domingo, 1 de maio de 2011

Top 10 de RC, por Vinícius Faustini - 1977




Olá, amigos.

No terceiro post do meu "TOP 10" da discografia de Roberto Carlos, salto para outra década da obra de RC. E foram nos anos 70 que vieram suas obras mais cultuadas por crítica e público, e também mais relembradas em seus recentes shows.

O LP acima vem do ano de 1977, e reúne em 12 faixas um Roberto cantando todas as faces do amor e no relato de situações amorosas. Mas o disco abre cantando a amizade. Se três anos antes ele cantou "eu quero ter um milhão de amigos", em 1977 RC interpretava a homenagem ao primeiro amigo, a seu "amigo de fé e irmão camarada", parceiro de jornada, letra e música, o amigo Erasmo Carlos. E hoje, três décadas depois, "Amigo" continua a ser a música que as pessoas cantam para declarar uma grande amizade - e a versão em espanhol da música chegou a ser cantada por milhares de mexicanos em uma recepção ao então Papa, João Paulo II.

O fim de amor aparece com freqüência nas letras do disco, mas sob vários pontos de vista do homem. Em "Nosso amor", de Mauro Motta e Eduardo Ribeiro (pseudônimo de Evandro Ribeiro, produtor dos discos de RC entre 1963 e 1983), ele lamenta o fim, mas, em meio às lágrimas causadas pelo vazio, se diz feliz por ter podido se entregar a um amor que considera toda sua vida. Já em "Falando sério", escrita por Maurício Duboc e Carlos Colla, o ponto final é decidido por um homem que tem receio de sofrer novamente, e, em especial, não deseja uma noite, nem ser mais um a passar pela cama de uma mulher. E até mesmo no cancioneiro latino RC foi achar a confissão de quem amou apenas uma vez na vida - "Solamente una vez", de Agustin Lara.

A safra de Roberto e Erasmo também destacou histórias de despedida. É o caso de "Não se esqueça de mim", belíssima canção que no fim da década de 1990 foi redescoberta em uma excelente leitura por Nana Caymmi (com participação de Erasmo) e na qual há o pedido de estar ao menos por um momento no pensamento de quem amou, e também na música que encerra o LP: "Sinto muito, minha amiga", cujas palavras tentam abrandar as culpas e ainda acenam com a possibilidade de uma amizade. Mas foi da autoria de Isolda o maior dos casos, o que não foi mais esquecido do repertório de RC. "Outra vez" é a mais completa confissão de um amor que virou saudade, com todos os planos e enganos da maldade que só fez bem.

O ano de 1977 também reservou um grande momento para ouvintes de Roberto Carlos. Depois de "Proposta", "Seu corpo" e "Os seus botões", Roberto e Erasmo fizeram sua definitiva canção do repertório mais "sensual" - "Cavalgada", que em palavras disse a ousadia e a poesia de uma noite a dois.

Os "velhos tempos, belos dias" da Jovem Guarda retornaram à memória nos versos de "Jovens tardes de domingo", e em outras duas homenagens mais sutis. Uma delas encerrou o lado A do LP, a gravação de "Ternura", sucesso da maninha Wanderléa (até hoje chamada de "Ternurinha"). A outra é a gravação de "Pra ser só minha mulher", assinada pelo "Príncipe" da Jovem Guarda, Ronnie Von (com quem a mídia dizia que RC teria uma rivalidade), e por Tony Osanah.

Mas deste LP de 1977 destaco uma música entregue por Caetano Veloso. Trata-se de uma das letras que mais definem Roberto Carlos - o artista que faz uma legião de pessoas brilharem em cântico regidas por suas emoções, pois ele canta somente o que não pode mais se calar. Ou, em outras palavras, é (assim como este réu confesso que vos escreve) muito romântico...

Segue a letra!

Abraços a todos, Vinícius.

