domingo, 25 de maio de 2008

Casa, esquinas e quintais - 6




Olá, amigos.

A série Casa, esquinas e quintais continua a procurar na discografia de Roberto Carlos canções que falam sobre partes de um lar. E depois de atravessar a porta no post anterior, hoje começamos a reparar alguns detalhes de dentro de casa.

A começar pelas PAREDES. A parede é uma obra que serve como limitação de um espaço, vedando o ponto de vista do exterior sobre uma casa ou um quarto.

Elas aparecem no repertório de RC como demonstração de intimidade de um casal. Na canção O amor é a moda, que abre o LP de 1983, Roberto e Erasmo revelam a certeza de que os casais fazem com que o amor esteja sempre na moda quando estão "pelos cantos escuros das ruas e entre quatro paredes bem mais".

Mas as paredes se fazem mais presentes em seu repertório com outras conotações: a de abrigar um desiludido amoroso e também transmitir a certeza de que tudo está terminado. No samba Só você não sabe (de 1989), a dor da solidão fica tão forte a ponto de quando está em casa ficar só no quarto e falar com as paredes.

Em Comentários (de Maurício Duboc e Carlos Colla e presente no LP de 1976), o final de um relacionamento vem com o apelo para que o que houve "entre quatro paredes" não seja revelado a outras pessoas, pois, como dizem os primeiros versos da canção: "eu só quero pedir pra você evitar comentários". Já na raivosa Jogo de damas, parceria dos irmãos Isolda e Milton Carlos gravada no LP de 1974, os segredos da dama que hoje "vestem de santa" correm o risco de vir à tona, e ficam mais fortes quando RC canta, de maneira calmamente ameaçadora: "conheço as paredes que guardavam segredos". Enquanto isso, o lamento de Recordações (assinada por Édson Ribeiro e Helena dos Santos para o LP de 1982), a falta que a pessoa faz se torna mais forte quando se vê ao redor "paredes nuas e lembranças que são suas".


A parede também está em uma canção apresentada anteriormente. Nos versos de O portão, de 1974, RC torna a nostalgia ainda mais forte por causa da parede que traz seu retrato "meio amarelado pelo tempo". Seu disco de 1989 trouxe espaço para falar de paredes conhecidas internacionalmente: naquele ano, ele deu sua versão para o clássico português Nem às paredes confesso, de Maximiano de Souza, Francisco Trindade e Artur Ribeiro, nos belos e eternos versos "de quem eu gosto nem às paredes confesso".

Entretanto, nenhuma canção é tão forte quanto a que ele lançou em seu LP de 1975. Nos versos de Beto Ruschel e Cézar das Mercês, Roberto revelou aos seus ouvintes a história de uma moça que se fechava em seu quarto de dormir e sua imaginação apresentava de noite desenhos na parede. Talvez em uma das melhores interpretações de sua discografia, a misteriosa menina que via desenhos na parede do quarto teve seus sonhos desenhados em belíssimas letra e música que merecem ser descobertas.

Segue a letra! Na foto, uma parte da contracapa do disco lançado em 1975.

Abraços a todos, Vinícius.

DESENHOS NA PAREDE - Beto Ruschel e Cézar das Mercês

Ela se fechava
No seu quarto de dormir
Como uma flor
Se guardando para o sol

E dos seus sonhos, acordava no meio da noite
E cada sombra na parede desenhava alguém
Que chegaria com as primeiras luzes da manhã
Sempre a manhã

E cada sombra na parede desenhava alguém
Que chegaria com as primeiras luzes da manhã...

E dos seus sonhos acordava no meio da noite
E cada sombra na parede desenhava alguém
Que chegaria com as primeiras luzes da manhã
Sempre a manhã

E cada sombra na parede desenhava alguém
Que chegaria com as primeiras luzes da manhã...

E cada sombra na parede desenhava alguém
Que chegaria com as primeiras luzes da manhã...

Quando a luz do sol
Lentamente aparecer
Só irá mostrar
Cada coisa em seu lugar...

4 comentários:

Anônimo disse...

Muito interessante o tema "paredes" desta série "Casa, esquinas e quintais". Não imaginava que o Rei tivesse tantas canções com a palavra "paredes" nas suas diferentes acepções.
Simbolicamente "parede" é sempre um aprisionamento pois, seja de que lado estivermos, a liberdade está sempre do outro lado dela.
As "paredes" do sonho, e isto para me referir à linda letra da canção "Desenhos na parede", são feitas para serem transpostas. Elas funcionam como agente provocador que nos incita a transpô-las para acedermos ao natural, para encontrarmos a nossa liberdade, para a realização do nosso "Eu".
Desculpe toda esta "vã filosofia"!... mas adorei este post.
Um grande abraço.

Anônimo disse...

Essa música é muito bonita. Aos 10 anos de idade, ganhei este Lp do meu tio; e ficava dançando a regravação de "QUERO QUE VÁ TUDO PRO INFERNO". Desenhos na Parede tem muito significado pra mim.
Um forte abraço,
Leda Martins.

Anônimo disse...

Neste blog ninguém fica entre a espada e a parede.

O mais que pode acontecer é ficar-se a pensar na riqueza de textos que aqui são postados.

Este texto, da série “Casas, esquinas e quintais”, é um bom exemplo disso.

Abraços robertocarlisticos

Anônimo disse...

Acho essa canção a mais mística, mais confusa em termos de pensamento que o Roberto interpretou, mas toda casa tem de haver paredes...

Blog Música do Brasil
www.everaldofarias.blogspot.com

Um forte abraço!