quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Post especial - ENCARNAÇÃO DO DEMÔNIO



Olá, amigos.

Este blogue hoje dedica um post especial ao retorno na telas brasileiras de um dos personagens mais emblemáticos do nosso cinema. Trata-se de ZÉ DO CAIXÃO, o coveiro que se veste com roupas pretas e aterroriza com suas maldades desde 1964 (ano em que chegou ao cinema o primeiro filme no qual sua figura pitoresca apareceu).

O personagem surgiu por obra de José Mojica Marins, um descendente de espanhóis criado em São Paulo e que desde menino tinha interesse em trabalhar no universo cinematográfico - em seu início, fazendo filmes inspirados nos bangue-bangues ou voltados para o público infantil. Até que um sonho o fez despertar para um crucial rumo de sua trajetória no cinema.

Numa noite, ele era arrastado por um homem de preto cujo rosto ele não via. O homem o levava até o cemitério, e terminava o trajeto em frente a um túmulo onde estava o nome e a data de nascimento de Mojica. Ao se aproximar, José via que o homem que o segurara tinha seu próprio rosto.

Mojica então decidiu levar seu sonho abominável para as telas. Seu único terno preto, uma capa de Exu e uma cartola alugada da Casa do Artista, surgia então o personagem Zé do Caixão.

À meia-noite levarei sua alma apresentou ao cinema brasileiro, em 1964, a figura de Josefel Zanatas, o agente funerário que anseia por achar a mulher ideal, a mulher superior com a qual irá gerar um filho perfeito. Com cenas rodadas numa sinagoga abandonada, o filme teve grande sucesso financeiro e proporcionou a divisão da crítica - uns achavam ridículo, outros o achavam genial.

Dois anos depois, Zé do Caixão sobreviveu à batalha de À meia-noite levarei sua alma, e sua batalha prosseguiu em Esta noite encarnarei no teu cadáver. Naquela altura, a figura de José Mojica Marins passou a ser "confundida" com a de Zé do Caixão, e ele começou a ser conhecido em São Paulo por seus testes "macabros" nos estúdios. Voluntários que queriam participar de seus filmes passavam por torturas físicas e psicológicas, em desafios dos mais variados, como deitar em lugares cheios de aranhas e de cobras e comer baratas vivas.

Zé do Caixão chegou ao universo televisivo através de dois programas da TV Bandeirantes - Além, muito além do além e O estranho mundo de Zé do Caixão. Este último se tornaria título do terceiro filme no qual apareceria seu personagem - dividido em três episódios, e em um deles apresentando a figura do elegante professor Oaxiac Odéz (este que vos escreve recomenda que os leitores leiam este nome de trás para frente, a título de curiosidade). A censura, que já o perseguia desde os primeiros filmes, liberou O estranho mundo de Zé do Caixão com 20 minutos de corte.

No ano de 1969, Mojica realizou um novo filme - O ritual dos sádicos. Entretanto, a censura o interditou por completo, e ele só deixaria de ficar no ineditismo 16 anos depois - dessa vez com novo título: O despertar da besta. José Mojica Marins ainda realizaria outros filmes no estilo de terror que tanto o consagrara - Finis hominis e o curiosíssimo Delírios de um anormal (no qual um homem tinha delírios de que a mulher amada era objeto de desejo de Zé do Caixão - pretexto para Mojica apresentar várias cenas que antes foram vetadas pela censura).

Após passar alguns anos participando como ator de filmes de outros diretores, seu retorno à direção aconteceu em 1974. O produtor Anibal Massaini Neto decidiu fazer uma "versão brasileira" do terror americano O exorcista - até hoje um dos mais cultuados filmes sobre tiradores de demônio. E em Exorcismo negro, criador e criatura tiveram seu embate: José Mojica Marins ficou frente a frente com o diabólico Zé do Caixão. O filme foi um dos mais bem realizados da safra de Mojica (que desde suas primeiras realizações acostumou-se a fazer filmes com baixo orçamento), e tem em seu elenco atores de destaque na época, como Jofre Soares, Marcelo Picchi e Alcione Mazzeo.

Nos anos seguintes, Mojica deixou de lado Zé do Caixão e apresentou outra vertente de sua cinematografia - a pornochanchada e os filmes de sexo explícito, nos quais ele assinava a direção sob o pseudônimo de J.Avelar. Somente a partir de 1993 seu trabalho voltaria a ter o devido reconhecimento, quando seus filmes foram reexibidos nos Estados Unidos. Zé do Caixão virou "Coffin Joe" e passou a ter adeptos no país norte-americano e em alguns países europeus.

Em 1993, Mojica retornou à televisão como apresentador do Cine trash, um programa que exibia filmes de terror na TV Bandeirantes (mais tarde passado para as noites da emissora, devido a "recomendações" do horário). Além de realizar oficinas de filmes trash (caracterizados por terem temática de terror e por, propositalmente, não usarem grandes efeitos especiais), ele fez algumas participações em programas de televisão, clipes musicais e até no cinema - uma delas foi no filme Ed Mort, de Alain Fresnot, lançado em 1997. Atualmente, Mojica apresenta o programa de entrevistas O estranho mundo de Zé do Caixão, no Canal Brasil (na TV por assinatura NET).

