sábado, 17 de outubro de 2009

Roberto Carlos, um estilo de música - BOSSA NOVA



A partir deste instante, começamos uma nova série neste blogue. Roberto Carlos, um estilo de música mostrará a versatilidade de RC, e como neste quase meio século de carreira sua obra passou por vários ritmos.

Soul, country, balada, valsa, forró. Roberto Carlos passou por estes vários estilos, mas sempre adaptando cada um deles à sua maneira de interpretar. Começamos com o estilo de início de carreira de Roberto Carlos - a BOSSA NOVA.



Segundo pesquisadores da Música Popular Brasileira, a Bossa Nova nasceu em 1958, num inspirado momento que nasceu durante encontros da classe média carioca. Jovens se reuniam em residências na Zona Sul do Rio de Janeiro para discutir, ouvir e fazer música. O grupo de mais destaque foi o que frequentava a casa da família Leão, em Copacabana, onde morava a então adolescente Nara Leão, que recebia amigos como Carlos Lyra e Roberto Menescal.



Depois destes primeiros passos, que culminaram num show com as presenças de Carlos Lyra, Ronaldo Bôscoli, Sylvia Telles, Roberto Menescal e Luiz Eça no Clube Hebraica ao final de 1957, o ano de 1958 traria o surgimento do responsável por este divisor de águas da música tupiniquim. Depois de participar como violonista de três faixas do LP Canção do amor demais, de Elizeth Cardoso, JOÃO GILBERTO se aventurou como intérprete solo, lançando um compacto com as músicas Chega de saudade (de Tom Jobim e Vinícius de Moraes) e Bim-Bom (do próprio João).



No ano de 1959, João Gilberto emocionaria ouvintes e músicos brasileiros, consolidando a nova batida criada para a MPB, com seu LP Chega de saudade (até hoje inédito em CD, em função de burocracias de gravadoras). E proporcionaria a ascensão de outros grandes artistas, como Aloysio de Oliveira, Baden Powell, João Donato, Wanda Sá, Sérgio Ricardo, Francis Hime, Luiz Eça, e, em especial, uma dupla que aliava excelentes acordes com versos primorosos.

O maestro ANTÔNIO CARLOS JOBIM e o poeta e ex-diplomata VINÍCIUS DE MORAES foram os compositores da trilha musical por onde o cancioneiro brasileiro andou a partir do ano de 1958. Em composições feitas entre eles (inúmeras, marcantes, mas, certamente, a mais associada à Bossa Nova é uma das mais tocadas no mundo: Garota de Ipanema), sozinhos ou com outros parceiros, a Música Popular Brasileira é grata a esta dupla.

Considerada uma forma diferente de tocar samba, e justamente por isso criticada pela influência do jazz, a Bossa Nova se tornou um dos estilos de música do Brasil mais reverenciados mundo afora. E os artistas bossa-novistas adentraram no cenário do país em um contexto muito favorável.



O Brasil vivia um momento de euforia em todos os campos. Na política, a gestão de Juscelino Kubistcheck prosperava o país com seu "desenvolvimentismo" (que culminou na inauguração da nova capital, Brasília, dois anos depois). E no esporte, a Seleção Brasileira de Futebol sagrou-se vencedora da Copa do Mundo, com o escrete formado por Pelé, Garrincha, Zagallo e Didi derrotando a anfitriã seleção da Suécia pelo placar de 5 a 2. Foi um tempo definido por historiadores como os "anos dourados".

Em meio à revolução musical feita através da batida de violão, um músico capixaba chamado Roberto Carlos seguia no Rio de Janeiro tentando a sorte em programas de calouros. Em 1959, aos 18 anos, RC conheceu o empresário Carlos Imperial, homem que o tornou seu pupilo. Depois de apresentá-lo no programa Clube do rock, Imperial viu que a "nova onda" era a Bossa Nova, e tentou emplacar Roberto no cenário bossa-novista (que RC já cantava nas boates Plaza e Bolero).

As gravações de seu primeiro compacto - João e Maria e Fora do tom - traçam esta influência. O jeito de imitador de João ainda esteve em outras gravações, como Brotinho sem juízo e Canção do amor nenhum.

Mas, percebendo que vida de imitador era curta, RC logo se desvencilharia da ideia de ser uma cópia de João Gilberto, e passaria a cantar um outro estilo de música. Mas isto é assunto para o próximo post.



Roberto Carlos voltaria ao repertório da Bossa Nova somente num momento bem simbólico - em 2008, para comemorar o cinquentenário deste estilo musical que ensinou o Brasil a ser desafinado, ele e Caetano Veloso se reuniram no show que virou disco e DVD Roberto Carlos e Caetano Veloso - E a música de Tom Jobim.

Mas em meio a tanta bossa, Roberto Carlos traz um dado curioso. No LP de 1963, em meio à história do Splish splash e de Parei na contramão, Roberto ainda abriria espaço para a Bossa Nova. Numa canção deliciosa, feita em parceria com Erasmo, RC passeia por um estilo considerado desafinado, mas que a saudade não chega desde que a onda se ergueu no mar. Sim, fundamental é mesmo o amor, mas, como disseram Roberto e Erasmo, é preciso ser assim pra se fazer feliz.

Segue a letra! Na foto, um Roberto Carlos em pose bossa-novista.

Abraços a todos, Vinícius.

É PRECISO SER ASSIM - Roberto e Erasmo

Se você está achando isso muito ruim
Sinto até que o nosso amor está chegando ao fim
Fica triste e de repente faz pensar assim
Que você, meu bem, já não gosta tanto de mim
Alguém quando gosta de alguém
Vê em tudo o bem, o bem do amor
Esquece que o mal existe
A tristeza é triste, não pensa na dor

Se você está achando isso muito ruim
Sinto que você meu bem precisa entender
Que a gente quando sente alguma coisa diz
É preciso ser assim pra se sentir feliz

Se você está achando isso muito ruim
Sinto até que o nosso amor está chegando ao fim
Fica triste e de repente faz pensar assim
Que você, meu bem, já não gosta tanto de mim

Alguém quando gosta de alguém
Vê em tudo o bem, o bem do amor
Esquece que o mal existe
A tristeza é triste, não pensa na dor

Se você está achando isso muito ruim
Acho que você, meu bem precisa entender
Que a gente quando sente alguma coisa diz
É preciso ser assim pra se sentir feliz

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