abertas. A teledramaturgia da emissora teve um grande avanço: a criação do Projac, estúdio onde começaram a ser gravadas as novelas da casa. As tramas apresentadas cada vez mais giravam em torno de polêmicas, e às vezes inspirando ações sociais - como na novela Explode coração, que gerou um apoio a crianças desaparecidas. Em 1999, uma novela sua superaria os índices de Escrava Isaura em relação à exportação de um produto: a saga dos imigrantes de Terra Nostra, assinada por Benedito Ruy Barbosa foi vendida para 84 países, enquanto a trama adaptada do livro homônimo de Bernardo Guimarães esteva em 79 países.

Na realidade virtual difundida pela Internet, a arte, que imitava a vida, às vezes adentrava nela. Foi o caso do Roberto Carlos Especial de 1996. Ao final de um dos capítulos da novela O rei do gado, a dupla Saracura e Pirilampo saía com seu ônibus rumo ao local onde se apresentaria RC. É que a dupla Sérgio Reis e Almir Sater, que interpretava os personagens cantaria com Roberto a moda de viola Rei do gado (presente na trilha da novela).

A década de 1990 trouxe um momento de tristeza: depois de colocar o domínio global à prova com o sucesso da fantástica novela Pantanal (atualmente reexibida pelo SBT), a Rede Manchete se afundou em dívidas e, após altos (como a novela Xica da Silva) e baixos (caso da novela Brida) teve seu fim decretado em 1999 - a emissora que tinha como slogan "a televisão do ano 2000" não passou o milênio. O grupo Bloch perdeu sua concessão para o grupo da TV Ômega, que criou a Rede TV!.

Na primeira década do século XXI, a televisão cedeu espaço para um novo molde de programação - que parece mas não é próximo aos primeiros passos deste meio de comunicação. Trata-se dos reality shows, que são feitas no formato de TV ao vivo, mas usam do artifício de ser o recorte da realidade, e se baseiam na curiosidade de espiar o outro. Além de sucessos como No limite e Casa dos artistas, atualmente o programa consolidado e tradicional deste estilo é o Big Brother Brasil.

Ao contrário das décadas anteriores, cada vez mais os programas musicais foram tirados da grade de programação das grandes emissoras de TV aberta - atualmente, a TV Globo mantém apenas o Estação Globo e o Roberto Carlos Especial como musicais genuínos - há uma tentativa de reeditar o Som Brasil, mas em um horário estranhíssimo (por volta de duas da manhã, na madrugada de sexta para sábado), mas tanto ele como os outros dois programas acontecem esporadicamente. As atrações musicais ficam restritas aos programas de auditórios.

A teledramaturgia prossegue sendo um dos grandes trunfos da TV brasileira, mas está cada vez mais engessada numa fórmula que visa apenas os números da audiência. Em 2005, a TV Globo tentou inovar fazendo um faroeste em pleno horário das 19h, mas Bang bang fracassou na audiência e suas inovações foram rechaçadas. Atualmente, as atrações que ousam um pouco mais na linguagem televisiva aparecem nas minisséries e também nas microsséries - como as dirigidas por Luiz Fernando Carvalho, Hoje é dia de Maria e A pedra do reino.

As outras emissoras vêm investindo também em teledramaturgia, em especial a TV Record, que reativou sua produção em larga escala - sob direção de Tiago Santiago (ex-colaborador de novelas da TV Globo). Atualmente, seu maior destaque é a novela Mutantes - Caminhos do coração, segunda fase da bem sucedida Caminhos do coração, investindo ainda mais no tema de novela com vampiros, lobisomens e pessoas com dons especiais. A TV Bandeirantes atualmente apresenta Água na boca, enquanto o SBT prossegue o formato de folhetins adaptados de textos mexicanos - e, em breve, deve apresentar a novela Revelação, assinada pela esposa de Silvio Santos.

Fascinado pela televisão, Roberto Carlos continua a abrir espaço para personagens e artistas em seus especiais anuais. Foi o caso do programa de 2004, quando contracenou com os caminhoneiros Pedro e Bino (respectivamente, Antônio Fagundes e Stênio Garcia) do seriado Carga pesada e do ano passado, quando levou a atriz Camila Pitanga (que teve destaque quando viveu a personagem Bebel na novela Paraíso tropical) para os dois fazerem uma cena e também um dueto na música Como é grande o meu amor por você.

