domingo, 31 de maio de 2009

50 anos de emoções - 1980



Olá, amigos.

A série 50 anos de emoções continua a apresentar ano a ano cada parte do cinquentenário da carreira de Roberto Carlos. Hoje, este blogue apresenta o início de mais uma década na estrada musical de RC.

O ano de 1980 mostrou ao mundo como a Guerra Fria continuava com suas tintas fortes. Os Estados Unidos boicotaram as Olimpíadas de Moscou. Felizmente, nem a ausência dos americanos comprometeu a linda festa soviética, nos Jogos Olímpicos que tiveram o ursinho Misha como mascote.

O Brasil já tinha alguns ares de democracia, com as eleições diretas para governadores de estados novamente ocorrendo de maneira direta. Os "senadores biônicos" também deixaram de existir.

Entretanto, alguns militares radicais ainda não admitiam o fim do regime militar, e aterrorizavam o país com bombas explodindo em bancas de jornal, hotéis, escolas, supermercados e em sedes de jornal. Os ataques aconteceram no Rio de Janeiro, em Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, Belém e São Paulo. O caso mais chocante foi a carta-bomba enviada à sede da Ordem dos Advogados Brasileiros, na qual a secretária Lyda Monteiro faleceu.

No futebol, o Internacional perdeu a chance de vencer a Taça Libertadores da América pela segunda vez. O campeão brasileiro do ano anterior chegou à final contra o uruguaio Nacional e, após o empate em 0 a 0 em Porto Alegre, foi derrotado por 1 a 0 em Montevidéu.

Com a CBF fazendo a organização do Campeonato Brasileiro, o torneio passou a ter três divisões (a Taça de Ouro, com os 40 melhores clubes da época, e as Taças de Prata e de Bronze). Os quatro melhores clubes da Taça de Prata se classificavam para a segunda fase, e jogavam contra os 28 classificados da Taça de Ouro.

Em junho de 1980, o Brasil começou a conhecer o maior campeão da década. Num time formado por Júnior, Andrade, Nunes e Zico, o Flamengo se tornou o melhor do país mesmo depois de perder a primeira partida para o Atlético Mineiro por 1 a 0, em Minas. No segundo jogo, a equipe carioca derrotou os mineiros por 3 a 2 e foi campeã pela primeira vez.

Em 8 de dezembro de 1980, a música perdeu o símbolo de quem, através das canções, pedia uma chance à paz e imaginava um paraíso. John Lennon teve sua carreira interrompida por Mark David Chapman. O homem, que se dizia fã de Lennon, atirou à queima-roupa quando ele voltava para sua casa, em Nova Iorque. O assassino disse que ao ler o livro O apanhador no campo de centeio encontrou uma mensagem subliminar que o mandava assassinar o ex-Beatle. No mesmo ano, as artes brasileiras tiveram duas perdas: o poetinha Vinícius de Moraes e o dramaturgo Nelson Rodrigues. Todos no último mês do ano.

Neste ano, a televisão brasileira perdeu sua pioneira. Após anos se arrastando em dívidas e já sem o direito de sete de suas dez concessões avaliadas, a TV Tupi teve sua concessão cassada definitivamente pelo governo Figueiredo. Em 18 de julho, o ator e locutor Cévio Cordeiro leu uma mensagem destinada ao presidente pedindo para que a emissora não fosse fechada. Mas de nada adiantou. As últimas imagens foram os dizeres "Até breve, telespectadores. Rede Tupi". O governo abriria espaço para a fundação de duas novas emissoras de televisão, mas isto é um assunto para um próximo post.

A TV Globo se consolidava mesmo no primeiro lugar dentre as televisões brasileiras, com a tecnologia extremamente superior às concorrentes. A emissora abriu espaço para uma disputa musical - o MPB 80. Repetindo o sucesso do festival exibido pela TV Tupi no ano anterior, Oswaldo Montenegro interpretou a primeira colocada deste festival - Agonia, de autoria de seu irmão de criação, Mongol. Em segundo lugar, ficou a canção Foi Deus que fez você, de autoria de Luiz Ramalho e interpretada por Amelinha. Também se destacaram no festival o cantor Jessé (eleito melhor intérprete depois de apresentar Porto solidão) e o cantor Eduardo Dusek, que já havia polemizado ao cantar a irreverente Nostradamus com asas de anjo e uma cueca samba-canção e, na finalíssima, decidiu trocar a música da primeira fase para divulgar a canção Barrados no baile, também de sua autoria.

Roberto Carlos começou o ano com uma grande perda. Em janeiro, seu pai, Robertino Braga, faleceu, e RC não teve como continuar em seu enterro devido à aglomeração de fãs. Sua generosidade musical se estendeu ao disco de seu primeiro amigo. Erasmo Carlos realizou o ambicioso projeto Erasmo Carlos convida..., com 12 faixas dedicadas a encontros musicais. Maria Bethânia, Gal Costa, Rita Lee, Jorge Ben, Nara Leão, os conjuntos As Frenéticas e A Cor do Som, Gilberto Gil, Wanderléa e Tim Maia foram alguns dos convidados da festa. E o encontro que abriu o disco foi justamente o dueto dos parceiros Roberto Carlos e Erasmo Carlos. Os dois cantaram Sentado à beira do caminho, encontro que deu tão certo que volta e meia eles interpretam nos especiais de RC.

Roberto continuou presente na programação de fim de ano da TV Globo. E seu Roberto Carlos Especial exibido no dia 23 de dezembro começou com a Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes. Pela primeira vez, Roberto não recebeu convidados em seu programa. Boa parte do especial trouxe números dele cantando num show gravado no Anhembi. No repertório, sucessos como Outra vez, Amigo e Café da manhã mesclados a música lançadas em seu disco daquele ano.

O programa encerrou com RC em frente à Organização das Nações Unidas, na companhia de várias crianças e cantando A guerra dos meninos, música que abriu apoteoticamente o LP de 1980. Eis o repertório do disco:

LADO A

1 - A guerra dos meninos, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - O gosto de tudo, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

3 - A ilha, de Djavan

4 - Eu me vi tão só, de Mauro Motta e Eduardo Ribeiro

5 - Passatempo, de Maurício Duboc e Carlos Colla

LADO B

1 - Não se afaste de mim, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - Procura-se, de Roberto Carlos e Ronaldo Bôscoli

3 - Amante à moda antiga, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

4 - Tentativa, de Márcio Greyck

5 - Confissão, de Eduardo Lages e Paulo Sérgio Valle

Alguns autores de meados da década anterior permaneceram em 1980. Roberto deu espaço a outro compositor: Djavan, que começava a se destacar em músicas como Fato consumado e Flor de lis. No entanto, para que A ilha fosse gravada, o alagoano teve de "adequar" a letra. O verso "um cheiro de amor empestado" teve de mudar para "um cheiro de amor espalhado".

Pela primeira vez desde que se tornou arranjador dos shows de Roberto Carlos, Eduardo Lages assinou o arranjo de uma das canções do LP do cantor. Só que ainda não foi de uma música sua. O maestro fez o arranjo de Tentativa, música de Márcio Greyck.

Pela primeira vez desde João e Maria, em 1959, Roberto Carlos assinou uma canção com outro artista que não fosse Erasmo Carlos. O coautor foi Ronaldo Bôscoli, que mais tarde declararia que Procura-se não é das melhores canções, mas já valeu a pena ter acabado com a hegemonia de Erasmo.

A introspecção amorosa da canção de RC e Bôscoli ficou presente em uma outra canção de Roberto e Erasmo: a declaração de amor de O gosto de tudo. Em compensação, o amor mais despreocupado, mais jovial apareceu na música que abre o lado B do LP - Não se afaste de mim.

Mas o amor se derramava em outra canção. Sem pudor de ser rotulado como antiquado, Roberto Carlos aproveitou o ano de 1980 para viver um simpático amante à moda antiga.

Segue a letra! Na foto, Roberto Carlos em uma emissora francesa, cantando a versão de A guerra dos meninos para a língua de lá.

Abraços a todos, Vinícius.

AMANTE À MODA ANTIGA - Roberto e Erasmo

Eu sou aquele amante à moda antiga
Do tipo que ainda manda flores
Aquele que no peito ainda abriga
Recordações de seus grandes amores

Eu sou aquele amante apaixonado
Que curte a fantasia dos romances
Que fica olhando o céu de madrugada
Sonhando abraçado à namorada

Eu sou do tipo de certas coisas
Que já não são comuns nos nossos dias
As cartas de amor, o beijo na mão
Muitas manchas de batom daquele amasso no portão

Apesar de todo o progresso
Conceitos e padrões atuais
Sou do tipo que na verdade
Sofre por amor e ainda chora de saudade

Porque sou aquele amante à moda antiga
Do tipo que ainda manda flores
Apesar do velho tênis e da calça desbotada
Ainda chamo de querida a namorada

A minha namorada...

sexta-feira, 29 de maio de 2009

50 anos de emoções - 1979



Olá, amigos.

A série 50 anos de emoções continua sua saga, apresentando em cada post um ano de carreira de Roberto Carlos. Com o post de hoje, a série encerra mais uma década de RC.

O ano de 1979 trouxe alguns acenos pela paz. Os Estados Unidos e Portugal voltaram a ter relações diplomáticas com a China. Também em território norte-americano Egito e Israel assinaram um acordo de paz.

No entanto, neste ano o Irã voltou a pegar em armas. O governo dos xás ficava cada vez mais impopular, principalmente pela pressão vinda do Ocidente, e o Xá Reza Pahlevi foi deposto depois de 38 anos no poder. Em seu lugar, ascendeu ao poder o Aiatolá Ruhollah Khomeini, um líder xiita que instaurou o islamismo no país.

O Iraque também passaria por uma grave alteração política. O presidente iraquiano Hasan al-Bakr renunciou e, em seu lugar, chegou ao poder o vice-presidente Saddam Hussein. Era o início de uma longa ditadura iraquiana.

Em 28 de março de 1979, o mundo voltou suas atenções para a Pensilvânia, quando em Three Mile Island teve um grande acidente nuclear, no qual cinco mil habitantes ficaram contaminados pela radioatividade. O vazamento aconteceu devido a problemas elétricos e mecânicos na central nuclear de lá.

Em 15 de março, houve a última troca presidencial do ciclo dos militares. O general João Baptista Figueiredo assumiu a presidência, prometendo fazer do Brasil uma democracia. No dia 28 de agosto, ele sancionou a Lei da Anistia, que permitiu a volta de pessoas que tiveram seus direitos cassados durante o regime militar. Pessoas como Fernando Gabeira e Betinho tiveram permissão para regressar ao país. Em 22 de novembro, Figueiredo fez uma reforma política na qual permitiu o pluripartidarismo. A Arena e o MDB foram extintos.