MUITO ROMÂNTICO - Caetano Veloso

Não tenho nada com isso, nem vem falar
Eu não consigo entender sua lógica
Minha palavra cantada pode espantar
E a seus ouvidos parecer exótica

Mas acontece que eu não posso me deixar
Levar por um papo que já não deu, não deu
Acho que nada restou pra guardar ou lembrar
Do muito ou pouco que houve entre você e eu

Nenhuma força virá me fazer calar
Faço no peito soar minha sílaba
Canto somente o que pede pra se cantar
Sou o que soa, eu não douro pílula

Tudo o que eu quero é um acorde perfeito, maior
Com todo muito podendo brilhar num cântico
Canto somente o que não posso mais se calar
Noutras palavras, sou muito romântico

Noutras palavras, sou muito romântico
Eu não consigo entender sua lógica
Noutras palavras, sou muito romântico...

domingo, 24 de abril de 2011

Feliz Páscoa!



A todos os frequentadores do Emoções de Roberto Carlos, que venha um dia de Páscoa cercado de paz para todas as famílias.

Abraços a todos, Vinícius.

*****

O HOMEM - Roberto e Erasmo

Um certo dia
Um Homem esteve aqui
Tinha o olhar mais belo que já existiu
Tinha no cantar uma oração
No falar a mais linda canção que já se ouviu

Sua voz falava só de amor
Todo gesto seu era de amor
E paz, Ele trazia no coração

Ele pelos campos caminhou
Subiu as montanhas e falou do amor maior
Fez a luz brilhar na escuridão
O sol nascer em cada coração que compreendeu

Que além da vida que se tem
Existe uma outra vida além
E assim um renascer
Morrer não é o fim

Tudo que aqui Ele deixou
Não passou e vai sempre existir
Flores nos lugares que pisou
E o caminho certo pra seguir

Eu sei que Ele um dia vai voltar
E nos mesmos campos procurar o que plantou
E colher o que de bom nasceu
Chorar pela semente que morreu sem florescer

Mas ainda há tempo de plantar
Fazer dentro de si a flor do bem crescer
Pra Lhe entregar
Quando Ele aqui chegar

Tudo que aqui Ele deixou
Não passou e vai sempre existir
Flores nos lugares que pisou
E o caminho certo pra seguir

sábado, 23 de abril de 2011

Top 10 de RC, por Vinícius Faustini - 1966




Olá, amigos.

Seguindo com meu TOP 10 de RC, hoje chego ao ano de 1966. Eis o repertório:

LADO A

1 - Eu te darei o céu, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - Nossa canção, de Luiz Ayrão

3 - Querem acabar comigo, de Roberto Carlos

4 - Esqueça (Forget him), de Mark Anthony, com versão de Roberto Côrte Real

5 - Negro gato, de Getúlio Côrtes

6 - Eu estou apaixonado por você, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

LADO B

1 - Namoradinha de um amigo meu, de Roberto Carlos

2 - O gênio, de Getúlio Côrtes

3 - Não precisas chorar, de Édson Ribeiro

4 - É papo firme, de Renato Corrêa e Donaldson Gonçalves

5 - Esperando você, de Helena dos Santos

6 - Ar de moço bom, de Niquinho e Othon Russo

Depois de lançar quatro álbuns com letras mais descompromissadas, falando de brotos e de carrões, naquele ano, RC usou suas 12 faixas para evidenciar sua maior característica como intérprete e como compositor: ser explosivamente amoroso.

O disco abre com Eu te darei o céu (visto por alguns como uma "redenção" pela irreverência de Quero que vá tudo pro inferno, o que acho, com todo o respeito, um "achismo" sem fundamento), uma promessa cantada aos brados por Roberto e Erasmo, no qual a insegurança da perda do belo amor leva a dizer que vai dar o céu e o amor de presente. A segunda canção, aliás, Nossa canção, assinada por Luiz Ayrão, já associa o amor à profissão de RC, e mostra o lamento de quem recorre ao dedilhar de um violão e à cantoria para amenizar uma ausência.

