sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Panoramas ecológicos - 5



Olá, amigos.

Prosseguindo a série Panoramas ecológicos, este blogue hoje traz mais uma canção na qual Roberto Carlos falou sobre questões ecológicas. De acordo com seu parceiro Erasmo Carlos, a dupla abordou este tema "bem antes do Sting se vestir de índio" (de maneira irreverente, o "Tremendão" usou este exemplo para falar que os dois falavam sobre ecologia bem antes deste assunto ganhar o modismo da mídia).

Depois de cantar sobre as baleias em seu LP de 1981, RC dedicou seu repertório a falar sobre as graves conseqüências que os "progressos" e as mudanças causadas pela civilização traziam para os índios brasileiros. Ao contrário do que muito se afirma sobre Roberto (definido como "alienado" por parte maldosa da crítica), ele costuma colocar seu ponto de vista sobre assuntos que estão em voga nas discussões sociais do país.

Não foi diferente com esta canção de 1987. Após séculos, em meados desta década o país viu pela primeira vez um homem com etnia indígena ocupar um cargo federal no Brasil. No ano de 1983, o cacique Mário Juruna se elegeu deputado federal pela cidade do Rio de Janeiro.

Nascido em 1942 numa aldeia localizada em Barra das Garças, no estado do Mato Grosso, Juruna teve seu primeiro contato com a civilização durante a década de 1970, quando a tribo em que vivia conheceu o expedicionário Chico Mendes. Desde então, constantemente viajava a Brasília, para ir à Fundação Nacional do Índio (FUNAI) lutar pela demarcação dos territórios xavantes.

Eleito pelo PDT, o cacique se caracterizou por andar sempre com um gravador debaixo do braço - segundo ele, era "para registrar tudo o que o branco diz". A presença de Mário Juruna teve grande repercussão mundial, e tornou possível o reconhecimento formal dos problemas indígenas, em especial pela criação da Comissão Permanente do Índio.

Seu mandato terminou em 1987, e a ligação com políticos de caráter duvidoso fizeram com que não conseguisse sua reeleição ao cargo de deputado federal. Sem conseguir permanência na Câmara dos Deputados e abandonado pelos integrantes de sua tribo de origem, Juruna faleceria em 2002, em decorrência de problemas diabéticos.

Coincidentemente, no ano de 1987 a dupla Roberto e Erasmo Carlos voltou suas atenções para as situações dos índios, e ajudou os indígenas a receberem as atenções da população. A terceira faixa do lado A deste LP lançado por RC foi usada numa campanha da FUNAI. Com a ajuda de Roberto Carlos, era mostrado ao povo civilizado que todo índio sabe viver com a natureza sempre ao seu lado - e, diante das coisas que aconteciam no asfalto, muitos indígenas sonhavam viver velozes como a águia dourada da imensidão.

Segue a letra! Na foto, Roberto Carlos na parte interna de seu LP do ano da música abaixo.

Abraços a todos, Vinícius.

ÁGUIA DOURADA - Roberto e Erasmo

Águia bonita que voa no espaço
Aqui da Terra vejo passar
Riscando o azul, dourado traço
Linha ascendente no ar

Eu sou um índio e aqui do asfalto
Olho no alto caminhos seus
Meus pensamentos sempre te encontram
Voando perto de Deus

Rápido como um raio
Repentino como um trovão
Veloz como a águia dourada
Na imensidão

Mostra a esse povo civilizado
Que todo índio sabe viver
Com a natureza sempre a seu lado
E olhando o céu pode ver

Que o vento sopra e a chuva cai
As nuvens passam e você vai
Asas abertas, força e coragem
Vão nesse rumo de paz

Rápido com um raio
Repentino como um trovão
Veloz como a águia dourada
Na imensidão

Natureza que reclama
Flores, folhas, verde vida
Rios, mares se derramam pela terra tão ferida
Ventos pedem, choram e chamam

Águia, me mostra no meu caminho
Como se pousa longe do espinho
Como se luta por esse mundo
Como se salva esse ninho

Rápido com um raio
Repentino como um trovão
Veloz como a águia dourada
Na imensidão...

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito bonita esta canção citada aqui; no cinto, na fivela do Rei, há um desenho de uma águia.
Beijos,
Leda Martins.

James Lima disse...

Bicho,

Bacana a história desse índio. Já tinha ouvido falar, mas não conhecia assim, detalhadamente.

Um forte abraço
James Lima
www.robertocarlos.vai.la