O Campeonato Brasileiro de 1979 foi o último torneio a ser organizado pela Confederação Brasileira de Desportos. A FIFA havia determinado que haveria um desmembramento de todos os esportes, e o torneio passaria a ser organizado pela Confederação Brasileira de Futebol. Este campeonato entraria para a história como o mais inchado de toda história: foram 94 clubes a disputar o título de melhor do Brasil.

A forma de abrigar todos os clubes foi, na primeira fase, dividir 80 times em oito grupos de dez. Na segunda fase, 12 clubes de expressão começavam a participar do torneio, ao lado dos 44 clubes classificados da fase anterior. O campeão Guarani e o vice Palmeiras entraram só na terceira fase, quando 16 clubes se dividiram em quatro grupos e cada um dos vencedores do grupo ia para a semifinal. O regulamento apresentou uma situação curiosa: o Palmeiras ficou em terceiro lugar mesmo tendo jogado somente cinco partidas.

A final ocorreu nos dias 20 e 23 de dezembro, e consagrou o Internacional como o maior campeão da década, com três títulos nacionais. O time gaúcho foi campeão após derrotar o Vasco nas duas partidas finais - por 2 a 0 no Maracanã (com dois gols de Chico Spina) e por 2 a 1 no Beira-Rio (Jair e Falcão marcaram para o colorado e Wilsinho descontou para o Vasco). O Inter de 1979 entrou para a história como o único campeão invicto da história do Campeonato Brasileiro. Em 23 partidas, foram 16 vitórias em sete empates.

Convivendo com uma grave crise financeira, a TV Tupi tentou recuperar a audiência ressuscitando a época dos festivais de Música Popular Brasileira. O Festival de MPB foi organizado, e deu o primeiro lugar à música Quem me levará sou eu, de autoria de Manduka e Dominguinhos e interpretada por Fagner. No segundo lugar, Walter Franco foi premiado pela música Canalha, de sua autoria. E, em terceiro lugar, Oswaldo Montenegro começou a ser conhecido ao interpretar com José Alexandre sua canção Bandolins. O festival apresentou também músicas novas de Gilberto Gil (Palco, defendida pelo grupo A cor do som) e a fantástica Para Lennon & McCartney (dos irmãos Márcio e Lô Borges e de Fernando Brant), na voz de Simone.

Ao contrário da TV Tupi, a Rede Globo continuava sua ascensão, recebendo vários prêmios no exterior. O Roberto Carlos Especial daquele ano teve como tema o "circo eletrônico", forma de celebrar os 15 anos da TV Globo. Além de começar o programa visitando vários estúdios da emissora, RC dedicou blocos aos artistas da TV e recordou alguns números de especiais anteriores.

Num deles, o cantor abriu espaço para vários humoristas, contracenando com Jô Soares (no papel do Professor Sardinha), Agildo Ribeiro (que fez o Professor Pelophitas, enquanto RC fazia o papel da Múmia Paralítica), Chico Anysio (no papel de Salomé) e o grupo Os Trapalhões. Em outro, Roberto abriu espaço para misturar poesia e música, convidando os atores Francisco Cuoco, Paulo Gracindo, Dina Sfat e Vera Fischer para declamarem poemas de Vinícius de Moraes, Manoel Bandeira e Ronaldo Bôscoli.

RC também apresentou uma vertente de autor, contracenando com Christiane Torloni numa cena que mostrava o cotidiano de um casamento em crise. A cena foi sublinhada pela canção Às vezes penso, primeira música de seu maestro Eduardo Lages - com letra de Paulo Sérgio Valle - a ter gravação de Roberto Carlos. Supõe-se que a cena foi inspirada no casamento de Roberto e Nice, que havia se desfeito no ano anterior.

Na parte musical, RC cantou Detalhes tendo a companhia dos pianistas João Castro Martins e Arthur Moreira Lima. Pela primeira vez, ele dividiu os vocais com Maria Bethânia, num encontro que teve um dado raríssimo: foi a única vez que RC dividiu os vocais para interpretar uma canção que ele gravara originalmente para o LP daquele ano: Desabafo.

Do novo LP também foram apresentadas as canções Na paz do seu sorriso, Me conte a sua história e O ano passado.

No ano seguinte a homenagear sua mãe em Lady Laura, Roberto Carlos homenageou seu pai, o seu Robertino, na canção Meu querido, meu velho, meu amigo. No clipe da música, três gerações apareceram: Roberto Carlos com seu pai, Robertino, e seu filho, Segundinho.

O LP anual de Roberto Carlos trouxe dez músicas. A partir de 1979, seus discos de inéditas passariam a ter, no máximo, este número de canções. Eis o repertório:

LADO A

1 - Na paz do seu sorriso, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - Abandono, de Ivor Lancellotti

3 - O ano passado, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

4 - Esta tarde vi llover, de Armando Manzanero

5 - Me conte a sua história, de Maurício Duboc e Carlos Colla

LADO B

1 - Desabafo, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - Voltei ao passado, de Mauro Motta e Eduardo Ribeiro

3 - Meu querido, meu velho, meu amigo, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

4 - Costumes, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

5 - Às vezes penso, de Eduardo Lages e Paulo Sérgio Valle

Pelo terceiro ano consecutivo, Roberto Carlos abriu a voz para uma música de Armando Manzanero - a belíssima Esta tarde vi llover. Em meio às várias duplas de seus compositores (os constantes Maurício Duboc e Carlos Colla e Mauro Motta e Eduardo Ribeiro e os estreantes Eduardo Lages e Paulo Sérgio Valle), RC abriu espaço para uma música feita por um só artista: a triste Abandono, de Ivor Lancellotti.

O LP abriu com a doce Na paz do seu sorriso e teve uma nova canção que falava sobre ecologia: a primorosa O ano passado. Além de Meu querido, meu velho, meu amigo, Roberto e Erasmo assinaram Costumes, na qual RC falava sobre a dificuldade em esquecer coisas de um dia-a-dia de um casal.

Mas a canção mais marcante do LP veio através de um desabafo. A música que abre o lado B do disco de 1979 colocou o dedo na ferida de um homem que se vê sufocado em um relacionamento.

Segue a letra! Na foto, Roberto Carlos no último ano da década de 1970.

Abraços a todos, Vinícius.

DESABAFO - Roberto e Erasmo

Por que me arrasto aos seus pés
Por que me dou tanto assim
E por que não peço em troca
Nada de volta pra mim?

Por que é que eu fico calado
Enquanto você me diz
Palavras que me machucam
Por coisas que eu nunca fiz?

Por que é que eu rolo na cama
E você finge dormir?
Mas se você quer eu quero
E não consigo fingir

Você é mesmo essa mecha
De branco nos seus cabelos
Você pra mim é uma ponta
A mais nos meus pesadelos

Mas acontece que eu
Não sei viver sem você
Às vezes me desabafo
Me desespero porque

Você é mais que um problema
É uma loucura qualquer
Mas sempre acabo em seus braços
Na hora que você quer

quarta-feira, 27 de maio de 2009

50 anos de emoções - 1978



Olá, amigos.

A série 50 anos de emoções continua sua trajetória, mostrando ano a ano cada detalhe das emoções da carreira de Roberto Carlos. Esta é a forma para homenagear o cinquentenário de sua carreira artística, comemorado neste 2009 com uma turnê de shows e alguns tributos. O mais recente deles aconteceu ontem, quando 20 cantoras se reuniram no espetáculo "Elas cantam Roberto", em São Paulo. Este show foi gravado e será um especial da TV Globo a ser exibido no próximo domingo, depois do Fantástico.

O ano de 1978 ficou marcado por um grave incidente que ocorreu movido pelo fanatismo religioso. Na Guiana, um grupo de seguidores da seita "O Templo do Povo", liderada pelo reverendo Jim Jones, foi encontrado morto num acampamento. O pastor estava sendo investigado por políticos norte-americanos por acusações de tortura a homens, mulheres, crianças e animais em sua comunidade, chamada de Jonestown. De acordo com a perícia, os seguidores foram obrigados a tomar um suco de laranja misturado a cianureto e analgésicos. O "Massacre de Jonestown" resultou em 912 mortos - dentre eles, Jim Jones, que foi encontrado morto com uma bala na cabeça.

A Igreja Católica teve uma alteração em seu pontificado. Em agosto, o Papa Paulo VI morreu depois de 15 anos como pontífice. 20 dias depois, o cardeal Albino Luciani se tornou o Papa João Paulo I. Mas, após 33 dias à frente do Vaticano, o novo Papa também faleceu. Em 16 de outubro, a igreja revelou o nome do novo pontífice: o cardeal polonês Karol Józef Wojtyla, conhecido como o Papa João Paulo II.

O Brasil deu um grande passo no retorno à sua democracia. No último dia de 1978, o presidente Ernesto Geisel apresentou uma emenda constitucional que revogou o Ato Institucional Número 5. Com o fim deste ato institucional, novamente a lei permitiu o habeas corpus.

Novamente, a Seleção Brasileira voltou de uma Copa do Mundo sem um título. No torneio, realizado na Argentina, o Brasil teve um resultado razoável na primeira fase - empates contra Suécia (1 a 1) e Espanha (0 a 0) e um magro 1 a 0 diante da Áustria, com uma situação curiosíssima no empate contra os suecos: a partida estava em seu finzinho quando Zico aproveitou uma cobrança de escanteio e cabeceou a bola para o fundo das redes. Só que o árbitro tinha encerrado a partida enquanto a bola estava no ar, e o gol foi anulado.

Na segunda fase, o Brasil venceu o Peru por 3 a 0 e teve um empate sem gols contra a anfitriã Argentina. À Seleção Brasileira bastava uma vitória, pois o time tinha melhor campanha e jogava contra a fraca seleção da Polônia, enquanto a Argentina precisaria fazer uma vitória diante do Peru que a deixasse com um saldo de gols maior do que o do Brasil. Misteriosamente, em vez das duas partidas serem em horários iguais (como previa o regulamento), o jogo entre Argentina e Peru foi transferido para duas horas depois de Brasil e Polônia. A Seleção Brasileira venceu a Polônia por 3 a 1 e, com isto, os argentinos precisariam vencer por, no mínimo, quatro gols de diferença. Num jogo marcado por muitas falhas do goleiro peruano, a Argentina conseguiu uma goleada por 6 a 0 e se classificou para a final da Copa do Mundo.

Ao Brasil, restou a terceira posição (conquistada depois da vitória por 2 a 1 diante da Itália, na decisão do terceiro lugar) e a emblemática frase do treinador Cláudio Coutinho, que afirmou que o Brasil era "o campeão moral desta Copa do Mundo". No campo, a anfitriã Argentina conquistou seu primeiro título, após um empate em 1 a 1 no tempo normal e uma vitória por 2 a 0 na prorrogação. Mais uma vez, a Holanda foi derrubada na final do torneio.

Assim como acontecera cinco anos antes, a decisão do Campeonato Brasileiro foi entre dois times paulistas. O torneio foi mais inchado do que o ano anterior - desta vez, com 74 clubes, e as fórmulas de disputa previam primeira, segunda e terceira fase, além de quartas-de-final, semifinal e final. Só que, pela primeira vez na competição, o campeão seria conhecido após duas partidas entre os melhores do Brasil.

