domingo, 31 de maio de 2009

50 anos de emoções - 1980



Olá, amigos.

A série 50 anos de emoções continua a apresentar ano a ano cada parte do cinquentenário da carreira de Roberto Carlos. Hoje, este blogue apresenta o início de mais uma década na estrada musical de RC.

O ano de 1980 mostrou ao mundo como a Guerra Fria continuava com suas tintas fortes. Os Estados Unidos boicotaram as Olimpíadas de Moscou. Felizmente, nem a ausência dos americanos comprometeu a linda festa soviética, nos Jogos Olímpicos que tiveram o ursinho Misha como mascote.

O Brasil já tinha alguns ares de democracia, com as eleições diretas para governadores de estados novamente ocorrendo de maneira direta. Os "senadores biônicos" também deixaram de existir.

Entretanto, alguns militares radicais ainda não admitiam o fim do regime militar, e aterrorizavam o país com bombas explodindo em bancas de jornal, hotéis, escolas, supermercados e em sedes de jornal. Os ataques aconteceram no Rio de Janeiro, em Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, Belém e São Paulo. O caso mais chocante foi a carta-bomba enviada à sede da Ordem dos Advogados Brasileiros, na qual a secretária Lyda Monteiro faleceu.

No futebol, o Internacional perdeu a chance de vencer a Taça Libertadores da América pela segunda vez. O campeão brasileiro do ano anterior chegou à final contra o uruguaio Nacional e, após o empate em 0 a 0 em Porto Alegre, foi derrotado por 1 a 0 em Montevidéu.

Com a CBF fazendo a organização do Campeonato Brasileiro, o torneio passou a ter três divisões (a Taça de Ouro, com os 40 melhores clubes da época, e as Taças de Prata e de Bronze). Os quatro melhores clubes da Taça de Prata se classificavam para a segunda fase, e jogavam contra os 28 classificados da Taça de Ouro.

Em junho de 1980, o Brasil começou a conhecer o maior campeão da década. Num time formado por Júnior, Andrade, Nunes e Zico, o Flamengo se tornou o melhor do país mesmo depois de perder a primeira partida para o Atlético Mineiro por 1 a 0, em Minas. No segundo jogo, a equipe carioca derrotou os mineiros por 3 a 2 e foi campeã pela primeira vez.

Em 8 de dezembro de 1980, a música perdeu o símbolo de quem, através das canções, pedia uma chance à paz e imaginava um paraíso. John Lennon teve sua carreira interrompida por Mark David Chapman. O homem, que se dizia fã de Lennon, atirou à queima-roupa quando ele voltava para sua casa, em Nova Iorque. O assassino disse que ao ler o livro O apanhador no campo de centeio encontrou uma mensagem subliminar que o mandava assassinar o ex-Beatle. No mesmo ano, as artes brasileiras tiveram duas perdas: o poetinha Vinícius de Moraes e o dramaturgo Nelson Rodrigues. Todos no último mês do ano.

Neste ano, a televisão brasileira perdeu sua pioneira. Após anos se arrastando em dívidas e já sem o direito de sete de suas dez concessões avaliadas, a TV Tupi teve sua concessão cassada definitivamente pelo governo Figueiredo. Em 18 de julho, o ator e locutor Cévio Cordeiro leu uma mensagem destinada ao presidente pedindo para que a emissora não fosse fechada. Mas de nada adiantou. As últimas imagens foram os dizeres "Até breve, telespectadores. Rede Tupi". O governo abriria espaço para a fundação de duas novas emissoras de televisão, mas isto é um assunto para um próximo post.

A TV Globo se consolidava mesmo no primeiro lugar dentre as televisões brasileiras, com a tecnologia extremamente superior às concorrentes. A emissora abriu espaço para uma disputa musical - o MPB 80. Repetindo o sucesso do festival exibido pela TV Tupi no ano anterior, Oswaldo Montenegro interpretou a primeira colocada deste festival - Agonia, de autoria de seu irmão de criação, Mongol. Em segundo lugar, ficou a canção Foi Deus que fez você, de autoria de Luiz Ramalho e interpretada por Amelinha. Também se destacaram no festival o cantor Jessé (eleito melhor intérprete depois de apresentar Porto solidão) e o cantor Eduardo Dusek, que já havia polemizado ao cantar a irreverente Nostradamus com asas de anjo e uma cueca samba-canção e, na finalíssima, decidiu trocar a música da primeira fase para divulgar a canção Barrados no baile, também de sua autoria.