No LP basicamente formado por canções brasileiras, há apenas uma música que foi vertida de canção estrangeira - e a letra de Esqueça feita por Roberto Côrte Real transformou a insossa Forget him num sucesso constante ao falar de RC. A canção seguinte é Negro gato, assinada por Getúlio Côrtes, compositor constante nas décadas de 1960 e 1970, e que em 1966 ainda escreveu uma música interpretada no lado B do disco - O gênio, narrativa em história em quadrinhos com direito à moral da história "tudo fácil valor nunca traz". Um dado curioso sobre Negro gato: a letra original de Getúlio Côrtez traz o verso "e toda minha vida sempre dei azar", que RC alterou para "e essa minha vida é mesmo de amargar"

Outros compositores constantes dos anos 60 confirmaram presença neste disco de 1966. Helena dos Santos, com a balada de amor Esperando você, Édson Ribeiro com a linda Não precisas chorar e a dupla Niquinho e Othon Russo com a responsável por encerrar o disco - Ar de moço bom(o título refletia a imagem que RC passava para os fãs do programa Jovem Guarda, que apresentava nas jovens tardes de domingo da TV Record). Mas o melhor presente seria mesmo o mandado por Renato Correia e Donaldson Gonçalves: eles apresentaram a Roberto e aos ouvintes uma garota "papo firme", na música É papo firme.

Encerrando o lado A, o disco de 1966 traz Eu estou apaixonado por você, singela canção de amor feita por Roberto e Erasmo que traz um dedilhar de violão irresistível.

O lado B abre com RC em momento de descontração ao confessar para o ouvinte o fato de estar amando justamente a namorada de um amigo. A acelerada Namoradinha de um amigo meu é assinada apenas por Roberto - em função de um rompimento de cerca de um ano na amizade com o parceiro Erasmo.

A música que destaco deste LP também é assinada apenas por Roberto Carlos. E, mais de 40 anos depois, a letra da música continua a ser uma realidade - querem acabar com ele, prosseguem a desmerecer sua obra, mas, nessas décadas todas, continuam não conseguindo.

Segue a letra! E, na foto, a capa do meu segundo disco no "TOP 10".

Abraços a todos, Vinícius.

QUEREM ACABAR COMIGO
- Roberto Carlos

Querem acabar comigo
Nem eu mesmo sei por que
Enquanto eu tiver você aqui
Ninguém poderá me destruir

Querem acabar comigo
Isso eu não vou deixar
Me abrace assim
Me olhe assim
Não vá ficar longe de mim

Pois enquanto eu tiver
Você comigo
Sou mais forte
Para mim não há perigo

Você está aqui
E eu estou também
Com você
Eu não temo ninguém

Você sabe bem
De onde eu venho
E no coração
O que tenho

Tenho muito amor
E é só o que interessa
Fique sempre aqui
Pois a verdade é essa

Mas querem acabar comigo
Nem eu mesmo sei por que
Enquanto eu tiver você aqui
Ninguém poderá me destruir

Uou, uou, querem acabar comigo
Uou, uou, isso eu não vou deixar...

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Top 10 de RC, por Vinícius Faustini - 1992



Olá, amigos.

A partir de hoje, este que vos escreve vai cometer uma ousadia aos olhos de seus leitores. Vou começar a enumerar os 10 discos que considero mais emblemáticos da carreira de Roberto Carlos.

Certamente, vai faltar este ou aquele disco na opinião dos leitores, mas vamos lá. A sequência não obedece ordem cronológica ou de preferência (se fosse assim eu colocaria todos os da carreira de RC). Eles vão apenas na ordem dos discos que considero mais significativos.