O Guarani surpreendeu o Palmeiras e, no Morumbi, venceu o primeiro jogo por 1 a 0, com gol de Zenon. Na partida decisiva, realizada no Estádio Brinco de Ouro da Princesa (em Campinas), a revelação Careca fez o gol da vitória do Bugre. O alviverde campineiro conquistou seu primeiro título nacional.

Roberto Carlos passou a ter um novo arranjador a partir de 1978: no lugar de Chiquinho de Moraes, ele começou a ter seus show sob a batuta do maestro Eduardo Lages. Com Lages, Roberto iniciou uma nova temporada no Canecão: o show Palhaço. Eis o repertório:

Abertura instrumental: Jesus Cristo / O calhambeque / Quero que vá tudo pro inferno / Falando sério / Se você pensa
Amigo
Falando sério
Seu corpo
Proposta
Um jeito estúpido de te amar
Olha
Os seus botões
Café da manhã

Detalhes
Poema "Todas as cartas de amor são ridículas", de Fernando Pessoa
Outra vez
Não Se esqueça de mim
Música suave
Poema "O guardador de rebanhos", de Fernando Pessoa
Força estranha
Cavalgada
For once in my life
Texto de Ronaldo Bôscoli
O Show já terminou


RC surpreendia o público, se apresentando vestido de palhaço. Uma tentativa que Miéle, depois de alguns anos, comentou: "Na época, a gente teve a ideia do Roberto vestir de palhaço, mas eu falei pro Ronaldo Bôscoli: 'olha, se não der certo, o Roberto Carlos vai continuar sendo Roberto Carlos, mas a gente vai começar a produzir shows no Peru, na Bolívia'...".

Só que deu muito certo, não só por um repertório extenso - no qual curiosamente não entrou nenhuma música de Jovem Guarda - mas também pela valorização de Roberto Carlos como artista. Além de cantar, RC declamou dois poemas de Fernando Pessoa - Todas as cartas de amor são ridículas, que antecedeu Outra vez, e O guardador de rebanhos, que veio antes de Força estranha. Houve espaço também para a interpretação de For once in my life, clássica canção americana que recebeu leituras de nomes como Stevie Wonder e Frank Sinatra.

Mas a homenagem aos palhaços certamente foi a maior emoção do show que começou a ser apresentado no Canecão em novembro de 1978. "O símbolo de um herói colorido. Cuja arma é o sorriso", como disseram as palavras de RC. Ronaldo Bôscoli publicaria um depoimento da Revista Manchete sobre o final do show:

"O show vai terminar. Roberto, de frente para o público, começa o corajoso ritual. Compõe, com elementos colocados em cena, seu próprio palhaço. Suas mãos não vacilam. Nenhum rictus na face. Canta O show já terminou. Uma discreta lágrima brota-lhe na face. Quase imperceptível. Termina o espetáculo. Aplausos e cortina engolem Roberto Carlos. Ele corre para o camarim. E desabafa no colo materno um pranto convulso."

Graças a um arquivo de áudio disponibilizado na Internet, este blogue transcreve para vocês abaixo o texto final do show Palhaço, no qual RC disse as seguintes palavras:

Sou... mas quem não é? Sou e assumo! E só assim com cara de palhaço, descobri que os homens, antes de poluirem os ares e os mares, começaram a poluir as próprias palavras...

Cabeças muito encucadas fizeram do palhaço uma ofensa. "Seu palhaço!" Não é nada disso... Vocês sabem o que é realmente um palhaço? Cadê grandeza bastante pra tudo isso? Crises de palhaço todos nós temos! De repente, no Natal, a gente rouba uma verdade, veste um palhaço e acabou!

Eu já fui palhaço no meu ofício, vocês se lembram? "Vista a roupa, meu bem! Vista a roupa, meu bem! Vista a roupa, meu bem!"...

Eles sim. São e foram os grandes e heroicos palhaços atirando suas cores contra o preto e branco do cotidiano. Eu fui cavalo do meu rei, o Segundinho. Fui bobo da corte pra minha princesa Ana Paula. E num gesto de careta jogado ao acaso, minha filha Luciana aprendeu a rir...

Mas isso são apenas crises de palhaço. Quem sou eu pra ser palhaço mesmo? Mas eu preciso rolar a bola do mundo pra que ela se faça colorida pela primeira vez numa flor?

E um instante de palhaço dura exatamente uma eternidade! Um instante de palhaço dura exatamente uma eternidade! Exatamente uma eternidade...

Pra mim...

O show já terminou
Vamos voltar à realidade
Não precisamos mais
Usar aquela maquiagem
Que escondeu de nós
Uma verdade que insistimos em não ver
Não adianta mais
Chorar o amor que já tivemos
Existe em nosso olhar
Alguma coisa que não vemos
E nas palavras
Existe sempre alguma coisa sem dizer

E é bem melhor que seja assim
Você sabe tanto quanto eu
No nosso caso felicidade
Começa num adeus

Mas o show já terminou
Vamos voltar à realidade
Não precisamos mais
Usar aquela maquiagem
Que escondeu de nós
Uma verdade que insistimos
Em não ver

Nosso show já terminou

Nosso show já terminou...


Mas o show não tinha ainda terminado. O final de ano reservou um Roberto Carlos Especial especialíssimo para todos. Roberto Carlos ficou no ar por 24 horas, entre os dias 17 e 18 de dezembro. Ele foi o apresentador de um projeto ambicioso da Rede Globo, que valorizou o Ano Internacional da Criança e fez uma campanha que contou com a adesão de vários espectadores. Este programa foi um "embrião" para o projeto anual do Criança Esperança. Roberto apresentou nos dois dias, mas somente por cerca de uma hora ficou com um programa exclusivamente para ele. Além de receber Erasmo Carlos e relembrar a homenagem de Amigo no ano anterior, Roberto dividiu os vocais com Wanderléa para cantarem Ternura, recebeu a atração internacional Fredy Cole, que o acompanhou ao piano para ele interpretar For once in my life e teve o piano de Tom Jobim para os dois interpretarem Lígia.

Houve espaço para as recordações, através do depoimento de moradores de Cachoeiro - dentre eles, a primeira professora de Roberto Carlos. Ao final, o programa ganhou uma tônica religiosa, com o depoimento de Dom Paulo Evaristo Arns e RC interpretando as músicas Jesus Cristo e , acompanhado do Coral da Universidade Gama Filho. foi a "mensagem" que teve a responsabilidade de abrir o LP de 1978. Um disco que trouxe mais canções fantásticas para o repertório de RC:

LADO A

1 - , de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - A primeira vez, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

3 - Mais uma vez, de Maurício Duboc e Carlos Colla

4 - Lady Laura, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

5 - Vivendo por viver, de Márcio Greyck e Cobel

LADO B

1 - Música suave, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - Café da manhã, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

3 - Tente esquecer, de Isolda

4 - Força estranha, de Caetano Veloso

5 - Por fin mañana
, de Armando Manzanero

6 - Todos os meus rumos, de Fred Jorge

Roberto Carlos lançou mais uma dupla de compositores - Cobel e Márcio Greyck (este último ficaria conhecido pelo sucesso Impossível acreditar que perdi você). Sete anos depois de Debaixo dos caracóis dos seus cabelos, Roberto colocou em disco uma gravação para Força estranha, retribuição em letra e música de Caetano Veloso para ele. E mais uma canção que parece feita sob medida para RC. A dupla Maurício Duboc e Carlos Colla, a compositora Isolda e o compositor Fred Jorge continuaram presentes, e este acabou assinando a música que encerra o LP aparentemente por acidente.

Roberto Carlos anunciou que uma das gravações de 1978 seria sua leitura para a belíssima Cálice, de Chico Buarque e Gilberto Gil. Entretanto, a música não saiu, e há indícios de que, de fato, ela foi gravada. O LP de RC pela primeira vez saiu com 11 músicas e, por causa da exclusão de Roberto, Chico teria incluído ela em seu LP daquele mesmo ano - na gravação feita com participação de Milton Nascimento e do grupo MPB-4. Comenta-se que esta interpretação de RC para Cálice está nos arquivos da CBS (agora Sony & BMG), e que ele teria deixado de fora do disco por causa do verso "de que me vale ser filho da santa, melhor seria ser filho da outra".

Um verso bem paradoxal, levando em conta que no mesmo LP Roberto apresentaria uma homenagem primorosa à sua mãe, em Lady Laura. Roberto e Erasmo arriscaram passear pelo fox e, através de Música suave, fazer muita gente dançar de rostinho colado, além de apresentar um amor inocente nos versos de A primeira vez.

Só que a vertente amorosa mais latente na safra de Roberto e Erasmo continuava trazendo muita sensualidade. E mais um recorte da vida a dois foi contado em letra e música, ao cantar os planos para a manhã seguinte a uma noite bem amorosa. Um dado curioso: especulou-se que a canção erótica deste 1978 se chamaria Motel. Mas, certamente, este título e a delicadeza com a qual ficou a canção ficaram bem melhores. Ao final dela, Roberto cantarola um trecho de Os seus botões, canção sensual que tinha sido lançada dois anos antes.

Segue a letra! Na foto, Roberto Carlos, caracterizado de palhaço em foto para a revista Veja.

Abraços a todos, Vinícius.

CAFÉ DA MANHÃ - Roberto e Erasmo

Amanhã de manhã
Vou pedir o café pra nós dois
Te fazer um carinho e depois
Te envolver em meus braços

E em meus abraços
Na desordem do quarto esperar
Lentamente você despertar
E te amar na manhã

Amanhã de manhã
Nossa chama outra vez tão acesa
E o café esfriando na mesa
Esquecemos de tudo

Sem me importar
Com o tempo correndo lá fora
Amanhã nosso amor não tem hora
Vou ficar por aqui

Pensando bem
Amanhã eu nem vou trabalhar
Além do mais
Temos tantas razões pra ficar

Amanhã de amanhã
Eu não quero nenhum compromisso
Tanto tempo esperamos por isso
Desfrutemos de tudo

Quando mais tarde
Nos lembrarmos de abrir a cortina
Já é noite e o dia termina
Vou pedir o jantar

Quando mais tarde
Nos lembrarmos de abrir a cortina
Já é noite e o dia termina
Vou pedir o jantar...
Vou pedir o jantar...

Nos lençóis macios amantes se dão
Travesseiros soltos, roupas pelo chão
Braços que se abraçam, bocas que murmuram
Palavras de amor enquanto se procuram...

segunda-feira, 25 de maio de 2009

50 anos de emoções - 1977



Olá, amigos.

A série 50 anos de emoções continua a apresentar cada ano da extensa carreira de Roberto Carlos na Música Popular Brasileira. Em cada post, estamos falando sobre o que RC fez ano após ano, além de relembrar fatos que marcaram cada época.