A TV é citada em alguns momentos nas canções da safra de Roberto e Erasmo. É a televisão que ele liga para tentar ver se esquece de seu amor obsessivo - mas a moça do telejornal é a cara da sua Obsessão (de 1993). Na faixa As baleias, de 1981, Roberto diz que graças aos programas vespertinos de televisão muitas pessoas vão se perguntar sobre o destino das baleias que estão sumindo por causa da caça predatória.

Considerada por ele uma das grandes invenções do ser humano (na música Seres Humanos, de 2002), a televisão rendeu a Roberto canções amorosas, como Símbolo sexual e A atriz (ambas de 1985, esta última trazendo um pouco do cotidiano de um marido de uma atriz, da época em que ele era casado com Myriam Rios). E, na canção que abre o lado B de seu LP de 1982, Roberto Carlos trouxe o relato de quem vive entre muitos amores em frente à TV.

Segue a letra! Na foto, a parte interna do LP que lançou naquele ano.

Abraços a todos, Vinícius.

MEUS AMORES DA TELEVISÃO - Roberto e Erasmo

Meus amores da televisão
Fantasias do meu coração
Minha mente sai da realidade eu posso ter
Em cada meia hora um sonho a cores pra viver
Elas me conduzem muito além
Da minha imaginação, que confusão

Uma delas diz: te quero sim
É na TV e eu penso que é pra mim
Num impulso esqueço a minha timidez de fã
Busco o meu talento e me transformo em seu galã
E quando me aproximo e me preparo para o beijo do final...
Comercial!

Diferentes emoções todos os dias
Ilusões, fantasias
E até depois do meu adormecer
São estrelas dos programas
Que em meus sonhos posso ter

Quando me apaixono pra valer
Certas cenas eu nem quero ver
No dia de uma delas se casar quase morri
Felizmente faltou luz no bairro e eu não vi
Mas no outro dia a pedidos do meu bairro
Que não viu, se repetiu

Tem alguém que escreve pra mocinha
Cartas de amor iguais às minhas
E hoje na novela todo mundo vai saber
Quem é esse que ela ama e trata de esconder
Só falta ela dizer que o autor
Das cartas que ela recebeu, sou eu

Diferentes emoções todos os dias
Ilusões, fantasias
E até depois do meu adormecer
São estrelas dos programas
Que em meus sonhos posso ter

Meus amores da televisão
Fantasias do meu coração...

Meus amores da televisão
Fantasias do meu coração...

P.S.: excepcionalmente, este post foi atualizado mais cedo, porque o dia de amanhã merece um post especialíssimo. Aguardem...

terça-feira, 10 de junho de 2008

Casa, esquinas e quintais - 14




Olá, amigos.

A série Casa, esquinas e quintais prossegue sua caminhanda, cantando em letra e música momentos da discografia de Roberto Carlos que falam sobre lugares e móveis presentes em um lar. No post de hoje, trazemos um objeto que é sempre servido às pessoas que visitam a casa.

Logo que abre-se o lar para uma visita, é comum que a pessoa ofereça uma CADEIRA, objeto que tem um assento com costas e, algumas vezes, traz locais (dobráveis ou não) para apoiar também os braços. Pode-se dizer que a cadeira é um dos móveis mais comuns em todas as casas, pois aparece nas salas (de estar ou de jantar) e nos quartos, às vezes até servindo de apoio para outros objetos - como a televisão ou o abajur.

A cadeira foi o objeto que mais demorou a aparecer no repertório de Roberto Carlos. Ao comentar sobre esta música - única canção totalmente inédita de seu disco de 2005 - ele contou que, nos bastidores de seu Roberto Carlos Especial de 1991, combinou com dois amigos de fazer uma música para eles gravarem. O tempo foi passando, ele ia escrevendo com Erasmo Carlos um verso aqui, outro ali, e depois abandonava. Mas eis que 14 anos depois, RC ligou para eles e disse: "a música tá pronta, vamos gravar?".

