domingo, 3 de maio de 2009
50 anos de emoções - 1966
Olá, amigos.
A série 50 anos de emoções apresenta mais um post no qual comenta um dos muitos anos nos quais Roberto Carlos está presente no cenário musical brasileiro. Esta é a forma do Emoções de Roberto Carlos comemorar em grande estilo seu cinquentenário de carreira.
Hoje é a vez de chegarmos ao ano de 1966. Este ano seria o início de um tenebroso período na história de nuestros hermanos argentinos. Em 28 de junho, o presidente Arturo Illia foi deposto por um grupo de militares. A intenção era combater a ascensão de ideias comunistas, e se precisasse, através da violência - como foi em 29 de julho, quando forças policiais invadiram universidades e protagonizaram a "Noite dos cassetetes".
Do outro lado do mundo, começava uma revolução: a Revolução Proletária da China. Liderado por Mao-Tsé Tung, o movimento teve o apoio de estudantes e trabalhadores contra a burocracia que atingia o Partido Comunista Chinês. Na África, tinha inicio a guerra de independência da Namíbia, que ainda demoraria muitos anos para deixar de ser controlada por uma metrópole.
O Papa Paulo VI deu um grande passo da Igreja Católica ao livre arbítrio das pessoas. Neste ano, o Index Librorum Prohibitorum (lista de publicações consideradas "perniciosas" pela igreja) foi abolido. Autores como Nicolau Maquiavel, Galileu Galilei, Alexandre Dumas e Voltaire tinham sido alguns dos responsáveis por "livros proibidos". Em 1966, o mundo conheceria outra igreja: a Igreja de Satã. Fundada por Anton Szandor LaVey (o "Papa Negro"), a igreja se opunha a muitas doutrinas cristãs, pregando coisas como indulgência, vingança e considerando os pecados como caminhos para gratificação mental, emocional e física.
No Brasil, a Ditadura Militar já pensava em sucessão política. O Marechal Castello Branco baixou dois novos atos institucionais. Com o Ato Institucional 3, em fevereiro, foram estabelecidas eleições indiretas para governadores e vice-governadores, e também estipulado que os prefeitos das capitais seriam indicados pela Assembleia Legislativa. Em dezembro, o Ato Institucional 4 convocou ao Congresso Nacional para votar o projeto de Constituição, que definitivamente revogou a Constituição de 1946.
No dia 3 de outubro, o Marechal Artur da Costa e Silva foi eleito novo presidente do Brasil. O MDB se absteve das votações depois que as pressões políticas nos estados fizeram com que o Arena elegesse 17 governadores. Mais tarde, seis deputados do partido de oposição teriam seus direitos políticos cassados.
Após o bicampeonato em 1958 e 1962, a Seleção Brasileira de Futebol frustrou a torcida na Copa do Mundo. Depois da desordem na preparação do time - chegou-se ao cúmulo de 44 jogadores estarem pré-convocados - o Brasil chegou à Inglaterra para atuar contra Bulgária, Hungria e Portugal. Com muito esforço, a Seleção venceu os búlgaros por 2 a 0. Na segunda partida, os húngaros venceram o Brasil por 3 a 1, em um jogo no qual a violência foi a tônica da Hungria. Com Pelé apanhando em campo, o time português, comandado pelo craque Eusébio, derrotou o Brasil por 3 a 1 e a Seleção voltou mais cedo para casa com um décimo-primeiro lugar.
O futebol da Seleção Portuguesa encantou o mundo, mas não foi suficiente para levá-lo à final do torneio - terminou em terceiro lugar. Inglaterra e Alemanha Ocidental decidiram a Copa do Mundo, e, após o empate em 2 a 2 no tempo normal, os ingleses venceram na prorrogação por 2 a 0. Um dos gols ingleses aconteceu num erro da arbitragem, que deu gol em lance no qual a bola bateu no travessão e depois caiu em cima da linha.
Em 1966, Roberto Carlos receberia pela primeira vez o apelido carinhoso pelo qual seus fãs chamam até os dias de hoje. Em primeiro lugar nas paradas de sucesso, RC foi chamado ao programa A buzina do Chacrinha para ser coroado o "Rei" do cenário musical. Numa apresentação bem irreverente, o Velho Guerreiro chamou Roberto para ir ao trono, e Lady Laura coroou seu filho a um reinado que iria além dos domínios da Jovem Guarda.
RC foi além dos domínios da Jovem Guarda e se arriscou a entrar no seletíssimo Festival da Música Popular Brasileira. No palco do Teatro Record, ele usou sua interpretação para defender a belíssima Anoiteceu, parceria de Francis Hime e Vinícius de Moraes. Infelizmente, a música não foi classificada e Roberto Carlos jamais a incluiu em sua discografia.
Naquele ano, o Festival da Música Popular Brasileira abriu a exceção de colocar um empate no primeiro lugar - entre A banda, canção de Chico Buarque interpretada por Nara Leão, e Disparada, música de Geraldo Vandré e Theo de Barros, conhecida pela voz de Jair Rodrigues. As outras canções premiadas foram: De amor ou paz (de Luiz Carlos Paraná e Adauto Santos, na voz de Elza Soares, em segundo), Canção para Maria (de Paulinho da Viola e Capinam, também interpretada por Jair Rodrigues, com o terceiro), Canção de não cantar (a música de Sérgio Bittencourt ficou em quarto lugar, defendida pelo MPB-4) e Ensaio geral (quinto, com a interpretação de Elis Regina para a canção de Gilberto Gil).
