segunda-feira, 5 de maio de 2008

Crônicas da vida - COMEÇO, MEIO E...



Olá, amigos.

Em mais um momento que faz parte de Crônicas da vida, este que vos escreve hoje apresenta um texto mais "ambicioso" a partir da discografia de Roberto Carlos. Em vez de fazer uma crônica que faz alusão a uma das canções que RC gravou, o texto de hoje arrisca contar uma história em começo, meio e fim - tendo como trilha musical a voz de Roberto Carlos.

Segue o texto! Na foto, Roberto Carlos durante a década de 1990. Ratifico aqui a certeza de que quero MUITO saber da opinião de vocês, foi um dos textos que me dediquei com mais afinco para que agradasse a todos.

Abraços a todos, Vinícius.

***

COMEÇO, MEIO E...

Achava que aquela festa ia ser mais um momento de ir a um lugar pra chegar lá e jogar conversa fora com meus amigos até altas horas, mas, mesmo a contragosto (e excluído, tanto por meu coração estar sozinho em meio a casais apaixonados quanto por me sentir ridículo naquele terno de pingüim), acabei indo lá. Primeiros instantes do baile, e o panorama parecia ser o que eu previa (e temia), eu na companhia da minha solidão. Até que meus olhos foram tomados por um brilho que jamais adentraram antes na minha vida.

Parou... olhou
Depois sorrindo se afastou
O meu coração se enamorou
E acho que eu me apaixonei


O baile podia prosseguir, as músicas podiam mudar, mas daquele momento em diante todos os meus sentidos seriam em direção a ela. Por mais que seu olhar jamais tivesse dialogado com o meu, o simples fato de seus olhos terem repousado por um instante nos meus seria uma lembrança para carregar por toda vida.

Eu me encaminhava para pegar mais uma bebida, quando ela tomou a minha frente. Sorria. Ao fundo começava uma música lenta. Não dissemos uma palavra. A abracei pela cintura, tomei sua mão e passeamos pelo salão. Parecia que meu mundo passeava apenas por um caminho - que era ela que trilhava. A música vinha apenas do lirismo que ela apresentava em cada um de seus gestos. E eu a sentia, junto de mim pela primeira vez, mas querendo guardar cada momento como se fossem os últimos segundos de alegria da minha vida.

Me abrace mais forte
Não se importe com os outros casais
Que bom se essa música
Não terminasse jamais


Mas a música acabou. Olhei-a mais uma vez, querendo guardar cada detalhe de seu semblante. Meus olhos, marejados, já notavam que havia outras pessoas no salão. Esboçava uma despedida cordial, quando ela me puxou pelo braço, até uma varanda. A Lua, minguante, assistiria ao acontecimento que meus olhos não deixaram ver, mas meus outros sentidos mostraram para mim cada detalhe de todo sentimento que se iniciava naquele instante.

Aquele beijo que te dei
Nunca, nunca mais esquecerei
A noite linda de luar
Lua, testemunha tão vulgar


O dia amanheceu sem nós dois nos darmos conta. Naquela hora já achávamos que a noite era linda demais para ter fim. E então decidimos que teríamos mais noites, e mais dias, lado a lado.

A namorada à minha espera
Meu refúgio, meu regresso
Minha vida, meu amor...


Desde então, vivemos declarações de amor ditas apenas através de uma troca de olhares. Que cada vez ficavam mais sérios, fazendo com que eu buscasse palavras cuidadosamente escolhidas para conhecer um pouco mais:

Eu te proponho
Nós nos amarmos
Nos entregarmos...


E eu ouvia a resposta, em tom de suplício, já que as convenções aparentemente não permitiam:

Falando sério
É bem melhor você parar com essas coisas
De olhar pra mim com olhos de promessas
Depois sorrir, como quem nada quer


Aos poucos, enxergando ainda mais a alma um do outro, e sabendo que cada passo que déssemos de comum acordo seria um momento a mais para anotar em nossas lembranças. Enfim, nos casamos e sentimos os sabores da nossa lua-de-mel.

Numa noite inesquecível
Controlar foi impossível
Tudo aquilo a sós
A primeira vez
O amor se fez...


Seria a primeira das muitas noites que passamos bem acompanhados. Fazendo de nós apenas um só, entre suspiros, delírios, sussurros de mais outras noites que demorariam a acabar...

Vou cavalgar por toda noite
Por uma estrada colorida
Usar meus beijos como açoite
E minha mão mais atrevida




No seu corpo é que eu encontro
Depois do amor, o descanso
E essa paz infinita




Chovia lá fora
E a capa pendurada
Assistia a tudo
E não dizia nada




E na grandeza desse instante
O amor cavalga sem saber
Que na beleza dessa hora
O sol espera pra nascer


Tendo sempre esse cheiro do amor meu e dela e que virou nosso. Na certeza de que éramos almas que se encontraram por acaso, e que apresentamos um ao outro a beleza de amar e de ser amado.

Cada parte de nós tem a forma ideal
Quando juntas estão, coincidência total
Do côncavo e o convexo
Assim é nosso amor...


Algum tempo depois de nos mudarmos para nossa casa, descobrimos que íamos ter o nosso primeiro filho. E ela parecia ainda mais bonita nesta nova maneira de ser mulher.

Você é linda
Esperando neném...


