segunda-feira, 19 de maio de 2008

Casa, esquinas e quintais - 3





Olá, amigos.

A série Casa, esquinas e quintais, que traz detalhes de uma vida de letra e música contadas em vários cômodos de uma habitação chega a uma nova parte que o cancioneiro de Roberto e Erasmo abrangeu. Primeiro, mostramos aquela casa simples, para, em seguida chegarmos em frente ao portão.

No texto de hoje ainda não adentramos na casa, pois a safra assinada por Roberto Carlos e Erasmo Carlos dedicou seus versos a um espaço peculiar que serve para tornar ainda mais exuberante a casa. Afinal, é no JARDIM que ficam as flores e as plantas, seja para enfeitar ou para utilizar em alguma eventualidade.

Mas este jardim apareceu na discografia de RC num contexto em que a música era um misto de homenagem e de resistência. No livreto As canções que mais gosto, publicado em 1972 encartado na revista Contigo, Roberto recordou o momento em que escreveu esta música:

"Esta eu fiz num hotel de Amsterdã, na Holanda. Segundinho estava no hospital submetendo-se a uma intervenção cirúrgica na vista. Eu, muito abatido e torcendo para que tudo desse certo com meu filho, comecei a escrever a letra. Segundinho é um menino saudável e a música ficou como uma das grandes recordações da minha vida".


No LP que apresentou suas primeiras gravações inspirado pelo estilo da soul music, em especial nas gravações de Não vou ficar, As curvas da Estrada de Santos e Sua estupidez, a faixa de abertura traz RC em um momento muito introspectivo do cantor. Apesar de ser creditada a co-autoria a Erasmo Carlos, o "Tremendão" declarou, em uma entrevista, que a canção foi praticamente escrita por Roberto. Não é o único exemplo desta parceria que está na Música Popular Brasileira - em alguns casos, inclusive, aconteceu de um deles escrever praticamente toda a música, mas o outro gravar (como Eu sou fã do monoquíni, gravada por Roberto, e É preciso dar um jeito, meu amigo, que Erasmo Carlos gravou).

Do inverno da Holanda veio a nostalgia das flores do jardim da casa - uma forma de amenizar o receio pelas conseqüências da primeira dentre as muitas intervenções cirúrgicas que Segundinho sofreria na vista. Na lembrança deste cômodo da casa vinha a busca pela certeza de que um novo jardim viria a reflorir em sua vida.

Segue a letra! Na foto, o registro presente no pôster que veio dentro do LP de RC em 1969.

Abraços a todos, Vinícius.

AS FLORES DO JARDIM DA NOSSA CASA - Roberto e Erasmo

As flores do jardim da nossa casa
Morreram todas de saudade de você
E as rosas que cobriam nossa estrada
Perderam a vontade de viver

Eu já não posso mais
Olhar nosso jardim
Lá não existem flores
Tudo morreu pra mim

Não, não, não, não posso mais
Olhar nosso jardim
Lá não existem flores
Tudo morreu pra mim

As coisas que eram nossas se acabaram
Tristeza e solidão é o que restou
As luzes das estrelas se apagaram
E o inverno da saudade começou

As nuvens brancas escureceram
E o nosso céu azul se transformou
O vento carregou todas as flores
E em nós a tempestade desabou

Eu já não posso mais
Olhar nosso jardim
Lá não existem flores
Tudo morreu pra mim

Não, não, não, não posso mais
Olhar nosso jardim
Lá não existem flores
Tudo morreu pra mim

Mas não faz mal
Depois que a chuva cair
Outro jardim um dia
Há de reflorir...

Eu já não posso mais
Olhar nosso jardim
Lá não existem flores
Tudo morreu pra mim

Não, não, não, não, não posso mais
Não posso mais
Olhar nosso jardim
Lá não existem flores
Tudo morreu pra mim...

4 comentários:

Anônimo disse...

O Lp de 1969, foi o primeiro que tive. É um dos meus favoritos. E a música citada, é belíssima.
Um forte abraço!
Leda Martins.

Anônimo disse...

Essa canção é emblemática, e as flores são o cartão postal de uma residência, sobretudo pela paz que apresentam!

Abraços Vinícius!

James Lima disse...

Nota mil ! Eu amo essa canção. Super marcante, super emblemática. Muito boa mesmo, bicho. Além do texto que vc escreveu, que tá ótimo, e a série, super interessante.

Abraços!
James
www.rcbraga.vai.la

Anônimo disse...

Nem sempre é fácil acompanhar o raciocínio do poeta.

Que escadas de luzes e cicatrizes ele precisou percorrer para construir o simbolismo da morte das flores com o apagar da luz da esperança dos olhos de um filho.

E o mais genial de tudo, é tecer as palavras certas para sensibilizar cada ser humano como se a música fosse feita sob medida para a sua tristeza pessoal.

Fabiano Cavalcante
www.aplauso.zip.net