E em 2005, Roberto Carlos chamou Chitãozinho & Xororó para que os dois fizessem parte de uma das faixas de seu disco. A dupla arrastou uma cadeira e chegou mais pra perto, para dividir os vocais com RC em mais uma canção que passeia entre casa, esquinas e quintais de Roberto Carlos.

Segue a letra! Na foto, o trio interpretando a canção apresentada abaixo, durante o show que foi mostrado no Roberto Carlos Especial de 2005.

Abraços a todos, deste Vinícius que vos escreve e pede aos amigos que arrastem uma cadeira e cheguem mais pra perto para falarmos de boa música, sempre.

ARRASTA UMA CADEIRA - Roberto e Erasmo

(ROBERTO CARLOS)
Amigo, arrasta uma cadeira
Chega mais pra perto e fale o que quiser
Fale o que tiver vontade
De amor, de saudade, fale de mulher

Na minha vida existe uma
Que é a coisa mais linda que eu já conheci
Não sei se ainda assim tão jovem
Você tem história pra contar pra mim

(XORORÓ)
Aí é que você se engana
Quando a gente ama o coração se aquece
E por amor se faz de tudo
E se faz muito mais quando a mulher merece

(RC)
Amigo, eu penso tanto nela
Mas ela também vive pensando em mim
O sol da minha vida é ela
Eu não pensei que alguém pudesse amar assim

(CHITÃOZINHO & XORORÓ)
Amigo, eu também tenho história
Eu tenho alguém que um dia entrou no meu caminho
Suave como a flor do campo
Ela me deu amor, ela me deu carinho

Assim é a mulher que eu amo
Minha doce amada
Amiga e companheira

(RC)
Pois cuide dela muito bem
Porque um grande amor é para a vida inteira

(OS TRÊS)
Se a conversa é boa o tempo logo passa
Quando se ama a gente não disfarça
E sempre fala da mulher amada
E a prosa tem mais graça

E nessa conversa vai passando a hora
Se alguém espera a gente não demora
O coração no peito bate forte
E a gente vai embora

(RC)
Amigo, arrasta uma cadeira
Chega mais pra perto e fale o que quiser
Fale o que tiver vontade
De amor de saudade, fale de mulher

Eu só falei da minha amada
Que é tudo pra mim que é o sol da minha vida

(CH & X)
E eu falei do meu amor
A flor que faz a minha estrada mais florida

(OS TRÊS)
Amigo, a gente não se engana
Quando a gente ama o coração se aquece
E por amor se faz de tudo
E se faz muito mais quando a mulher merece

Se a conversa é boa o tempo logo passa
Quando se ama a gente não disfarça
E sempre fala da mulher amada
E a prosa tem mais graça

E nessa conversa vai passando a hora
Se alguém espera a gente não demora
E o coração no peito bate forte
E a gente vai embora...

domingo, 8 de junho de 2008

Casa, esquinas e quintais - 13



Olá, amigos.

A série Casa, esquinas e quintais prossegue apresentando músicas da discografia de Roberto Carlos que falam sobre lugares ou objetos presentes em um lar. E hoje, este blogue mostra mais uma peculiaridade vista no quarto da casa e revista numa letra assinada por Roberto e Erasmo.

A CABECEIRA, parte da cama destinada para a pessoa deitar a cabeça (pode ser, inclusive, uma almofada ou um travesseiro), também surgiu numa música que é cantada de maneira mais informal, de uma pessoa falando à companheira de um relacionamento. Entretanto, ao contrário do erotismo das canções que falaram sobre os objetos mostrados anteriormente nesta série (a cama e os lençóis), a cabeceira surgiu em meio a uma letra que fala com resignação sobre o fim de caso.

Na canção que abre o LP de 1990, Roberto Carlos isenta a mulher de qualquer culpa pelo relacionamento ter chegado ao fim, e diz que, como um super herói, passa por cima de todas as dores para tirá-la de todo e qualquer perigo. E para chamá-lo quando precisar, seu número de telefone está na cabeceira da cama.

Segue a letra! Na foto, Roberto Carlos em show do ano em que a música foi lançada.

Abraços a todos, Vinícius.

