segunda-feira, 14 de junho de 2010

O nosso amigo Erasmo Carlos - ANOS 80



Olá, amigos.

A série O nosso amigo Erasmo Carlos chega a mais uma década de seus 50 anos de carreira. A trajetória do parceiro de Roberto Carlos ganhava um ritmo mais pop, mas prosseguia fiel ao rock e ao romantismo nas suas canções.

1980 foi o ano de um projeto musical ambicioso: Erasmo Carlos convida. Erasmo regravou músicas de sua autoria (incluindo algumas gravadas somente por Roberto Carlos) recebendo um convidado a cada faixa. Sua lista trouxe artistas que foram contemporâneos (Gal Costa, Maria Bethânia, Gilberto Gil, Rita Lee, Caetano Veloso, Nara Leão), músicos da nova geração (os grupos A Cor do Som e Frenéticas), amigos dos tempos da Tijuca (Tim Maia e Jorge Ben) e os parceiros e amigos musicais Wanderléa e Roberto Carlos.

A gravação de Erasmo Carlos e Roberto Carlos para Sentado à beira do caminho ficou tão marcante que eles sempre a repetem em especiais de RC exibidos pela TV Globo. E na vitrola, uma lista de sucessos assinados por Erasmo, como Detalhes, Café da manhã, Cavalgada, Na paz do seu sorriso, Além do horizonte, Sou uma criança não entendo nada, Se você pensa, O comilão, Mané João, Minha fama de mau e Quero que vá tudo pro inferno. O disco rendeu um especial da TV Globo, que teve também as participações do grupo humorístico Os Trapalhões, de Narinha e dos filhos de Erasmo.

No ano seguinte, veio mais uma safra de sucessos. O LP Mulher trouxe uma bela homenagem ao "sexo frágil", na faixa-título que Erasmo assinou com Narinha. O pop romântico prosseguiu nas faixas Minha superstar e na regravação de Gatinha manhosa, e houve espaço também para músicas dedicada a seus filhos - Primogênito e Filho. Mas, ao lado de Mulher e Minha superstar, o grande destaque foi a bem-humorada Pega na mentira.

Amar pra viver ou morrer de amor foi o refrão que Roberto Carlos deu a Erasmo para o título de uma música, e o parceiro agradeceu tanto que batizou o LP de 1982 com este nome. Infelizmente, o disco não teve tanta repercussão, e ficou no esquecimento uma homenagem às estradas antes de Caminhoneiro - Filosofia de estrada. Meu boomerangue não quer mais voltar receberia uma versão de Xuxa, cantora e apresentadora que ainda estava em ascensão, mas as inspiradas Geração do meio e História dos meus sonhos pararam à beira do caminho. Afinal, o sucesso de Mesmo que seja eu foi avassalador.

Erasmo Carlos voltaria ao estúdio dois anos depois. Assim como no LP anterior, Buraco negro teria um destaque capaz de ofuscar todas as outras faixas: a irreverente Close, que contava a história de uma mulher capaz de atrair o olhar de todos os homens, mas na verdade se tratava de um travesti. O sucesso trouxe uma consequência incômoda, pois as revistas de fofoca começaram a espalhar que Erasmo estava tendo caso com a atriz transexual Roberta Close (e o nome do disco não ajudava muito a desmentir). De sua autoria, Erasmo gravou Esse imenso fliperama, a nostálgica Turma da Tijuca, Nara e O pulo da gata - as três primeiras com RC e a última com Narinha. O LP não muito conhecido traz uma rica safra de compositores - Caetano Veloso (Comeu), Gilberto Gil (Indigo blue), Gonzaguinha (Sementes do amanhã), Eduardo Dusek e Luiz Carlos Góes (Homem lobo lunar) e Lulu Santos e Nelson Motta (Boba).

1985 foi um ano conturbado na vida de Erasmo Carlos - ele estava se separando de Narinha, nas palavras dele "em um clima brabíssimo". Isto se refletiu em seu LP (um dos poucos a ter como título somente Erasmo Carlos). As canções assinadas em parceria com RC trouxeram como tema discussões amorosas - como Nação dividida, Senhora e Negue. Através de outros compositores, vieram bons momentos em letra e música, com Manchas e intrigas, de Kiko Zambianchi, e Nova mulher, de Tavito. Mas, como é costume em "coisa de cara separado", a alegria veio através dos filhos. Com a ajuda de Rodrigo e Gil Eduardo, Erasmo escreveu Orgasmo calmo, trazendo só trocadilhos com nomes próprios (dentre eles, o título da canção, uma versão irreverente para Erasmo Carlos). E os filhos Léo e Gugu participaram da regravação de Haroldo, o robot doméstico.