E o primeiro do TOP 10 vem do ano de 1992:

LADO A

1 - Você é minha, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - Mulher pequena, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

3 - De coração, de Eduardo Lages e Paulo Sérgio Valle

4 - Você como vai? (E tu come stai?), de Cláudio Baglione, com versão de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

5 - Dito e feito, de Altay Veloso

LADO B

1 - Herói calado, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

2 - Eu preciso desse amor, de Michael Sullivan e Paulo Massadas

3 - Você mexeu com a minha vida, de Mauro Motta e Paulo Sérgio Valle

4 - Dizem que um homem não deve chorar (Nova flor / Los hombres no deben llorar), de Palmeira, Mario Zan e Pepe Ávila, com versão de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

5 - Una en un millón, de Roberto Livi e Alejandro Vezzani

O disco de 1992 traz a síntese de várias safras da carreira de Roberto Carlos. Há o amor descompromissado, às vezes possessivo de Você é minha - uma das poucas assinadas apenas por Roberto e Erasmo no LP. Eles também assinam uma canção meio esquecida, mas que deveria ser ouvida e relembrada dentre as canções de protesto da dupla - Herói calado (próximo de canções como Todos estão surdos e Todo mundo é alguém).

Os compositores constantes em sua obra após a década de 1970 também são enumerados nesta síntese da carreira romântica de Roberto Carlos.

A segunda música do LP traz a primeira de uma série de homenagens a mulheres que fogem de padrões estéticos, quando, em pleno início do período de culto ao corpo, RC ousa falar da beleza da mulher de baixa estatura - ou Mulher pequena. Mais tarde, viriam músicas para mulheres acima do peso, que usam óculos e que estão na faixa dos 40 anos.

As duas últimas faixas esboçam o "flerte" de Roberto Carlos com a música latina iniciado na década de 1970, nas duas facetas que apareceram na discografia brasileira dele. Em Dizem que um homem não deve chorar, RC interpreta uma versão feita por ele e Erasmo Carlos para um clássico de um grupo latino - o Trio Los Panchos e sua "Los hombres no deben llorar". E na que encerra o disco, Una en un millón, ele usa sua voz para cantar uma música de Roberto Livi (ao lado de Alejandro Vezzani), autor constante a partir do fim dos anos 80 - na qual a latinidade veio para os trópicos brasileiros.

Mas, dentre as 10 músicas do disco de 1992, é a versão de uma música italiana que merece destaque. Não só pela interpretação raivosa de Roberto Carlos para a letra, mas para o arranjo que foi feito. Bom... Esta é a minha primeira dica no "TOP 10" - e tenho certeza de que muitos vão querer repensar a idéia de torcer o nariz para os anos 90 de RC.

Segue a letra! Na foto, o LP de 1992.

Abraços a todos, Vinícius.


VOCÊ COMO VAI (E tu come stai?)
- Claudio Baglione (versão de Roberto e Erasmo)

Tenho andado sem destino
Sem carinho e sem amor
E provado o gosto amargo
O prato feito pela dor

Você, como vai?
Você, como vai?
Você, como vai?

Tenho tido a companhia
De alguns amigos, e o meu cão
Inocente late forte
Pra espantar a solidão

Você, como vai?
Você, como vai?
Você, como vai?

Você, como vive?
Onde você está?
Quem te levou de mim?
Quem tem você agora?

E quem te telefona?
Pra te falar de amor?
Quem te levou embora?

Você, como vai?
Você, como vai?
Você, como vai?

Hoje eu encontrei
Seu nome no meu coração
Por mais que eu tente esquecer
Vive em meu peito essa paixão

Você, como vai?
Você, como vai?
Você, como vai?

Você, como vive?
Quem vive em meu lugar?
Quem faz você sorrir?
E por quem você chora?

E quem te enxuga as lágrimas?
Quem não te deixa só?
Quem te pergunta agora?

Você, como vai?
Você, como vai?
Você, como vai?