E agora, cerca de 40 anos depois do início cinematográfico de Zé do Caixão, José Mojica Marins conseguiu, enfim, realizar o que considera o último e decisivo filme da trilogia iniciada com À meia-noite levarei sua alma e continuada com Esta noite encarnarei no teu cadáver. Depois de conviver com tropeços financeiros e com as várias mudanças do panorama do cinema brasileiro, chegou às telas na semana passada o derradeiro filme da saga de Josefel Zanatas - o homem que praticou atrocidades e não mediu esforços para encontrar a "mulher superior" que, assim como ele, não tem medos nem crenças, e é digna de gerar seu filho.

Desta vez, José Mojica Marins recebeu um orçamento à altura de seu fantástico cinema (cerca de R$ 2 milhões) para levar ao cinema Encarnação do demônio. O filme traz a volta de Zé do Caixão, que sai da cadeia depois de 40 anos encarcerado, cada vez mais sedento por sua obsessão - e não medindo esforços para encontrar seu objeto de desejo. O personagem retorna em grande estilo, com fortes cenas de rituais sádicos e até práticas como a autofagia. No elenco, Mojica tem as participações de Jece Valadão (em seu último trabalho), Adriano Stuart, Cristina Aché, Rui Rezende e Milhem Cortaz e as participações de Luís Melo e a impagável atuação do diretor José Celso Martinez Correia - além de trazer uma série de mulheres bonitas que acompanham e servem Zé do Caixão.

Tendo direito a efeitos maiores que seus filmes anteriores, Mojica reapresenta cenas de seus filmes anteriores, para relembrar os demônios que acompanharam Zé do Caixão em todos esses anos de carceragem. Lamentavelmente, nesta primeira semana de Encernação do demônio, Zé do Caixão teve um público bem aquém do que o bom cinema de terror brasileiro merece - foram cerca de seis mil espectadores. Espera-se que ainda haja tempo de um sucesso de público.

Poucos devem se lembrar, mas em 1969 Roberto Carlos teve um encontro inusitado com esta grande figura da cena artística brasileira. Ele foi a um dos programas de José Mojica Marins, e foi sabatinado pelo criador de Zé do Caixão. Para relembrar este encontro e louvar o retorno cinematográfico de um ícone mundial do terror, este blogue traz a letra de uma das faixas cantadas por RC em seu LP Roberto Carlos canta para a juventude. É nossa forma de registrar esse momento que vai além - muito além do além.

Segue a letra! Na foto, o registro do "hipnotismo" que Roberto Carlos sofreu de José Mojica Marins. Esta foto aparece no livro Maldito - a vida e o cinema de José Mojica Marins, biografia do criador de Zé do Caixão (que volta às telas com Encarnação do demônio), feita por André Barcinski e Ivan Finotti.

Abraços a todos, Vinícius.

NOITE DE TERROR - Getúlio Côrtes

Fazia noite fria eu logo fui dormir
Soprava um vento frote eu não pude mais sair
Pensei com meus botões: um bom livro eu vou ler
E um trago de uísque que é para me aquecer

Mas uma coisa vejam
Me aconteceu
Uma mão gelada
Em meu ombro bateu

Gritar eu quis, porém
A voz não me saiu
E o livro que eu lia até de minha mão sumiu
Tremi de cima abaixo sem sair do lugar
Quando de repente eu ouvi alguém falar
Bem junto de mim esse alguém me falou bem assim
Eu sou o Frankestein

Tomou conta de mim tamanha tremedeira
Mas nada quis ouvir, pois corri pela ladeira
Mas de repente então mudou-se o panorama
Quando dei por mim eu estava em minha cama

Alguém bate na porte
Vou logo ver quem é
Deve ser meu broto
Pois fantasma não dá pé

Mas quando a porta abri fiquei logo a tremer
Senti por todo corpo um frio percorrer
Fiquei no chão colado com cabelo arrepiado
Maior foi o meu pavor pois não era o meu amor

E esse alguém que eu vi
Me falou novamente assim:

Voltei...

***
No próximo post, este blogue retoma a série Canciones en vivo, falando sobre a música Acróstico.

4 comentários:

Anônimo disse...

Caaaara,

coincidentemente eu estava vendo essa foto hoje aqui no meu micro e me lembrando do programa CQC que foi ao ar essa semana e contou com a participação do nosso "Zé do Caixão". Você leu pensamentos.

Parabéns.

Fabiano

Felipe Moura disse...

Bicho, como te disse, foi muito oportuno seu post, pois a pouco tempo eu estava assistindo o programa do Zé do Caixão, no Canal Brasil, ele entrevistava a Mãe Diná e falavam sobre a vida de Roberto Carlos e o que esse ano ainda promete ao Rei.

Para quem não sabe o Rei era muito amigo dos artistas de Cinema São Paulo dos anos 60/70, inclusive foi muito amigo do Mojica e do Rei da Pornochanchada David Cardoso.

Abraços!

Felipe Moura
do Blog El Rey Roberto Carlos
reyrobertocarlos.blogspot.com

Anônimo disse...

Interessante; essa Noite de Terror!! Rsrsrs!
Beijos,
Leda Martins.

James Lima disse...

Bicho, muito bacana você falar do Zé do Caixão aqui...

E a canção "Noite de terror", lógico, caiu como uma luva.

Ah, nem te contei, recebi meu Roberto Carlos En Vivo ontem, e achei simplismente fantástico.

Um abração !
James Lima
www.robertocarlos.vai.la