sábado, 16 de agosto de 2008
Post especial - DORIVAL CAYMMI, 94 anos
Olá, amigos.
Este blogue dedica hoje um post especial ao compositor que durante toda sua trajetória na Música Popular Brasileira apresentou ao Brasil o que é que a Bahia tem em letra e música. Às 6h de hoje, DORIVAL CAYMMI encerrou sua carreira aqui na Terra depois de 94 anos bem vividos e de belos serviços prestados ao nosso cancioneiro.
Nascido em 1914, Caymmi começou sua carreira aos 19 anos, participando de programas da Rádio Clube da Bahia. Os temas de suas músicas chamaram atenção do radialista Gilberto Martins, que cedeu ao compositor e cantor o programa Caymmi e suas canções praieiras.
Anos mais tarde, viria o primeiro grande sucesso - O que é que a baiana tem? - que seria uma das canções mais associadas à estonteante Carmem Miranda e percorreria o mundo graças à "Pequena Notável". Outra canção que chegaria ao exterior seria Você já foi à Bahia?. Ela fez parte de um filme dos estúdios Walt Disney, com direito a ser "interpretada" pelo Pato Donald.
Com sua malemolência tipicamente brasileira, Caymmi cantou O samba da minha terra, e declarou que quem não gosta de samba ou é ruim da cabeça ou doente do pé - e, certamente, bom sujeito não é. Seu samba ganharia a homenagem de artistas de vários movimentos e de vários estilos - como o ícone da Bossa Nova João Gilberto (que gravou o Samba da minha terra)e a tropicalista Gal Costa, responsável pelo primoroso tributo Gal canta Caymmi. Nos anos 60, viria um encontro marcante dos gênios da nossa música: o LP Vinícius e Caymmi no Zum Zum - e mais tarde o conjunto Quarteto em Cy nos presentearia interpretando canções de Vinícius de Moraes e Dorival Caymmi.
Graças a ele, nós conhecemos o genioso João Valentão e ficamos de mal com a Marina (e descobrimos que quando zangamos não sabemos perdoar). Com ele passamos a ter Saudades da Bahia (mesmo que nunca tenhamos ido lá) e de outras partes (a Praia de Itapoã, com a letra de Saudade de Itapoã), de figuras que passam por terras baianas (como a Mãe Menininha do Gantois, através da letra de Oração de Mãe Menininha) e de comidas típicas de sua terra (Vatapá).
Caymmi também enxergou musicalidade na literatura de seu conterrâneo, o saudoso Jorge Amado, e na adaptação de Gabriela para a novela da TV Globo, o país cantou Modinha para Gabriela sempre que via a personagem homônima protagonizada por Sônia Braga em 1975 - para a qual também escreveria as canções Horas e Adeus. O passeio musical pelo universo de Jorge Amado se repetiria no ano de 2001 - quando, em parceria com o filho Danilo Caymmi, escreveu Caminhos do mar. Interpretada por Gal Costa (que cantou também a "modinha" de 1975), a canção foi tema da novela Porto dos milagres, livre adaptação de Aguinaldo Silva para os livros Mar Morto e A descoberta da América pelos turcos.
E foi no mar que ele enxergou límpidas águas musicais. O compositor que trouxe a simples comprovação de que o mar "quando quebra na praia é bonito" também encontrou nos mares canções como Canoeiro, Marcha dos pescadores, Suíte dos pescadores e, nos versos de O bem do mar, afirmou que o pescador tem "dois amô", um na terra e um no mar.
Mais tarde, seus filhos também o acompanhariam neste barco - Danilo, Nana e Dori - e sua neta Stella Caymmi escreveria como "assim se conta na beira do cais" a biografia de Dorival Caymmi, intitulada O mar e o tempo. Era a literatura contando a história do artista que pegou um ita no Norte e veio pro Rio morar (como diz a letra de Peguei um ita no norte). O artista que um dia escreveu É doce morrer no mar sai de cena sob os aplausos para sua música que mexe com o juízo do homem que vai trabalhar (tanto quanto a vizinha que passa com seu vestido grená, apontada na letra de A vizinha quando passa, recentemente muito bem relida na voz de Roberta Sá), e tem como última morada justamente o bairro no qual reside uma das mais belas praias de terras brasileiras: Copacabana - para quem ele dedicou (em parceria com Carlos Guinle) a música Sábado em Copacabana. E, por um acaso do destino, ele nos deixa hoje, aos 94 anos, em pleno sábado de Copacabana.
Roberto Carlos adentrou no universo de Dorival Caymmi em 1972. Em seu LP daquele ano, o então recente pai de família RC recriou a seu modo uma canção de ninar com toda a doçura do universo de Caymmi - este baiano que tanto conseguiu nos passar os encantos de suas músicas tão simples e tão apaixonantes. No acalanto de Caymmi, hoje este blogue recorda a homenagem de Roberto ao artista de "insensato" coração - que Dorival nos apresentou nos versos de Só louco, uma das canções interpretadas por RC no número "O coração dos compositores" (ao lado das músicas Carinhoso, de Pixinguinha e João de Barro, Coração vagabundo, de Caetano Veloso, e Explode coração, de Gonzaguinha), presente no show Coração.
Segue a letra! Na foto, um registro do Roberto Carlos Especial de 1975, no qual RC recebeu Silvio Caldas e Dorival Caymmi - e, na frente do autor, Roberto interpretou a canção abaixo.
Abraços a todos, Vinícius.
ACALANTO - Dorival Caymmi
É tão tarde, a manhã já vem
Todos dormem, a noite também
Só eu velo por você, meu bem
Dorme anjo, o boi pega neném
Lá no céu deixam de cantar
Os anjinhos foram se deitar
Mamãezinha precisa descansar
Dorme anjo, papai vai lhe ninar
Boi, boi, boi
Boi da cara preta
Pega essa menina
Que tem medo de careta
Boi, boi, boi
Boi da cara preta
Pega esse menino
Que tem medo de careta
Boi, boi, boi...
P.S.: este blogue retorna no dia 18 a série Canciones en vivo.
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4 comentários:
Muito bonita a homenagem, bicho.
O Rc Braga, embora esteja com mudanças no layout, está de luto, ainda por cima relembrando a matéria da série Celebridades sobre o Dorival Caymmi.
Ele agora estréia num palco muito mais iluminado.
Um abraço
James Lima
www.robertocarlos.vai.la
Lindas palavras, Vinícius.
Beijos,
Leda Martins.
Que Deus o conceda em um merecido lugar, onde brilham as grandes estrelas como Luiz Gonzaga, Cartola, Tom Jobim, Vinícius de Moraes e Noel Rosa!
Blog Música do Brasil
www.everaldofarias.blogspot.com
Um forte abraço!
Pois é rapaz,e essa semana infelizmente foi para o andar de cima a sua musa inspiradora,
Valeu Caymmi
Carlos André
pareinacontramao.zip.net
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