Você, como vai?
O tempo não passou pra nós
Nada mudou, estou aqui, tudo é igual

Você, como vai?
Eu vou vivendo a vida só
O tempo passa, o que fazer, não te esqueci

terça-feira, 19 de abril de 2011

1941



Em 1941, o mundo chegava ao segundo ano da lastimável Segunda Guerra Mundial. De um lado, o Nazismo de Hitler e o Fascismo de Mussolini mesclavam a busca por áreas de influência na Ásia e na África - através da ocupação e da rendição das tropas de cada local. Neste ano, a Europa viveu um dos efeitos do Holocausto: nos territórios ocupados pela Alemanha, judeus que tinham mais de seis anos eram obrigados a usar a Estrela de Davi e a palavra "judeu" no centro.

Do outro, os países Aliados capitaneados pelo Império Britânico passavam a ter o decisivo apoio dos Estados Unidos e da União Soviética. Os americanos entraram na Segunda Guerra Mundial depois de 7 de dezembro de 1941. Naquela data, a Marinha Imperial Japonesa atacou a base norte-americana de Pearl Harbor, no Havaí. O ataque causou a morte de 2.043 militares e 68 civis, além da destruição de 11 navios e 188 aviões.


Em 1941, o Brasil vivia sob o poder do Estado Novo, governo totalitário imposto por Getúlio Vargas desde 1937. Entretanto, seu regime, que por algum tempo se mostrou influenciado pelo nazi-fascismo, teve uma decisiva mudança política em 1941. Em 9 de abril daquele ano, foi fundada a Companhia Siderúrgica Nacional, usina criada após um acordo entre Brasil e Estados Unidos. Em troca do dinheiro norte-americano para investir na companhia de siderurgia, o país fornecia aço para os Aliados. Com isto, Getúlio Vargas rompeu relações diplomáticas com Itália e Alemanha. O Brasil também passa a ter em 1941 a Justiça do Trabalho, criada no dia primeiro de maio deste ano.

O Campeonato Carioca de Futebol de 1941 teve um curiosíssimo regulamento: a competição teve exatos QUATRO TURNOS. Nos dois primeiros, 10 clubes se enfrentavam em turno único. Após isto, seis clubes disputavam os dois turnos seguintes. Com isto, a competição durou de maio a novembro daquele ano.

A decisão, entre Flamengo e Fluminense, aconteceu na Gávea, e entrou para a história como "o Fla-Flu da Lagoa". O tricolor das Laranjeiras abriu dois gols de vantagem, com Pedro Amorim e Russo. Dois gols de Pirilo deram o empate ao rubro-negro. Reza a lenda que nos últimos cinco minutos, os jogadores do Fluminense tentavam manter sua favorável vantagem do empate de uma forma excêntrica: seus jogadores isolavam repetidamente a bola na Lagoa Rodrigo de Freitas, que é ao lado do estádio flamenguista. A "estratégia" deu certo e o Fluminense chegou ao bicampeonato com o empate em 2 a 2. 1941 foi o primeiro ano no qual o Campeonato Carioca foi disputado seguindo as regras utilizadas pela FIFA: dois tempos de 45 minutos e sem substituições. Desde abril daquele ano, com o Decreto-Lei 3.199 do governo Getúlio Vargas, as bases da organização de desportos de todo o país foram estabelecidos.

Em São Paulo, o Palestra Itália disputou seu último Campeonato Paulista no ano de 1941 - ficou em terceiro lugar, e a competição foi vencida pelo Corinthians. A partir do ano seguinte, o clube (que havia sido fundado em 1914) passou a se chamar Sociedade Esportiva Palmeiras. A mudança de nome aconteceu porque, com a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial em 1942 - apoiando os Aliados liderados pelos britânicos - o clube sofresse perseguições por sua descendência italiana.

O receio de perseguição por descendência italiana também chegou a Minas Gerais. O Palestra Itália mineiro disputou em 1941 uma de suas últimas edições do Campeonato Estadual - mas não conseguiu chegar ao bicampeonato, pois a competição daquele ano foi vencida pelo Atlético. A partir de setembro de 1942, ele se tornou o Cruzeiro Esporte Clube.

