quarta-feira, 13 de maio de 2009

50 anos de emoções - 1971



Olá, amigos.

A série 50 anos de emoções continua a relembrar, post a post, cada ano do cinquentenário de carreira de Roberto Carlos. Hoje, é a vez de recordar um ano iluminadíssimo da estrada musical de RC.

1971 foi mais um ano no qual o confronto entre Estados Unidos e União Soviética mediram forças na corrida tecnológica. Após os americanos lançarem o Apollo XIV na Lua, a União Soviética tentou conhecer Marte, com a sonda Mars 2, em 19 de maio. 11 dias depois, os Estados Unidos contra-atacaram, lançando a sonda Mariner 9.

As guerras continuavam ecolodindo por todo o mundo. No Vietnã, americanos e vietnamitas prosseguiam duelando, desta vez sem os exércitos da Nova Zelândia e da Austrália. E, no final de 1971, durante 13 dias ocorreria a Guerra Indo-Pasquitanesa, ocorrida logo depois da independência de Bangladesh. Pela segunda vez em sua história, o dólar americano acabou o ano desvalorizado. Curiosamente, no mesmo 1971 em que a Bolsa de Nasdaq começou a funcionar.

Este ano marcaria a estreia de muitas coisas que até hoje fazem parte do nosso cotidiano. Em abril, foi ao ar a primeira edição do Jornal Hoje, noticiário exibido no início da tarde da programação da TV Globo. Em junho, a série El Chavo del Ocho estreou na televisão mexicana e, mais tarde, passaria por vários países (sendo, inclusive, um grande sucesso no Brasil). E em outubro, foram abertas as portas de Walt Disney World, responsável por desenhos que há tanto tempo comovem o mundo.

O futebol brasileiro também teve uma estreia. Após dividir os campeonatos de futebol entre os estaduais, os regionais (como o Torneio Rio-São Paulo) e alguns torneios confusos, como a Taça Brasil e o Torneio Roberto Gomes Pedrosa, enfim foi criado o Campeonato Brasileiro de Futebol do jeito que é jogado nos dias de hoje. Dos 20 clubes que tentaram ser o melhor do Brasil, chegaram ao triangular final São Paulo, Botafogo e Atlético Mineiro.

No primeiro jogo, o Atlético venceu o São Paulo por 1 a 0 no Mineirão. No segundo, os são-paulinos golearam por 4 a 1 no Morumbi. Na partida final, realizada no Maracanã, chegou-se a uma situação curiosa: quem vencesse sagrava-se o melhor do país e, em caso de empate,o São Paulo era campeão. Mas Dadá Maravilha, num gol de cabeça no qual ele diz que parou no ar (assim como param o beija-flor e o avião), fez o gol da vitória atleticana. Até o momento, foi o único título brasileiro do Galo mineiro.

Aos poucos chegando ao primeiro lugar na audiência (em especial pela exibição de Irmãos Coragem, novela de Janete Clair que começou no ano anterior mas continuava muito bem no horário das 20h), a TV Globo mantinha a tradição dos festivais. No VI Festival Internacional da Canção, mais uma vez o destaque foi Evinha, que deu o primeiro lugar à música Kyrie, de Paulo Soares e Marcelo Silva. Na segunda posição, ficou Karany Karanuê, música de Diana Camargo e José de Assis interpretada pelo Trio Ternura. Em terceiro, a dupla Antônio Carlos e Jocafi apresentou mais uma boa canção de sua safra - Desacato.

E em 1971, RC apresentaria aquele que é consagrado por muitos um dos melhores discos de seus 50 anos de carreira. Com o seguinte repertório:

LADO A

1 - Detalhes, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - Como dois e dois, de Caetano Veloso

3 - A namorada, de Maurício Duboc e Carlos Colla

4 - Você não sabe o que vai perder, de Renato Barros

5 - Traumas, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

6 - Eu só tenho um caminho, de Getúlio Côrtes

LADO B

1 - Todos estão surdos, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - Debaixo dos caracóis dos seus cabelos, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

3 - Se eu partir, de Fred Jorge

4 - I love you, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

5 - De tanto amor, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

6 - Amada amante, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

O seleto grupo de compositores de Roberto Carlos (Renato Barros, Getúlio Côrtes e Fred Jorge), uma dupla pela primeira vez estaria presente na lista anual de RC. Carlos Colla fazia parte de uma banda e conseguiu contato com o cantor para pedir que ele escrevesse uma música. Roberto inverteu o convite, pedindo uma canção para ele. E assim surgiu na voz de Roberto Carlos a música A namorada.

