sábado, 3 de maio de 2008

1968, o ano que não terminou



Olá, amigos.

Em um capítulo à parte após a série que enumerou em décadas a carreira de Roberto Carlos, este que vos escreve aproveita hoje para fazer um paralelo entre RC e a obra de um grande escritor e jornalista do nosso país. Trata-se de ZUENIR VENTURA.

Recentemente, Zuenir concluiu a obra 1968 - O que foi feito de nós, um novo olhar sobre o ano já abordado no livro que lançou duas décadas antes - 1968 - O ano que não terminou. Após, no primeiro livro, contar com detalhes alguns momentos do fatídico 1968, o autor aproveitou a nova edição de seu livro para fazer um panorama sobre o que teria sido feito de todos nós.

O calendário de fatos que marcaram a história universal traz muitas datas acontecidas no ano de 1968. Com o mundo em ebulição em plena Guerra Fria, movimentações políticas apresentaram à população dados não muito agradáveis para serem lembrados no decorrer dos tempos.

A Guerra do Vietnã quase adentrava em seu décimo ano, com as tropas americanas invadindo o território de Saigon. Enquanto a invasão dos Estados Unidos prosseguia, os estudantes norte-americanos prosseguiam seus protestos contra a carnificina ocidental, mas a guerra ainda estaria longe de acabar.

Neste ano, o mundo perdeu também Martin Luther King, e a luta pela igualdade social teve um ativista a menos para batalhar pela paz entre os homens - assassinado a mando de pessoas que mantinham a idéia de segregração racial. Nos Estados Unidos, outro atentado matou Robert Kennedy, na Califórnia.

Mas o ano que não terminou guardava ainda algumas gratas surpresas. As Ilhas Maurício e a Suazilândia se tornaram países independentes, e este ano se tornaria um marco para o cinema, com o lançamento de 2001 - A odisséia do espaço, de Stanley Kubrick.

O Brasil também vivia momentos alarmantes, em uma cronologia que anunciava os tempos obscuros que viriam a partir de 1968. Ainda tendo no poder o general Artur da Costa e Silva, aos poucos a Ditadura Militar afiava suas garras, tornando-se cada vez mais repressora e sem limites em seus atos: a 28 de março, o estudante Edson Luiz de Lima Souto, de 16 anos, foi assassinato no restaurante Calabouço, no Rio de Janeiro - e, ao contrário do que se supunha, o menino não participava de lutas armadas.

O incidente criou uma mobilização social, apresentada politicamente através do deputado Márcio Moreira Alves. Em 3 de setembro, o jornalista (pertencente ao MDB, então partido de oposição ao governo - a "situação" do poder era representada pela sigla ARENA) apresentou um discurso em oposição áspera aos militares. Moreira Alves teve seus direitos cassados.

No dia 13 de dezembro de 1968, o presidente Artur da Costa e Silva decretou o Ato Institucional Número 5 - AI-5. Com o novo ato, estavam instituídos o fechamento do Congresso, a intervenção em estados e municípios, a permissão de o presidente decretar estado de sítio, suspensão do habeas-corpus para crimes políticos, além de impor a censura prévia.

A Música Popular Brasileira passaria a precisar de novas artimanhas para ter seu direito de se expressar em letra e música. Artistas como Chico Buarque, Caetano Veloso e Geraldo Vandré seriam alguns nomes conhecidos a conviver com perseguições políticas e a censura implacável.

Em meio a este panorama, Roberto Carlos vivia sua própria revolução. Depois de encerrado o doce período das "jovens tardes de domingo", quando o programa Jovem Guarda teve seu fim decretado graças à superexposição da mídia que tanto ajudara sua disseminação, ele agora buscava novos ares, novos caminhos musicais.

E seu barco foi aportar em San Remo, de onde trouxe o prêmio máximo do festival apresentado na cidade, graças à interpretação de Canzone per te, bela música de Sergio Endrigo e Sergio Bardotti. O show da era "jovem-guardista" já tinha terminado, era hora de voltar à realidade de um cantor em busca de sua verdade. E eis que, em meio a tantos sósias e pretendentes de seu lugar no cenário musical brasileiro, Roberto Carlos se declarou O inimitável, apresentando em 12 músicas tudo o que sabia cantar e fazer.

Do romantismo de E não vou mais deixar você tão só e Ninguém vai tirar você de mim, passando pela dor-de-cotovelo de Não há dinheiro que pague, O tempo vai apagar e Quase fui lhe procurar, as declarações de amor exaltadas de Eu te amo, te amo, te amo e quase infantis como em É meu, é meu, é meu, a doce balada As canções que você fez pra mim, as raivosas Nem mesmo você e Ciúme de você, a introspecção de Madrasta. Todos os estilos de música atendiam pelo nome de Roberto Carlos.

E foi na voz da soul music que RC deixou sua marca em 1968, o ano que não terminou. Em música assinada em parceria com Erasmo Carlos, Roberto mostrava que daqui pra frente tudo seria - e foi - diferente. E comprovava que, em letra, música e novos caminhos de seu repertório, o bom é ser feliz e mais nada.

Segue a letra! Na foto, Roberto Carlos em um raro registro, do fugaz momento em que usou bigode. Coisas de 1968, o ano que não terminou.

Abraços a todos, Vinícius.

SE VOCÊ PENSA - Roberto e Erasmo

Se você pensa que vai fazer de mim
O que faz com todo mundo que te ama
Acho bom saber que pra ficar comigo
Vai ter que mudar...

Daqui pra frente
Tudo vai ser diferente
Você tem que aprender a ser gente
O seu orgulho não vale nada, nada...

Você tem a vida inteira pra viver
E saber o que é bom e o que é ruim
É melhor pensar depressa e escolher
Antes do fim

Você não sabe
E nunca procurou saber
Que quando a gente ama pra valer
Bom mesmo é ser feliz e mais nada, nada

Nada, nada...

4 comentários:

Anônimo disse...

Ótima sua narrativa; fico encantada. E o disco, INIMITÁVEL, é mesmo um marco para um novo caminho a ser seguido.
Um abraço,
Leda Martins.

James Lima disse...

Grande Vinícius ! Um texto belíssimo ! Realmente o ano de 1968 foi um ano bastante controvérsio e sem dúvida alguma, inesquecível, na história dos seres humanos civilizados.

Abraços
James
www.rcbraga.vai.la

Anônimo disse...

É um disco legal, o inimitável e creio que para os que viveram sua época, ele é inesquecível.

Mas, confesso que particularmente, tenho anos e discos que destacaria até mais que esse de 1968. O ano em si foi históricamente inesquecível mesmo com esses fatos que você narrou e tantos outros...

Blog Música do Brasil
www.everaldofarias.blogspot.com

Um forte abraço!

Felipe Moura disse...

Que Ano! Sempre disse que queria ter nascido neste ano, mas aprendi a me corrigir: Queria, ter vivido este ano de 1968.

Afinal foi aí que aconteceu grandes fatos políticos no Brasil e no mundo, e aí que Roberto Carlos atingiu uma nova maturidade músical.

Abraços!

Felipe Moura
www.reyrobertocarlos.blogspot.com