Em 1941, o mundo assiste à estreia de Cidadão Kane, filme de Orson Welles, os Estados Unidos veem a primeira montagem de Mãe Coragem e seus filhos, assinada por Bertold Brecha. O Brasil, que via teatros de revista, começa a ver mais cinema nacional. A partir de 18 de setembro de 1941, começa a funcionar a Atlântida Cinematográfica, que seria responsável por uma fase muito bonita do cinema nacional: a das chanchadas, que misturavam comédias estreladas por Grande Otelo e Oscarito com bons números musicais. Tudo a partir do filme Moleque Tião.

E como a televisão ainda chegaria ao país dentro de nove anos, o país colocava todas as suas atenções nos rádios, com suas músicas, suas radionovelas e seus programas de auditório. Locais por onde passeavam cantores como Emilinha Borba, Marlene, Cauby Peixoto, e tantos, tantos outros...

E neste turbilhão de emoções, 1941 também apresentou ao mundo ROBERTO CARLOS. Há 70 anos, no pequeno Cachoeiro, o destino da música brasileira começava a ganhar mais um caminho. Um caminho que foi além dos horizontes da "capital secreta do mundo" (como chamam os cachoeirenses). Ganhou o Rio de Janeiro nas tentativas de cantor iniciante e no conjunto Sputnicks. Ganhou carreira solo, lampejos de Bossa Nova, até chegar ao iê-iê-iê e à Jovem Guarda de São Paulo.

Pra depois, ganhar a coroa de Rei. Uma alegoria criada num programa do Chacrinha, mas que todos passamos a seguir, dançando conforme sua música. Do rock, do soul, do romantismo, do pop e de tantos estilos que passeiam por este estilo de música resumido a ROBERTO CARLOS.

Assim como alguém disse há exatos 70 anos: PARABÉNS, ROBERTO CARLOS!

Abraços a todos, Vinícius.

COMO É GRANDE O MEU AMOR POR VOCÊ - Roberto Carlos

Eu tenho tanto pra lhe falar
Mas com palavras não sei dizer
Como é grande o meu amor por você

E não ha nada pra comparar
Para poder lhe explicar
Como é grande o meu amor por você

Nem mesmo o céu, nem as estrelas
Nem mesmo o mar e o infinito
Não é maior que o meu amor, nem mais bonito

Me desespero a procurar
Alguma forma de lhe falar
Como é grande o meu amor por você

Nunca se esqueça nem um segundo
Que eu tenho o amor maior do mundo
Como é grande o meu amor por você

Mas como é grande o meu amor por você...

sábado, 16 de abril de 2011

Ana




Ana, que saudade de você.

Força e muita, muita fé, Roberto Carlos e família.

Vinícius Faustini

ANA - Roberto e Erasmo

Todo o tempo que eu vivi
Procurando meu caminho
Só cheguei à conclusão
Que não vou achar sozinho

Oh, oh, Ana, Ana, Ana
Oh, oh, oh, oh, Ana
Que saudade de você

Toda essa vida errada
Que eu vivo até agora
Começou naquele dia
Quando você foi embora

Oh, oh, Ana, Ana, Ana
Oh, oh, oh, oh, Ana
Que saudade de você

Ana eu me lembro com saudade
Do nosso tempo, nosso amor, nossa alegria
Agora eu só te vejo nos meus sonhos
E quando acordo minha vida é tão vazia

Oh, oh, Ana, Ana, Ana
Oh, oh, oh, oh, Ana
Que saudade de você

Toda essa vida errada
Que eu vivo até agora
Começou naquele dia
Quando você foi embora

Oh, oh, Ana, Ana, Ana
Oh, oh, oh, oh, Ana
Que saudade de você...

P.S.: este blogue tinha planejado retomar suas atividades em 19 de abril. Mas esta data pediu nossa homenagem.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Apesar do velho tênis...




