quinta-feira, 22 de maio de 2008

Post especial - FALSA LOURA



Olá, amigos.

Este blogue hoje abre espaço para um post especial que apresenta a vocês mais um encontro de Roberto Carlos com o cinema. Após estrelar três produções cinematográficas (Roberto Carlos em ritmo de aventura, Roberto Carlos e o diamante cor-de-rosa e Roberto Carlos a 300 km por hora) e de o cinema ter proporcionado encontros com Nelson Rodrigues (Roberto e Erasmo fizeram não só a música-tema gravada por Erasmo para Os 7 gatinhos, filme de Neville D'Almeida baseado na peça homônima do dramaturgo, como outras duas canções aparecem na trilha: Cavalgada e A primeira vez, ambas da dupla, nas gravações de RC), Dias Gomes e Lauro César Muniz (que escreveram o roteiro do filme O marginal, de Carlos Manga, com música-tema assinada por Roberto e Erasmo interpretada por Wilson Miranda) e até com o cinema americano (no filme Doze homens e outro segredo, a canção L'appuntamento, versão em italiano de Sentado à beira do caminho, apareceu na trilha, na voz de Ornella Vanoni) a discografia de RC agora se encontra com um dos grandes cineastas do Brasil.

Gaúcho radicado em São Paulo, CARLOS REICHENBACH tem 40 anos de carreira dedicada ao cinema nacional (como diretor e como fotógrafo), e mostra em sua filmografia a peculiaridade de mostrar o cotidiano em sua "verdade nua e crua" mas deixando sempre em evidência as questões psicológicas de seus personagens. Seus primeiros filmes aconteceram na época do surgimento da Boca do Lixo, quarteirão do bairro da Luz, em São Paulo, que reunia um grupo de pessoas interessadas em fazer cinema - e, anos depois desta reunião, as produções da região ficaram marcadas por trazerem forte apelo sexual. Nesta fase se destacam as suas pornochanchadas A ilha dos prazeres proibidos (de 1977), O império do desejo (de 1978)e Amor, palavra prostituta (de 1980), mas que se diferenciam das comédias eróticas da época por trazerem sempre reflexões em seus diálogos e por não apresentarem cenas de sexo gratuitas.

A densidade dos filmes que escreve e dirige continuou em destaque em algumas de produções seguintes, caso de Filme demência (de 1985), que, segundo o cineasta é "um Fausto paulistano", referência ao personagem escrito por Goëthe. Em 1986, com Anjos do arrabalde, ele voltaria sua câmera para questões sociais - no caso deste filme estrelado por Betty Faria, o cotidiano de professoras.

Com o "apagão cinematográfico" ocorrido no Brasil durante a gestão de Fernando Collor de Mello, Reichenbach só voltaria a estrear uma produção cinematográfica em 1993 - o poético Alma corsária. Seis anos depois, a nostalgia interiorana tomou as telas com o filme Dois córregos.

Aos 62 anos, Carlos Reichenbach é um dos poucos cineastas de muita estrada cinematográfica nacional que continua a lançar e a escrever seus filmes mesmo sem o apoio majoritário da Globo Filmes. E neste ano de 2008 novamente apresentou uma abordagem de seu olhar de "cinema feminino".

Falsa loura levou para as telas de cinema a história de Silmara (ótima atuação de Rosanne Mulholland), uma operária de uma grande indústria de São Paulo que mora com o pai Antero (vivido por João Bourbonnais), um ex-presidiário que sentiu na pele o crime que cometeu - o incendiário traz no rosto cicatrizes causadas pelo fogo. O filme mostra o cotidiano dela, as relações com o pai e o irmão (o homossexual Tê, interpretado por Léo Áquilla) e com suas colegas de trabalho, e seu envolvimento com dois cantores - o vocalista Bruno (papel de Cauã Reymond) do grupo Bruno e os seus Andrés e o cantor romântico Luiz Ronaldo (participação especial de Maurício Mattar).

O universo das mulheres operárias já havia rendido filmes como Lilian M., relatório confidencial (de 1974) e Garotas do ABC (de 2004) na filmografia de Carlos Reichenbach. Mas, com Falsa loura, a história da proletária que quer tornar seu cotidiano mais atraente e acaba adentrando pelo deslumbre do meio artístico é mais ácido ao revelar como algumas pessoas não têm o pudor de tratar as outras como coisas descartáveis. Um filme tão contundente quanto suas 17 produções anteriores - da qual se destaca também o recente Bens confiscados, de 2005.

A escalação do elenco tem algumas curiosidades: a personagem Briducha é vivida por Djin Sganzerla, filha do cineasta Rogério Sganzerla (diretor de destaque do Cinema Marginal, dentre eles O bandido da luz vermelha). Léo Áquilla, que faz o personagem Tê, foi durante anos repórter do Noite afora, programa erótico apresentado por Monique Evans na madrugada da Rede TV!. No papel de Milena, aparece Susana Alves, que ficou conhecida do grande público quando fazia a personagem Tiazinha no programa H, apresentado por Luciano Huck na TV Bandeirantes.

O lado intérprete de Roberto Carlos é evidenciado em Falsa loura. O cantor Luiz Ronaldo proporcionou que Maurício Mattar gravasse uma canção do repertório de RC para fazer parte da trilha da "falsa loura" Silmara. Lançada originalmente em seu LP de 1975, a música dos irmãos Isolda e Milton Carlos é revivida na voz de Maurício Mattar para mais uma ótima produção de Carlos Reichenbach.

Segue a letra! Na foto, o cartaz de Falsa loura, que este blogue recomenda - e diz que vale a pena esperar que seja lançado em DVD, caso já esteja fora do circuito de cinema.

Abraços a todos, Vinícius.

ELAS POR ELAS - Isolda e Milton Carlos

Hoje senti que é bem melhor
Não haver nada entre nós
Daqui pra frente

Pois você nunca percebeu
Tudo o que eu quis lhe dar de meu
Sinceramente

Você tentou dizer da paz
Com tantas frases tão banais
Que eu te faria feliz

Enquanto eu me enganei
Dizendo ao mundo que te amei
Você nem quis ouvir

Hoje senti que é bem melhor
Darmos as costas pro pior
Que está bem perto

Você vai ter que compreender
É assim mesmo que vai ser
Errado ou certo

Assim como você
Vai abrir mão do que passou
Tudo o que houve vai esquecer
Nem vai lembrar sequer quem sou

Elas por elas, decidi
Vai ser preciso te esquecer
Para viver em paz...

P.S.: no post de amanhã, este blogue retoma a série Casa, esquinas e quintais.

4 comentários:

Anônimo disse...

Essa canção do Rei é belíssima! O filme não ví; mas vou ver.
Um abraço,
Leda Martins.

Anônimo disse...

Muito bom o blog.Meu conhecimento acerca de assuntos relacionados ao Rei é vergonhosamente parco. Consertarei isso lendo seus textos. Abraço!

Anônimo disse...

Cara,

as músicas de Roberto Carlos como trilha sonora de filmes renderia uma boa série. pense nisso.

Fabiano Cavalcante
www.aplauso.zip.net

James Lima disse...

clap clap clap clap clap
Grande post ! Muitas pesquisas ! Sou seu fã. Parabéns'