terça-feira, 5 de maio de 2009

50 anos de emoções - 1967



Olá, amigos.

Continuando a série 50 anos de emoções, hoje este blogue conta como foi o ano no qual Roberto Carlos foi além dos horizontes da música. RC acelerou o ritmo de aventura nas telas do cinema.

O ano de 1967 trouxe algumas reviravoltas na política de vários lugares do mundo. Na Grécia, o Rei Constantino II foi derrubado por George Papadopoulos, que instaurou uma ditadura militar no país. Sete anos depois de sua independência em relação à França, o Togo passou por um golpe político, que elevou Gnassingbé Eyadéma ao poder deste país africano.

Nas eleições presidenciais norte-americanas, Richard Nixon foi eleito presidente dos Estados Unidos. O comunismo sofreu um abalo nos seus alicerces no dia 8 de outubro deste ano. Nas proximidades de La Higuiera, Ernesto Che Guevara e seus companheiros de guerrilha foram capturados, e no dia seguinte, Che foi executado na Bolívia.

A partir de 5 de junho, o mundo voltou suas atenções para o Oriente. Tinha inicio a Guerra dos Seis Dias, quando Israel declarou guerra ao Egito, à Síria e à Jordânia. O conflito terminou no dia 10 do mesmo mês, com a rendição da Síria e a derrocada do poder bélico dos países árabes. Israel também conseguiu o direito sobre as Colinas de Golã, a Península do Sinai e a Cisjordânia. Mas os embates movidos pela religiosidade estariam bem longe de terminar.

O mundo também assistiu a uma grande vitória da medicina. Em 3 de dezembro de 1967 ocorreu o primeiro transplante de coração de um ser humano para outro. Na Cidade do Cabo, o paciente Lewis Washkansky recebeu o órgão de Denise Darvall, de 25 anos, que morrera num desastre de avião. Apesar da operação bem sucedida, Lewis morreu 18 dias depois, em decorrência de uma pneumonia.

A partir de 15 de março, o Brasil deixou de ser a República dos Estados Unidos do Brasil e passou a ser conhecida como República Federativa do Brasil - nome que tem até hoje. O país teve um grande passo na democracia de raças graças à criação da Fundação Nacional do Índio (a FUNAI), em 5 de dezembro.

A televisão começava a conhecer seus progressos e, pela primeira vez, foi realizada uma transmissão de um evento via satélite. Em 25 de junho, o mundo acompanhou pela TV a uma apresentação dos Beatles cantando All you need is love. Em terras brasileiras, a TV brasileira ganhou mais um canal: a TV Bandeirantes, presente no canal 13 de São Paulo. A emissora ainda demoraria para ter uma transmissão nacional.

No ano de estreia dos conjuntos The Doors, Pink Floyd e Bee Gees, Roberto Carlos continuava se aventurando nas apresentações do Festival da Música Brasileira. Tudo teve início quando o compositor Luiz Carlos Paraná o convidou para apresentar no festival um samba que contava uma história de carnaval. O autor afirmou que, quando contou a amigos que tinha entregue a interpretação a RC, muitos torceram o nariz, por conta do "iê-iê-iê" com o qual Roberto estava ainda envolvido.

Mas foi Roberto Carlos que o presenteou com a valorização de sua música. Roberto ficou em quinto lugar no Festival, uma ótima posição diante de canções maravilhosas que passaram pelo palco do Teatro Record. À frente de Maria Carnaval e cinzas ficaram Ponteio (de Edu Lobo e Capinam, interpretada por Edu Lobo, Marília Medalha e o Quarteto Novo, e vencedora da competição), Domingo no parque (de Gilberto Gil, apresentada por Gilberto Gil e o grupo Os Mutantes, com a segunda posição), Roda viva (canção de Chico Buarque apresentada por Chico e o grupo MPB-4) e Alegria, alegria (música de Caetano Veloso que Caetano cantou na companhia dos Beat Boys). O festival ainda trouxe um momento curioso: Sérgio Ricardo estava sendo vaiado pela plateia durante sua apresentação de Beto bom de bola quando, num momento de revolta, interrompeu sua interpretação para quebrar um violão numa mesa e atirá-lo nos espectadores que o vaiavam.

Só que o ritmo de Roberto Carlos ainda era o de aventura, e ele se aventurou nas telas do cinema nacional. Roberto Farias dirigiu seu xará num filme psicodélico, cercado de aventura, situações inusitadas, garotas bonitas e, claro, muita música. Em Roberto Carlos em ritmo de aventura, RC estava realizando um filme dirigido por um diretor maluco (papel do irmão de Roberto Farias, Reginaldo Faria) e um grupo de bandidos capitaneado por Brigite (vivida por Rose Passini) queria impedi-lo de fazer e levá-lo para uma organização na qual ele iria aderir à cibernética para fazer suas canções. Em meio a isto, vinha para o Brasil o ator francês Pierre (interpretado por José Lewgoy), que carregava o desejo de, no cinema, fazendo o papel de bandido, matar o mocinho.