SUPER HERÓI - Roberto e Erasmo

Quando você precisar
Alguma coisa de mim
É só me telefonar
Que eu irei correndo

Meu telefone eu deixei
Na cabeceira da cama
Não importa a hora que for
Me chama

Já não sou mais seu amor
Mas me preocupo contigo
Saiba que sou
Seu melhor amigo

Eu sou um super herói
Esqueço a dor que me dói
Pra te tirar
De qualquer perigo

Não se culpe, eu aprendi
Que o sentimento ninguém domina
Te agradeço, eu fui feliz
Mas o meu sonho de amor termina

Se acaso você chorar
E precisar do meu ombro
Estou nos restos do amor
Que ficou nos escombros

Mesmo ferido demais
Eu te direi sempre sim
Chame quando
Precisar de mim

Chame quando
Precisar de mim...

Chame quando
Precisar de mim...

P.S.: um dado curioso relacionado a esta canção. Super herói foi a primeira canção de Roberto Carlos e Erasmo Carlos e gravada por Roberto Carlos que fez parte da trilha musical de uma novela. Ela foi incluída no repertório da novela O dono do mundo, escrita por Gilberto Braga e exibida no horário das 20h30 da TV Globo. Esta "coincidência" só voltaria a acontecer em 2005, quando a gravação de A volta fez parte da trilha da novela América, assinada por Glória Perez e apresentada na faixa das 21h da TV Globo.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Casa, esquinas e quintais - 12



Olá, amigos.

Continuando a série Casa, esquinas e quintais, hoje este blogue apresenta um objeto que, embora não apareça explicitamente nas letras de canções gravadas por Roberto Carlos, faz parte do cenário de muitos momentos de intimidade presentes em sua discografia. Pode-se dizer que uma parte considerável das músicas assinadas por Roberto e Erasmo acontece tendo estes objetos como coadjuvantes.

Os LENÇÓIS são peças de um tecido (seja de linho, de algodão ou de outro material) que forram a cama - geralmente um é colocado sobre o colchão e outro é utilizado como coberta. São eles que deixam a cama (apresentada no post anterior desta série) um pouco mais suave para acontecerem momentos apresentados nas canções sensuais presentes no repertório de Roberto Carlos.

O lençol é citado na discografia de RC em dois momentos. Em 1987, os versos de Canção do sonho bom (escrita por Mauro Motta, Robson Jorge, Lincoln Olivetti e Ronaldo Bastos) falam sobre o amor suave como a noite e quente como o sol, e é no lençol que os sonhos amorosos são devidamente espalhados.

Mas os lençóis mais lembrados na safra assinada por Roberto e Erasmo Carlos vêm do ano de 1976. No cenário mais doce da sensualidade, os lençóis são o local dos amantes se entregarem um ao outro. Como já delineava o texto de Luiz Carlos Miéle e Ronaldo Bôscoli que foi lido por RC em um momento de seu show Detalhes, apresentado a partir de 1987 (10 números do show formaram o LP Roberto Carlos ao vivo, lançado em meados do ano seguinte):

"Eu sempre vou ver você assim, como um momento de retrato cravado na minha retina. Você, menina, bicho do mato, você guiando nosso amor no rumo exato. Conduzindo nossos corpos a delírios incríveis. Nós dois, guerreiros invencíveis nas batalhas da cama".

Estas palavras antecediam a participação no show da música que Roberto Carlos gravou para seu LP de 1976. Uma canção que descobre a maciez de um grande amor em meio aos sonhos que acontecem sobre os lençóis.

Segue a letra! Na foto, o registro fotográfico usado na contracapa do LP que RC lançou no ano da canção mostrada abaixo.

Abraços a todos, Vinícius.

OS SEUS BOTÕES - Roberto e Erasmo

Os botões da blusa que você usava
E meio confusa desabotoava
Iam pouco a pouco me deixando ver
No meio de tudo, um pouco de você

Nos lençóis macios
Amantes se dão
Travesseiros soltos
Roupas pelo chão

Braços que se abraçam
Bocas que murmuram
Palavras de amor
Enquanto se procuram

Chovia lá fora
E a capa pendurada
Assistia a tudo
Não dizia nada

E aquela blusa
Que você usava
Num canto qualquer
Tranqüila esperava

Tranqüila esperava...

quinta-feira, 5 de junho de 2008

POST ESPECIAL - Erasmo Carlos e Wanderléa



Olá, amigos.

