quinta-feira, 27 de maio de 2010

O bofe - GREGO SÓ



Olá, amigos.

A série de músicas que Roberto Carlos e Erasmo Carlos fizeram para a trilha da novela O bofe chega ao seu penúltimo post. Este foi o único produto de teledramaturgia que teve músicas feitas exclusivamente por Roberto e Erasmo para sua trama, uma tentativa que Bráulio Pedroso teve de fugir dos padrões da novela brasileira naquele momento.

Em seu início, a teledramaturgia seguia os padrões estipulados por Glória Magadan, uma escritora cubana que viveu nos Estados Unidos e que, lá, teria aprendido as maneiras de se prender o espectador em frente à telinha. Uma delas foi em relação aos atores serem escalados sempre para fazer o mesmo tipo de papel.

As novelas escritas ou supervisionadas por Glória traziam tramas maniqueístas numa realidade distante do cotidiano brasileiro. Os personagens eram condes, duquesas, reis, e as novelas eram passadas em países da Arábia ou do Leste Europeu.



O caso mais emblemático desta época vem de Anastácia, a mulher sem destino. Escrita por Emiliano Queiroz, a novela cada vez mais ficava cara, tanto pela produção se ambientar num lugar distante da realidade nacional quanto por o autor ter muitos amigos. Ele via seus amigos, também atores, desempregados, e chamava eles para fazerem parte da novela.

Abarrotada de personagens, a novela ficava confusa e arrastada a cada capítulo. Emiliano Queiroz foi afastado e caiu nas mãos da autora de radionovelas Janete Clair o "abacaxi" (termo usado por Glória Magadan) de dar um jeito em Anastácia, a mulher sem destino. Após uma noite em claro, seu marido, Dias Gomes, encontrou a solução: como se passava numa ilha, havia grande chance de acontecer um terremoto.

Houve um terremoto devastador, que matou boa parte do elenco da novela, deixando apenas sete personagens para contar a história. Passaram-se 20 anos, surgiram novos personagens, novas tramas e um momento de consagração para Leila Diniz (na foto, em cena da novela), que fez papel de mãe e de filha ao mesmo tempo.



O panorama de novelas de época e fora da realidade começou a mudar na TV Tupi, com as novelas Antônio Maria e Beto Rockefeller e teria seu decisivo capítulo em 1969. Janete Clair assinou Véu de noiva, a primeira da TV Globo a contar uma história sobre a realidade brasileira. Na foto, Cláudio Marzo e Regina Duarte em cena da novela.



Marzo se tornaria um dos galãs da emissora. Seus dois personagens seguintes seriam "bons moços". Em Irmãos Coragem (de Janete Clair, em 1970) fez o papel de Duda, um jogador de futebol do Flamengo e em Minha doce namorada (de Vicente Sesso, no ar em 1971) fez o protagonista Renato. Coincidência ou não, em todas as novelas citadas anteriormente, Cláudio Marzo fazia papel de par romântico da personagem interpretada por Regina Duarte. Na novela Minha doce namorada, Regina chegou ao posto de "namoradinha do Brasil".

Entretanto, Bráulio Pedroso deu a Cláudio Marzo um papel bem diferente. Em vez de um mocinho com aparência de herói, o ator foi escalado para o papel de Demétrius, o Grego, um mecânico que era artista plástico nas horas vagas. O Grego tinha seu talento descoberto por um marchand, e se tornava um artista famoso.

A palavra "bofe" do título da novela era em alusão a Demétrius, pois esta gíria significava na época exatamente o que ele era - um homem feio, mal arrumado e desengonçado. E o personagem foi tema de uma das músicas da novela.

A quinta faixa do lado B do LP descreve em letra a figura do Grego e em música traz o quanto ele é caótico, numa das faixas mais interessantes do disco. A dupla "jovem-guardista" OS VIPS canta a forma como Roberto Carlos e Erasmo Carlos definiram o personagem interpretado por Cláudio Marzo.

Segue a letra! Na foto, Cláudio Marzo como Demétrius, o Grego..

Abraços a todos, Vinícius.

GREGO SÓ - Roberto e Erasmo

Contando histórias
Que ele mesmo inventou
Que a ressaca
Lhe deixou

Apaixonado
Pela deusa que ganhou
E que o mundo
Lhe levou

Quem lhe viu
Grego só
Já sentiu
Seu valor
Muita paz
Seu amor

Mascando a vida
Que a sucata
Lhe inspirou
Já sofreu
E não gostou

Veio pra Terra
Com saudades
Do seu povo
Mas já nasceu
De novo

Quem lhe viu
Grego só
Já sentiu
Seu valor
Muita paz
Seu amor...

Um comentário:

M. Exenberger disse...

A verdade é que as novelas continuam, com raras exceções, desvinculadas da realidade brasileira. Saiu Glória Magadan. Entraram Janete Clair, Ivani Ribeiro etc., que pouco puderam fazer por causa da censura. O tempo passou. Mudaram os cenários, mas a receita é praticamente a mesma, até hoje... Há sempre o casal e um(a)antonista para atrapalhar.