Quando a chuva fina começou a cair durante o morno desfile da Mocidade, confesso que minha única preocupação além de proteger os óculos dos pingos foi: "o desfile vai comprometer muito a passagem da Beija-Flor na avenida?". Eu, na arquibancada "pra sentir mais emoção" (como cantou um samba interpretado por Neguinho), estava acompanhado da minha tia, os dois fascinados por ver de perto o tanto de beleza das escolas de samba do meu Rio de Janeiro de coração. Apesar de não ser de Cachoeiro, sou também um capixaba que veio pra cá - mas não pretende voltar.

Na evolução das horas, já tinha visto a União da Ilha, uma das sobreviventes do triste incêndio nos barracões, e que viveu para contar a história de Charles Darwin. Vi um Salgueiro que fez do sambódromo uma coisa de cinema, digna dos aplausos ao final da sessão - e sorri quando, em meio à homenagem ao Rio no cinema, a escola citou Roberto Carlos, mostrando capas do LP de 1979 e do disco "Roberto Carlos canta para a juventude" nas paredes do carro do Cabaret de Madame Satã. Filme sucesso de público, mas fracasso de crítica pelo atraso que seu desfile teve por problema em um dos carros alegóricos.

"Visibilidade distorcida" e a chuva ficava mais grossa, e valorizava ainda mais a superação da Grande Rio - que antes de chover no dia do desfile, foi a maior vítima do incêndio no início de ano. O caldeirão das arquibancadas fervia, como recompensa à bela homenagem para Florianópolis. Uma das minhas expectativas cessou logo que a escola de Duque de Caxias saiu de cena. Aliviado, sorri feito uma criança com o universo encantado da Porto da Pedra, em homenagem à escritora Maria Clara Machado.

"Você vai ver, tudo vai passar". Todas passaram, e eu não via a hora dele chegar. Literalmente, depois que Jorge Perlingeiro anunciou que jogariam serragem na avenida para evitar que o óleo jogado por um dos carros da Porto da Pedra atrapalhasse a passagem da Beija-Flor. E assim como nos shows de Roberto Carlos, sua passagem pela Marquês de Sapucaí também entrava em suspense da hora dele chegar no palco.

"Só vejo a hora de você chegar". Mas em vez do maestro Eduardo Lages, com sua abertura instrumental, a chegada veio na voz de Jorge Perlingeiro, que anunciou "a Beija-Flor de Nilópolis traz para a avenida o enredo A simplicidade de um rei, contando a história de Roberto Carlos, o maior cantor popular do Brasil".

"Janelas e portas vão se abrir pra ver você chegar". Bandeirinhas com o nome da Beija-Flor e o tema para 2011 eram tremuladas. Mulheres tinham rosas vermelhas feitas de plástico em suas mãos. E Neguinho da Beija-Flor cantava "Meu Beija-Flor, chegou a hora de botar pra fora a felicidade / A alegria de falar do Rei e mostrar pro mundo essa simplicidade...".

"Estrelas mudam de lugar...", e saíam de cena para dar espaço à estrela do novo espetáculo carnavalesco. E o azul e o branco, as duas cores favoritas de Roberto Carlos, não apareciam apenas na bandeira da Beija-Flor. Elas tomavam conta do céu do Rio de Janeiro, para iluminar uma história da escola, que contava de um mundo nem um pouco distante do povo.

"Mas com palavras não sei dizer...". 70 anos de vida, mais de meio século de carreira. Não seria um samba-enredo capaz de sintetizar por completo tantas décadas de Roberto Carlos. A responsabilidade ia para a avenida, com suas alas, seus carros, fantasias, alegorias e adereços. Na recriação de uma realidade que hoje tem mais de um milhão de amigos.

"Das lembranças que eu trago na vida...". Na luz do Rei menino que vinha na comissão de frente encantado com o que saía de dentro do rádio, da arquibancada eu via as várias sintonias nas quais aprendi a passear pela obra de Roberto Carlos. E em mim vinha a saudade de, ainda por volta de um ano, ver e rever pela primeira vez a imagem dele, na boleia do caminhão dizendo "eu sei, vou correndo ao encontro dela".