Este blogue hoje abre espaço para um post especialíssimo, no dia do ano em que fazemos uma homenagem dupla. Afinal, o dia 5 de junho celebra o aniversário daqueles que são os primeiros nomes da lista de um milhão de amigos que Roberto Carlos um dia desejou ter: a nossa maninha WANDERLÉA e o nosso amigo ERASMO CARLOS.

A mineira de Governador Valares WANDERLÉA Salim foi encarregada de ser a apresentadora do programa Jovem Guarda ao lado da dupla Roberto e Erasmo. Ela começou sua carreira se apresentado ainda criança no programa Clube do guri (na Rádio Mayrink Veiga) e receber o título de "A mais bela voz infantil" num concurso da TV Rio. Já gente grande, Wanderléa começara sua carreira fonográfica cantando músicas americanas vertidas para o português através de Rossini Pinto (compositor muito presente também na época "jovem-guardista" de RC). Desta época se destacam as gravações de Meu bem Lollipop e Exército do surf.

Na brasa aquecida pela Jovem Guarda, a cantora gravaria a canção pela qual, até hoje, tem seu nome associado: Ternura, versão de Rossini Pinto para uma canção estrangeira. A partir dela, Wanderléa receberia o singelo apelido de Ternurinha, e lançaria sucessos como Prova de fogo e Pare o casamento.

Sua carreira musical traz uma peculiaridade: nos discos que vieram após o movimento "jovem-guardista", ela tentou trilhar por vários caminhos da Música Popular Brasileira, mas sempre seus novos rumos eram preteridos por gravadoras e por público - que a queriam ouvir fazendo releituras de Ternura e de Foi assim (Juventude e ternura), outro grande sucesso dela, assinado pelos irmãos Renato e Ronaldo Corrêa (ambos do grupo vocal Golden Boys).

Em seu repertório, apareceram interpretações para músicas de jovens compositores como Gonzaguinha, Djavan, João Donato e Altay Veloso, e até mesmo algumas tentativas de discos mais experimentais, produzidos por Egberto Gismonti. Entretanto, ela geralmente aparece com mais destaque na mídia em eventos destinados a celebrar a Jovem Guarda (caso do ano de 2005, quando foram comemorados os 40 anos do movimento e ela se apresentou em shows no Rio de Janeiro ao lado dos grupos The Fevers e Golden Boys e do amigo Erasmo Carlos). Seu mais recente disco solo foi O amor sobreviverá, de 2003, que apresenta interpretações para músicas de Rita Lee (Menino bonito) e relê canções assinadas por Roberto e Erasmo (Mané João e É preciso saber viver são algumas delas).

ERASMO CARLOS é o nome pelo qual o carioca da Tijuca Erasmo Esteves passou a ser conhecido desde que começou a se apresentar - primeiro como vocalista da banda Renato e Seus Blue Caps, para, em seguida, iniciar sua carreira solo. Erasmo conheceu Roberto há exatos 50 anos, quando o cachoeirense homenageado neste blogue foi até sua casa para pedir a letra da música Hound Dog, sucesso de Elvis Presley que RC iria cantar no programa Clube do rock.

Seria o início de uma grande amizade que em letra e música é traduzida em mais de 500 obras presentes no cancioneiro brasileiro. As primeiras delas são: na discografia de Roberto, a música Parei na contramão, e na discografia de Erasmo, as canções Terror dos namorados e Festa de arromba (este, o registro histórico de como era a festa da Jovem Guarda).

Com o fim da fase áurea do movimento, Erasmo prosseguiu escrevendo canções em parceria com Roberto, mas, como bons amigos, cada um respeitou as peculiaridades de composição do outro. Enquanto RC (após as nuances do soul music mostradas entre o fim dos anos 60 e início dos anos 70 em ambas as discografias) seguiu a trajetória da vertente romântica, Erasmo Carlos manteve-se na linha do pop/rock.

