sábado, 15 de novembro de 2008

Roberto Carlos e o cinema - 5



Olá, amigos.

A série Roberto Carlos e o cinema traz hoje mais um momento cinematográfico no qual a obra de RC esteve próxima da safra de Nelson Rodrigues. O universo "rodrigueano" já foi adaptado muitas vezes para o cinema (e, no ano que vem, estará nas telas novamente, com a filmagem de uma adaptação da peça Bonitinha, mas ordinária, feita por Moacyr Góes), e o filme que mostramos hoje foi um dos que mais teve repercussão internacional para a obra do "anjo pornográfico".

No ano de 1973, o cineasta Arnaldo Jabor (atualmente conhecido por seu trabalho como cronista político na televisão e na imprensa) levou para as telas os personagens de Toda nudez será castigada, com todas as neuroses e obsessões comuns dos tipos criados por Nelson Rodrigues. Para muitos, Jabor foi responsável por uma das melhores visões cinematográficas da obra do dramaturgo - anos mais tarde, ele adaptaria Nelson Rodrigues novamente para o cinema (O casamento, baseado no romance homônimo do dramaturgo).

Em Toda nudez será castigada há a figura de Herculano (interpretado por Paulo Porto), um homem tradicionalista que, ao ficar viúvo, prometeu a seu filho Serginho (papel de Paulo Sacks) que nunca mais teria outra mulher. Entretanto, o irmão Patrício (vivido por Paulo César Peréio), homem que vive às custas de Herculano, decide interceder para que sua única fonte de renda não se perca - afinal, Herculano permanece muito abalado por sua viuvez.

Patrício mostra a ele uma foto de Geni (feita por Darlene Glória), uma prostituta e cantora de bordel, e um dia, totalmente embriagado, Herculano passa a noite com ela. Com o tempo, Geni e Herculano se envolvem cada vez mais, o que desencadeia uma série de situações na família tradicional - dentre elas, a oposição das tias e de Serginho com este segundo casamento de Herculano. No elenco, ainda estão os atores Isabel Ribeiro, Elza Gomes e Sérgio Mamberti.

Através deste filme, Darlene Glória passou a ter seu talento reconhecido no mundo todo - sua interpretação fascinante para a prostituta Geni rendeu a ela o Urso de Prata de Melhor Atriz no Festival de Berlim, na Alemanha. Toda nudez será castigada também recebeu os prêmios de Melhor Filme e de Melhor Atriz (novamente para Darlene Glória) no Festival de Gramado.

No entanto, houve uma situação muito curiosa para esta adaptação cinematográfica da obra de Nelson Rodrigues. No mesmo período em que o filme fazia sucesso no mercado internacional, em terras brasileiras o país não podia assistí-lo. O chefe da censura considerou o filme "imoral" e o proibiu de ser exibido nas telas do país - e só voltaria a ser liberado diante do tamanho sucesso no exterior.

A trilha de Toda nudez será castigada recebeu menção honrosa no Festival de Gramado - em especial pelas composições de Astor Piazzolla. E, em meio a esta parte musical, novamente estava uma canção da safra de Roberto Carlos.

Na cena em que Patrício tenta convencer Geni a se envolver com Herculano, ao fundo do ambiente da boate está uma das canções mais cultuadas da obra de Roberto e Erasmo. A música, que abre o LP de 1971, foi mais um ótimo detalhe deste filme muito grande e inesquecível da cinematografia nacional.

Segue a letra! Na foto, o cartaz de Toda nudez será castigada.

Abraços a todos, Vinícius.

DETALHES - Roberto e Erasmo

Não adianta nem tentar me esquecer
Durante muito tempo em sua vida, eu vou viver
Detalhes tão pequenos de nós dois
São coisas muito grandes pra esquecer
E toda hora vão estar presentes, você vai ver

Se um outro cabeludo aparecer na sua rua
E isso lhe trouxer saudades minhas, a culpa é sua
O ronco barulhento do seu carro
A velha calça desbotada ou coisa assim
Imediatamente você vai lembrar de mim

Eu sei que um outro deve estar falando ao seu ouvido
Palavras de amor como eu falei mas eu duvido
Duvido que ele tenha tanto amor
E até os erros do meu português ruim
E nessa hora você vai lembrar de mim

À noite envolvida no silêncio do seu quarto
Antes de dormir você procura o meu retrato
Mas na moldura não sou eu quem lhe sorri
Mas você vê o meu sorriso mesmo assim
E tudo isso vai fazer você lembrar de mim

Se alguém tocar seu corpo como eu não diga nada
Não vá dizer meu nome sem querer à pessoa errada
Pensando ter amor nesse momento
Desesperada você tenta até o fim
E até nesse momento você vai lembrar de mim

Eu sei que esses detalhes vão sumir na longa estrada
Do tempo que transforma todo o amor em quase nada
Mas quase também é mais um detalhe
Um grande amor não vai morrer assim
Por isso, de vez em quando, você vai, vai lembrar de mim

Não adianta nem tentar me esquecer
Durante muito, muito tempo em sua vida eu vou viver
Não, não adianta nem tentar me esquecer...

2 comentários:

James Lima disse...

Olha que bacana, bicho!
O rei em todos os momentos mesmo, né?

E, pra completar, com um espaço pra admiração desse meu professor-padrinho pelas peças do Nelson Rodrigues.

"Bate tudo no liquidificador", e sai isso aí !

Valeu, bichão ! É sempre um prazer estar aqui, e no blog da "Literatura Salafrária" hehehe.

Abraços
James Lima
www.robertocarlos.vai.la

Anônimo disse...

Uma belíssima canção de amor...
Beijos,
Leda Martins.