Mas na nova vida familiar, conheceríamos nossas primeiras brigas. E começaríamos a aprender que as dissidências ficam maiores quando há uma vida em comum. Ainda mais quando tivemos mais filhos, e eu tive de passar a disputar a atenção com eles.

Quando as crianças saírem de férias
Talvez a gente possa então se amar
Um pouco mais...


Procuramos amenizar com viagens, com tentativas de deixar de lado as questões. Só que os problemas continuam, e às vezes ficam mais fortes. E do meu lado da cama, eu refletia:

Por que me arrasto a seus pés?
Por que me dou tanto assim?
E por que não peço em troca?
Nada de volta pra mim!


Ela me dizia, todos os dias:

Você não me fala
Mas bem que eu pressinto
Existe algo errado
Entre nós dois


Aos poucos, vivíamos o lado modorrento de uma solidão a dois. O amor que tinha nos unido agora era o culpado para esta obrigação que se tornara nossa vida.

Sem motivos, vou vivendo por aí
Por viver
Meus valores tão confusos
Reprimidos por você


E naquele maldito dia, enfim decidi tomar a iniciativa. Com os olhos fechados para o passado que tínhamos sido, talvez para que a dor da separação latejasse menos, eu anunciei:

Não se culpe, eu aprendi
O sentimento ninguém domina
Te agradeço, eu fui feliz
Mas o meu sonho de amor termina


Tentei reaprender a andar sozinho. Mas toda vez que eu achava ter me recuperado da ausência, eis que vinha sua voz, ao telefone:

Como vai você?
Eu preciso saber da sua vida
Peça a alguém pra me contar sobre o seu dia
Anoiteceu e eu preciso só saber...


Dessa vez, era para dizer uma coisa rápida:

As flores do jardim da nossa casa
Morreram todas
De saudade de você


O que parecia ser nostalgia, eu traduzia em péssimas lembranças. Se para ela eu era uma boa saudade, para mim, ela continuava a acenar com uma esperança que jamais iria se concretizar. Decidido a deixar de lado este sentimento, falei:

Acabe com essa droga de uma vez
Não, não volte nunca mais pra mim


E ouvi como resposta, com certo alívio:

Tente esquecer de você
Que um dia me amou


E eu esqueci. Depois de anos de casado, sem intenção de construir uma vida, por mais bonita que fosse uma vida a dois, também decidi viver sozinho. Claro que, sempre tendo companhia também dos meus filhos que costumam me visitar. De repente, ser livre não me assustava mais.

Eu pensava isso. Exatamente até as cinco e meia da tarde de hoje, quando esse turbilhão de sensações, de lembranças, de alegrias e dissabores vieram à minha cabeça.

Você passou pela rua
E o passado voltou a lembrar seus abraços
E mais uma vez eu te amei
E lembrei de você linda e nua em meus braços

Quase que chamei você
Mas olhei pra mim mesmo e parei nos meus passos
De tanta saudade percebi que um homem
Também sabe chorar


E me fizeram agora te ligar a essa hora da noite pra que eu depois de te dizer todas essas coisas, terminasse a ligação com essa pergunta. Será que ainda posso pensar em conquistar você pela segunda vez?

Eu sei que eu tenho um jeito
Meio estúpido de ser
Mas é assim que eu sei te amar


***
Músicas citadas (por ordem):

PAREI...OLHEI - Rossini Pinto
MÚSICA SUAVE - Roberto e Erasmo
AQUELE BEIJO QUE TE DEI - Édson Ribeiro
A NAMORADA - Maurício Duboc e Carlos Colla
PROPOSTA - Roberto e Erasmo
FALANDO SÉRIO - Maurício Duboc e Carlos Colla
A PRIMEIRA VEZ - Roberto e Erasmo
CAVALGADA - Roberto e Erasmo
SEU CORPO - Roberto e Erasmo
OS SEUS BOTÕES - Roberto e Erasmo
O CÔNCAVO E O CONVEXO - Roberto e Erasmo
VOCÊ É LINDA - Roberto e Erasmo
QUANDO AS CRIANÇAS SAÍREM DE FÉRIAS - Roberto e Erasmo
DESABAFO - Roberto e Erasmo
EXISTE ALGO ERRADO - Maurício Duboc e Carlos Colla
VIVENDO POR VIVER - Márcio Greyck e Cobel
SUPER-HERÓI - Roberto e Erasmo
COMO VAI VOCÊ? - Antônio Marcos e Mário Marcos
AS FLORES DO JARDIM DA NOSSA CASA - Roberto e Erasmo
DO FUNDO DO MEU CORAÇÃO - Roberto e Erasmo
TENTE ESQUECER - Isolda
MAIS UMA VEZ - Maurício Duboc e Carlos Colla
UM JEITO ESTÚPIDO DE TE AMAR - Isolda e Milton Carlos

2 comentários:

Anônimo disse...

Nossa Vinícius!! Que LINDO!!! Meus olhos encheram-se de lágrimas! Seu dedilhar nas teclas do computador, nos deixa envolvidos em emoção.
Parabéns!
Um forte abraço.
Leda Martins.

Anônimo disse...

Linda Vinícius, esta sua crónica intitulada "Começo, meio e...".
E será que o amigo vai mesmo continuá-la ?
É que ficou um apetite enorme de "mais"!...
Será que ele volta a conquistá-la ? Esta é a pergunta que fica suspensa no ar e que "exige" o segundo capítulo desta crónica.
Parabéns, está espectacular!... Valeu a pena o seu empenho.
Um grande abraço.