Em 1977, o mundo conheceu um grande avanço tecnológico. A Apple lançou o Apple II, o primeiro microcomputador moderno da história da tecnologia. Além de 4 KB de memória RAM, o computador trazia lugar para serem colocadas fitas K7 e até mesmo fitas de vídeo.

No mesmo ano em que Jimmy Carter tomou posse da presidência dos Estados Unidos, o país lançou a nava Voyager 2, que se aproximou dos grandes países do Sistema Solar. Enquanto isto, a Terra assistiria ao maior desastre aéreo ocorrido na história da aviação (até o presente momento). Um choque entre aviões das companhias KLM e Pan American nas Ilhas Canárias deixou 583 mortos.

No Brasil, o ano de 1977 apresentou uma grande mudança nos costumes da sociedade. O presidente Ernesto Geisel aprovou a Emenda Constitucional Número 9, de 28 de julho, e instituiu a Lei do Divórcio no país. A lei seria regulamentada a partir do dia 26 de dezembro.

Geisel também outorgou um conjunto de leis em 13 de abril de 1977. O "Pacote de Abril" trouxe uma emenda constitucional e seis decretos visando às eleições seguintes. De acordo com o novo pacote, um terço dos senadores brasileiros seria indicado pelo próprio presidente - a imprensa definiu estes senadores como "senadores biônicos". O mandato presidencial subiu de cinco para seis anos e a eleição para o governo dos estados brasileiros continuou sendo através de eleições indiretas. Neste ano, o Brasil passou por uma mudança geográfica. Em 11 de outubro, o estado do Mato Grosso foi dividido entre Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

1977 apresentou também o surgimento de alguns símbolos existentes até hoje no país. Em Recife, desfilou pela primeira vez o bloco de carnaval Galo da Madrugada, considerado pelo Guiness Book o maior bloco do mundo. No Rio de Janeiro, o centro de convenções batizado como Riocentro foi inaugurado. Ele seria palco de shows importantíssimos (Primeiro de Maio e Rock In Rio) e eventos como o RIO-92.

E em 9 de julho, Edir Macedo fundou a Igreja Universal do Reino de Deus. Igreja protestante e neopentecostal, a Universal ganharia o mundo e, mais tarde, uma emissora de televisão no país. Mas isto é um assunto para um próximo post.

No futebol, o Cruzeiro desperdiçou a chance de ser campeão pela segunda vez consecutiva da Taça Libertadores da América. O time chegou à final diante do Boca Juniors, e após uma derrota em Buenos Aires e uma vitória em Belo Horizonte (ambas pelo placar de 1 a 0), o terceiro jogo terminou empatado em 0 a 0. Nas cobranças de pênalti, o Cruzeiro perdeu por 5 a 4 e saiu como vice-campeão de Montevidéu.

O Campeonato Brasileiro continuava acontecendo com o mesmo formato desde 1971, mas a cada edição ficava mais inchado. Em troca de favores com os estados, o governo impunha ano após ano a entrada de novos clubes. Em 1977, o torneio chegou a 62 times. A solução no regulamento foi ter três fases (além de uma "repescagem" com times que atuaram mal no início do campeonato), além de uma semifinal e uma final.

Com isto, o Brasileirão acabou somente no ano seguinte. Em 5 de março de 1978, Atlético Mineiro e São Paulo disputaram no Mineirão ("casa" do Atlético, que teve o direito do mando de campo por ter a melhor campanha no campeonato) o título de melhor do Brasil do ano anterior. Após empate em 0 a 0, pela primeira vez o Campeonato Brasileiro foi decidido nas cobranças de pênalti. O São Paulo sagrou-se campeão ao ganhar por 3 a 2 nos pênaltis. Mesmo não tendo perdido nenhum jogo na competição, o time de Minas não pôde ganhar o título. O Atlético apresentou o maior artilheiro em uma edição no torneio: o atacante Reinaldo marcou 28 gols em 17 jogos disputados. Sua marca seria ultrapassada somente duas décadas depois, pelo jogador Edmundo, do Vasco.

E futebol foi um tema presente no Roberto Carlos Especial exibido ao final de 1977. Às vésperas da Copa do Mundo de 1978, RC intercalava os números de seu programa com imagens de jogadores de futebol. Além disto, alguns jogadores conversaram com ele. Com Rivelino, a conversa foi sobre pássaros. Roberto chamou Garrincha para um desafio de sinuca. E, pela primeira vez na história da música, dois reis - Roberto Carlos e Pelé - se juntaram para fazer um dueto. Com RC ao violão, Pelé cantou O mundo é uma bola.

Roberto Carlos cantou um pout-pourri com excelentes músicas brasileiras, como Cinema Olympia, Asa Branca, Wave e Ponteio. Mas seu cancioneiro ia além neste especial. Foi até o repertório de Carlos Gardel para cantar El día que me quieras, e ainda falou sobre América do Sul, cantando El humauaqueño e América, América.

Do exterior veio um convidado fantástico: Armando Manzanero. Com ele ao piano, Roberto cantou em duas línguas: em inglês (It's impossible) e em espanhol (Propuesta, versão de Proposta, e Esta tarde vi llover, que mais tarde ele gravaria).

Mas o melhor momento com convidados do especial veio através do amigo Erasmo Carlos. Num primeiro momento, os dois homenagearam Elvis Presley (que faleceu naquele ano), cantando um pout-pourri só com músicas da safra do outro "rei". E, em seguida, Roberto apresentou ao amigo Erasmo Carlos uma canção muito especial. Esta canção abriria o LP lançado por Roberto Carlos em 1977:

LADO A

1 - Amigo, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - Nosso amor, de Mauro Motta e Eduardo Ribeiro

3 - Falando sério, de Maurício Duboc e Carlos Colla

4 - Muito romântico, de Caetano Veloso

5 - Solamente una vez, de Agustin Lara

6 - Ternura (Somehow it got to be tomorrow), Estelle Levitt e Kenny Karen, com versão de Rossini Pinto

LADO B

1 - Cavalgada, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - Não se esqueça de mim, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

3 - Jovens tardes de domingo, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

4 - Pra ser só minha mulher, de Ronnie Von e Tony Osanah

5 - Outra vez, de Isolda

6 - Sinto muito, minha amiga, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

No lado "intérprete" do disco, Roberto Carlos gravaria em 1977 duas canções que até hoje continuam dentre as mais requisitadas de seu repertório: Falando sério, de Maurício Duboc e Carlos Colla e, principalmente, Outra vez, de Isolda. A compositora (que pela primeira vez tinha mandado uma música sem a coautoria do irmão Milton Carlos) contou certa vez que tinha mandado três músicas pro Roberto. Outra vez era a que ela achava que ele jamais iria gravar, pois tinha o estilo muito parecido com Você em minha vida (que RC apresentou no LP anterior). A música não só foi gravada por Roberto como também já teve mais de 150 gravações. Dentre os intérpretes estão Maria Bethânia, Simone e até o cantor italiano Peppino di Capri.

Em 1977 também seria a primeira vez que aparecia o nome de Mauro Motta dentre os compositores de Roberto Carlos. A partir de 1984, ele seria produtor de RC, em substituição a Evandro Ribeiro, que se afastaria por motivos de saúde. O coautor da canção Nosso amor, Eduardo Ribeiro, é pseudônimo do produtor Evandro. Outros ícones da música estiveram presentes na safra de RC em 1977: Agustin Lara, na releitura do bolero Solamente una vez, Caetano Veloso, na gravação de Muito romântico (canção que parece sob medida para definir RC) e Ronnie Von, que, com Pra ser só minha mulher, mostra que a "rixa" da Jovem Guarda nunca existiu.

A Jovem Guarda foi recordada na releitura de Ternura, sucesso que rendeu o apelido de "Ternurinha" a Wanderléa, e principalmente numa singela declaração de amor. Com Jovens tardes de domingo, Roberto e Erasmo viram pelo espelho as lembranças dos velhos tempos e dos belos dias vividos nos domingos da TV Record. As tardes de guitarras, sonhos e emoções estavam devidamente rememoradas na safra dos dois.

Uma das canções deste disco foi redescoberta agora, há pouco tempo. A bela Não se esqueça de mim recebeu há alguns anos uma gravação de Nana Caymmi e Erasmo Carlos, mas voltou a ter destaque por fazer parte da trilha da novela Caminho das Índias. Este que vos escreve espera que também seja redescoberta a faixa que encerra o LP - Sinto muito, minha amiga.

Neste ano, Roberto Carlos apresentou sua canção mais forte dentre as que falaram sobre amor erótico. Cavalgada versa sobre uma relação amorosa e prima por ser de uma sensibilidade fantástica.

Mas, em meio a tantas belas canções, a música que simboliza o ano de 1977 é a que fala sobre amizade. Uma canção que Roberto confessou que demorou para fazer, para definir. E "o amigo, o amigo de fé, foi feita pra você, Erasmo Carlos...". Foi assim que RC a apresentou para Erasmo neste ano, em mais uma emoção compartilhada pelos dois.

Segue a letra! Na foto, o momento do abraço de Erasmo Carlos e Roberto Carlos.

Abraços a todos, Vinícius.

AMIGO - Roberto e Erasmo

Você, meu amigo de fé, meu irmão camarada
Amigo de tantos caminhos e tantas jornadas
Cabeça de homem mas o coração de menino
Aquele que está do meu lado em qualquer caminhada

Me lembro de todas as lutas, meu bom companheiro
Você tantas vezes provou que é um grande guerreiro
O seu coração é uma casa de portas abertas
Amigo você é o mais certo das horas incertas

Às vezes em certos momentos difíceis da vida
Em que precisamos de alguém pra ajudar na saída
A sua palavra de força, de fé e de carinho
Me dá a certeza de que eu nunca estive sozinho

Você, meu amigo de fé, meu irmão camarada
Sorriso e abraço festivo da minha chegada
Você que me diz as verdades com frases abertas
Amigo você é o mais certo das horas incertas

Não preciso nem dizer
Tudo isso que eu lhe digo
Mas é muito bom saber
Que você é meu amigo

Não preciso nem dizer
Tudo isso que eu lhe digo
Mas é muito bom saber
Que eu tenho um grande amigo...

sábado, 23 de maio de 2009

50 anos de emoções - 1976



Olá, amigos.

A série 50 anos de emoções continua sua saga, trazendo ano após ano cada pedaço da trajetória de Roberto Carlos. Esta é a nossa forma de comemorar o cinquentenário de carreira de RC.

O ano de 1976 trouxe mais uma mudança política em um dos países da América do Sul. Cerca de dois anos depois de assumir o poder, Isabelita Perón foi deposta por uma junta militar. Na América Central, o presidente cubano Fidel Castro passou a acumular também as funções de presidente do Conselho de Estado e do Conselho de Ministros do país. Na parte tecnológica, ocorreu o lançamento da Apple, que criaria os computadores MacIntosh.

