quinta-feira, 21 de maio de 2009

50 anos de emoções - 1975



Olá, amigos.

A série 50 anos de emoções chega a mais um post nesta homenagem aos 50 anos da carreira de Roberto Carlos. Cada postagem recorda um ano no qual RC esteve presente no cenário da Música Popular Brasileira.

1975 foi um ano crucial para vários países do continente africano. Moçambique, Cabo Verde, Angola, Papua Nova-Guiné e São Tomé e Príncipe conseguiram se tornar independentes. O Timor-Leste também declarou sua independência, mas três dias depois a Indonésia invadiu seu território. Na América do Sul, o Suriname se tornou um país independente. Em território europeu, um dos países teve uma mudança política: a Espanha voltou ao regime da monarquia, com a posse do Rei Juan Carlos.

Na Inglaterra, o comediante Charles Chaplin foi distinguido com a Ordem do Império Britânico. Uma forma de valorizar o artista que sempre foi e amenizar a injustiça da perseguição do Macartismo (que o perseguiu por ser comunista).


No Brasil, a Ditadura Militar sofreu uma grande derrota. Oito dias depois de ser detido, o jornalista Wladmir Herzog foi encontrado morto na sede do DOI-CODI, em São Paulo, no dia 25 de outubro. A versão oficial foi que ele teria cometido suicídio - com direito a colocarem o corpo dele preso a uma forca na cela. No entanto, claramente se percebia que Herzog foi assassinado. O episódio causou uma crise interna no governo, e abalaria a prática de torturas e de repressão no país.

Em 15 de março de 1975, os estados do Rio de Janeiro e da Guanabara foram fundidos. Com isto, o estado se tornou Rio de Janeiro, e a capital foi transferida de Niterói para a cidade do Rio de Janeiro.

Mesmo sem as torturas, a censura federal continuava implacável. No dia de sua estreia, a novela Roque Santeiro foi proibida de ser exibida na TV Globo. O jornalista Cid Moreira leu nota da Censura Federal que vetava a exibição porque ela trazia atendado à moral e aos bons costumes, além de achincalhe à igreja. A fabulosa história de Roque Santeiro e de sua fogosa viúva, a que foi sem nunca ter sido trazia em sua trilha duas canções de Roberto e Erasmo feitas para a novela. Assim como a trama global, as músicas Noite cheia e Vida blue (ambas cantadas por Erasmo Carlos) foram censuradas.

O Campeonato Brasileiro apresentou um campeão de um novo estado. As terras gaúchas apresentaram o Internacional, que, com gol de Figueroa, derrotou o Cruzeiro por 1 a 0 no Estádio Beira-Rio. Seria o primeiro grande momento deste esquadrão da década de 1970.

Roberto Carlos voltava aos palcos trazendo um novo show para o Canecão. Concerto trouxe o seguinte repertório:

Eu quero apenas
Proposta
Seu corpo
Além do horizonte
Pout-pourri: Negro gato / Namoradinha de um amigo meu / É papo firme / Eu sou terrível
América, América
Ternura antiga
Ruby
Olha
O portão
Lígia
Mucuripe
McArthur Park
Pout-pourri: Como vai você / Como é grande o meu amor por você / Amada, amante / Eu te amo, te amo, te amo / Detalhes
Eu quero apenas


RC mostrava sua versatilidade, numa noite de gala em que passou por vários ritmos e por várias épocas de sua carreira. A abertura, com Eu quero apenas, foi realizada por um coro com roupa de gala e por trompetistas - num estilo próximo de grandes orquestras norte-americanas.

Em seguida, o amor erótico que adentrava em seu repertório apareceu em Proposta e Seu corpo. E, com a então nova Além do horizonte, Roberto saudou um lugar bonito e tranqüilo pra se amar.

No primeiro pot-pourri da noite, veio uma doce lembrança da década anterior. "A Jovem Guarda foi um momento marcado a ferro e fogo na minha biografia", disse, recordando também os amigos Erasmo Carlos e Wanderléia.

