terça-feira, 27 de maio de 2008

Casa, esquinas e quintais - 7



Olá, amigos.

A série Casa, esquinas e quintais prossegue contando em letra e música trechos da discografia de Roberto Carlos que falam sobre partes de um lar. E hoje chegamos a uma parte de casa na qual, através dela, somos espectadores do resto do mundo.

A JANELA, definida no Dicionário Aurélio como a abertura da parede para deixar entrar num edifício a luz e o ar, aparece em situações interessantes no cancioneiro gravado por RC. Trata-se, inclusive, de um objeto mencionado em todas as décadas de sua discografia.

O primeiro momento vem ainda no LP É proibido fumar, de 1964, quando ele recomenda que as janelas estejam fechadas para evitar que o leão à solta não se torne um vizinho indesejável na música Um leão está solto nas ruas, assinada por Rossini Pinto. Quatro anos depois, na canção Madrasta, de Beto Ruschel e Renato Teixeira (do LP O inimitável), ele avisava à "bem vinda" madrasta que o vale verde se dá por trás das janelas de sua casa e de seu pai.

Das janelas cantadas por RC também pode-se ver as muitas flores e sua mãe dizendo num sorriso e na lágrima o aviso de ter cuidado na partida pro futuro, na sincera O divã (do LP lançado em 1972). A menina, botão em flor se abrindo para conhecer o primeiro amor nos versos de A menina e o poeta (surpreendente canção assinada por Wando, do disco de 1976), o "broto" Susie (primeira canção que Roberto assinou e gravou, ainda para o compacto de 1959) ou o rosto da mulher que vira sua cabeça dos versos de Obsessão (presente no LP de 1993).

As janelas se abrem para a chegada de quem estava num exílio voluntário ou não e retorna para seus pés tocarem a areia branca. Elas foram algumas das partes que Roberto e Erasmo usaram para homenagear Caetano Veloso na época de seu exílio em Londres, na letra de Debaixo dos caracóis dos seus cabelos, lançada no emblemático LP de 1971.

Na janela vêm muitos sentimentos, desde a certeza do cotidiano presente em Rotina (última faixa do LP de 1973), na qual ele imagina a água morna do chuveiro deslizando no corpo da esposa e respingando gotas coloridas no vidro, até ser o lugar por onde uma pessoa religiosa olha o céu e encontra a presença de Jesus (como mostra Jesus Salvador, do LP de 1994). Das frestas da janela podem exalar o amor extremo de Tudo pára (de 1981) e o frio da solidão de Você já me esqueceu (de autoria de Fred Jorge, e gravada por RC em 1972). E é pelas vidraças que um abandonado consegue transmitir o tanto que sofreu pela espera de quem sempre achou que voltava, como dizem os versos de Ivor Lancellotti para a bela música Abandono, gravada por Roberto em 1979.

Mas dentre todas as janelas escritas ou gravadas por Roberto Carlos, certamente a mais emblemática vem do ano de 1972. Nos versos de Roberto e Erasmo que abrem o disco daquele ano, ela é a personagem-título e a metáfora que separa a segurança de casa da liberdade do horizonte de uma estrada.

Segue a letra! Na foto, Roberto Carlos em show da década de 1970.

Abraços a todos, Vinícius.

À JANELA - Roberto e Erasmo

Da janela o horizonte
A liberdade de uma estrada eu posso ver
O meu pensamento voa livre em sonhos
Pra longe de onde estou

Eu às vezes penso até onde essa estrada
Pode levar alguém
Tanta gente já se arrependeu e eu
Eu vou pensar, eu vou pensar

Quantas vezes eu pensei sair de casa
Mas eu desisti
Pois eu sei lá fora eu não teria
O que eu tenho agora aqui

Meu pai me dá conselhos
Minha mãe vive falando sem saber
Que eu tenho meus problemas
E que às vezes só eu posso resolver

Coisas da vida...
Choque de opiniões...
Coisas da vida...
Coisas da vida...

Novamente eu penso ir embora
Viver a vida que eu quiser
Caminhar no mundo enfrentando
Qualquer coisa que vier

Penso andar sem rumo
Pelas ruas, pela noite sem pensar
No que vou dizer em casa
Nem satisfações a dar

Coisas da vida...
Choque de opiniões...
Coisas da vida...
Coisas da vida...

Penso duas vezes me convenço
Que aqui é o meu lugar
Lá fora às vezes chove
E é quase certo que eu vou querer voltar

A noite é sempre fria
Quando não se tem um teto com amor
E esse amor eu tenho mas me esqueço
Às vezes de lhe dar valor

Coisas da vida...
Choque de opiniões...
Coisas da vida...
Coisas da vida...

Tudo tem seu tempo
E uma vida inteira eu tenho pra viver
E nessa vida é necessário a gente
Procurar compreender

Coisas que aborrecem
Muitas vezes acontecem por amor
E esse amor eu tenho esquecido às vezes
De lhe dar valor

Coisas da vida...
Choque de opiniões...
Coisas da vida...
Coisas da vida...

3 comentários:

Anônimo disse...

À Janela, é uma linda canção. Quando eu era adolescente, ouvia muito essa música. É umas das que mais gosto desse disco.
Um abraço,
Leda Martins.

Anônimo disse...

Essa canção é um filosofia sempre atual. Sempre haverá conflito de gerações e pensamentos, pais e filhos. Mas, cabe aí pondera a vontade com a experiência dos cabelos brancos!
O rei já afirmou que adora janelar...

Blog Música do Brasil
www.everaldofarias.blogspot.com

Um forte abraço!

Blog El Rey Roberto Carlos disse...

À janela me remete sempre a estes sentimentos que sentimos na adolescência! Contradições, fugas da realidade...

O Rei foi claro!

Abraços!

Felipe Moura
www.reyrobertocarlos.blogspot.com