segunda-feira, 11 de maio de 2009

50 anos de emoções - 1970



Olá, amigos.

A série 50 anos de emoções continua contando post a post cada um dos 50 anos de carreira de Roberto Carlos, com todos os fatos que o mundo conheceu neste tempo todo. Hoje, nossa retrospectiva entra em uma nova década da carreira de RC.

Em 1970, o mundo deu um grande passo no valor à humanidade, quando entrou em vigor o Tratado de Não-Proliferação Nuclear. Assinado em 1968, o tratado foi uma iniciativa para tentar um uso pacífico das armas nucleares. Até o momento, são 187 países que assinam este pacto.

No cenário religioso, santidades chamaram atenção aos olhos do mundo. Santa Teresa d'Ávila e Santa Catarina de Sena foram proclamadas doutoras da Igreja Católica pelo Papa Paulo VI. E o Papa, em novembro, seria alvo de um covarde atentado quando visitava Malina, nas Filipinas.

O Brasil voltou a aparecer no cenário mundial através do talento com os pés. Treinado por Zagallo (que substituiu João Saldanha, demitido às vésperas da Copa do Mundo por responder à solicitação do presidente Emílio Garrastazu Médici pedindo Dadá Maravilha no time com a declaração "ele escala os ministérios e eu escalo a Seleção), o Brasil apresentou uma Seleção histórica, com jogadores fantásticos, que marcaram época. Com craques como Pelé, Gérson, Jairzinho, Rivelino e tantos outros, o Brasil venceu os seis jogos disputados e, na final, derrotou a Itália pelo placar de 4 a 1. A taça erguida pelo capitão Carlos Alberto Torres ficaria em definitivo no Brasil. A Taça Jules Rimet ficaria no país que vencesse por três vezes a Copa do Mundo. Um incidente aconteceria com a taça algum tempo depois, mas isto é um assunto para um dos próximos posts.

A televisão brasileira passou por algumas mudanças em sua programação de 1970. Em São Paulo, a TV Gazeta começou suas transmissões no canal 11. E a histórica TV Excelsior, saiu do ar a 30 de setembro de 1970. A emissora saiu derrotada na queda de braço com o governo militar, que censurava boa parte dos programas desde o golpe de 1964. Asfixiada financeiramente e institucionalmente, a TV Excelsior saiu do ar deixando uma bonita história para contar.

1970 também trouxe o ponto final de uma bela história da música. Os Beatles saíram de cena, e John, Paul, Ringo e George continuaram no cenário musical, cada um pro seu lado.

Embora a TV Record tenha deixado sua "era dos festivais" na década anterior, a TV Globo continuava apresentando o Festival Internacional da Canção. E o Brasil premiou novos nomes do cenário da Música Popular Brasileira. A sensação do festival foi Tony Tornado, que ganhou com sua interpretação (acompanhado do Trio Ternura) para BR-3, de Tibério Gaspar e Antônio Adolfo. Em segundo lugar, ficou Ivan Lins, mesmo sob a forte crítica da esquerda brasileira, que considerou O amor é o meu país, dele e de Ronaldo Monteiro de Souza, um ufanismo exagerado típico da Ditadura Militar. E em terceiro, Taiguara mostrou sua vertente de intérprete e de compositor com a empolgante Universo do teu corpo.

Roberto Carlos ia cada vez mais veloz na estrada. E em 1970 ganhava os palcos de uma tradicionalíssima casa de espetáculos do Rio de Janeiro. Ronaldo Bôscoli definiu o Canecão com a frase "aqui se escreve a história da Música Popular Brasileira". E RC iniciou suas linhas no show A 200 km por hora.

A 200 km por hora teve direção de Luiz Carlos Miéle e Ronaldo Bôscoli, e o arranjador Chiquinho de Moraes foi o responsável por dirigir os músicos do RC-7, do Quinteto Villa-Lobos e da Banda Supersônica. Roberto entrava no palco num carro de corrida, com ruídos de motores acelerando no início e no fim do show. O repertório era o seguinte:

Lobo mau
Eu sou terrível
Mexerico da Candinha
Quero que vá tudo pro inferno
Namoradinha de um amigo meu
Eu te amo, te amo, te amo
Não vou ficar
Ciúme de você
As flores do jardim da nossa casa
Não quero ver você triste
Canzone per te
O diamante cor-de-rosa
Tutti Frutti
Laura
Oh, meu imenso amor
Se você pensa
As curvas da Estrada de Santos
O calhambeque
120... 150... 200 km por hora

Considerada a grande guinada na carreira de RC, esta apresentação reflete a fase mais soul dele, que refletiu inclusive no arranjo da "lenta" canção Laura. Os momentos de mais destaque foram suas performances instrumentais - com a gaita em O diamante cor-de-rosa e com a guitarra em Não vou ficar - o bloco das canções sobre velocidade na reta final do show e o coro dos espectadores acompanhando a valsa Oh, meu imenso amor.