Suas composições trazem também parcerias com vários artistas da safra brasileira - desde o produtor Liminha e do cantor Ritchie até os "tribalistas" Marisa Monte e Carlinhos Brown - e também a liberdade maior para lançar discos de maneira mais espaçada (e não anualmente, como Roberto geralmente fazia). A reverência à parceria com Roberto Carlos chegou às lojas de disco do Brasil por duas vezes através dele -foram os projetos Erasmo Carlos convida..., primeiro de 1980 e o segundo do ano passado.

Mesmo depois do fim da Jovem Guarda, Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa se reúnem para celebrar a amizade iniciada através de uma paixão em comum (a música) nas edições anuais do Roberto Carlos Especial - a mais recente apresentação do trio foi em 2006, quando interpretaram a música Amigo. Lamentavelmente, o único registro fonográfico dos três não pôde acontecer por atritos entre as gravadoras - o filme Roberto Carlos e o diamante cor-de-rosa não teve uma trilha sonora própria, as canções foram espalhadas nos discos de cada cantor, e a interpretação do trio para É preciso saber viver apareceu apenas nas telas do cinema.

Entretanto, Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa se encontraram musicalmente em vários momentos da discografia de Wandeca. Em sua discografia, a cantora interpretou algumas canções que a dupla fez especialmente para ela gravar, durante todas estas décadas - desde as músicas Um quilo de doce e Você vai ser o meu escândalo (na década de 1960) até a canção Na hora da raiva (da década de 1980).

A canção escolhida para homenagear os aniversariantes Erasmo Carlos e Wanderléa segue esta premissa: trata-se de uma canção dos dois feita para ela gravar. Mas que em seu título registra a força da maninha, a terceira força da amizade deste trio tão importante para a Música Popular Brasileira. Canção que abre o LP Vamos que eu já vou, lançado por Wanderléa em 1977, ela também receberia uma leitura de Erasmo Carlos no ano seguinte, em seu LP Pelas esquinas de Ipanema. E merecia um dia também receber gravação de Roberto Carlos.

Segue a letra! Na foto, Erasmo Carlos, Wanderléa e Roberto Carlos no Roberto Carlos Especial de 2004, quando o trio interpretou a música Sentado à beira do caminho.

Abraços a todos, Vinícius.

A TERCEIRA FORÇA - Roberto e Erasmo

De um punhado de barro
Deus fez o mundo sem cercas
Fez voar quem ele quis
E disse para o que seria o homem

Vou te dar inteligência
Só porque não te dei asas
Trovoada pra que sintas medo
E forças para ser sua fraqueza

Não serás dono dos filhos
Nem da terra
Vive em paz com tua gente
Que o amor te encerra

Dou-te frutas e raízes
Dou-te sombra e água doce fresca
Usa a luz do teu sorriso
E, sem guerra, faz da minha terra
Teu paraíso

Por culpa do primeiro homem
Não ouvindo estas últimas palavras
Eu estou aqui gastando versos
Pra falar da coisa errada

Seja de energia pura
Seja o Cristo Redentor
Ou seja um disco voador

Apareça pra dizer uma vez mais
O que se faz
Pra se viver em paz?
Porque só...

Só uma terceira força
Pode acabar com isto
Apareça logo
Mostre o paraíso...

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Casa, esquinas e quintais - 11




Olá, amigos.

A série Casa, esquinas e quintais continua seu trajeto nos vários recortes musicais da discografia de Roberto Carlos que acontecem num lar. E a partir de hoje, esta lista passa a apresentar outros detalhes da obra cantada por RC: depois de mostrarmos cômodos da casa, agora trazemos músicas que falam sobre objetos que estão no cotidiano do lar.

E no quarto (que citamos no post anterior), nós vemos a CAMA, um móvel em que se repousa ou dorme, composto de estrados sobre os quais se coloca geralmente um colchão revestido de cobertas. A cama é apresentada em nuances das mais diversas no repertório cantado por Roberto Carlos.

Ainda no Roberto Carlos canta para a juventude, seu LP de 1965, é nela que acontecem os sonhos narrados em Noite de terror (bem humorada canção assinada por Getúlio Côrtes). Dez anos depois, na cama ele teve um sonho mais bonito, o relatado em O quintal do vizinho (presente num dos posts anteriores desta série).