Em território brasileiro, a censura continuava, beirando a xenofobia. Foi o caso do ministro Armando Falcão, que não permitiu que a TV Globo exibisse um espetáculo do Balé Bolshoi. O motivo foi o grupo de balé ser da União Soviética.

Mas o final de 1976 estaria reservado para uma tragédia passional. Na cidade litorânea de Búzios, o empresário Doca Street matou a tiros sua namorada Ângela Diniz. O crime gerou uma grande polêmica e fez com que se espalhasse por muros de todo o país a frase "Quem ama não mata".

13 anos depois do bicampeonato do Santos, enfim um clube brasileiro novamente ganhou a Taça Libertadores da América. O Cruzeiro se sagrou campeão na disputa contra o argentino River Plate. No primeiro jogo, realizado no Mineirão, os mineiros golearam por 4 a 1. Na segunda partida, os argentinos saíram vitoriosos pelo placar de 2 a 1. E um gol de Joãozinho a dois minutos do final fez com que o time brasileiro saísse de Santiago com uma vitória por 3 a 2 no jogo de desempate no Chile. Entretanto, o Cruzeiro não conseguiu trazer para o país um novo título do Mundial Interclubes. O Bayern de Munique, da Alemanha Ocidental, ganhou o torneio com uma vitória por 2 a 0 em seu estádio e um empate em 0 a 0 nos gramados de Minas Gerais.

E o Campeonato Brasileiro novamente teve campeão colorado. O time de Falcão, Manga, Caçapava e Elias Figueroa se tornou bicampeão brasileiro com uma vitória por 2 a 0 sobre o Corínthians, no Estádio Beira-Rio.

Roberto Carlos dedicou seu especial de 1976 a todos os músicos do Brasil. No primeiro bloco, RC teve a companhia de excelentes instrumentistas do país - o flautista Altamiro Carrilho, o gaitista Maurício Einhorn, o piston de Maurício Pereira (o Broa), as cordas de José Menezes, Paulo Moura com seu sax-soprano e o cravo de outro Roberto - Roberto de Regina. Após este time de músicos, RC deu espaço a um maestro, o soberano Antônio Carlos Jobim.

Roberto abriu espaço a artistas de uma geração anterior a ele, valorizando que todos lutaram pelos músicos. Foram primorosos duetos com Linda Batista, Moreira da Silva, Isaurinha Garcia, Carlos Galhardo e Orlando Silva. O programa teve espaço também para uma homenagem a Milton Carlos. O compositor teve duas canções gravadas por Roberto Carlos para o LP de 1976, mas não viveu para ouvir a interpretação de Roberto. Milton faleceu num acidente de carro. Além da Pelo avesso cantada no especial, RC gravou Um jeito estúpido de te amar, ambas de Milton Carlos em parceria com a irmã Isolda.

Mas o disco trouxe um repertório interessantíssimo, como vemos abaixo:

LADO A

1 - Ilegal, imoral ou engorda, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - Os seus botões, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

3 - O progresso, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

4 - Preciso chamar sua atenção, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

5 - O dia-a-dia, de Nenéo e Fred Jorge

6 - Pelo avesso, de Isolda e Milton Carlos

LADO B

1 - Você em minha vida, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - A menina e o poeta, de Wando

3 - Comentários, de Maurício Duboc e Carlos Colla

4 - Minha tia, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

5 - Um jeito estúpido de te amar, de Isolda e Milton Carlos

6 - Por motivo de força maior, de Getúlio Côrtes

Mais uma vez, RC apresentava safra de outros compositores em seu repertório. Ao lado de Getúlio Côrtes e das duplas Maurício Duboc e Carlos Colla e das últimas parcerias de Isolda e Milton Carlos, vinha a aposta na dupla Nenéo e Fred Jorge e um curioso destaque a uma canção de Wando. Mais tarde, ele seria conhecido por canções românticas de gosto duvidoso, como Moça e Fogo e paixão.

O LP abriu com um irreverente rock intitulado Ilegal, imoral ou engorda. Em seguida, veio o erotismo, através da ousada Os seus botões. Também com um leve toque erótico estava a canção Preciso chamar sua atenção, sua versão para Vou ficar nu pra chamar sua atenção (gravada por Erasmo Carlos alguns anos antes), com letra menor e mais comportada. O lado B do disco trouxe a melancólica Você em minha vida, feita inspirada numa frase de Frank Sinatra sobre a atriz Ava Gadner. A sensibilidade de RC também abriu espaço para uma homenagem à sua tia, Amélia, nos versos de Minha tia.

Além de seu LP anual, Roberto Carlos também teve lançada uma compilação no meio do ano. San Remo 68 trouxe em 12 faixas canções apresentadas originalmente em compactos. O disco abria com a canção vitoriosa de San Remo no ano de 1968, mas trouxe outras canções bem interessantes:

LADO A

1 - Canzone per te, de Sergio Endrigo e Sergio Bardotti

2 - Eu daria a minha vida, de Martinha

3 - Maria, carnaval e cinzas, de Luiz Carlos Paraná

4 - Você me pediu, de Luiz Fabiano

5 - Com muito amor e carinho, de Eduardo Araújo e Chill Deberto

6 - Sonho lindo, de Maurício Duboc e Carlos Colla

LADO B

1 - Un gatto nel blu, de Toto Savio

2 - O show já terminou, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

3 - Ai, que saudades da Amélia, de Ataulfo Alves e Mário Lago

4 - Custe o que custar, de Édson Ribeiro e Hélio Justo

5 - Eu amo demais, de Renato Corrêa

6 - Eu disse adeus, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

O repertório trouxe basicamente canções lançadas na época da Jovem Guarda, com compositores da época, como a dupla Hélio Justo e Édson Ribeiro, Renato Corrêa, Eduardo Araújo e Martinha. Mas também apresentou algumas tentativas de passear por outras praias, como na gravação de Maria, carnaval e cinzas, música defendida no festival de 1967, e na sua leitura do samba Ai, que saudades da Amélia. Além da faixa que abriu o LP, RC deu espaço para Un gatto nel blu, canção italiana que ele defendeu em San Remo no ano de 1973. Embora ela não tenha sido classificada, a gravação de Roberto fez sucesso em todo o mundo.

Somente duas músicas presentes em San Remo 68 foram assinadas por Roberto e Erasmo: a metalinguística O show já terminou e a triste Eu disse adeus (que, ao lado de Sonho lindo, curiosamente não fez parte do LP de 1973). A primeira terá sua letra apresentada agora ao final do post.

E do disco anual de 1976, este blogue deixa vocês com um tipo de canção que começaria a fazer parte da safra assinada por Roberto Carlos e Erasmo Carlos: a ECOLOGIA. A partir deste ano, RC começaria a cantar sobre a vontade de ser civilizado como os animais.

Seguem as letras! Na foto, um dos registros para a contracapa do disco anual de 1976.

Abraços a todos, Vinícius.

O SHOW JÁ TERMINOU - Roberto e Erasmo

O show já terminou
Vamos voltar à realidade
Não precisamos mais
Usar aquela maquiagem
Que escondeu de nós
Uma verdade que insistimos em não ver

Não adianta mais
Chorar o amor que já tivemos
Existe em nosso olhar
Alguma coisa que não vemos
E nas palavras
Existe sempre alguma coisa sem dizer

E é bem melhor que seja assim
Você sabe tanto quanto eu
No nosso caso felicidade
Começa num adeus


Me abrace sem chorar
Sem lenço branco na partida
Eu também vou tentar
Sorrir em nossa despedida

Não fale agora
Não há mais nada
O nosso show já terminou

Nosso show já terminou...

*****

O PROGRESSO - Roberto e Erasmo

Eu queria poder afagar uma fera terrível
Eu queria poder transformar tanta coisa impossível
Eu queria dizer tanta coisa
Que pudesse fazer eu ficar bem comigo
Eu queria poder abraçar meu maior inimigo

Eu queria não ver tantas nuvens escuras nos ares
Navegar sem achar tantas manchas de óleo nos mares
E as baleias desaparecendo
Por falta de escrúpulos comercias
Eu queria ser civilizado como os animais

Eu queria ser civilizado como os animais

Eu queria não ver todo o verde da terra morrendo
E das águas dos rios os peixes desaparecendo
Eu queria gritar que esse tal de ouro negro
Não passa de um negro veneno
E sabemos que por tudo isso vivemos bem menos

Eu não posso aceitar certas coisas que eu não entendo
O comércio das armas de guerra da morte vivendo
Eu queria falar de alegria
Ao invés de tristeza mas não sou capaz
Eu queria ser civilizado como os animais
Eu queria ser civilizado como os animais
Eu queria ser civilizado como os animais

Não sou contra o progresso
Mas apelo pro bom senso
Um erro não conserta o outro
Isso é o que eu penso...

quinta-feira, 21 de maio de 2009

50 anos de emoções - 1975



Olá, amigos.

A série 50 anos de emoções chega a mais um post nesta homenagem aos 50 anos da carreira de Roberto Carlos. Cada postagem recorda um ano no qual RC esteve presente no cenário da Música Popular Brasileira.

1975 foi um ano crucial para vários países do continente africano. Moçambique, Cabo Verde, Angola, Papua Nova-Guiné e São Tomé e Príncipe conseguiram se tornar independentes. O Timor-Leste também declarou sua independência, mas três dias depois a Indonésia invadiu seu território. Na América do Sul, o Suriname se tornou um país independente. Em território europeu, um dos países teve uma mudança política: a Espanha voltou ao regime da monarquia, com a posse do Rei Juan Carlos.

Na Inglaterra, o comediante Charles Chaplin foi distinguido com a Ordem do Império Britânico. Uma forma de valorizar o artista que sempre foi e amenizar a injustiça da perseguição do Macartismo (que o perseguiu por ser comunista).


No Brasil, a Ditadura Militar sofreu uma grande derrota. Oito dias depois de ser detido, o jornalista Wladmir Herzog foi encontrado morto na sede do DOI-CODI, em São Paulo, no dia 25 de outubro. A versão oficial foi que ele teria cometido suicídio - com direito a colocarem o corpo dele preso a uma forca na cela. No entanto, claramente se percebia que Herzog foi assassinado. O episódio causou uma crise interna no governo, e abalaria a prática de torturas e de repressão no país.

Em 15 de março de 1975, os estados do Rio de Janeiro e da Guanabara foram fundidos. Com isto, o estado se tornou Rio de Janeiro, e a capital foi transferida de Niterói para a cidade do Rio de Janeiro.

Mesmo sem as torturas, a censura federal continuava implacável. No dia de sua estreia, a novela Roque Santeiro foi proibida de ser exibida na TV Globo. O jornalista Cid Moreira leu nota da Censura Federal que vetava a exibição porque ela trazia atendado à moral e aos bons costumes, além de achincalhe à igreja. A fabulosa história de Roque Santeiro e de sua fogosa viúva, a que foi sem nunca ter sido trazia em sua trilha duas canções de Roberto e Erasmo feitas para a novela. Assim como a trama global, as músicas Noite cheia e Vida blue (ambas cantadas por Erasmo Carlos) foram censuradas.