Num momento capaz de desmentir a "patrulha ideológica" que ainda insiste em rotulá-lo como alienadoRoberto falou sobre problemas da América Latina. Depois, cantou América, América, surpreendente canção escrita por César Roldão Vieira.

O show teve espaço para homenagens a nossos grandes compositores. Dolores Duran, com Ternura antiga, Lígia, de Tom Jobim, e Mucuripe, de Fagner e Belchior. E também para dois momentos internacionais - Ruby, sucesso de Ray Charles (com Waldyr Calmon, responsável pela gravação de Na cadência do samba, hoje associada ao programa Canal 100) e McArthur Park, gravada por Richard Harris.

No último pout-pourri da noite, amores dos anos 60 e 70 se intercalaram. Numa combinação curiosa, a maturidade de RC como compositor cantou em compasso com o amor inocente das canções da Jovem Guarda.

Concerto adiantou algumas canções que viriam em seu LP de 1975. Flertando com o jazz, Roberto apresentou um disco requintadíssimo, em letra e música. Eis o repertório:

LADO A

1 - Quero que vá tudo pro inferno, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - O quintal do vizinho, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

3 - Inolvidable, de Julio Gutierrez

4 - Amanheceu, de Benito di Paula

5 - Existe algo errado, de Maurício Duboc e Carlos Colla

6 - Olha, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

LADO B

1 - Além do horizonte, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - Elas por elas, de Isolda e Milton Carlos

3 - Desenhos na parede, de Beto Ruschel e Cézar das Mercês

4 - Seu corpo, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

5 - El humauaqueño, de Zaldivar

6 - Mucuripe, de Fagner e Belchior

Cada vez mais ligado à América Latina, Roberto Carlos não só incluiu uma pérola romântica de lá, Inolvidable, como também cantou uma música folclórica argentina - El humauaqueño, que fala sobre o carnaval argentino na região da Quebrada. Além de músicas das duplas Isolda e Milton Carlos e Maurício Duboc e Carlos Colla, RC abriu espaço para o intimismo de Desenhos na parede e apresentou canções que, em seu segundo especial na TV Globo, definiu como "presentes": Amanheceu e Mucuripe. Que se tornaram belos presentes também para seus ouvintes. Em seu Roberto Carlos Especial daquele ano, Roberto recordou a Jovem Guarda com os amigos Erasmo Carlos e Wanderléa, cantou Acalanto com Dorival Caymmi e Silvio Caldas e teve um papo sobre música com o amigo Caetano Veloso - além de, ao violão, ambos cantarem Como dois e dois.

O LP de RC abriu com uma regravação de Quero que vá tudo pro inferno, na qual os teclados de 1965 foram substituídos pela orquestra de dez anos depois. Em seguida, veio a singela O quintal do vizinho. O erotismo apresentou mais uma bela canção - Seu corpo - e apareceu de maneira velada no grito de liberdade de Além do horizonte.

Mas a canção mais jazzística e a letra mais marcante de 1975 viria na última faixa do lado A do disco de Roberto Carlos. Numa das declarações mais bonitas de sua safra, Roberto prometia uma vida inteira só de amor.

Segue a letra! Na foto, Roberto Carlos em Concerto.

Abraços a todos, Vinícius.

OLHA - Roberto e Erasmo

Olha, você tem todas as coisas
Que um dia eu sonhei pra mim
A cabeça cheia de problemas
Não me importo, eu gosto mesmo assim
Tem os olhos cheios de esperança
De uma cor que mais ninguém possui
Me traz meu passado e as lembranças
Coisas que eu quis ser e não fui

Olha, você vive tão distante
Muito além do que eu posso ter
Eu que sempre fui tão inconstante
Te juro, meu amor, agora é pra valer

Olha, vem comigo aonde eu for
Seja minha amante e meu amor
Vem seguir comigo o meu caminho
E viver a vida só de amor...

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