Com seu sucesso musical, Roberto era requisitado para apresentar outros programas na TV Record - Roberto Carlos à noite, Opus 7 e Todos os jovens do mundo foram alguns deles - mas continuava apresentando o Jovem Guarda ao lado de Wanderléa e Erasmo Carlos. No entanto, sua parceria e amizade com Erasmo Carlos sofreu um abalo neste ano.
Erasmo se apresentou no programa Show em Si...Monal, apresentado por Wilson Simonal, cantando parcerias dele com Roberto (como Parei na contramão e Quero que vá tudo pro inferno). Por um deslize da produção, as músicas em nenhum momento foram creditadas também a RC. A fofoca chegou aos ouvidos de Roberto, que decidiu romper a parceria com Erasmo.
Em seu LP daquele ano, pela primeira vez desde 1963 Roberto Carlos não apareceu na autoria em companhia de Erasmo Carlos. Eis a lista de canções:
LADO A
1 - Eu te darei o céu, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos
2 - Nossa canção, de Luiz Ayrão
3 - Querem acabar comigo, de Roberto Carlos
4 - Esqueça (Forget him), de Mark Anthony, com versão de Roberto Côrte Real
5 - Negro gato, de Getúlio Côrtes
6 - Eu estou apaixonado por você, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos
LADO B
1 - Namoradinha de um amigo meu, de Roberto Carlos
2 - O gênio, de Getúlio Côrtes
3 - Não precisas chorar, de Édson Ribeiro
4 - É papo firme, de Renato Corrêa e Donaldson Gonçalves
5 - Esperando você, de Helena dos Santos
6 - Ar de moço bom, de Niquinho e Othon Russo
Trazendo uma foto bem ao estilo das capas dos Beatles, com RC de preto no fundo preto e seu rosto claro contrastando com o resto, o disco mostrou um Roberto bem "negro gato". Do mesmo jeito que o título da canção de Getúlio Côrtes. Além da irresistível Negro gato (que, recentemente, Roberto Carlos voltou a cantar, como "sinal de que a terapia está dando certo"), Getúlio Côrtes mostrou o bom humor de sua música através de O gênio.
Desta vez, a única versão de canção americana veio em Esqueça. Através da letra de outros compositores viriam músicas muito bem sucedidas, como Nossa canção e É papo firme. Esta última receberia uma curiosa "resposta" musical - a Jovem Guarda usaria a cantora Waldirene para ser "a garota papo firme que o Roberto falou", nos versos de A garota do Roberto.
A coautoria de Roberto Carlos e Erasmo Carlos ficou remanescente em duas faixas. Depois de começar o LP do ano anterior, Jovem Guarda, com o amor mandando tudo para o inferno, RC abriu seu disco indo para o outro extremo- em Eu te darei o céu. E o fim do lado A mostra a dupla numa doce canção da descoberta de amor em meio a tanta correria - Eu estou apaixonado por você.
Roberto Carlos assina sozinho duas canções. Na que ocupa a terceira faixa do lado A, RC volta a apresentar sua rebeldia, na desafiadora Querem acabar comigo. Mas é na faixa que abre o lado B que Roberto mantém o estilo de suas canções na época da Jovem Guarda. De maneira displicente, ele conta da confusão amorosa na qual se intrometeu, ao amar loucamente a namoradinha de um amigo seu.
Segue a letra! Na foto, Roberto Carlos no dia de sua "coroação".
Abraços a todos, Vinícius.
NAMORADINHA DE UM AMIGO MEU - Roberto Carlos
Estou amando loucamente
A namoradinha de um amigo meu
Sei que estou errado
Mas nem mesmo sei como isso aconteceu
Um dia sem querer
Olhei em seu olhar
E disfarcei até pra ninguém notar
Não sei mais o que faço
Pra ninguém saber que estou gamado assim
Se os dois souberem nem mesmo sei o que eles
Vão pensar de mim
Eu sei que vou sofrer
Mas tenho que esquecer
O que é dos outros
Não se deve ter
Vou procurar alguém
Que não tenha ninguém
Pois comigo aconteceu
Gostar da namorada de um amigo meu
Comigo aconteceu gostar da namorada
De um amigo meu...
*****
P.S.: um dado curioso. Alguns anos atrás, vazaram na Internet gravações em áudio de bastidores das gravações do LP de 1966. Em uma delas, Roberto Carlos canta o trecho de uma canção que nunca foi lançada. A música provavelmente chamaria Você vai perder seu bem. Seguem os versos:
Eu já falei
Você vai perder seu bem
Você não é
O que ela quer de alguém
Você não sai
Com seu benzinho a passear
Por outro cara
Ela vai se interessar
Eu já falei
Você vai perder seu bem
Eu já falei
Você vai perder seu bem...
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Um comentário:
Rapaz, muitíssimo interessante, adorei !
Bacana você falar dos outros programas comandados pelo Roberto, e da "Você Vai Perder Seu Bem". A briga com o Erasmo também, bacana vc lembrar. Chega-se à conclusão de que 66 foi um ano bastante movimentado para o Roberto.
Quanto ao disco daquele ano, considero como "o álbum beatle de Roberto Carlos", como vc mesmo falou do detalhe da capa.
Adorei, adorei mesmo !
Um Forte Abraço
James Lima
www.robertocarlos.vai.la
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