O Campeonato Brasileiro apresentou um campeão de um novo estado. As terras gaúchas apresentaram o Internacional, que, com gol de Figueroa, derrotou o Cruzeiro por 1 a 0 no Estádio Beira-Rio. Seria o primeiro grande momento deste esquadrão da década de 1970.

Roberto Carlos voltava aos palcos trazendo um novo show para o Canecão. Concerto trouxe o seguinte repertório:

Eu quero apenas
Proposta
Seu corpo
Além do horizonte
Pout-pourri: Negro gato / Namoradinha de um amigo meu / É papo firme / Eu sou terrível
América, América
Ternura antiga
Ruby
Olha
O portão
Lígia
Mucuripe
McArthur Park
Pout-pourri: Como vai você / Como é grande o meu amor por você / Amada, amante / Eu te amo, te amo, te amo / Detalhes
Eu quero apenas


RC mostrava sua versatilidade, numa noite de gala em que passou por vários ritmos e por várias épocas de sua carreira. A abertura, com Eu quero apenas, foi realizada por um coro com roupa de gala e por trompetistas - num estilo próximo de grandes orquestras norte-americanas.

Em seguida, o amor erótico que adentrava em seu repertório apareceu em Proposta e Seu corpo. E, com a então nova Além do horizonte, Roberto saudou um lugar bonito e tranqüilo pra se amar.

No primeiro pot-pourri da noite, veio uma doce lembrança da década anterior. "A Jovem Guarda foi um momento marcado a ferro e fogo na minha biografia", disse, recordando também os amigos Erasmo Carlos e Wanderléia.

Num momento capaz de desmentir a "patrulha ideológica" que ainda insiste em rotulá-lo como alienadoRoberto falou sobre problemas da América Latina. Depois, cantou América, América, surpreendente canção escrita por César Roldão Vieira.

O show teve espaço para homenagens a nossos grandes compositores. Dolores Duran, com Ternura antiga, Lígia, de Tom Jobim, e Mucuripe, de Fagner e Belchior. E também para dois momentos internacionais - Ruby, sucesso de Ray Charles (com Waldyr Calmon, responsável pela gravação de Na cadência do samba, hoje associada ao programa Canal 100) e McArthur Park, gravada por Richard Harris.

No último pout-pourri da noite, amores dos anos 60 e 70 se intercalaram. Numa combinação curiosa, a maturidade de RC como compositor cantou em compasso com o amor inocente das canções da Jovem Guarda.

Concerto adiantou algumas canções que viriam em seu LP de 1975. Flertando com o jazz, Roberto apresentou um disco requintadíssimo, em letra e música. Eis o repertório:

LADO A

1 - Quero que vá tudo pro inferno, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - O quintal do vizinho, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

3 - Inolvidable, de Julio Gutierrez

4 - Amanheceu, de Benito di Paula

5 - Existe algo errado, de Maurício Duboc e Carlos Colla

6 - Olha, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

LADO B

1 - Além do horizonte, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - Elas por elas, de Isolda e Milton Carlos

3 - Desenhos na parede, de Beto Ruschel e Cézar das Mercês

4 - Seu corpo, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

5 - El humauaqueño, de Zaldivar

6 - Mucuripe, de Fagner e Belchior

Cada vez mais ligado à América Latina, Roberto Carlos não só incluiu uma pérola romântica de lá, Inolvidable, como também cantou uma música folclórica argentina - El humauaqueño, que fala sobre o carnaval argentino na região da Quebrada. Além de músicas das duplas Isolda e Milton Carlos e Maurício Duboc e Carlos Colla, RC abriu espaço para o intimismo de Desenhos na parede e apresentou canções que, em seu segundo especial na TV Globo, definiu como "presentes": Amanheceu e Mucuripe. Que se tornaram belos presentes também para seus ouvintes. Em seu Roberto Carlos Especial daquele ano, Roberto recordou a Jovem Guarda com os amigos Erasmo Carlos e Wanderléa, cantou Acalanto com Dorival Caymmi e Silvio Caldas e teve um papo sobre música com o amigo Caetano Veloso - além de, ao violão, ambos cantarem Como dois e dois.

O LP de RC abriu com uma regravação de Quero que vá tudo pro inferno, na qual os teclados de 1965 foram substituídos pela orquestra de dez anos depois. Em seguida, veio a singela O quintal do vizinho. O erotismo apresentou mais uma bela canção - Seu corpo - e apareceu de maneira velada no grito de liberdade de Além do horizonte.

Mas a canção mais jazzística e a letra mais marcante de 1975 viria na última faixa do lado A do disco de Roberto Carlos. Numa das declarações mais bonitas de sua safra, Roberto prometia uma vida inteira só de amor.

Segue a letra! Na foto, Roberto Carlos em Concerto.

Abraços a todos, Vinícius.

OLHA - Roberto e Erasmo

Olha, você tem todas as coisas
Que um dia eu sonhei pra mim
A cabeça cheia de problemas
Não me importo, eu gosto mesmo assim
Tem os olhos cheios de esperança
De uma cor que mais ninguém possui
Me traz meu passado e as lembranças
Coisas que eu quis ser e não fui

Olha, você vive tão distante
Muito além do que eu posso ter
Eu que sempre fui tão inconstante
Te juro, meu amor, agora é pra valer

Olha, vem comigo aonde eu for
Seja minha amante e meu amor
Vem seguir comigo o meu caminho
E viver a vida só de amor...

terça-feira, 19 de maio de 2009

50 anos de emoções - 1974



Olá, amigos.

A série 50 anos de emoções prossegue na estrada da trajetória de Roberto Carlos, mostrando, ano a ano, cada momento de seus 50 anos de carreira. Nesta sequência de posts, este blogue mostra também fatos que marcaram o Brasil e o mundo em cada ano da carreira de RC.

O ano de 1974 ficou marcado por um emocionante momento de volta à democracia. Em Portugal, a Revolução dos Cravos derrubou o fascismo que imperava em território português desde 1926. No Brasil, o cantor Chico Buarque citou esta revolução na canção Tanto mar, e a letra foi censurada: "Sei que estás em festa, pá, fico contente".

Nos Estados Unidos, um incidente motivou o afastamento do presidente Richard Nixon. O "Caso Watergate" levou à tona um esquema de corrupção e espionagem com o aval do então mandatário norte-americano. No dia 9 de agosto de 1974, Richard Nixon renunciou ao cargo, e em seu lugar entrou Gerald Ford.

O Brasil também sofria uma alteração política. Terminava o mandato mais obscuro da Ditadura Militar, com Emílio Garrastazu Médici. Em seu lugar, entrava o General Ernesto Geisel, que se propôs a fazer uma abertura política "lenta, gradual e segura" no país.

Mais um grave incidente vindo de São Paulo comoveu o país. Em primeiro de fevereiro, o Edifício Joelma, na Rua 9 de julho, foi palco de uma tragédia. Um curto-circuito ocorrido no ar condicionado de uma sala do décimo-segundo andar iniciou um incêndio que terminou com 300 feridos e 179 mortos.

Sem Pelé (que anunciou que não queria mais ser convocado), a Seleção Brasileira não teve o mesmo desempenho na Copa do Mundo. Após dois empates em 0 a 0 contra Escócia e Iugoslávia, o Brasil se classificou em segundo de seu grupo com uma vitória de 3 a 0 sobre a seleção do Zaire. Na segunda fase, o Brasil passou por Alemanha Oriental (1 a 0) e Argentina (2 a 1) mas não conseguiu passar pelo "carrossel holandês", e foi desclassificado com uma derrota por 2 a 0. Na disputa pelo terceiro lugar, a Seleção foi novamente derrotada, agora pela Polônia, por 1 a 0. A equipe dirigida por Zagallo terminou em quarto lugar na competição. O título da Copa do Mundo seria o país-sede Alemanha, que venceu a Holanda por 2 a 1 na partida final.

O Brasil também não chegou à disputa do Mundial Interclubes em 1974. O São Paulo chegou a vencer por 2 a 1 o primeiro jogo contra o Independiente, da Argentina, no Morumbi. Mas depois da derrota por 2 a 0 na Argentina, no terceiro jogo os são-paulinos não conseguiram a vitória, e o Independiente venceu por 1 a 0.

Em 1974, pela primeira vez um clube do Rio de Janeiro se sagrou vencedor do Campeonato Brasileiro. No quadrangular final entre Santos, Internacional, Cruzeiro e Vasco, as duas últimas equipes ficaram empatadas em número de pontos. Com isto, houve a necessidade de um jogo extra, que seria realizado no Mineirão ("casa" do time do Cruzeiro, que teve melhor campanha durante o campeonato). Mas um incidente ocorrido no estádio de Belo Horizonte fez com que a partida fosse realizada no estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro. O Vasco venceu a partida por 2 a 1, com gols de Ademir e Jorginho Carvoeiro, e Nelinho marcando para a equipe cruzeirense.

No ano de 1974, Roberto Carlos começou a fazer parte da programação anual do Brasil. Em dezembro, foi ao ar pela primeira vez o Roberto Carlos Especial. Além de apresentações musicais (Canzone per te, Se você pensa e Proposta), Roberto abriu espaço para convidados muito especiais. Seu filho Segundinho contracenou com personagens do programa infantil Vila Sésamo e pilotou um carro no qual o pai cantava O calhambeque. RC teve como convidados os cantores Antônio Marcos, Erasmo Carlos e o ator Paulo Gracindo.

Em seu programa, Roberto também apresentou canções que estavam em seu novo LP. Num clipe rodado nas ruas do centro de São Paulo, ele se tornou o seresteiro que cantava A deusa da minha rua. E, para encerrar seu programa, RC cantou Eu quero apenas, a música na qual ele dizia que queria ter um milhão de amigos. Mas o disco ainda trazia ótimas novas da safra de RC:

LADO A

1 - Despedida, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - Quero ver você de perto, de Benito Di Paula

3 - O portão, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

4 - Ternura antiga, de Dolores Duran e J. Ribamar

5 - Você, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

6 - É preciso saber viver, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

LADO B

1 - Eu quero apenas, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - Jogo de damas, de Isolda e Milton Carlos

3 - Resumo, de Mário Marcos e Eunice Barbosa

4 - A deusa da minha rua, de Newton Teixeira e Jorge Farahj

5 - A estação, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

6 - Eu me recordo (Yo te recuerdo), de Armando Manzanero, com versão de Roberto Carlos

Além da tradição de lançar novas gravações a cada ano, Roberto Carlos continuou também a tradição de apresentar a obra de um novo autor. Desta vez, o compositor escolhido foi Benito di Paula, com a música Quero ver você de perto. Mário Marcos, um dos autores de Como vai você?, apareceu como autor ao lado da mãe Eunice Barbosa, em Resumo. Isolda e Milton Carlos estiveram presentes com a densa Jogo de damas. Num novo tributo a gerações mais antigas da Música Popular Brasileira, Roberto apresentou novas leituras para A deusa da minha rua e para Ternura antiga, grande sucesso de Dolores Duran.