Caetano Veloso esteve presente duas vezes neste trabalho de RC. Como autor, através da política Como dois e dois, e também como homenageado de uma das canções. Caetano estava em exílio na cidade de Londres, e Roberto Carlos foi com sua esposa, Nice, visitá-lo. Do encontro emocionante, no qual RC apresentou ao violão As curvas da Estrada de Santos, surgiu uma homenagem musical. Roberto e Erasmo escreveram para ele a belíssima Debaixo dos caracóis dos seus cabelos, já prevendo que um dia os pés do amigo voltariam a tocar a areia branca.

Na safra de canções escritas com Erasmo, Roberto abriu espaço para outra homenagem. Na penúltima faixa do lado B, RC deu sua versão para De tanto amor, música que ele escreveu como presente de casamento para sua afilhada, a cantora Claudette Soares, interpretar. No mesmo estilo de Oh, meu imenso amor e Vista a roupa, meu bem, esteve presente também a irreverência, na faixa I love you. O lado B foi aberto por mais uma canção religiosa, Todos estão surdos, na qual Roberto citou outro cabeludo que apareceu na rua do cancioneiro mundial - John Lennon.

Roberto tocou em assuntos mais íntimos, como uma lembrança de seu acidente em Traumas, e, pela primeira vez, incluiu em sua safra uma música sensual. Em plena época da discussão sobre o divórcio e da marcha pelo moralismo, Roberto Carlos ousou fazer uma homenagem intitulada Amada amante.

Mas a canção mais marcante do repertório de 1971 foi a que abriu este antológico LP. É uma música que atravessa as décadas e que, 10 anos depois, Roberto chegou a dizer que "acho que vou cantá-la pelos próximos 100 anos". Passados 38 anos que ele escreveu esta música com Erasmo, Roberto Carlos continua com ela em seus shows.

Segue a letra! Na foto, a contracapa do LP de 1971.

Abraços a todos, Vinícius.

DETALHES - Roberto e Erasmo

Não adianta nem tentar me esquecer
Durante muito tempo em sua vida, eu vou viver
Detalhes tão pequenos de nós dois
São coisas muito grandes pra esquecer
E toda hora vão estar presentes, você vai ver

Se um outro cabeludo aparecer na sua rua
E isso lhe trouxer saudades minhas, a culpa é sua
O ronco barulhento do seu carro
A velha calça desbotada ou coisa assim
Imediatamente você vai lembrar de mim

Eu sei que um outro deve estar falando ao seu ouvido
Palavras de amor como eu falei mas eu duvido
Duvido que ele tenha tanto amor
E até os erros do meu português ruim
E nessa hora você vai lembrar de mim

À noite envolvida no silêncio do seu quarto
Antes de dormir você procura o meu retrato
Mas na moldura não sou eu quem lhe sorri
Mas você vê o meu sorriso mesmo assim
E tudo isso vai fazer você lembrar de mim

Se alguém tocar seu corpo como eu não diga nada
Não vá dizer meu nome sem querer à pessoa errada
Pensando ter amor nesse momento
Desesperada você tenta até o fim
E até nesse momento você vai lembrar de mim

Eu sei que esses detalhes vão sumir na longa estrada
Do tempo que transforma todo o amor em quase nada
Mas quase também é mais um detalhe
Um grande amor não vai morrer assim
Por isso, de vez em quando, você vai, vai lembrar de mim

Não adianta nem tentar me esquecer
Durante muito, muito tempo em sua vida eu vou viver
Não, não adianta nem tentar me esquecer...

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