Uma reportagem na Revista Manchete sobre a estréia do show que ficou por 45 dias no Canecão realça:

"Quando Roberto Carlos apareceu no palco do Canecão, calça de veludo vermelho e túnica franjada de camurça escura, estava começando o show mais esperado das noites cariocas dos últimos anos. Mas quando ele se curvou para agradecer as palmas (muitas) depois do número final, continuou a mesma ansiedade de antes da primeira música. Era quase unânime a opinião de que esse mito da música popular brasileira está em nível superior ao esquema armado para sua primeira aparição ao vivo".

120...150...200 km por hora entraria no LP que Roberto Carlos lançou ao final de 1970. Mas não seria a única a emocionar seu público. Eis o repertório:

LADO A

1 - Ana, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - Uma palavra amiga, de Getúlio Côrtes

3 - Vista a roupa, meu bem, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

4 - Meu pequeno Cachoeiro, de Raul Sampaio

5 - O astronauta, de Édson Ribeiro e Hélio Justo

6 - Se eu pudesse voltar no tempo, de Pedro Paulo e Luiz Carlos Ismail

LADO B

1 - Preciso lhe encontrar, de Demétrius

2 - Minha senhora, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

3 - Jesus Cristo, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

4 - Pra você, de Sylvio César

5 - 120...150...200 km por hora, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

6 - Maior que o meu amor, de Renato Barros

Neste novo LP, Roberto Carlos voltou às suas raízes cachoeirenses, cantando a música Meu pequeno Cachoeiro, da autoria de seu conterrâneo Raul Sampaio. Com um dado curioso: RC quis mudar o verso "o meu jenipapeiro lá no centro do terreiro dando sombra no quintal", mas Raul insistia em só permitir a gravação se fosse do jeito original. Enfim, conseguiu ceder, e recentemente afirmou que "meu flamboyant na primavera, que bonito que ele era, dando sombra no quintal".

RC apresentou ao cenário musical outro grande compositor - Sylvio César - mas também abriu espaço no seu repertório para uma canção daquele que mais tarde vocalista de sua banda, Luiz Carlos Ismail. Demétrius retribuiria a gentileza de RC (que anos antes mandou para ele a canção Eu não presto, mas eu te amo), escrevendo a música que abre o lado B do disco. Os autores constantes da época, Getúlio Côrtes, Renato Barros e a dupla Hélio Justo e Édson Ribeiro continuava em seu repertório, mas cada vez mais com canções intimistas.

A safra de Roberto e Erasmo Carlos apresentou várias vertentes de sua composição. Desde a doce Ana, passando pela romântica Minha senhora, a introspectiva 120...150...200 km por hora e mais uma irreverente homenagem a gerações antigas da Música Popular Brasileira: com voz mais anasalada, RC cantou a fantástica Vista a roupa, meu bem.

E, pela primeira vez em seu repertório, abria espaço para falar de uma grande característica de sua alma. A FÉ. Em estilo gospel, RC louvava a Jesus Cristo, numa canção que até hoje chega aos corações de muitos brasileiros.

Segue a letra! Na foto, Roberto Carlos em raro registro na TV Tupi.

Abraços a todos, Vinícius.

JESUS CRISTO - Roberto e Erasmo

Jesus Cristo, Jesus Cristo
Jesus Cristo, eu estou aqui
Jesus Cristo, Jesus Cristo
Jesus Cristo, eu estou aqui...

Olho pro céu e vejo
Uma nuvem branca que vai passando
Olho na terra e vejo
Uma multidão que vai caminhando

Como essa nuvem branca
Essa gente não sabe aonde vai
Quem poderá dizer o caminho certo
É Você, meu Pai

Jesus Cristo, Jesus Cristo
Jesus Cristo, eu estou aqui
Jesus Cristo, Jesus Cristo
Jesus Cristo, eu estou aqui...

Toda essa multidão
Tem no peito amor e procura a paz
E apesar de tudo
A esperança não se desfaz

Olhando a flor que nasce
No chão daquele que tem amor
Olho pro céu e sinto
Crescer a fé no meu Salvador

Jesus Cristo, Jesus Cristo
Jesus Cristo, eu estou aqui
Jesus Cristo, Jesus Cristo
Jesus Cristo, eu estou aqui...

Em cada esquina eu vejo
O olhar perdido de um irmão
Em busca do mesmo bem
Nessa direção caminhando vem

É meu desejo ver
Aumentando sempre essa procissão
Para que todos cantem
Na mesma voz essa oração

Jesus Cristo, Jesus Cristo
Jesus Cristo, eu estou aqui
Jesus Cristo, Jesus Cristo
Jesus Cristo, eu estou aqui...

Um comentário:

Carmen disse...

Olá Vinícius, muito bom o seu blog. Só faço uma consideração a respeito da autoria da música "O astronauta" do álbum de 1970. Essa música foi feita pela dupla Edson Ribeiro e Helena dos Santos, e não por Édson Ribeiro e Hélio Justo. Ok, um abraço.
Carmen.