A veia aberta à América Latina se apresentou mais uma vez, através de uma canção de Armando Manzanero versionada pelo próprio RC. Eu me recordo já havia sido lançada no LP As 14 mais, em meados de 1974, tendo Roberto acompanhado pelo próprio Manzanero ao piano. Mas agora ela encerrava o LP de RC com um arranjo de orquestra.

No ano em que dizia que queria ter um milhão de amigos através de Eu quero apenas, Roberto Carlos prosseguia tendo como primeiro amigo e parceiro Erasmo Carlos. Os dois assinaram boa parte da safra musical do disco. Quatro anos depois do filme Roberto Carlos e o diamante cor-de-rosa, RC incluiu em seu disco uma leitura para É preciso saber viver. Mas com uma diferença considerável. Roberto estava gravando seu disco no exterior e queria incluí-la, mas não lembrava da letra. Ele ligou para Márcio Antonucci, um dos integrantes da dupla Os Vips, passar por telefone verso a verso. Só que Márcio esqueceu uma estrofe da canção. Ficou definitiva mesmo a música lançada por Roberto Carlos. A estrofe "esquecida" foi:

Mas se você caminhar comigo
Seja qual for o caminho eu sigo
Não importa aonde for
Eu tenho amor, eu tenho amor

O LP abriu com uma valsa chamada Despedida, um jeito paradoxal de iniciar seu disco daquele ano. Roberto Carlos também mostrou uma música melancólica de fim de relacionamento intitulada Você, que cerca de duas décadas depois seria redescoberta na voz de Maria Bethânia. Houve espaço também para uma música nostálgica, falando sobre despedida entre mãe e filho, nos versos de A estação.

Mas a canção mais marcante do LP de 1974 falou sobre reencontro. Sobre a volta para casa depois de tanto tempo longe. Um cachorro sorriu latindo para Roberto Carlos cantar como foi voltar em frente ao portão de casa depois de tanto tempo.

Segue a letra! Na foto, o logotipo do primeiro Roberto Carlos Especial.

Abraços a todos, Vinícius.

O PORTÃO - Roberto e Erasmo

Eu cheguei em frente ao portão
Meu cachorro me sorriu latindo
Minhas malas coloquei no chão
Eu voltei

Tudo estava igual como era antes
Quase nada se modificou
Acho que só eu mesmo mudei
E voltei

Eu voltei agora pra ficar
Porque aqui, aqui é meu lugar
Eu voltei pras coisas que eu deixei
Eu voltei

Fui abrindo a porta devagar
Mas deixei a luz entrar primeiro
Todo o meu passado iluminei
E entrei

Meu retrato ainda na parede
Meio amarelado pelo tempo
Como a perguntar por onde andei
E eu falei

Onde andei não deu para ficar
Porque aqui, aqui é meu lugar
Eu voltei pras coisas que eu deixei
Eu voltei

Sem saber depois de tanto tempo
Se havia alguém à minha espera
Passos indecisos caminhei
E parei

Quando vi que dois braços abertos
Me abraçaram como antigamente
Tanto quis dizer e não falei
E chorei

Eu voltei agora pra ficar
Porque aqui, aqui é meu lugar
Eu voltei pras coisas que eu deixei
Eu voltei...

domingo, 17 de maio de 2009

50 anos de emoções - 1973



Olá, amigos.

Em mais um post da série 50 anos de emoções, hoje este blogue recorda mais um ano no qual Roberto Carlos esteve presente no cenário musical. Esta é a forma de relembrarmos, a cada dia, os 50 anos de carreira de RC, completos neste ano de 2009.

O ano de 1973 foi marcado pelo fim de uma barbárie. Após 14 anos de combates em território vietnamita, o presidente Richard Nixon anunciou a retirada das tropas dos Estados Unidos do Vietnã. Os Acordos de Paz de Paris assinaram o fim da Guerra do Vietnã.

Entretanto, outros conflitos comveriam a sociedade mundial. No dia 6 de outubro, Egito e Síria abriram ofensiva contra Israel, no episódio conhecido como Guerra de Yom Kippur. Durante 20 dias, os exércitos se confrontaram num ataque que soou como uma tentativa de retaliação do mundo árabe pela vitória israelense na Guerra dos Seis Dias. Apesar da guerra não completar um mês, o acordo entre os países seria assinado somente em 1978. Mas isto é um assunto para um dos próximos posts.

A América Latina permanecia sob ditaduras em toda sua região, e a prosperidade política na qual o Chile caminhava através do governo de Salvador Allende foi interrompida no dia 11 de outubro. Neste dia, um golpe de estado levou Allende à morte e instaurou a ditadura do General Augusto Pinochet.

No cenário tecnológico, os Estados Unidos lançaram as sondas Mariner 10 e Pioneer 10 no espaço. E em seu território, ergueu o prédio que seria, com o passar dos anos, o centro econômico de todo o mundo: as torres gêmeas do World Trade Center, inauguradas em 4 de abril.

O Brasil também teve algumas tentativas de melhoras tecnológicas no ano de 1973. Uma delas veio na parte de energia elétrica, quando Brasil e Paraguai fizeram um acordo sobre a bacia hidrelétrica do Rio Paraná. O Tratado de Itaipu obrigava o Paraguai a repassar 20% do excedente energético produzido ao Brasil até o ano de 2023.

Em 1973, uma nova barbaridade envolvendo criança comoveu o país e mobilizou também a cobertura jornalística. Em 2 de agosto, o menino Carlos Ramires da Costa, o Carlinhos, foi sequestrado de sua casa na Rua Alice, no bairro carioca de Laranjeiras. Até o momento, este crime nunca foi solucionado.

Em 24 de janeiro, o país começava a ver sua novela mais colorida. Assinada por Dias Gomes, O bem amado foi a primeira novela a ser exibida totalmente em cores. Os desmandos do Odorico Paraguaçu vivido por Paulo Gracindo e as situações da cidade de Sucupira fizeram o país rir, na sátira política apresentada às 22 horas.

A TV Globo lançou neste ano alguns programas que ainda estão em sua grade de programação, e para todos os espectadores. O jornalístico Globo Repórter, o informativo esportivo Esporte espetacular, e aquele que se tornaria um de seus programas mais tradicionais. Num domingo, dia 5 de agosto de 1973, foi ao ar a primeira edição do programa Fantástico. Idealizado por Walter Clark, o programa mesclava informação e entretenimento durante duas horas a cada domingo.

Repetindo a façanha de 1972, o Palmeiras foi novamente o vencedor do Campeonato Brasileiro. Em uma quadrangular com Cruzeiro, Internacional e São Paulo, o alviverde chegou ao último jogo, diante do tricolor paulista, precisando apenas de um empate. E conseguiu. Com o 0 a 0 no Morumbi, o Palmeiras se tornou o primeiro bicampeão do torneio.

Roberto Carlos estreou mais uma vez um show assinado por Miéle & Bôscoli no palco do Canecão. Depois de A 200 km por hora, em 8 de novembro de 1973 tinha início a turnê de Além da velocidade. O show permaneceu por seis meses na casa de espetáculos, sempre com casa lotada. E os espectadores iam à casa de shows para assistir RC interpretando o seguinte repertório:

- Abertura: Se você pensa /As curvas da Estrada de Santos /Sua estupidez /Todos estão surdos / Jesus Cristo
- À distância
- Como dois e dois
- Quando as crianças saírem de férias
- Traumas
- O divã
- Detalhes
- Desafinado
- Blue suede shoes / You can't be back / Hound dog / Tutti Frutti
- Como vai você?
- A deusa da minha rua
- Sonho lindo
- El día que me quieras
- O show já terminou
- A montanha


Roberto Carlos ia além da velocidade, mas via pelo espelho todas as fases pelas quais sua música havia passado até então. E homenageava cada nuance de sua música. Em meio a músicas lançadas no ano anterior, como Quando as crianças saírem de férias e Como vai você?, vinham lembranças de seus tempos de rock, com o pout-pourri dedicado a Elvis Presley, a inclusão de Desafinado, em referência à Bossa Nova.

A inclusão de El día que me quieras sinalizava um novo caminho que Roberto Carlos ia seguindo. No ano anterior, RC lançou para o mercado latino uma compilação dele lançando sucessos vertidos para o espanhol. E, em 1973, seria a vez do lançamento de um disco "de carreira" todo em castelhano. Oito músicas do LP de 1972 foram versionadas e, ao lado de de Las flores del jardin de nuestra casa e Te dije adiós (respectivamente, As flores do jardim da nossa casa e Eu disse adeus em espanhol) completaram o LP Roberto Carlos en español.

10 músicas formaram o LP anual lançado por RC ao final de 1973. Curiosamente, duas gravações lançadas na compilação As 14 mais no meio do ano não entraram no disco de dezembro - Sonho lindo, de Maurício Duboc e Carlos Colla, e O show já terminou, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos. Eis o repertório:

LADO A

1 - A cigana, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - Atitudes, de Getúlio Côrtes

3 - Proposta, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

4 - Amigos, amigos, de Isolda e Mílton Carlos

5 - O moço velho, de Sylvio César

LADO B

1 - Palavras, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - El día que me quieras, de Carlos Gardel e Alfredo Le Pera

3 - Não adianta nada, de Fred Jorge

4 - O homem, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

5 - Rotina, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

Mais uma vez, Roberto Carlos abriu espaço em sua discografia para dois compositores não muito conhecidos apresentarem seu trabalho - os irmãos Isolda e Milton Carlos, autores de Amigos, amigos. Getúlio Côrtes, Fred Jorge e Sylvio César novamente estiveram presentes nos créditos de um LP de RC. Roberto abriu suas veias para a América Latina, entregando ao Brasil uma leitura sensacional do tango El día que me quieras, eternizado por Carlos Gardel.

A safra de Roberto e Erasmo continuava uma linha mais romântica. Na canção que abriu o disco, a marcante A cigana falava sobre o amor que se perdia à distância. Na que abriu o lado B do LP, veio também o desabafo amoroso de Palavras. A mensagem religiosa veio através da imponente O homem. E o último momento do disco trouxe mais um recorte de uma relação conjugal, nos versos de Rotina.

O primeiro passo já havia sido dado em Amada amante. Mas seria em 1973 que Roberto Carlos definitivamente mostraria um lado importante em sua obra. Com uma proposta feita "com palavras cuidadosamente escolhidas", RC começava a debruçar sua música sobre o amor erótico.

Segue a letra! Na foto, um canhoto de um ingresso do show Além da velocidade.

Abraços a todos, Vinícius.