Mas a cama, assim como o quarto, surge na discografia de RC em canções que falam sobre intimidade, muitas vezes com fortes doses de sensualidade . Seja no apelo de não querer ser apenas mais um na cama de uma mulher, como dizem os versos de Maurício Duboc e Carlos Colla em Falando sério (do LP de 1977), na tentativa de dizer a uma amiga que o relacionamento dela teve fim e não adiantava mais se desesperar ou procurá-lo em sua cama (como é dito no dueto com Maria Bethânia em Amiga, faixa de abertura do LP de 1982).

Em alguns momentos, nela se reflete o desgaste da intimidade que às vezes culmina numa nostalgia pelo fim de um relacionamento. Em Desabafo (do LP de 1979), enquanto um rola na cama sem sono, o outro finge dormir para evitar conflitos. Ainda no mesmo disco, a canção Costumes fala da saudade de um "bom dia na cama" e do aconchego que sentia neste móvel - sentimento parecido com o apresentado na música Só vou se você for (lançada no LP de 1985), em que se recorda da época em que a cama era grande porque o casal só dormia agarrado.

Mas o erotismo é, sem sombra de dúvida, o sentimento que mais se apresenta nas canções de Roberto e Erasmo que falam na cama. Ela aparece em Romântico (do LP de 1995), mostrando que o homem certo também rola na cama junto com a mulher. Já em O que é que eu faço (do ano de 1988), surge a proposta de, caso encontrá-lo em sua cama, enlouquecer com ele de noite e até o amanhecer. Ou, como propõem os versos de Menina (presente no LP de 1987), se esquecer de tudo num grande amor.

Em seu show Detalhes (que começou sua turnê em 1987), Roberto Carlos evidenciava (em um texto escrito por Luiz Carlos Miéle e Ronaldo Bôscoli) alguns dos sintomas apresentados na febre da cama: "Minha vida tem sido um amar sem conta, lúcidas ou tontas, muitas, mas não tantas. Umas à luz do sol outras em brumas, no sarro ou no carro, na febre da cama algumas. Que me perdoem as palavras que usei pensando nela mas o suor dela ainda escorre no meu peito. Com ela o gesto do amor é perfeito!".

Sentimentos de cama e MESA (móvel de madeira usado para comer, escrever ou trabalhar), na tentativa de trazer as delícias do romantismo para a pessoa amada. Na canção explicitamente sensual que abre o lado B de seu LP lançado em 1981, Roberto Carlos descreve a receita para chegar ao ponto certo do amor: um dos segredos do homem que sabe o que quer é saber dar e querer da mulher. Os outros segredos, basta ler na canção mostrada abaixo.

Segue a letra! Na foto, Roberto Carlos no registro fotográfico que ilustra a contracapa de seu disco daquele ano.

Abraços a todos, Vinícius.

CAMA E MESA - Roberto e Erasmo

Eu quero ser sua canção, eu quero ser seu tom
Me esfregar na sua boca, ser o seu batom
O sabonete que te alisa embaixo do chuveiro
A toalha que desliza no seu corpo inteiro

Eu quero ser seu travesseiro e ter a noite inteira
Pra te beijar durante o tempo que você dormir
Eu quero ser o sol que entra no seu quarto adentro
Te acordar devagarinho, te fazer sorrir

Quero estar na maciez do toque dos seus dedos
E entrar na intimidade desses seus segredos
Quero ser a coisa boa, liberada ou proibida
Tudo em sua vida

Eu quero que você me dê o que você quiser
Quero te dar tudo que um homem dá pra uma mulher
E além de todo esse carinho que você me faz
Fico imaginando coisas, quero sempre mais

Você é o doce que eu mais gosto
Meu café completo, a bebida preferida e o prato predileto
Eu como e bebo do melhor e não tenho hora certa
De manhã, de tarde, à noite, não faço dieta

Esse amor que alimenta minha fantasia
É meu sonho, minha festa, é minha alegria
A comida mais gostosa, o perfume e a bebida
Tudo em minha vida

Todo homem que sabe o que quer
Sabe dar e querer da mulher
O melhor e fazer desse amor
O que come, o que bebe, o que dá e recebe

Mas o homem que sabe o que quer
E se apaixona por uma mulher
Ele faz desse amor sua vida
A comida, a bebida, na justa medida...