E eu ia ao encontro da Beija-Flor, com o coração disparado, mas andando minha vista com cuidado, para tentar ver os detalhes tão pequenos de cada ala que se transformavam nas coisas tão grandes (e pra não esquecer). Tudo tão bem costurado que parecia feito sob medida para a escola pelas mãos da costureira Lady Laura. E tantos componentes, tantos carros passando depressa (parecendo um relógio bem consertado pelo querido, velho e amigo Robertino), mas deixando em mim um rastro fascinante de vida e obra de RC.

A avenida da Marquês de Sapucaí não tinha curvas. Só que a obra de Roberto Carlos rodopiava na avenida, nos passos do mestre-sala Claudinho e da porta-bandeira Selmynha Sorriso ou no compasso da bateria que vinha representada pela doce Raíssa.

"Quero que você me aqueça...", provavelmente dizia o LP sobre o qual Erasmo Carlos estava sambando. E Wanderléa sambava para lá e para cá, com toda ternura marcada pelo papo firme que gerou a amizade até hoje jovial do trio da Jovem Guarda. Do chão, a comunidade estava alheia a parar na contramão, e ia voando pela vida, querendo chegar ao seu melhor.

"Tô correndo ao encontro dela...". Dos sertões, de caminhão, reverenciado pela safra da música sertaneja, Roberto Carlos esticava o caminho até a Amazônia, revendo a natureza com o amor ecológico que ele sempre pediu.

"Eu te proponho...", e elas, as cantoras do Elas cantam Roberto aceitaram homenageá-lo. Tão apaixonadas quanto as que estavam nas arquibancadas quanto as que estavam vendo pela televisão. E os botões das rosas atiradas por RC receberam o beijo da Beija - Beija-Flor de Nilópolis.

"Ser o comandante do seu coração...". Ele pediu, e eu aceitei. Desde menino, ele comanda meu coração, e navego no barco de suas canções, que me fazem sorrir, chorar, orar, e tentar, nas minhas palavras de escritor, chegar perto de tanto amor.

Na bênção do dia claro, não pedi o café da manhã. Pedi para Roberto Carlos chegar à sua festa. E o anfitrião chegou. Sob os olhos de Jesus Cristo (sim, apesar dos cabelos grisalhos e das asas de anjo, Ele estava lá), Roberto acenava para a multidão, com os olhos marejados, em paz com a vida e com mais uma alegria que ela estava proporcionando para este coração que é como um palco.

Captei na máquina o último aceno que pude ver. Uma amiga disse que o "tchau" foi pra mim. Vi a escola se aproximar da dispersão, mas, apesar da movimentação das pessoas saindo da arquibancada, insisti com minha tia pra ficar até o último grito de Neguinho da Beija-Flor.

"Só me resta agora dizer adeus, e depois o meu caminho seguir". Caminho do Setor 7 até a lonjura da estação de metrô da Central do Brasil. Quando sentei num banquinho do vagão, percebi o quanto minhas pernas estavam moídas pelo cansaço e também pela água acumulada no meu velho tênis - que provavelmente seja aposentado depois do aguaceiro pelo qual passou.

As lágrimas azuis e meu emblemático gesto de tirar o chapéu panamá ao ver Roberto Carlos olhando na direção da arquibancada em que eu estava trouxeram, no meio de tudo, um pouco da alegoria que foi para mim aquela emoção. Eu me perdi na madrugada de carnaval para te reencontrar - como sempre dou um jeito de te reencontrar quando você passa pelo Rio de Janeiro.

Apesar do velho tênis, te digo mais uma vez: QUE PRAZER REVER VOCÊ!

Obrigado, Beija-Flor, por tudo. Em especial por ter compartilhado comigo da alegria de falar do Rei e de mostrar pro mundo esta simplicidade.