PROPOSTA - Roberto e Erasmo

Eu te proponho
Nós nos amarmos
Nos entregarmos
Neste momento
Tudo lá fora deixar ficar

Eu te proponho te dar meu corpo
Depois do amor, o meu conforto
E além de tudo, depois de tudo
Te dar a minha paz

Eu te proponho
Na madrugada, você cansada
Te dar meu braço e no meu abraço
Fazer você dormir

Eu te proponho
Não dizer nada
Seguirmos juntos
A mesma estrada

Que continua
Depois do amor
No amanhecer

Eu te proponho...

sexta-feira, 15 de maio de 2009

50 anos de emoções - 1972



Olá, amigos.

Prosseguindo a série 50 anos de emoções, hoje este blogue apresenta mais um ano no qual Roberto Carlos esteve presente como artista da Música Popular Brasileira. É a forma deste blogue homenagear os 50 anos de RC no cenário musical.

1972 foi marcado por um acontecimento ocasionado pela intolerância religiosa. Durante as Olimpíadas de Munique, o grupo terrorista palestino "Setembro Negro" fez um atentado contra a delegação de Israel. A ação matou 11 atletas israelitas, no incidente chamado "Massacre de Munique".

No Brasil, alguns órgãos da imprensa continuavam achando formas de burlar a Censura Federal. O Estado de S. Paulo já se caracterizava por artimanhas como publicar receitas de bolo ou poemas nos lugares das notícias censuradas. Mas na edição de 24 de setembro de 1972, o "Estadão" conseguiu publicar uma notícia sobre a Guerrilha do Araguaia, na qual, neste ano, seria preso o hoje deputado José Genoíno.

Só que o país também assistia a fatos que causaram comoção nacional. Em fevereiro, o menino Serginho, de 4 anos, foi sequestrado por quatro bandidos dentro de sua casa, na Lagoa Rodrigo de Freitas. A ação contra o filho do empresário imobiliário Sérgio Castro inspiraria outro sequestro a uma criança (em especial por causa da cobertura jornalística em cima do "Caso Serginho"), mas isto é um assunto para um dos próximos posts.

À imprensa chegavam alguns ecos de excessos da Polícia Militar em bairros suburbanos do Rio de Janeiro. Um deles veio em 29 de março, quando agentes do DOI/CODI (Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna) assassinaram Lígia Maria Salgado Nóbrega, Antônio Marcos Pinto de Oliveira e Maria Regina Lobo Leite Figueiredo por supostas ligações com grupos de esquerda. Este episódio ficou conhecido como "Chacina de Quintino", no Rio de Janeiro.

Em São Paulo, uma provável sobrecarga elétrica causou um incêncido no Edifício Andraus, prédio de 32 andares localizado entre a Avenida São João e a Rua Pedro Américo. Transmitido praticamente em tempo real pela televisão, o incêndio teve 16 mortos e 330 feridos. Dois anos depois, outro incêndio em uma grande construção paulistana chocaria o mundo. Mas isto é assunto para um dos próximos posts.

Na segunda edição do Campeonato Brasileiro, Palmeiras e Botafogo chegaram à final do torneio. Por ter a melhor campanha, o empate em 0 a 0 no Morumbi deu o título ao alviverde paulista.

Neste ano, a TV Globo transmitiria sua última edição do Festival Internacional da Canção. Na sétima edição do evento, Maria Alcina cantaria a vencedora Fio Maravilha, música que Jorge Ben escreveu em homenagem ao atacante rubro-negro de mesmo nome. Curiosamente, mais tarde o jogador entraria na justiça e não permitiria que o autor colocasse seu nome na canção - Jorge Ben alterou o título para Filho Maravilha. Em segundo lugar, Tobias e Cláudia Regina interpretaram a música Diálogo, de Paulo César Pinheiro e Baden Powell.

Este festival teria dois momentos interessantíssimos. O primeiro deles foi através de um conterrâneo de RC - Sérgio Sampaio - que apresentou o protesto Eu quero é botar meu bloco na rua. No outro, seria um prêmio especial ao cantor e compositor Walter Franco, que apresentou a experimentalíssima Cabeça sob fortes vaias da plateia.

Roberto Carlos apareceu como compositor numa situação inusitada. Ele e Erasmo Carlos assinaram uma trilha inteira de uma novela exibida pela TV Globo. Em 19 de julho, o horário das 22h estreou a novela O bofe. Depois do sucesso de Beto Rockefeller na TV Tupi, a emissora global contratou o autor Bráulio Pedroso e o diretor Lima Duarte para escreverem "a mais anárquica de todas as telenovelas".

Em O bofe, Bráulio fugia de todos os clichês de telenovela, apresentando personagens como uma grã-fina que era jurada do programa Buzina do Chacrinha, um hippie que saqueava apartamentos, um mecânico que era artista plástico nas horas vagas e acabava descoberto por um marchand e tendo como par romântico um mecânico e uma viúva suburbana que ia paquerar na Zona Sul. A novela inovou ao trazer o ator Ziembinski fazendo o primeiro personagem travestido - a velha Stanislava, que se embebedava de xarope e tinha sonhos sensuais com um trapezista.

Entretanto, a inovação não foi bem aceita pelo público e Bráulio Pedroso foi demitido no meio da novela. Em solidariedade a ele, o ator José Wilker também pediu para sair de O bofe. O desfecho de seu personagem, Bandeira, foi morrer de tanto rir. O autor Lauro César Muniz continuou a trama. A trilha de Roberto e Erasmo apresentava momentos interessantes, e os mais variados intérpretes, como vemos abaixo:

LADO A

1 - Fala, Dorival, com Renata & Flávio

2 - Instantes, com Jacques Wu

3 - Rainha da roda, com Elza Soares

4 - Porcelana, vidro e louça, com Osmar Milito, Luna e Suza

5 - Madame sabe tudo, com Nelson Motta

6 - O bofe, com Osmar Milito e Quarteto Forma

LADO B

1 - Perdido no mundo, com Eustáquio Sena

2 - Quem mandou, com Djalma Dias

3 - Só de brincadeira, com Sandra

4 - Moço, com Betinho

5 - Grego só, com Os Vips

6 - Mapa do tesouro, com Cláudio Faissal

Bráulio Pedroso seria o encarregado de um projeto importantíssimo para o cinema brasileiro. Ele escreveu o roteiro de Roberto Carlos a 300 km por hora, terceiro filme de Roberto Farias. Rodado no ano anterior, este é um filme diferente na obra de RC.

Roberto Carlos não faz o papel dele mesmo. Ele é o mecânico Lalo, um humilde rapaz que sonha em ser piloto de corrida e tem uma paixão velada por Luciana (vivida por Libânia Almeida), namorada de Rodolfo Lara (papel de Raul Cortez), um piloto que abandonou as pistas depois de ter sofrido um acidente. Lalo tem a ajuda do amigo Pedro Navalha (vivido por Erasmo Carlos) para tentar realizar ao menos o sonho das pistas. A intenção desta nova empreitada cinematográfica era associar a imagem de RC ao sucesso das corridas de carro, na época em que Emerson Fittipaldi estava no ápice.

O filme tem participações especialíssimas de atores como Flávio Miggliaccio, Otelo Zeloni, Mário Benevenutto, Walter Forster e até uma ponta de Reginaldo Faria. A parte musical fica restrita a momentos incidentais das canções Todos estão surdos e De tanto amor, além da inclusão de Masculino, feminino, canção lançada por Erasmo Carlos no ano anterior.

Mas Roberto Carlos freava um pouco no ritmo de suas canções e apresentava ao final de 1972 um disco basicamente introspectivo. E cada vez mais belo em letra e música. Eis o repertório:

LADO A

1 - À janela..., de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - Como vai você?, de Antônio Marcos e Mário Marcos

3 - Você é linda, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

4 - Negra, de Maurício Duboc e Carlos Colla

5 - Acalanto, de Dorival Caymmi

6 - Por amor, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

LADO B

1 - À distância, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - A montanha, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

3 - Você já me esqueceu, de Fred Jorge

4 - Quando as crianças saírem de férias, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

5 - O divã, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

6 - Agora eu sei, de Édson Ribeiro e Helena dos Santos

Mais uma vez, Roberto Carlos apresentava uma dupla de compositores aos que ouviam seu disco - Antônio Marcos e Mário Marcos, autores de Como vai você?, uma das canções mais bem sucedidas de seu repertório. Fred Jorge aparecia novamente na triste Você já me esqueceu. Maurício Duboc e Carlos Colla emplacavam mais uma autoria, com os versos de Negra, uma canção nos moldes da Black is beautiful que Elis Regina interpretava. Helena dos Santos e Édson Ribeiro encerravam o disco na reflexiva Agora eu sei.

Roberto começava a mostrar seu cotidiano de pai, ao fazer uma nova leitura de Acalanto, bela canção de Dorival Caymmi e, na vertente de compositor, falar sobre gravidez em Você é linda e sobre o dia-a-dia de um casal com filhos na ensolarada Quando as crianças saírem de férias. Ensolarada também era a "mensagem" religiosa do LP - A montanha - nas quais ele procurava as montanhas pra entoar "Obrigado, Senhor".

Só que o disco trazia um tom mais intimista, e uma música simbolizava a vontade de Roberto mostrar todas as coisas que o amarguraram. Com O divã, ele cantou um pouco de sua infância e acabou se lembrando da festa, do apito e de um sange no linho branco, que certamente emocionou quem o escutou.

Nas demais canções, RC mostrava uma safra mais introspectiva, desde a abertura do LP. Em À janela..., RC cantava sobre a incerteza de uma pessoa que quer sair de casa. Encerrando o lado A do disco, vinha a tristeza de quem se sentia no submundo do desamor, em Por amor.

E, abrindo o lado B do disco, veio uma das mais belas canções amarguradas assinadas por Roberto Carlos e Erasmo Carlos. RC dedicava sua voz a cantar um amor que, em letra e música, não queria morrer na distância.

Segue a letra! Na foto, Roberto e Erasmo Carlos em Roberto Carlos a 300 km por hora.

Abraços a todos, Vinícius.

À DISTÂNCIA - Roberto e Erasmo

Nunca mais você ouviu falar de mim
Mas eu continuei a ter você
Em toda esta saudade que ficou
Tanto tempo já passou e eu não te esqueci

Quantas vezes eu pensei voltar
E dizer que o meu amor nada mudou
Mas o meu silêncio foi maior
E na distância morro todo dia sem você saber

O que restou do nosso amor ficou
No tempo esquecido por você
Vivendo do que fomos ainda estou
Tanta coisa já mudou, só eu não te esqueci

Quantas vezes eu pensei voltar
E dizer que o meu amor nada mudou
Mas o meu silêncio foi maior
E na distância morro todo dia sem você saber

Eu só queria lhe dizer que eu
Tentei deixar de amar não consegui
Se alguma vez você pensar em mim
Não se esqueça de lembrar que eu nunca te esqueci

Quantas vezes eu pensei voltar
E dizer que o meu amor nada mudou
Mas o meu silêncio foi maior
E na distância morro todo dia sem você saber...