sábado, 9 de maio de 2009

50 anos de emoções - 1969



Olá, amigos.

A série 50 anos de emoções encerra uma das décadas do cinquentenário de carreira de Roberto Carlos. Depois de uma década na qual passou pela Bossa Nova e pela Jovem Guarda, RC seguia o rumo do Brasil e do mundo e começava a apresentar transformações, num prenúncio do que viria na década seguinte.

1969 foi o marco de progressos nos ares. Em fevereiro, ocorreu o primeiro voo comercial do Boeing 747, e no mês seguinte, o Concorde cruzou os ares pela primeira vez. Mas os Estados Unidos ainda iriam mais longe no dia 20 de julho.

A missão Apolo XI terminou com transmissão via satélite para todas as televisões do mundo. Neil Armstrong se tornou o primeiro homem a pisar na Lua, num momento que ele definiu como "um pequeno passo para um homem, e um grande salto para a humanidade".

Mas as coisas em terra firme não caminhavam muito bem. Em 4 de setembro de 1969, o embaixador americano no Brasil, Charles Elbrick, foi mais uma das vítimas do confronto entre a Ditadura Militar e a luta armada no país. O Movimento Revolucionário 8 de Outubro (o MR-8) e a Ação Libertadora Nacional (ALN) o mantiveram em cativeiro durante quatro dias, e o sequestro acabou quando o governo aceitou a libertação do embaixador em troca de 15 presos políticos serem exilados. Um dos militantes envolvidos no sequestro foi o hoje deputado federal do Rio de Janeiro Fernando Gabeira, que relatou os momentos de 1969 no livro O que é isso, companheiro?. Mais tarde, o livro se tornaria um filme de Bruno Barreto, mas ele é assunto para um próximo post.

A vitória desta ação revolucionária não adiantaria muito na marcha pelo fim do regime militar. Em outubro de 1969, tomaria posse da presidência o general Emílio Garrastazu Médici. Ele apresentaria na década de 1970 um período terrível para a população brasileira.

A televisão mostrava novidades em sua programação. Começava a ser exibida na Inglaterra a primeira série cômica do grupo humorístico Monthy Python. Viriam vários filmes e um jeito de humor que influenciaria as futuras gerações de piadistas pelo mundo. E no Brasil, em primeiro de setembro ia ao ar a primeira edição de um informativo que permanece na programação nacional: o Jornal Nacional.

Em 1969 a música acompanharia um evento revolucionário. Nos dias 15, 16 e 17 de agosto, o mundo musical voltou seus olhos para Woodstock, num evento com a mistura explosiva de sexo, drogas e rock'n roll. De lá partiria para todos os cantos o som de artistas como Jimi Hendrix e Janis Joplin.

Na Música Popular Brasileira, o país continuava a conhecer músicas através dos festivais. No V Festival de Música Popular Brasileira, exibido pela TV Record, foram lançadas as canções Sinal fechado (vencedora, composta e interpretada por Paulinho da Viola) e Clarisse (segunda colocada, com interpretação de Agnaldo Rayol para música de Eneida e João Magalhães). No IV Festival Internacional da Canção, as duas primeiras colocadas foram para canções com nomes de mulher. Em primeiro, Cantiga por Luciana, de Edmundo Souto e Paulinho Tapajós, cantada por Evinha, e em segundo, Juliana, de Antônio Adolfo e Tibério Gaspar, interpretada por Brasuca.

Roberto Carlos novamente apareceu nas telas do cinema brasileiro. E muito bem acompanhado - protagonizando o filme ao lado de Erasmo Carlos e Wanderléa. Em Roberto Carlos e o diamante cor-de-rosa, o trio estava no exterior e se tornava alvo de um grupo de bandidos liderado por Pierre (vivido novamente por José Lewgoy). Com muitas cenas de luta de samurai, perseguições e, claro, muita música, o filme encerra com Roberto, Erasmo e Wanderléa cantando a música É preciso saber viver.