Roberto Carlos começou o ano com uma grande perda. Em janeiro, seu pai, Robertino Braga, faleceu, e RC não teve como continuar em seu enterro devido à aglomeração de fãs. Sua generosidade musical se estendeu ao disco de seu primeiro amigo. Erasmo Carlos realizou o ambicioso projeto Erasmo Carlos convida..., com 12 faixas dedicadas a encontros musicais. Maria Bethânia, Gal Costa, Rita Lee, Jorge Ben, Nara Leão, os conjuntos As Frenéticas e A Cor do Som, Gilberto Gil, Wanderléa e Tim Maia foram alguns dos convidados da festa. E o encontro que abriu o disco foi justamente o dueto dos parceiros Roberto Carlos e Erasmo Carlos. Os dois cantaram Sentado à beira do caminho, encontro que deu tão certo que volta e meia eles interpretam nos especiais de RC.

Roberto continuou presente na programação de fim de ano da TV Globo. E seu Roberto Carlos Especial exibido no dia 23 de dezembro começou com a Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes. Pela primeira vez, Roberto não recebeu convidados em seu programa. Boa parte do especial trouxe números dele cantando num show gravado no Anhembi. No repertório, sucessos como Outra vez, Amigo e Café da manhã mesclados a música lançadas em seu disco daquele ano.

O programa encerrou com RC em frente à Organização das Nações Unidas, na companhia de várias crianças e cantando A guerra dos meninos, música que abriu apoteoticamente o LP de 1980. Eis o repertório do disco:

LADO A

1 - A guerra dos meninos, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - O gosto de tudo, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

3 - A ilha, de Djavan

4 - Eu me vi tão só, de Mauro Motta e Eduardo Ribeiro

5 - Passatempo, de Maurício Duboc e Carlos Colla

LADO B

1 - Não se afaste de mim, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - Procura-se, de Roberto Carlos e Ronaldo Bôscoli

3 - Amante à moda antiga, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

4 - Tentativa, de Márcio Greyck

5 - Confissão, de Eduardo Lages e Paulo Sérgio Valle

Alguns autores de meados da década anterior permaneceram em 1980. Roberto deu espaço a outro compositor: Djavan, que começava a se destacar em músicas como Fato consumado e Flor de lis. No entanto, para que A ilha fosse gravada, o alagoano teve de "adequar" a letra. O verso "um cheiro de amor empestado" teve de mudar para "um cheiro de amor espalhado".

Pela primeira vez desde que se tornou arranjador dos shows de Roberto Carlos, Eduardo Lages assinou o arranjo de uma das canções do LP do cantor. Só que ainda não foi de uma música sua. O maestro fez o arranjo de Tentativa, música de Márcio Greyck.

Pela primeira vez desde João e Maria, em 1959, Roberto Carlos assinou uma canção com outro artista que não fosse Erasmo Carlos. O coautor foi Ronaldo Bôscoli, que mais tarde declararia que Procura-se não é das melhores canções, mas já valeu a pena ter acabado com a hegemonia de Erasmo.

A introspecção amorosa da canção de RC e Bôscoli ficou presente em uma outra canção de Roberto e Erasmo: a declaração de amor de O gosto de tudo. Em compensação, o amor mais despreocupado, mais jovial apareceu na música que abre o lado B do LP - Não se afaste de mim.

Mas o amor se derramava em outra canção. Sem pudor de ser rotulado como antiquado, Roberto Carlos aproveitou o ano de 1980 para viver um simpático amante à moda antiga.

Segue a letra! Na foto, Roberto Carlos em uma emissora francesa, cantando a versão de A guerra dos meninos para a língua de lá.

Abraços a todos, Vinícius.

AMANTE À MODA ANTIGA - Roberto e Erasmo

Eu sou aquele amante à moda antiga
Do tipo que ainda manda flores
Aquele que no peito ainda abriga
Recordações de seus grandes amores

Eu sou aquele amante apaixonado
Que curte a fantasia dos romances
Que fica olhando o céu de madrugada
Sonhando abraçado à namorada

Eu sou do tipo de certas coisas
Que já não são comuns nos nossos dias
As cartas de amor, o beijo na mão
Muitas manchas de batom daquele amasso no portão

Apesar de todo o progresso
Conceitos e padrões atuais
Sou do tipo que na verdade
Sofre por amor e ainda chora de saudade

Porque sou aquele amante à moda antiga
Do tipo que ainda manda flores
Apesar do velho tênis e da calça desbotada
Ainda chamo de querida a namorada

A minha namorada...

2 comentários:

Everaldo Farias disse...

O que dizer cara? Foi o ano em que nasci. Acredito que, mesmo com seis meses de vida, já fazia côro naquela guerra de meninos! E me preparava para ser um amante à moda antiga!

Blog Música do Brasil
www.everaldofarias.blogspot.com

Um forte abraço a todos!

James Lima disse...

Um ano maravilho, extremamente produtivo, digamos assim.

O LP é fantástico, tem uma capa linda, e o especial, embora sem convidados, um dos melhores !

Bicho, Te espero no RCB, ainda não tive seu comentário essa semana !

Um Forte Abraço