sexta-feira, 9 de maio de 2008

Post especial - ARTUR DA TÁVOLA, 72 anos




Olá, amigos.

Este blogue excepcionalmente traz um novo post no dia de hoje. Esperamos a compreensão de todos os que acessam este espaço, mas, certamente, é por um motivo especialíssimo que abrange a carreira de Roberto Carlos.

Na tarde de hoje, o Brasil se despediu de um ícone da política, do jornalismo e de sua poesia. Aos 72 anos, faleceu Paulo Alberto Moretzsohn Monteiro de Barros, ou apenas ARTUR DA TÁVOLA.

Natural do Rio de Janeiro, Artur era o radialista Paulo Alberto em seu início de carreira. Entretanto, o golpe militar de 1964 fez com que ele saísse do país. Quatro anos depois, retornou ao Brasil, mas, por conta da perseguição que sofria pelos militares, passou a assinar com o nome pelo qual foi conhecido durante boa parte de sua vida - o nome do rei dos Cavaleiros da Távola Redonda.

Como político, iniciou sua trajetória em 1960, ainda pelo Partido Trabalhista Nacional (PTN), no antigo estado da Guanabara. Dois anos depois, ele migraria para o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), se destacando por ser um político discreto.

Anos mais tarde, se tornaria um dos fundadores do Partido Social da Democracia Brasileira (PSDB), chegando a ser presidente dele entre os anos de 1995 e 1997. Távola por muitas vezes tentou ser candidato a cargos mais importantes no Rio de Janeiro - a prefeito da cidade do Rio de Janeiro em 1996 (mas o partido decidiu que Sérgio Cabral Filho seria o candidato) e a governador do estado do Rio de Janeiro em 1998 (sendo preterido para entrar em seu lugar Luiz Paulo Corrêa da Rocha). No ano de 1999, ele optou pelo desligamento do partido, que, segundo ele, estava "se distanciando dos ideais de sua fundação".

Ao lado de sua trajetória política, que incluiu dois mandatos como deputado federal e dois mandatos como senador (ambos os cargos pelo estado do Rio de Janeiro), Artur da Távola manteve seu trabalho como jornalista. Além de ter sido diretor por muitos anos da Rádio Roquette Pinto, foi colunista dos jornais O Dia e O Globo. Na TV Senado, apresentou o programa Quem tem medo de música clássica?, falando sobre música erudita.

Sua ligação com a Música Popular Brasileira viria no ano de 1986. No Roberto Carlos Especial daquele ano, além de convidados como Tom Jobim, Erasmo Carlos, Ranchinho, Gal Costa e as duplas Chitãozinho & Xororó e Christian & Ralph, Roberto abriu espaço para ter em seu programa as participações luxuosas de mestres da literatura brasileira na redação de seu especial. As palavras deles apresentavam números interpretados por RC: o poeta cachoeirense Rubem Braga fez o texto de apresentação para Aquela casa simples (o texto foi narrado pela atriz Patrícia Pillar), e coube a Ferreira Gullar falar sobre o Brasil no texto (dito pelo próprio Roberto) que antecedia um número de A guerra dos meninos feito no Palácio do Planalto, em Brasília.

E Artur da Távola presenteou a todos que acompanharam o programa com palavras belíssimas sobre um tema presente no LP que Roberto Carlos lançou em 1986. Na voz da atriz Glória Pires, vieram as belas palavras de Artur da Távola:

"Só quando o homem vivencia a morte descobre o verdadeiro valor da vida. A humanidade precisou construir artefatos de morte em massa pra perceber que a vida é o bem supremo. Precisou poluir matas e rios para melhor entender a natureza.

Precisou armar o apocalipse, para compreender o significado de uma flor. Precisou matar os rios, para vivenciar a destruição como um mal. Precisou afundar-se na violência, para reinventar o gesto de amizade e paz.

Talvez o homem só aprenda pelo contraste. Sem conflito entre decisões, idéias e conceitos, não aparece a maravilha da liberdade. O apocalipse é o oposto sombrio da proclamação da vida. A vida é mais forte que a morte, o amor que o ódio, a liberdade que a prisão, a esperança que a depressão. O homem matará o apocalipse de amor".

Assim como o texto de Távola, os versos da música de Roberto e Erasmo (que abre o LP lançado em 1986 por Roberto Carlos) permanecem atuais. O apocalipse permanece sendo escrito, em tempos de dor e de falta de amor que culminam em casos alarmantes de violências, crimes e até mesmo de atos impensáveis como a morte de uma criança pelo próprio pai.

Segue a letra! Na foto, Artur da Távola, 72 anos.

Abraços a todos, Vinícius.

APOCALIPSE - Roberto e Erasmo

Perto do fim do mundo
Como negar o fato?
Como pedir socorro?
Como saber exato?

O pouco tempo
Que resta
Só vai sobrar
O que presta

Perto do fim do mundo
Quem quer correr não pode
Onde há fumaça, há fogo
Quando a verdade explode

Muitos não querem ver
Mentes em eclipse
Mas tudo está escrito
No apocalipse

Olho os jornais e estremeço
Todo final tem seu começo
Taças amargas derramadas
Profecias confirmadas

Alertam
Que é o fim da estrada
Tempo de dor
Falta de amor

Perto do fim do mundo
Drogas num mar sem porto
A violência, o crime
Na aprovação do aborto

Por tudo isso
Se a Terra treme
Só quem não deve
Não teme

Olhos os jornais e estremeço
Todo final tem seu começo
Taças amargas derramadas
Profecias confirmadas

Alertam
Que é o fim da estrada
Tempo de dor
Falta de amor

Pra quem seguir seus passos
E o seu amor profundo
Ele virá trazendo
A luz de um novo mundo

Perto do fim do mundo
Como negar o fato...

5 comentários:

James Lima disse...

É bicho. Foi justa, bem justa, essa interrupção em homenagem ao grande Artur da Távola. Que Deus o tenha em um bom lugar e o abençoe.

(E esse texto que antecede "Apocalipse", meu Deus ! Divino !)

Anônimo disse...

Saudades do grande Artur da Távola.
Que ele esteja em bom lugar. Minhas preces ternas e eternas.
Um abraço,
Leda Martins.

Anônimo disse...

Artur da Távola é um desses gênios das palavras, que conseguem misturar várias delas e ter como resultado uma frase de impacto e efeito devastador, simplesmente por nos fazer refletir.

O livro "Mevitevendo" foi o primeiro de sua autoria que li. Acomapnhei suas colunas na Folha de São Paulo por bom par de anos.

Seu texto para ilustrar o clipe do Apocalipse no Espoecial de 1986 é um achado.

O tempo vai passar, mas boas palavras permanecerão.

Valeu Artur da Távola, valeu Vinicius.

Fabiano Cavalcante
www.aplauso.zip.net

Unknown disse...

Lindo de ler de se ver vivendo

Sônia Martello disse...

Maravilhoso!!!