Em função de briga entre gravadoras, o registro do trio cantando nunca foi para disco. As músicas apresentadas no filme foram distribuídas nos discos e compactos do trio - Você vai ser o meu escândalo (com Wanderléa), Vou ficar nu pra chamar sua atenção e Aquarela no Brasil (no LP Erasmo Carlos e Os Tremendões, de Erasmo), Custe o que custar (em compacto de RC), Não vou ficar e a instrumental O diamante cor-de-rosa (ambas no LP de Roberto Carlos).

Neste disco de 1969, Roberto Carlos já apresentava sua interpretação no estilo do soul music, cantando sua verdade através deste repertório:

LADO A

1 - As flores do jardim da nossa casa, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - Aceito seu coração, de Puruca

3 - Nada vai me convencer, de Paulo César Barros

4 - Do outro lado da cidade, de Helena dos Santos

5 - Quero ter você perto de mim, de Nenéo

6 - O diamante cor-de-rosa, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

LADO B

1 - Não vou ficar, de Tim Maia

2 - As curvas da Estrada de Santos, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

3 - Sua estupidez, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

4 - Oh, meu imenso amor, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

5 - Não adianta, de Édson Ribeiro

6 - Nada tenho a perder, de Getúlio Côrtes

As canções mais descompromissadas, engraçadinhas de seus compositores aos poucos ganhavam contornos mais sérios, falando de amores mal ou bem sucedidos - casos de Nada tenho a perder e Não adianta. Mas em meio ao romantismo de canções como Aceito seu coração e Quero ter você perto de mim (além da homenagem a uma geração antiga de intérpretes com Oh, meu imenso amor), já apareciam as características do soul, em letra, música e interpretação.

Logo no início do disco, Roberto Carlos abria espaço para uma canção escrita na Holanda, durante o tratamento de saúde de seu filho Segundinho (com um glaucoma que tirou parte de sua visão). Numa interpretação com a alma na voz, RC apresentou ao público As flores do jardim da nossa casa.

O soul se desenhou na interpretação de Nada vai me convencer, mas ganhou tintas fortes na primeira faixa do lado B - através de Não vou ficar, canção assinada por Tim Maia, expoente deste novo movimento musical aqui no Brasil. Num novo jeito de mostrar seu ponto de vista sobre questões amorosas, Roberto escancarava a voz para a letra de Sua estupidez.

A Jovem Guarda ia pelo espelho na distância se perdendo. Mas a paixão pelos carros prosseguia na garupa das canções de Roberto e Erasmo. As lágrimas azuis de outrora iam embora, e a estrada servia como forma de esquecer frustrações anteriores. Através das curvas da Estrada de Santos, Roberto Carlos cantava um novo ponto de vista, iniciando a fase que muitos chamam de seu amadurecimento musical.

Segue a letra! Na foto, Roberto Carlos soltando a voz em clipe para o filme Roberto Carlos e o diamante cor-de-rosa.

Abraços a todos, Vinícius.

AS CURVAS DA ESTRADA DE SANTOS - Roberto e Erasmo

Se você pretende saber quem eu sou
Eu posso lhe dizer
Entre no meu carro na Estrada de Santos
E você vai me conhecer

Você vai pensar que eu
Não gosto nem mesmo de mim
E que na minha idade
Só a velocidade anda junto a mim

Só ando sozinho e no meu caminho
O tempo é cada vez menor
Preciso de ajuda, por favor me acuda
Eu vivo muito só

Se acaso numa curva
Eu me lembro do meu mundo
Eu piso mais fundo, corrijo num segundo
Não posso parar

Eu prefiro as curvas da Estrada de Santos
Onde eu tento esquecer
Um amor que eu tive e vi pelo espelho
Na distância se perder

Mas se amor que eu perdi
Eu novamente encontrar
As curvas se acabam e na Estrada de Santos
Não vou mais passar
Não, não vou mais passar...

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