terça-feira, 17 de junho de 2008

Casa, esquinas e quintais - 16



Olá, amigos.

Depois deste período sem atualizar, em virtude de alguns problemas técnicos da Blogspot, este blogue traz o penúltimo post da série Casa, esquinas e quintais. O objeto apresentado hoje carrega mais de um século de história e é um dos grandes avanços da comunicação da humanidade - como o próprio RC cantou em 2002, quando o citou dentre os progressos que tivemos, nos versos de Seres Humanos.

O TELEFONE, aparelho usado para a transmissão à longa distância da palavra falada, foi inventado na década de 1860. O crédito de autoria da invenção durante cerca de um século e meio foi atribuída ao escocês Alexander Graham Bell. Entretanto, desde 2002 o Congresso dos Estados Unidos passou a atribuir sua invenção ao italiano Antoni Meucci.

Estudiosos afirmaram que quando criou o telefone (inicialmente batizado de "eletrofonecado"), Meucci não teve condições financeiras suficientes para patentear seu invento, e vendeu os direitos dele para Bell - que registrou o invento como seu em 1876 e, no ano seguinte, começou a formar a companhia Telefônica Bell (inaugurada definitivamente em 1881, tendo entre seus sócios o inventor Thomas Edison). No Brasil, o invento chegaria por volta de 1883 primeiramente no Rio de Janeiro, com cinco centrais telefônicas e disponibilizando mil linhas, dentre elas a linha interurbana que ligava o Rio a Petrópolis. O país tem um registro curioso em relação a telefonia: em 1906, a central telefônica da Praça Tiradentes sofreu um incêndio, e deixou o Rio de Janeiro sem telefone por sete meses.

Inicialmente, os telefones estavam ligados a uma central operada por uma telefonista. A telefonista recebia a "corrente de toque" (acontecida através de manivela) de quem queria fazer uma ligação, e depois colocava o ponto do telefone de quem chamou ao ponto do aparelho da outra pessoa. Mais tarde, estas centrais foram substituídas por discos, que geravam uma sinalização decática e através dos pulsos formavam o número do aparelho a receber a ligação. Somente na década de 1960 viriam os telefones com teclado eletrônico, que trouxeram maior facilidade por o usuário não precisar mais precisar tocar de uma a 10 vezes o teclado para guiar um número.

Com o passar das décadas, o século XX viu a ascensão de outros tipos de aparelhos telefônicos, como o telefone público (chamado popularmente no Brasil de "orelhão"), o telefone sem fio e, mais recentemente, o telefone celular (popularizado no país a partir da segunda metade da década de 1990). Atualmente, com o advento da Internet, vieram outros recursos, como o telefone VoIP (via conexão de banda larga), e aparelhos como o Skype, que transmitem conversas via Internet sem necessitar gastos com contas telefônicas normais.

O aparelho telefônico aparece na discografia de Roberto Carlos sempre associado a uma ansiedade para ouvir a voz da pessoa amada. No LP O inimitável, de 1968, a música Ciúme de você (assinada por Luiz Ayrão) mostra o homem ciumento até com o telefone da casa dela, que está sempre ocupado quando ele quer conversar. Na canção A atriz, de 1985, é através dele que vem a voz da atriz, que em meio à correria de bastidores, liga para dizer que ama e traz sua voz macia. Em Antigamente era assim, do LP de 1987, a espera para que o telefone toque surge junto com a vontade de tornar o relacionamento tão bom quanto em tempos anteriores.

Na canção Se diverte e já não pensa em mim, do LP de 1988, a dupla Roberto e Erasmo fala não só sobre o telefone (que ela usa à seis da tarde para um convite pra jantar), mas cita outras "modernidades" dos anos 80: o fax (equipamento que reproduz documentos à distância, com o auxílio de linha telefônica) e o telex (sistema usado com a ajuda de um telégrafo que permitia comunicação entre máquinas de teleimpressão).

