quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
Palhaços e o rei - CHICO ANYSIO (1979)
Olá, amigos.
A série Palhaços e o Rei, criada a partir da sugestão do amigo Everaldo Farias para relembrar encontros de Roberto Carlos com os grandes humoristas brasileiros, muda o cenário para abrir espaço a um ícone do bom humor. E, principalmente, para um artista que se desdobra em mais de 200 personagens.
Trata-se de Francisco Anysio de Paula, o CHICO ANYSIO. Este grande artista que já teve seu próprio show (Chico Anysio Show), sua própria cidade (Chico City) e até mesmo seu próprio país do humor (Estados Anysios de Chico City) na televisão.
Dentre todas as facetas de Chico Anysio, a usada para o encontro com RC no Roberto Carlos Especial de 1979 foi de uma personagem histórica para o humor em tempos de abertura política. Do Sul, uma senhora chamada Salomé usava seu telefone para falar intimamente com o então presidente João Batista Figueiredo. E ao fim da conversa, ela sempre dizia o mesmo bordão: "Ainda corto tua cabeça, João Batista". Chico ainda tentou reeditar este personagem na época em que o presidente era Fernando Henrique Cardoso, mas a piada se esvaziou com o passar do tempo.
E naquele fim de ano, RC recorria a ela para pedir um favor pelos músicos brasileiros. Algumas piadas do diálogo hoje estão um pouco datadas, pois citam figuras da política, como o ex-presidente Ernesto Geisel e o ministro Delfim Netto. Outras piadas, infelizmente, continuam atuais.
Segue o encontro! Na foto (novamente tirada diretamente da televisão), RC beija a mão de Salomé.
Abraços a todos, Vinícius.
***
(Acompanhado pela empregada Aline, Roberto Carlos chega à sala de visitas de Salomé)
ALINE - Roberto, vai firme que ela te atende!
RC - É... Vou ver se hoje tenho uma chance, né? Porque, afinal de contas, esse telefone fala a hora que quer com o João Batista.
ALINE (vai a Salomé, que ainda está de costas para os dois) - Dona Salomé...
SALOMÉ (interrompendo) - Já sei que tem visita, Aline, quero saber se descubro quem é. (tenta adivinhar) O japonesinho do Geisel pedindo arrego... O Carlos Cocar querendo vale... Bueno, quem é, vejamos?
(Salomé vira-se e olha RC, que vai até ela)
SALOMÉ - Barbaridade! Barbaridade! Mas pelas brilhantinas do Francelino, pelo biquinho do Petrônio Portela, pelas orelhas do César Caldas, pelas papadas do Delfim! És tu, Bebeto!
RC (de pé, diante dela) - Sou eu mesmo. E, sei lá, eu vim aqui pra gente bater um papo.
SALOMÉ - Mas que dúvida, guri. Mas que dúvida, claro que vai dar, a hora que tu quiser e..
(É interrompida por RC, que, de maneira galante, beija sua mão esquerda)
SALOMÉ (exclama) Bá, mas tu me arrepiou toda! (a RC) Senta! (à empregada) Aline, se o João ligar tu fala... (pensa) Que eu não estou! (volta a falar com RC) Mas, sabe, Betinho, que eu sei tudo, eu sei de ti mas do que o Erasmo Carlos, tu és trilegal. Aliás, nem tri, tu és tetralegal!
RC - Muito obrigado, Salomé, mas eu vim aqui exatamente porque tenho um problema aí, sabe...
SALOMÉ (interrompendo) - Bá... Mas não me diga. Tu tem ido à feira?
RC - Não...
SALOMÉ - Bueno, tu tem precisado do INAMPS?
RC - Não, não.
SALOMÉ - Tu comprou casa pelo BNH?
RC - Não, não, também não.
SALOMÉ - Tem filho em escola pública?
RC - Não, também não.
SALOMÉ - Bueno, então o que tens feito de interessante?
RC - Nada. Nada, você sabe que realmente a barra tá pesada para o músico brasileiro.
SALOMÉ - Mas fale, diz o que tu queres, afinal, tu estás em casa, somos íntimos, vivemos os dois de disco!
RC - Nós dois, é?
SALOMÉ - Tu, dos discos que tu vendes e eu desse disquinho aqui, né? (e passa a mão no disco do telefone)
RC - E é justamente nisso aí que eu queria falar com você, porque, sei lá, você sabe que o Brasil inteiro se liga nessa sua ligação pro João Batista, né? E quem sabe você podia dar um toquezinho nele, sei lá, e pedir pra ele fazer alguma coisa pelos músicos brasileiros.
SALOMÉ - Mas é só isso que tu quer, guri? Mas é tão pouco, considera como conseguido. Tu quer, eu ligo agora mesmo pro estado e falo com o João.
RC (sorridente) - Não, não precisa ser agora não.
SALOMÉ - Bueno, se não precisa ser agora, melhor, temos tempo. Vamos lá, um certo tempo. (aproxima-se dele, insinuante) Não precisando ser agora, pode ser quando quiser, né? (pausa) Escuta, Bebeto, por que tu não me chama de Lady Laura, te pego no colinho? (faz um gesto e os dois ficam à meia-luz) Não me leve a mal, é desde que o japonesinho do Geisel comprou a Light eu gasto o mínimo de luz.
(Aline entra em cena)
ALINE - Dona Salomé, quer que sirva o café?
SALOMÉ - Bá, guria, mas que pergunta, e eu vou perder essa chance? (levanta-se e pega RC pela mão) Mas não agora, tá... Amanhã de manhã!
(Os dois vão saindo de mãos dadas)
SALOMÉ (olhando para a câmera) - Mas ou perco a cabeça com Betinho ou não me chamo Salomé!
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2 comentários:
Muito engraçado ! Muito engraçado !
Me divirto demais com o Chico no especial de 1979 !
Um Forte Abraço
James Lima
Oi Vinicius!
Realmente foi muito engraçado. Gostava muito do quadro da Salomé.
Uma pena que os programas humoristicos tenham decaído tanto.
Já não se fazem programas de humor como antigamente...
Beijos,
Carmen Augusta
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