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Casa, esquinas e quintais - 10




Olá, amigos.

A série Casa, esquinas e quintais chega ao seu décimo post, e continua a apresentar canções da discografia de Roberto Carlos que mostram partes de um lar. Depois de passarmos por todo o resto da casa, hoje a safra de Roberto e Erasmo chega ao lugar mais íntimo do lar.

O QUARTO, cômodo usado para dormir, aparece no repertório de RC como cenário de momentos amorosos intensos, ainda mais fortes nas palavras escritas e cantadas pelo artista que dedicou boa parte de sua discografia a falar de sensualidade. Em um romance, as esquinas de casa têm como destino certo o quarto do casal.

É lá, no palácio do quarto que o amor domina graças à presença da amada declarada, a Primeira dama (canção do LP de 1991), em carícias de cama e mesa que adentram a madrugada para, no dia seguinte, vê-la despertar e amá-la na manhã, como dizem os versos de Café da manhã (do LP de 1978). Entretanto, o quarto também serve como amparo para esconder a tristeza, muitas vezes causada por um fim de relacionamento.

Em Se eu partir (canção escrita por Fred Jorge e lançada em 1971), a certeza de que virá o vazio após o término do relacionamento será expresso no frio e no silêncio do quarto. Na emblemática Detalhes (canção que abre o LP do mesmo 1971), o quarto silencioso vai ser o lugar no qual a pessoa, antes de dormir, procurará o retrato de quem antes era sinônimo de calor. Já em Amanheceu (de Benito di Paula, lançada por Roberto em 1975), o sol refletido no quarto trará momentos instantâneos de sonho - mas, como é cantado nos versos seguintes, o céu novamente se fecha para mostrar a fria realidade.

Responsável por uma safra de canções cercadas de erotismo (Proposta, Seu corpo, Cavalgada, dentre outras) vividas num lugar que permite intimidade, Roberto Carlos reafirmou a certeza de que o grande amor vai além dos limites de um ser. E em alguns casos, ultrapassa os limites do cômodo mais íntimo da casa, como conta uma das canções lançadas no LP de 1981.

Segue a letra! Na foto, Roberto Carlos em estúdio, em foto do início da década de 1980.

Abraços a todos, Vinícius.

TUDO PÁRA - Roberto e Erasmo

Quando a gente fecha a porta tanta coisa se transforma
Tudo é muito mais bonito nessa hora
Entre os beijos que trocamos pouco a pouco nós deixamos
Nossas roupas espalhadas pelo chão

E é tão grande o amor que a gente faz
Que em nosso quarto já não cabe mais
Pelas frestas da janela se derrama pela rua
E provoca inexplicáveis emoções

Tudo pára quando a gente faz amor
Tudo pára quando a gente faz amor
Porque alguma coisa linda invade os corações lá fora
Tudo pára quando a gente faz amor

As pessoas se sorriem e se falam
Se entendem e se calam no fascínio desse instante
Passarinhos fazem festa nos seus ninhos
No momento em que sozinhos somos muito mais amantes

E é tão grande o amor que a gente faz
Que pelas ruas já não cabe mais
Se eleva pelos ares, toma conta da cidade
E felicidade é tudo que se vê

Os sinais se abrem mas ninguém tem pressa
E o carteiro, olhando o céu, esquece até da carta expressa
Silenciam-se as buzinas, os casais fecham cortinas
E o mar se faz mais calmo por nós dois

E é tão grande o amor que a gente faz
Que até os absurdos são reais
Pára o bairro e a cidade nessa hora tão feliz
E é tanto amor que pára até o país

Tudo pára quando a gente faz amor
Tudo pára quando a gente faz amor
Porque alguma coisa linda invade os corações lá fora
Tudo pára quando a gente faz amor...

P.S.: a partir do próximo post, a série Casa, esquinas e quintais começa a apresentar músicas que falam sobre objetos muito comuns em todos os lares.