O aparelho de telefone gerou na língua portuguesa o verbo TELEFONAR, que é utilizado na discografia de RC desde o LP Louco por você, de 1961. Naquele ano, através da canção Se você gostou (de Carlos Imperial e Fernando César), Roberto dizia que se a moça gostasse de sua maneira de dançar, podia usar o aparelho e "pedir bis" a ele. A expressão "telefone" também serve para denominar o número da linha telefônica de cada pessoa, como apresenta o verso "meu telefone eu deixei na cabeceira da cama", de Super herói (do LP de 1990, e apresentada em um dos posts anteriores da série Casa, esquinas e quintais). Da compilação de encontros musicais de seus especiais da Globo, o disco e DVD Duetos mostra outra conjugação do verbo telefonar, quando Roberto Carlos e Tom Jobim cantam Lígia (música do maestro Antônio Brasileiro): "e quando eu te telefonei, desliguei, foi engano, seu nome eu não sei...".

O aparelho de telefone serve tanto para amenizar distâncias, como diz a letra de Eu te amo, te amo, te amo (de 1968), quanto para, na falta de um telefonema, despertar ciúmes e solidão - conforme prevêem os versos de Eu sem você (de Mauro Motta e Carlos Colla, presente no LP de 1988). E uma ligação pode alterar tudo, inclusive fazer com que quem recebeu o telefonema deixe de ficar "chutando lata" - caso de Tô chutando lata, que abre o LP de 1987.

O telefone apareceria como protagonista na faixa que abre o LP de 1994. Na letra de Roberto e Erasmo, vinha o desabafo do homem que estava cansado de um relacionamento passado, mas que insistia em retornar através da linha telefônica. A música traz como título a palavra muito usada no Brasil quando se atende o telefone mostrado no post de hoje - o penúltimo desta série.

Segue a letra! Na foto, o registro que fez parte da capa interna do LP daquele ano.


Abraços a todos, Vinícius.

ALÔ - Roberto e Erasmo

Diga logo de uma vez o que você quer de mim
Não me torture mais
Não me faça mais sofrer insistindo em me dizer
Que pensa em mim demais

Quando você fica só e precisa ouvir a voz
De quem te ama
Não suporta a solidão
Pega o telefone e então me chama

E quando eu digo alô
Fala de amor, às vezes chora e mexe com meu coração
Me faz pensar que ainda me ama e alimenta essa ilusão
Que acaba nas semanas que você me esquece

Quando eu penso que esqueci
O telefone entra rasgando a madrugada a enlouquecer
O coração dispara, a mesma história vejo acontecer
E atordoado eu digo alô, e é você

Diga logo de uma vez o que você quer de mim...

5 comentários:

Anônimo disse...

No Inimitável o Rei, ainda demonstra a vontade em falar com a pessoa amada em Eu Te Amo, Te Amo, Te Amo, quando diz "cartas já não adiantam mais, quero ouvir a sua voz, vou telefonar dizendo, que eu estou quase morrendo, de saudade de você"

valeu Vinicius - O Pesquisador.

Fabiano Cavalcante

Anônimo disse...

Parabéns Vinícius!
Telefonar para dizer "Te amo" à quem amamos;
Um forte abraço!
Leda Martins.

ZANGADO disse...

O telefone é algo muito presente em nossas vidas, na minha então nem se fala. Agora, triste é quando se liga pra mulher e ela tá vendo novela, vendo Jornal Nacional, um saco, rs. Mas meu dia não é completo quando eu não consigo falar-lhe. Em cinco anos fiquei dois dias sem ligar apenas. Parabéns Vinícius, tua postagem só reforça o quanto as músicas do Roberto estão ligadas diretamente às nossas vidas.

Anônimo disse...

Vinícius

Eu estou acompanhando a série, mas nem lembrei que existia mais esse detalhe sobre a obra de Roberto. É muito rica em detalhes mesmo!

Essa canção é muito bonita, uma das melhores do Roberto na década de 90, em que acusam sua obra como água com açúcar, se foi doce, sou uma formiga!

Blog Música do Brasil
www.everaldofarias.blogspot.com

Um forte abraço!

James Lima disse...

Parabéns, Vinícius.
To adorando a série, e essa canção "Alô' é demais...

Abraços
James
www.robertocarlos.vai.la