Mesmo com o insucesso do ano anterior (e a apresentação conturbada no Rock In Rio, quando marcaram seu show para abrir um espetáculo de metaleiros, gerando muitos dissabores), a PolyGram insistiu para que Erasmo fizesse mais "lentinhas pra tocar no rádio" em 1986, impondo a ele o mesmo ritmo de lançamentos de Roberto Carlos. E somente a faixa-título Abra seus olhos e a música Coração de jovem (assinada por Leno, que foi tema da novela Brega & chique, da TV Globo) tiveram destaque nas rádios. Além de Leno, Paulinho Soledade e as duplas Ed Wilson e Ronaldo Bastos e Nico Rezende e Ronaldo Bastos foram os compositores gravados. Num disco que trouxe como convidados Eduardo Dusek (numa versão nova e ampliada de Análise descontraída, de 10 anos antes) e Leila Pinheiro (em Samba-rock), o romantismo assinado por Roberto e Erasmo não trouxe outras músicas de impacto (Amores indecisos, Rico sem dinheiro, Tantas noites e O resto é blá-blá-blá foram assinadas pelos dois). De curioso no LP Abra seus olhos, vem o lado humorístico das canções de Erasmo, na denúncia a falsos amigos de celebridades de Papagaio de pirata (parceria de Roberto Carlos, Erasmo Carlos e do produtor musical João Augusto) e na hilária Rádio Patroa, música de Luiz Carlini.

1988 foi um ano simbólico na carreira de Erasmo Carlos. O nome Apesar do tempo claro... veio de um verso da música 100% de chance de chover, assinada por Cecelo, e foi marcado por um disco no qual o cantor afirma ter gravado tudo o que apareceu para gravar. Pela primeira vez, as 10 músicas de um disco que ele lançou jamais foram relembradas. Nem mesmo as canções assinadas com Roberto - Mulher moda (homenagem a Malu Mader), Fulana e a engajada Feijoada de país. O disco que ainda trouxe na lista de compositores nomes de Marcos Valle, Carlos Colla, Evandro Mesquita e Cláudio Rabello foi o último de Erasmo na PolyGram. A gravadora enviou uma carta dizendo que não mais contaria com ele em seu elenco.

Erasmo Carlos terminou a década de 1980 em nova gravadora - a pequena SBK - e recorrendo aos velhos tempos e belos dias. O LP Sou uma criança traz seu primeiro LP ao vivo, no qual o cantor reencontrou sucessos da Jovem Guarda como Gatinha manhosa, O caderninho, Você me acende, Vem quente que eu estou fervendo e Eu sou terrível e mesclou com sucessos da década de 1970, como Sentado à beira do caminho, Filho único e Sou uma criança, não entendo nada. O show, gravado no Golden Room do Copacabana Palace, teve participações de Léo Jaime, Kid Abelha e João Penca e Seus Miquinhos Amestrados. Festa de arromba ficava atual, com músicos da "jovem guarda" do rock brasileiro.

Erasmo experimentara o doce e o amargo da carreira artística nos anos 80, mas não se pode dizer que foi uma década perdida para ele. Afinal, "antes mal acompanhado do que só", e ainda havia muita música para ser tocada nas próximas décadas.

Segue a letra! Na foto, Erasmo e Roberto no Roberto Carlos Especial de 1984.

Abraços a todos, Vinícius.

MESMO QUE SEJA EU - Roberto e Erasmo

Sei que você fez os seus castelos
E sonhou ser salva do dragão
Desilusão, meu bem
Quando acordou estava sem ninguém

Sozinha no silêncio do seu quarto
Procura a espada do seu salvador
Que no sonho se desespera
Jamais vai poder livrar você da fera
Da solidão...

Com a força do meu canto
Esquento seu quarto
Pra secar seu pranto
Aumenta o rádio
Me dê a mão

Filosofia é poesia
É o que dizia a minha a vó
Antes mal acompanhado do que só
Você precisa de um homem pra chamar de seu
Mesmo que esse homem seja eu

Um homem pra chamar de seu
Mesmo que seja eu...

Um homem pra chamar de seu
Mesmo que seja eu...

Um comentário:

Armindo Guimarães disse...

Olá, pá!

Excelente artigo sobre o nosso Tremendão.

Abraços