Além de trechos incidentais de músicas como Quero que vá tudo pro inferno, Negro gato e Nossa canção, Roberto lançou 12 músicas novas, no LP que deu nome ao filme. Eis as canções:

LADO A

1 - Eu sou terrível, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - Como é grande o meu amor por você, de Roberto Carlos

3 - Por isso corro demais, de Roberto Carlos

4 - Você deixou alguém a esperar, de Édson Ribeiro

5 - De que vale tudo isso, de Roberto Carlos

6 - Folhas de outono, de Francisco Lara e Jovenil Santos

LADO B

1 - Quando, de Roberto Carlos

2 - É tempo de amar, de José Ari e Pedro Camargo

3 - Você não serve pra mim, de Renato Barros

4 - E por isso estou aqui, de Roberto Carlos

5 - O sósia, de Getúlio Côrtes

6 - Só vou gostar de quem gosta de mim, de Rossini Pinto

Algumas canções nem chegaram à trilha do filme, e outras (como É tempo de amar), têm apenas sua melodia na tela. Um dado curioso em relação à música que encerra o disco: a música Só vou gostar de quem gosta de mim estava prevista para o LP do ano anterior. Bem, ao menos é o que indica a gravação em áudio disponível na Internet, na qual RC apresenta músicas do disco de 1966. A canção de Rossini Pinto está em meio ao repertório apresentado.

Renato Barros encontrou uma forma interessante de conseguir que sua música fosse gravada por RC. Em um dos dias de gravação do LP Roberto Carlos em ritmo de aventura, o autor aproveitou um intervalo para ensaiar a música Você não serve pra mim. Roberto ouviu, achou legal e pediu para ele. Renato ainda insistiu um pouco, dizendo que era música para um trabalho de Renato e seus blue caps. Mas, diante da nova insistência de RC, acabou cedendo ao cantor (conseguindo o que queria inicialmente). Você não serve pra mim rendeu um clipe engraçadíssimo no filme.

Os ecos da separação artística com Erasmo Carlos ficaram explícitos neste LP. As músicas Como é grande o meu amor por você, Por isso corro demais, De que vale tudo isso, Quando e E por isso estou aqui vêm somente com a assinatura de Roberto. Mas a amizade foi selada de maneira importantíssima.

A briga se desfez com o bilhete "Bicho, eu não tô mais zangado com você". Depois, RC mostrou uma melodia de uma música que estava pensando para a sequência inicial do filme. Uma letra que não estava conseguindo fazer, mas que ele sabia que Erasmo faria em 10 minutos. Estava assim sacramentado o novo início da parceria entre Roberto Carlos e Erasmo Carlos, que ainda iria pôr mesmo para derreter na Música Popular Brasileira.

Segue a letra! Na foto, Roberto Carlos em uma cena antológica do filme que estrearia no início do ano seguinte. Nela, RC anda de helicóptero por todo o Rio de Janeiro, mostrando imagens da Igreja da Candelária, do Centro, do Aterro do Flamengo. Há também uma cena fantástica, na qual o helicóptero passa por dentro do Túnel do Pasmado - e pode-se ver o terreno onde, anos mais tarde, seria erguido o Shopping Rio Sul.

Abraços a todos, Vinícius.

EU SOU TERRÍVEL - Roberto e Erasmo

Eu sou terrível
E é bom parar
De desse jeito
Me provocar

Você não sabe
De onde eu venho
O que eu sou
E o que tenho

Eu sou terrível
Vou lhe dizer
Que ponho mesmo
Pra derreter

Estou com a razão no que digo
Não tenho medo nem do perigo
Minha caranga é máquina quente

Eu sou terrível, e é bom parar
Porque agora vou decolar
Não é preciso nem avião
Eu voo mesmo aqui do chão

Eu sou terrível
Vou lhe contar
Não vai ser mole
Me acompanhar

Garota que andar do meu lado
Vai ver que eu ando mesmo apressado
Minha caranga é máquina quente
Eu sou terrível, eu sou terrível

Eu sou terrível...

Um comentário:

James Lima disse...

Bicho, muito bom ! Adorei !

Não sabia do detalhe da música "Você Não Serve Pra Mim", ou pelo menos não lembrava. Graças ao Emoções RC, a gente fica sabendo dessas coisas hehe

Um Forte Abraço !
James Lima
www.robertocarlos.vai.la